Premonição: Espetáculo Negro escrita por PeehWill


Capítulo 4
Um Passo em Falso


Notas iniciais do capítulo

Galera, me desculpem pela demora colossal. Peço INFINITAS desculpas pelo gigantesco atraso, mas sabem como é vida corrida: estudos em tempo integral, finais de semanas agitados... Enfim! O que importa é que estou trazendo mais um capítulo para vocês. Podem comemorar, hihi.
Além disso, já estão disponíveis os atores que interpretariam os personagens desta fic. Segue ai o link:
http://peehwillfanfics.blogspot.com.br/2013/04/wish-list-cast-de-premonicao-espetaculo.html
Espero que gostem do capítulo.

Aproveitem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/329175/chapter/4

Adam dormia há alguns minutos. Não parecia que a pouco criara um escândalo na sala por conta de abelhas que nem ali estavam. Sua tia ficara preocupada de momento, mas logo descartou a possibilidade de ter que levá-lo para o hospital. Não será preciso. Provavelmente são os problemas pelos quais ele está passando. Ela recostou a cabeça na porta e admirou o garoto dormir. Anjo. E sorriu. Sempre quisera ter um filho do sexo masculino, não que desgostasse de Gale, mas aquele era seu desejo de mãe. Gale viera como um presente. Ela dera vida novamente para um casamento conturbado e cheio de discussões. Bailey tinha um marido viciado em álcool, que lhe trazia muitos problemas, e o nascimento de sua filha abriu uma nova oportunidade para recomeçarem uma nova vida.

— Mãe?

Escutou a voz da filha.

— Sim, querida? — Virou-se e observou seu rostinho angelical.

— O que aconteceu com o Adam? — No rostinho de Gale ainda era visível a vermelhidão em seus olhos, de tanto chorar.

Realmente ela ficara muito amedrontada ao ver o primo fazer aquilo, pois nunca o vira daquela forma. Bailey logo ficou desconsertada, mas tentou contornar.

— Não importa agora, querida. Ele está melhor, e até já dormiu. — Sorriu, tentando mostrar tranqüilidade para a garota.

As duas desceram e ligaram a televisão. Assim que Bailey sentou no sofá, ao lado da filha, o seu celular tocou. Ela ergueu-se para atendê-lo, que estava no balcão da cozinha. A pequena garota de tranças ainda continuava a mudar os canais, quando o controle escorregou de sua mão e caiu sobre o tapete. Olhando para a televisão, ela reconheceu no canal de botânica, um apicultor. Ela não entendera muito bem o que ele falava, mas um trecho de sua entrevista fora audível:

Quando se sentem ameaçadas, não há outra saída. Elas atacarão.


x-x-x








Bruce percebeu o tempo nublado que estava formando-se bem acima dele. Sorte que estava a alguns metros de casa. Então, em passos ligeiros voltou até sua residência e pegou um guarda-chuva.

Olhou ao redor e se certificou de que não estava esquecendo nada. Quando seu celular vibrou em seu bolso. Ele tomou-o em mãos e olhou no visor. Com um suspiro ele atendeu.

— Oi amor.

— Onde você está? — A voz de Betty parecia agitada.

— Estou em casa. Mas estou de saída. Por quê?

— Não recebeu minha mensagem?

— Não.

— Você e sua grande percepção. — Arfou cansada. — Mas não liguei pra te criticar não. É que... Não tenho aulas agora, e queria que você viesse me fazer companhia. Meu avô não está bem.

A última frase saiu com um tom entristecido. Bruce não estava reconhecendo-a, ela nunca dirigiu a palavra a ele daquela forma. Realmente estava passando por uma situação muito difícil.

Voltando ao seu caminho inicial, ele verificou de que não seria mais do que uma garoa. Nem aquela chuva o impediria de conversar com o garoto que tirara ele e sua namorada do acidente.

Ele tentou procurar o endereço do jovem, depois de saber que sua mãe, a dona de uma clínica veterinária no centro, havia morrido. Não fora difícil conversar com algumas pessoas e descobrir o endereço. E foi parando de frente à casa que pertencia ao endereço, que ele suspirou, esperando estar preparado para falar com ele. Ele precisa me escutar.

Bruce ouviu a campainha e esperou alguém atender a porta. Olhou em seu relógio, um pouco impaciente. Batia o pé em movimentos frenéticos sobre o tapete que dizia: welcome. E foi olhando o tapete que ele assustou-se ao ouvir o ranger da porta. Levantou o olhar e percebeu que uma mulher lhe observava. Ao seu lado estava uma pequena garota com tranças.

