Premonição: Espetáculo Negro escrita por PeehWill


Capítulo 1
Noite Sombria


Notas iniciais do capítulo

Bom, estou aqui para dizer-lhes que fiquei muito agradecido por todos que leram a fic 3. Aos que também comentaram. Lembrando e avisando logo, em primeira mão, que o acidente não acontece neste primeiro capítulo. Como é de praxe, ele ficou para a devida apresentação dos personagens que serão abordados ao longo da fic.
Espero que gostem e aproveitem!



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24 de junho de 2012


Adam jogou os três dados sobre o tabuleiro, e em todos eles o número seis apareceu com a face virada para cima. O garoto sorriu com seus dentes amarelados, prevendo sua segunda vitória no jogo de tabuleiro. Charlie fez uma careta, ao ver o amigo vencer mais uma vez.

— Você trapaceou!

— Claro que não! — Adam riu, debochando de seu amigo.

Então, Charlie se ergueu do tapete e sentou-se no sofá, bastante desinteressado no jogo.

— Você é que não sabe perder. — Continuou o garotinho loiro que se erguia do tapete.

— Que tal uma partida de vídeo game?

— Só porque nele, você é melhor do que eu. — Adam cruzou os braços e também se sentou no sofá.

— Não me diga que está com medo de perder... — Charlie o provocava de qualquer maneira.

— Não estou com medo de perder! — Ficou vermelho. — Só que você tem mais chances de vencer. — E deu de ombros, mostrando que não estava ligando para o que o amigo acabara de dizer.

Adam queria fazer birra e espernear ali mesmo, onde estava. Ele fazia aquilo para chamar a atenção dos pais, que estavam sempre ocupados demais cuidando de seus respectivos empregos. Entretanto, o garoto de cabelos loiros não fez nada. Pegou o controle e olhou para seu amigo em um tom desafiador. Adam era magro e um tanto alto para sua idade.

Eles eram um pouco diferentes, um do outro. Charlie era um pouco mais alto. Havia repetido a mesma série uma vez. Assim, ficando na mesma classe em que Adam está atualmente. Seus olhos claros não eram tirados da tela plana por nada nesse mundo. Nem por sua tia, Celine, que passava para lá e para cá. Parecia ansiosa com algo. O garoto balançava sua cabeça, tentando tirar o cabelo negro de seus olhos, em um movimento rápido.

Os dois se divertiam muito, quase todas as tardes. Às vezes, Adam ia para a casa de Charlie, direto do colégio. Sem parar em casa ou avisar à sua mãe. O que a deixava muito preocupada. Mas tudo sempre se resolvia quando ligava para ela e dizia que ele estava bem, e que estava lá.

— Pra quem é melhor do que você, eu fui bem mal nessa fase. — Charlie fez uma cara de desapontamento ao perceber que Adam havia conseguido mais pontos que ele.

O garoto loiro riu.

Celine parou de andar pela casa e resolveu ir até a cozinha, para preparar um lanche para os dois.





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Os últimos produtos caninos, que antes estavam em caixas de papelão, eram colocados com certo cuidado na prateleira de vidro. Allison queria deixar tudo perfeitamente alinhado. No intervalo de um produto para o outro, ela colocava a franja para trás da orelha, mas ela sempre voltava. Algum dia, eu crio coragem pra cortar isso. Que chatice! Fez uma careta de incômodo e voltou a colocar os produtos na prateleira.

Sua paciência para aquele tipo de trabalho era surpreendente. Ainda mais, quando ela trabalhava por prazer. A clínica veterinária em que trabalhava, era um local grande e muito bonito. O prédio tinha três andares, e isso compensava a largura do lugar. O prédio era branco, com alguns detalhes em azul, para não deixá-lo um tanto simples.

Ela observava atenta ao seu reflexo, em um fundo espelhado das prateleiras. Seus cabelos castanhos iam caindo sobre seus ombros, enquanto sua pele clara e seus olhos ainda mais hipnotizantes, lhe convenciam de quanto ela era linda. Mas ela não queria se convencer daquilo. Simplesmente não queria se achar convencida, ela não servia para aquele papel. Entretanto, Allison ainda não perdera sua facilidade para a super observação quanto às outras pessoas. Ela não entendia aquilo que tinha em si. Era como um radar de julgamentos. E até mesmo, se julgou muito julgadora.