Antes que a mulher pudesse falar alguma coisa, Bruce começou:

— Bem, meu nome é Bruce Yanovski. Eu sou um professor do Adam. Ele ainda mora aqui? — Bruce tremia, e temia para que a mulher não descobrisse seu “disfarce”. Não estava se sentindo mal em mentir, apesar de não ser de seu costume fazer aquilo.

— Mora sim. Mas no momento ele está descansando.

Bruce fez uma expressão de decepção. Aquela seria a hora para falar com o garoto, e para agradecer, além de pedir desculpas pelo incômodo que Betty causara na noite do acidente.

— Se você quiser deixar algum recado... — A mulher falou.

— Claro. Diz pra ele que “o mágico” agradeceu muito a sua ajuda.

O homem virou-se e saiu, caminhando de volta à calçada. No rosto de Bailey estava uma expressão de dúvida. Ela não entendera muito bem o que o homem falara, mas daria o recado para Adam, assim que ele acordasse. Gale puxou a manga de seu vestido e correu de volta para o sofá, pegando um mini-game de Adam. A mulher sentou-se ao seu lado e foi assistir ao canal culinário.


x-x-x








Quando Paris chegou à casa de Freddy, o sol já estava se pondo. Os últimos raios iluminavam seus cabelos e a brisa o balançava. Ela estava prestes a entrar na casa, quando ouviu gritos e um choro desesperado. Rapidamente deduziu que algo estava acontecendo, e não demorou muito para entrar. A cena que se seguiu era de apertar o coração. A mãe de Freddy estava ajoelhada e apoiada no marido, que estava sentado no sofá. Ela chorava inconsolada, e seu marido tentava dizer palavras de conforto, mas nada mudaria o que ela estava sentindo.

Assim que a viu, Freddy se aproximou, com os olhos vermelhos. Seu rosto também estava assumindo o mesmo tom, mas não dera tempo de Paris o ver, pois ele a abraçou forte. Sem entender nada, a jovem o abraçou com força. Ouviam-se seus soluços.

— O que houve? — Perguntou mesmo já tendo uma idéia do que acontecera.

— O Ted... Ele...

Freddy não agüentou e chorou mais, e os soluços aumentavam à medida que ele soltava as lágrimas.

— Oh meu Deus! O Ted? Mais como isso aconteceu? — Paris afastou-se um pouco para poder olhar para Freddy. Os dois ficaram um de frente para o outro.

— Foi no passeio da escola. Eu fui deixá-lo de manhã, e depois a gente soube pelo diretor. — Ele tentava não deixar tantas lágrimas desabarem, mas era impossível. — Parece que foram abelhas. Abelhas mataram meu irmão.

Paris tapou a boca, incrédula. Então deu outro abraço no namorado e deixou que uma lágrima também escapasse. Depois do abraço demorado e apertado, a jovem voltou a olhar os pais de Freddy. Eles lamentavam a morte do filho caçula. Que trágico! Ela sentou-se no sofá, ao lado de Freddy e continuou olhando-o com certo receio de que algo pior pudesse acontecer.


x-x-x








Betty retirou o termômetro da boca do avô.

— 38,5 graus. Droga! — Ela falou alto o bastante para seu avô ouvir. Ele fez uma careta e resmungou, cansado. Respirou fundo e olhou para a vidraça.

— Eu vou morrer? — Sua voz mostrava seu cansaço.

— O quê? Não, não fale besteira. Você está só com um pouco de febre, e vai melhorar logo. Quando o Bruce chegar, nós vamos lhe levar até o hospital.

O nervosismo era evidente.

— Me deixe aqui.

— Você não está em condições de fazer escolhas, vovô. Nós vamos sim!

— Por favor, me deixe aqui.

— Porque você está me pedindo isso? Eu quero cuidar de você. Eu preciso cuidar de você. — A voz de Betty começou a ficar trêmula.

— Cuidar de mim, como cuidei de você? — Ele ergueu a mão e acariciou os cabelos dourados da neta.

— Sei que você não foi um bom tio pra mim no passado, mas...

— Eu fui e sou um fardo pra você, Laurie. Você não pode me negar isso. —Mostrou-lhe um sorriso de conformação.

Betty afastou-se e começou a caminhar pelo salão.

— Eu nunca disse isso, vovô.

— Não precisa me dizer, precisa?

— Me deixa lhe ajudar. Eu quero compensar o que fez por mim todos estes anos, depois do acidente com meus pais. Esqueça os momentos ruins!

Betty sabia que o passado da relação entre ela e seu avô não era um mar de rosas. Depois da morte dos pais, ela passou a ser criada por ele, e sofria com seus maus-tratos. Foram várias as vezes que seu avô chegara bêbado em casa ameaçando matá-la com um canivete. Também fora em uma destas noites conturbadas que a jovem empurrou-lhe sobre uma cerca de arame farpado, ferindo totalmente suas costas. Ele jurou nunca perdoá-la pelo ocorrido, mas todo o ódio se desfez com a terceira idade chegando, e a cabeça sendo colocada para funcionar racionalmente. As doenças começaram a atacá-lo de maneira perversa, não dando escolhas a ele, de render-se aos cuidados de quem ele tanto fizera mal. Já não bastava Betty não ter a companhia dos pais, ele ainda fez questão de destruir sua adolescência. Entretanto, curada de todos estes males do passado, Betty cuidara de seu avô, como se fosse seu pai. Ela não fazia nenhuma questão de lembrar tudo que viveu com ele, mas também não queria esquecer tudo de uma só vez.

E a dança também foi um refúgio para este problema. Pois Betty sempre achou que esta arte conseguiria proteger-lhe dos fantasmas do passado. Da morte de seus pais e todos os maus-tratos sofridos. Betty só queria ser feliz com a dança. E com Bruce.

A campainha tocou e Betty fora rápida em atender a porta. Bruce encostou o guarda-chuva na parede e sorriu desconsertado. A garoa lá fora já havia passado fazia algumas horas, mas o tempo permanecia estável: com poucas nuvens e algumas estrelas já se mostravam. O céu não estava mais tão triste e assustador, quanto a Betty e seus olhos azuis. Eles sim, estavam.

— Obrigada por vir. — Betty beijou-lhe o rosto singelamente.

Bruce entrou vagarosamente, olhando todo o salão de dança junto da namorada. Ela trancou a porta e o viu fitando seu avô.

— Como ele está?

— Com 38,5 graus. Ele já reclamou de tontura e dor de cabeça... — O nervosismo estava mais evidente. — Temos que levá-lo ao hospital.

— Claro. Eu vou descer e pedir um taxi. — Bruce beijou-a.

— Eu vou ajudá-lo enquanto isso!

Betty mostrou-se mais determinada e um pouco aliviada. Ela procurava alguma roupa melhor para vestir o avô, mas sabia que ali no salão ela não a encontraria. Então, o deixou sentado na mesma poltrona de antes e foi até seu apartamento. Enquanto vasculhava as gavetas da cômoda de seu quarto, onde havia um casaco, bateu na estante ao lado. A estante de madeira envernizada guardava todos os seus livros, estes eram um bem precioso para ela, que os guardava com maior carinho.

Assim que bateu na estante, um dos livros desequilibrou e caiu, abrindo em uma página, antes marcada pela moça. Um objeto decolou estante abaixo, junto com o livro, caindo próximo a ele. Colocou o casaco sobre a cama e observou o livro aberto no chão. Rapidamente se dirigiu até ele e o apanhou, lendo um trecho marcado a lápis.

“Eu achava que estava bem. Hesitei em olhar para trás, mas foi inegável. Estava à beira do abismo, com meus pés em passos lentos e desfocada de tudo. Foi um único passo em falso, para me levar ao fim... Eu achava que a venceria, mas ela me venceu. (Sarah Burnes)”

O trecho preferido de todo o livro. Betty já sabia qual era: Dança da morte, de Sarah Burnes. O livro em si, retratava a história da busca frustrante de uma dançarina pelo seu reconhecimento. Isso, depois de anos de tempestades e conturbações em sua vida. Até ela descobrir que era portadora de uma doença rara, que a levaria para a morte em alguns meses. Betty não sabia o motivo pelo qual guardara este livro, além de ser tão apegada a ele. Um dos fatores poderia ser a grande semelhança que ela achara em Sarah.

— Ela se parece comigo. Ela é meu número, eu consigo caber nela...

Betty conseguia se enxergar em Sarah. A personagem e também, protagonista do livro parecia muito com ela. Tinha um corpo vazio até então. Um corpo oco, sem espírito e sem conteúdo. Apenas um corpo.

Até lembrar-se do objeto que caíra com o livro. Era uma pulseirinha dourada, na qual havia sido um presente de seus pais. Para Betty, esta pulseirinha não existia mais, pois fazia bastante tempo que ela sumira de sua vida. Tudo depois da mudança. Assim que avistou a pulseira ficou em êxtase. Uma onda de eletricidade percorreu seu corpo naquele exato momento. Guardou-a no bolso de sua calça e voltou até o salão.