Para os outros, ela era somente uma garota cética, que adorava achar os defeitos alheios. Mas para ela, era algo mais complexo do que apenas isso. Era uma mania. Um problema.

De repente a sineta que ficava em cima da porta tocou, assustando-a. Ela deu um salto e quase deixou um dos produtos caírem da prateleira. Aliviando-se do susto, ela voltou seu olhar para a porta, vendo uma mulher entrar. A mulher carregava consigo dois poodles brancos. Um deles estava em seu colo. Ele latia muito, enquanto o outro estava na coleira, no chão. Allison, antes de perguntar o que a mulher desejava, não contou segundos para perceber o quanto a mulher era extravagante. Seus olhos azuis estavam escondidos por uma maquiagem exagerada. Em seu cabelo loiro e ondulado, um penteado nada convencional. E em seu corpo, um vestido colado com estampa de zebra. A jovem quis rir da situação, mas resolveu conter aquela reação engraçada e ir atendê-la.

— Posso ajudar? — Allison já sabia que a mulher precisava de ajuda, mas permaneceu com um sorriso, esperando a cliente falar.

— Sim! — Respondeu, com um tom nervoso na voz. — Minha Pitty não está bem. Ela está agindo de uma maneira estranha. Está mais agressiva.

Allison não hesitou em reparar no salto alto da loira. E se assustou quando a cadela que estava em seus braços, Pitty, latiu de uma forma agressiva. Allison sorriu sem graça.

— Calminha garota... — Disse a jovem. — E quanto ao outro? — Olhou rapidamente para o outro cão, abanando o rabo.

— Ah! Esse é o Tate. Preciso que deem uma geral nele. — E sorriu de forma que a atendente soubesse do que ela falava. — Posso vir pegá-los no início da noite?

— Claro. — Allison sorriu novamente, e com o maior cuidado, pegou as coleiras dos dois cães.

— Se cuidem meus amores. — A loira mandou um beijo para os cães.

Ela ouviu um barulhinho irritante, e quando se virou para olhar, eram os braceletes da mulher. Ela acabara de sair.

Então, a jovem funcionária colocou os animais em uma sala vermelha com decorações caninas.

— A doutora já vem olhar vocês. — E fechou a porta.

Quando ela voltou até as prateleiras, acabou por um descuido, batendo o cotovelo contra um dos produtos, que caiu. Oh, não! Tudo menos isso! Rapidamente tratou de pegar algo para limpar a poça que a quebra do produto havia feito. Mas ao abaixar-se para limpar, percebeu algo estranho no formato da poça, parecia um rosto. Caveira. Uma brisa bateu na nuca da jovem, fazendo-a sentir uma sensação agourenta.





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Vivian havia acabado de estacionar seu carro prata de frente à casa do amigo de seu filho. Ela buzinou duas vezes, antes de ver Adam correndo na direção do carro. Ela olhou rapidamente para um espelhinho que ficava em um suporte no teto do carro. Sorriu, mostrando seus lindos dentes brancos e alinhados. Mexeu no cabelo loiro curto e olhou para seu filho, entrando no carro. Ele colocou sua mochila azul no banco de trás, onde estava sua irmã, Lucy.

Ela ligou o carro e acenou para Celine. A outra também acenou e viu Vivian acelerar o carro. Algum tempo depois, o carro parou em um sinal de trânsito. Depois de um silêncio mortal, Adam indagou:

— Por que você veio me buscar? — O garoto continuava encarando a rua.

— Havia ido buscar sua irmã na escola. Aproveitei e passei para te buscar.

Lucy. Como sempre ela. A queridinha da mamãe. Adam já estava acostumado com toda a bajulação que seus pais tinham com sua irmã mais nova. Ele não sabia se era por ela ser a mais nova, ou por apenas ser uma garota. Ou os dois. Enquanto ele continuava em silêncio, depois de um breve diálogo com a mãe, Lucy inclinou-se, forçando um pouco o cinto de segurança contra seu peito.

O sinal abriu.

— Olha o que a mamãe comprou pra mim! — A garotinha loira mostrou-lhe uma linda boneca com asas de borboleta, suspendendo-a e simulando um vôo. — É a minha amiga Cindy!

Adam apenas fez uma careta de tédio, revirando os olhos, e olhou novamente para frente. Vivian, cansada daquele clima estranho, resolveu falar:

— Filho, amanhã tem aquela consulta com a Dra. Robynson. Espero que você não esqueça. — A mulher tirou o olhar da rua por alguns breves segundos, mas logo voltou a redobrar a atenção.