Encontrou seu avô tentando se erguer da poltrona, apoiado em um balcão de mármore. Ele fez força, até sua mão escorregar. Betty o segurou no último momento. Mais alguns segundos e o encontraria caído no chão, provavelmente desmaiado.

Desceu com ele e encontrou Bruce de frente ao prédio. Ele estava com um táxi ao seu lado.

— Vamos?

— Claro. — Betty respondeu.

Primeiro entrou seu avô. Logo em seguida ela. E Bruce sentou no banco do carona. Só depois o táxi partiu em direção do hospital.



x-x-x















Adam abriu os olhos devagar e sentiu seu corpo pesado. Inclinou a cabeça para o lado, sentindo o travesseiro macio embaixo de sua cabeça. Ele viu a janela fechada, mesmo assim sentiu uma brisa fraca tocar seu rosto. O quarto estaria escuro, se não fosse a luz da lua invadindo-o e amenizando aquele sentimento de medo. Seus olhos mudaram de rota e fixaram-se no canto da parede, onde a projeção dos galhos da enorme árvore lateral à casa, mostrava o clima triste em que se encontrava. Os galhos pareciam dançar.

— Dançar... — Adam pensou alto, enquanto erguia-se do colchão e colocava os pés no chão frio.

Levantou sentindo um pouco de tontura, mas recuperou-se rapidamente e segurou a maçaneta da porta, abrindo-a devagar. Seu ranger foi inevitável. Ele ficou de frente ao corredor, que agora estava mais escuro que o quarto. A porta fechou atrás de si com uma velocidade incrível. Pensou que fosse o vento, mas que vento, se a janela de seu quarto estava fechada? Um calafrio percorreu sua espinha, enquanto ele dava o primeiro passo. A única lâmpada do corredor estava apagada, e o silêncio fazia Adam lembrar que sua mãe não estava ali pra lhe defender do escuro. Isso o fizera lembrar-se de como era bom quando sua mãe chegava e o abraçava o tirando aquela sensação aterrorizante. Parecia uma fortaleza inacabável... Até eles irem ao Comet Circus àquela noite... E ele ter aquele pesadelo sobre sua destruição. E concretização.

Seus passos eram lentos até sua bexiga o incomodar. Ele inclinou as pernas para o lado, tentando evitar aquilo, mas não podia. Então, apressou-se para chegar até o banheiro. O garoto encontrou a porta aberta e em um movimento rápido empurrou-a e entrou, trancando-a em seguida. Foi até o vaso sanitário e começou a urinar.

Em sua mente iam e vinham imagens aleatórias do dia do acidente. O cuspidor de fogo, o mágico, o globo da morte, sua família e toda a chama que consumia o local. Pensar naquilo era sufocante, até mesmo para o garoto. Uma gota de suor desceu sobre sua testa e ele escutou um ruído. Logo deixou que passasse despercebido e lavou as mãos.

Assim que fechou a torneira espantou-se, ao escutar o chuveiro ligado, dentro do box. Ele olhou através do espelho e viu uma silhueta feminina dentro do box. Não estava nua, e sim, com um longo vestido branco. O garoto rapidamente se aproximou da porta e puxou a maçaneta, em vão, a porta estava trancada. Adam esquecera.

Adam pode ver o longo cabelo loiro e ondulado da mulher, ser banhado, enquanto a água descia e molhava todo o seu vestido. Mas não fora aquilo que o deixara apavorado, e sim o fato de não ser água que estava saindo no chuveiro. O líquido tomou um tom mais escuro, vermelho escuro. Era rubro, e até quem não era acostumado com toda aquela percepção seria capaz de saber que era sangue. Até mesmo Adam. Então, o garoto arregalou os olhos, assim que viu a porta do box abrir-se aos pausadamente. O suor aumentara e descia velozmente sobre seu rosto, e ele só queria sair dali. Era muito medo para destrancar a porta. Suas pernas estavam bambas e seus lábios tremiam. Ele olhou-se no espelho por um segundo e se viu pálido diante da figura que se formava detrás da porta do box.

— Socorro! Alguém me tira daqui!

Ele tateava a porta, pois estava assustado demais para tirar os olhos da figura loira. Ele bateu duas vezes contra a porta, até destrancá-la e girar a maçaneta com a maior velocidade possível. Abriu a porta e chocou-se contra algo parado bem ao lado do corredor.

— Sai daqui! — Gritou.

Adam sentiu quando alguém o abraçou. Mamãe você voltou! Entretanto, era apenas Bailey, sua tia.

— Querido, o que está acontecendo? Você está pálido! — Bailey tocou seu rosto, verificando suas órbitas assustadas.

— Tem uma mulher lá dentro, tia! Tem sim! Ela... Ela... — A voz entrecortada de Adam mostrava seu nervosismo intenso.

— Acalme-se, querido. Não tem nada aqui, veja. — Então, abriu devagar a porta do banheiro, e o encontrou em perfeito estado. Não havia ninguém ali.

Adam inclinou-se, ainda com uma das mãos sobre o rosto, mas quando olhou o banheiro, o viu do mesmo jeito em que estava quando entrou. Não havia mulher, e nem sangue. Não havia ninguém.

— Deve ser coisa da sua cabeça.

— Não! Ela estava lá! Era loira e usava um vestido branco, e havia muito sangue... — Sua respiração estava ofegante.

— Vamos fazer isso: vamos descer e comer alguma coisa. Que tal uma pizza?

Adam nada respondeu.

— Vou considerar isto como um sim, ok?

Ela colocou a mão sobre o ombro do garoto e os dois, juntos, continuaram andando no corredor.

— Hum, quase ia me esquecendo de te dizer. Hoje à tarde um de seus professores veio aqui agradecer por algo que ele não disse.

— Professor?

— Sim, seu nome era Bruce Ya... Ya... Ya alguma coisa. — Bailey riu de si.

— Eu não tenho nenhum professor com esse nome.

— Ele disse que o “mágico” agradecia sua ajuda.

Os dois desciam as escadas.

— Mágico? Oh, nossa! Será ele mesmo? — Os olhos de Adam brilharam, pois ele lembrou-se vagamente do mágico do Comet Circus.



x-x-x















Shanon olhou pela última vez o porta-retratos onde a foto de sua família aparecia, sobre a mesa do consultório. Seu olhar ficou triste por alguns segundos, até ela respirar fundo e se distanciar do objeto. Pegou as chaves que estavam próximas do porta-retratos e se dirigiu à porta. A mulher tocou em suas frontes, pois ela sabia que estava perto de ficar com dor de cabeça. A doutora pegou seu celular, que estava em sua bolsa. No modo silencioso, ele mostrou várias ligações de casa. De repente, ele tocou, assustando-a. Ela olhou no visor, com a vista um pouco turva. O número era do telefone de sua residência, novamente. A doutora resolveu atender no momento em que trancava a porta do consultório de psicologia.

— Alô?

— Mãe! A senhora precisa vir para casa!

— Filho?

— A senhora não sabe o que aconteceu. Foi hoje no passeio da escola! O Ted se envolveu em um acidente e... — A ligação começou a falhar.

— E o quê? — Shanon afastou um pouco o celular da orelha. O barulho era muito agudo. — Charlie?

A ligação caiu.


x-x-x








Já fazia alguns segundos que o avô de Betty havia entrado no consultório médico. A loira já estava impaciente e acabara de retirar a pulseirinha de dentro do bolso. Ela mexia-a de uma forma frenética sobre as mãos.

— É melhor ficar calma. — Bruce olhou-a, percebendo que seus movimentos estavam mais involuntários.

— Ele vai ficar mais tempo lá? Vai demorar demais? — Betty não parava quieta.

— Betty, você sabe que estas coisas não são resolvidas em um piscar de olhos. O doutor pediu uma bateria de exames. Ele vai ficar bem e você precisa relaxar. — Ele tocou sua mão suavemente e beijou-a.

Betty recebeu o beijo com um pouco de desânimo, mas não deixou que Bruce percebesse isso. Ela sabia que ele não era o namorado mais atento, mas o carinho e o amor dele por ela eram surpreendentes. Isso, mesmo com seu jeito meio antipático. A sala de espera não estava tão movimentada, havia algumas pessoas rondando por ali, entre pacientes, enfermeiras e acompanhantes. Ela deu uma última olhada para Bruce, antes de se erguer do sofá de espera, onde estava. Ele olhou-a confuso.

— Aonde você vai?

— Você pode ficar com ele, por um minuto? — A loira disse-lhe sem sequer virar.

— Fico sim. — O mágico deu uma pausa. — Você não quer dizer aonde vai, não é?

— Você mesmo disse que eu deveria me acalmar. Quero espairecer, vou dar uma volta por ai, ok? — Ela ainda não havia se virado. — Me promete que você vai tomar conta dele?

— Prometo. — Bruce assentiu.

Depois disso, o mágico viu sua namorada caminhar pelo corredor, até dobrar em outro, mais na frente. A loira caminhava com o olhar vago, seu corpo parecia estar mais fraco, quase que dopado. Era uma sensação de êxtase, que ela não saberia explicar. O corredor era longo e havia uma porta no final dele, uma porta larga e de vidro.

Uma enfermeira passou com ela, acompanhada de um cadeirante. Os dois desapareceram em um dos corredores paralelos e ela voltou a ficar sozinha naquela ala do hospital. De repente ela sentiu uma tontura e entrou em uma porta próxima dali. Era um banheiro, não tão grande, mas também não era tão pequeno. Tinham três boxes e três pias. Também havia um enorme espelho que pegava quase toda a parede. Betty parou de frente ao espelho e se viu totalmente destruída, não por fora, e sim por dentro. Ela pode se enxergar mais cabisbaixa e acabada. Ela sabia que aquela não era ela, não tinha como ser. Ela sempre fora uma pessoa alegre, agitada e extravagante. Ela sabia disso, porém não se sentia mais desta forma.

A loira notou uma grande diferença em si. Não sabia se fora pelo fato de um fantasma de seu passado voltar para lhe atormentar, ou foi pelo fato de ganhar uma nova chance na noite do acidente no Comet Circus. Ela não estava nem ligando para aquilo, até perceber que seu avô piorara. Talvez ela estivesse morta e não chegaria em casa naquela noite, para ver seu parente. Ele poderia ter tido uma crise de hipertensão, enquanto estivesse sozinho no apartamento. Betty não poderia tê-lo deixado sozinho. Como sou irresponsável! Como pude fazer isso com ele? Ele precisa de mim, mas do que eu dele. Então, lavou o rosto, fazendo de tudo para esquecer tudo.

Pegou uma folha de papel toalha, que havia em um suporte e enxugou o rosto, fitando seu reflexo por uma última vez no espelho. Seu reflexo parecia um pouco distorcido, como se seu rosto estivesse se apagando aos poucos. Olhou para o lado direito, em um gesto instintivo de não olhar para si e viu uma frase rabiscada de tinta no canto da parede, ao lado do espelho:

“Loira do banheiro!”


x-x-x







Samuel estava no carro, a caminho de casa. Saiu mais cedo do escritório, pois não estava com cabeça para trabalhar. Já havia tentado de várias formas, distanciar a sensação de perder esposa e filha da mente. Em vão. Apenas a fez ausente por alguns minutos, porque ela sempre voltava. Então, pediu que sua secretária terminasse os relatórios e decidiu ir para casa, pois sabia que precisava de descanso e de paz.


Quando estacionou o carro na garagem de casa, pegou sua pasta ao lado, no banco do carona e saiu. Passou pela varanda e abriu a porta. De cara encontrou sua irmã, sobrinha e filho comendo. Mostrou um leve sorriso para Bailey, que estava de frente para a porta. Adam e Gale permaneciam de costas.

— Pizza? — Ele largou a pasta sobre o sofá e foi na direção da mesa de jantar.

— Pai! — Adam levantou da mesa e o abraçou com força.

Para ele, ter seu pai ali era um ótimo suporte para aliviar a dor de perder a mãe.

— Tem espaço pra mais um? — Disse sorrindo.

— Tem sim. — Bailey sorriu, pegando mais um prato.

Samuel sentou à mesa, ao lado de Adam. Esperava se aproximar mais dele, ao menos, era o que ele queria muito. Queria compensar o que não fez por ele em todos estes anos. Ver o filho sorrindo, depois do que houve, era muito gratificante.

— Pai, porque você chegou cedo hoje? Aconteceu alguma coisa? — Adam levou um pedaço de pizza até a boca.

— Foram só alguns contratempos, filho.

Sam notou que sua irmã o olhava diferente, parecia que queria lhe falar algo.

Assim que acabaram de comer, todos se retiraram da mesa e Bailey foi até a pia, para lavar a louça. Samuel aproveitou que as crianças assistiam para conversar com sua irmã. Ele se aproximou e se apoiou na bancada da pia. Bailey enxugou as mãos com um pano e se virou de frente a ele.

— Você tem algo pra me dizer?

— Sim. Não sei se você vai receber esta notícia muito bem, meu irmão.

— Então me conte logo! — Samuel estava impaciente com a situação.

— Hoje eu recebi um telefonema, uma oferta de emprego fora da cidade. — Houve uma pausa. — Se eu aceitasse, Gale iria comigo.

— E você aceitou?

— Aceitei... Desculpe-me. — A mulher abraçou o irmão.

Ele soltou no mesmo instante.

— Por que está me pedindo desculpa? Isso é uma oferta de emprego. Deveríamos comemorar! — Sam mostrou um tom de empolgação. — Por que você achou que eu não concordaria? É sua vida profissional que está em jogo.

Bailey apenas direcionou o olhar para o sobrinho, que assistia ao canal de filmes.

— O pequeno Adam é o motivo pelo qual achei que não concordaria. Não há ninguém que cuide dele, enquanto eu estiver fora.

— Então era isso... — Samuel pensou por alguns segundos. — Acho que tenho em mente quem pode me ajudar.

Bailey sorriu aliviada.

— Muito obrigado. — Sam sorriu. — Por tudo mesmo! Pelo apoio, por cuidar dele... — Abraço-a forte. — Você é um anjo, minha irmã!

Adam olhou para trás e viu uma lágrima escorrer no rosto da tia.


x-x-x







Betty passou pela porta de vidro, assim que ela abriu-se sozinha. A visão que se seguiu era bela. Havia uma grande piscina ali, rodeada por um jardim e por uma paisagem linda. Algumas esculturas enfeitavam o local e aos olhos da loira eram todas exuberantes. Todas elas pareciam dançar, pois as poses em que se encontravam davam a impressão. O luar era refletido na piscina e fazia Betty sentir-se mais calma. Porém, a jovem não notou a tonalidade diferente em que a piscina se encontrava. E que de lá saia uma pequena camada de fumaça.


Ela olhou um pouco para cima, vendo uma placa que dizia: Ala 180. Hidroginástica e Hidroterapia. Foi só ai que percebeu que estava na ala onde os pacientes tinham a oportunidade de utilizar a água como meio de recuperação. Está explicada a piscina. Betty sabia não pelo fato de em um hospital não poder haver uma piscina, mas sim, explicava também os equipamentos que haviam próximos a ela. Em um canto daquela área, como: Toucas e auxiliares de natação, óculos subaquáticos, entre outros. Ela se aproximou dos objetos, antes de uma das enormes lâmpadas que estavam ali, quase a cegar. A lâmpada piscou duas vezes e então Betty continuou caminhando pelo jardim, sem tirar os olhos das estátuas. Uma delas, a maior, dançava, porém parecia estar triste. Esta mesma estátua também tinha uma ponta afiada no lugar de um dos braços, resultado da ação de algum vândalo. Ou ela fora projetada daquela forma mesmo? Ela chegou mais perto e fitou bem a estátua, antes de escutar um barulho esquisito. Olhou para trás e viu uma faísca sair da placa. A placa chacoalhou um pouco, mas parou.

A dançarina não ligou e continuou caminhando por ali.

Bem perto daquela área, dois médicos andavam e logo atrás deles, um dos vários zeladores. Um dos médicos comentou:

— O que aconteceu mesmo com a piscina? Por que ela não está podendo ser utilizada? Amanhã mesmo eu tenho que trazer dois pacientes para a hidroterapia.

— Eu não faço a mínima idéia. — O outro respondeu.

O zelador passou por eles e comentou:

— Parece que há um sério problema com a bomba do aquecedor da piscina. O responsável pela manutenção só virá pela manhã. A água deve estar fervente.

A expressão de susto dos médicos fora inegável.

— Mas tomaram as devidas precauções? Vai que alguém resolve entrar lá.

— Não se preocupem... Eu mesmo coloquei a placa de orientação lá. Ninguém vai entrar nela. A não ser que não saiba ler...

Ninguém falou mais nada. O zelador entrou em um quartinho para guardar dois baldes e um rodo. Enquanto os dois médicos se dirigiram até um dos consultórios.

Betty não notou a placa de “não ultrapasse, piscina interditada” detrás de uma das estátuas, bem de frente a piscina. Todas as lâmpadas apagaram em sincronia, uma atrás da outra. Foi ai que a loira tropeçou na própria placa e rolou sobre a borda da piscina. Seu corpo todo mergulharia se não fosse pelos seus braços terem entrado primeiro na água. Betty os retirou rapidamente, sentindo-os arder muito. Seus braços queimavam e a dor parecia entrar cada vez mais fundo em seu corpo. Pareciam estar sendo cozinhados.

Ela gritava de dor, enquanto sacudia os braços e corria pelo gramado. Já não podia se distinguir sua pele das queimaduras, pois elas estavam se alastrando velozmente. Eram queimaduras graves. Realmente a água estava fervente. Com a luz fraca e muito atordoada com a forte dor e ardência, a loira não percebeu o que tinha na sua frente, e se chocou frontalmente contra uma das estátuas. A maior e mais triste delas. A que tinha a ponta afiada. A ponta atravessou seu estômago violentamente. A loira cuspiu algum sangue, antes de olhar bem a expressão da estátua. Ela não era triste, Betty havia se enganado. A estátua carregava um enorme sorriso, e parecia rir para ela. Então, a loira perdeu seus movimentos vitais. E morreu.


x-x-x







Allison parou de frente a casa de Adam e falou alguma coisa para si. Parecia estar ensaiando algo. Só depois disso que ela bateu na porta, percebendo em seguida a campainha e se detestando por alguns segundos. Quem atendeu foi o pai de Adam, Samuel. Allie foi pega de surpresa.


— Oh, boa noite Sr. Berry.

— Boa noite... Allison, não é? Entre.

Allie sorriu sem graça, entrando e olhando para os lados.

— O Adam está?

— Está no quarto, provavelmente já está dormindo. — Ele começou a olhá-la. — A propósito, Allison... Eu queria falar mesmo com você. Que tal sentarmos?

A jovem sorriu sem graça e sentou-se no sofá. Samuel sentou em seguida.

— Então. Pode falar Sr. Berry.

— Por favor, só Samuel.

— Ok, Samuel.

— Bem, como você deve saber, o Adam está enfrentando alguns problemas. — Sam tinha certeza de que Allison sabia do que se tratavam aqueles problemas.

— Sim...

— Eu recebi a notícia de que minha irmã, que cuida do Adam, teria que viajar a trabalho. — Houve uma breve pausa. — Também sei que você era a melhor funcionária que minha esposa tinha na clínica. Corrija-me se estiver errado.

Allison corou e não conseguiu dizer nada. Apenas deu um leve sorriso.

— Meu pedido é o seguinte: que você cuide de Adam por um tempo. Só até toda a poeira baixar. Você pode ficar aqui por um tempo. O que você me diz?

— Eu cuidar do Adam? Sim, posso sim!

Uma ótima oportunidade para ele me ajudar com a lista. Allison mostrou um sorriso de esperança.


x-x-x







Bruce notara a demora de Betty já há alguns minutos. Sua namorada disse que voltava logo e até agora, nenhum sinal dela. Preocupado e sabendo de que o avô de Betty ficaria mais alguns minutos fazendo exames, resolveu ir procurá-la. Entrou no mesmo corredor em que a vira entrar, e viu uma multidão se aglomerando no final dele.


Enquanto caminhava no corredor, pensou: não é nada, Bruce. Fica frio, não é nada a respeito dela... Betty está bem. Vai ver, ela também está no meio desta multidão. Curiosa do jeito que é... Ele queria se convencer de que nada de ruim aconteceria a ela. De que quando chegasse lá, ela estaria no meio da multidão e lhe diria tudo o que havia ocorrido.

Foi quando duas pessoas passaram correndo por ele.

— Dizem que uma mulher morreu fincada em uma das estátuas do jardim! — A primeira comentou.

— Como ela era? — A outra indagou.

— Me disseram que ela era loira!

Bruce arregalou os olhos. Seu coração palpitou mais rápido, estava quase saindo pela boca. O mágico correu o mais rápido que pode, e quando chegou até a multidão empurrou várias pessoas. Ele pôs os olhos na cena mais triste de sua vida. Várias pessoas tiravam o corpo inerte de uma mulher loira de uma grande ponta afiada, de uma estátua. A moça estava toda ensangüentada. Com o grande cabelo loiro e ondulado cobrindo o rosto.

Bruce empurrou mais algumas pessoas e se aproximou correndo. Alguns médicos e seguranças tentaram o impedir, mas ele dava socos e pontapés do ar, na intenção de soltar-se daqueles homens. Quando se soltou, correu até o corpo e tirou o cabelo do rosto. Era seu pior pesadelo. A vítima da morte era Betty.

Rapidamente seus olhos encheram de lágrimas e o mágico gritou:

— Betty! Oh, Betty! Você não, meu amor! Betty! — E sentiu os homens agarrarem seus braços novamente, o tirando de perto do corpo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

SE NÃO LEU O CAPÍTULO, NÃO LEIA ESTA NOTA! CONTÉM SPOILERS!

Eu quis fazer algo de diferente com a morte da Betty, pra tirar do cômico o que aconteceu com a do Ted(no capítulo anterior), então, pode estar um pouco exagerado o lance com a piscina super aquecida e fervente. Mas é pelo motivo de acreditar que uma bomba de piscinas com problemas possa super aquecer a água, a ponto de fervê-la. Então, qualquer coisa relacionada a isso, podem falar. Okay?
Também peço que não deixem de comentar. E que os leitores fantasmas apareçam e deixem suas reviews, está bem?
Prometo que o intervalo entre este capítulo e o próximo será menor. Garanto a vocês!
Abraço e até lá! :D



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Premonição: Espetáculo Negro" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.