— Mas amanhã é meu aniversário! — O garoto cruzou os braços, como rejeição e bufou. — Além disso, ela quer saber muito sobre mim e... — Adam não conseguiu completar sua fala, pois estava muito nervoso.

Apesar das consultas semanais com a Dra. Robynson, psicóloga e também amiga de sua mãe, Adam sentia-se incomodado com suas perguntas estranhas. Ele praticamente tentava entender o real motivo de todas aquelas perguntas, mas elas sempre o deixavam um pouco alterado. Era como se ela quisesse saber sobre sua vida. Inserir-se de alguma forma em seus pensamentos, mesmo que subliminarmente. Entretanto, ela tinha de fazer isto. Afinal, entender o que se passava na mente do pequeno garoto fazia parte de seu trabalho.

Essas consultas começaram logo após várias desconfianças de sua mãe, com relação ao comportamento de Adam. A partir de certo dia, ele começou a agir estranho, incluindo um hábito de falar sozinho e enxergar coisas esquisitas. Ele enxergava espíritos. Isso era o que ele afirmava, mas nem Vivian, nem seu pai acreditavam. Além disso, Vivian era quem tomava a maioria das decisões da casa, já que Samuel, seu marido, era muito ocupado com o trabalho. Muitas vezes, chegava em casa tão tarde, que só conseguia ver os filhos e ela dormindo. Apesar disso, Vivian já estava acostumada com o monopólio que enfrentava em sua residência.

Vivian era dona de uma clínica veterinária no centro da cidade, mas sempre conseguia tempo para os filhos, pois tinha funcionários muito confiáveis. Ela não estava satisfeita por tomar sozinha todas as decisões, mesmo que gostasse desta “independência”. O marido era muito ausente. Tentara muitas vezes conversar com ele, mas ele não dava brecha, pois o trabalho, de alguma maneira, sempre ficava como primeiro plano. Adam não conseguia compreender tudo aquilo.





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Bruce passou por alguns homens carregando uma enorme placa metálica, e também algumas barras. Então, entrou no campo onde o Comet Circus estava se instalando. Ele estava feliz com o convite do dono do circo para trabalhar naquele local. Ele sabia que seria ótimo e muito divertido trabalhar em um lugar tão grande. Ficara mais alegre ainda por que ganharia mais do que estava acostumado a ganhar fazendo mágicas em festas infantis.

Ajeitou o casaco preto e a camisa branca, antes de passar por uma enorme lona amarela com listras azuis. O proprietário do circo, Gregory Stanley, estava ordenando a retirada da jaula dos leões para o outro lado da lona, assim ficando mais próximo do picadeiro. Bruce viu os homens levarem a estrutura de ferro para onde Gregory havia mandado, e sorriu quando o homem o avistou. Rapidamente ele se aproximou e apertou sua mão.

— Que bom vê-lo por aqui. Veio conhecer as instalações? — Brincou.

— Digamos que sim. — Bruce olhou ao redor.

Era um enorme campo, e havia pouca grama ali. A maior parte da estrutura do circo já havia sido montada, e queriam terminar ainda naquele mesmo dia, pois a estréia estava marcada para o dia seguinte. Tinha pouco tempo, sorte deles a maior parte do circo já estar pronta.

Bruce colocou a mão no bolso quando Gregory pediu que o acompanhasse, para conhecer mais do lugar onde ele passaria a trabalhar. Mas antes que Bruce pudesse caminhar, seu celular tocou. Ele olhou no visor. Era Betty, sua namorada.

— Alô? — A voz do homem saiu um pouco rouca. Então ele tossiu.

Amor. Estou com um tempo livre esta tarde. Tenho aula marcada só para depois das 18h00min. Será que você não quer vir aqui pra gente... — De imediato, o homem sentiu o tom de malícia na voz da namorada.

Bruce pensou em desconversar, mas hesitou em fazer aquilo. Decidido a ceder, podendo deixá-la chateada, concordou.

— Daqui a pouco passo aí no salão. Também te amo. Beijo. — O homem desligou e sorriu para Gregory, que acenou, para que o mágico o seguisse.

Betty permaneceu com o celular na orelha por alguns segundos, até colocá-lo de frente ao rosto e comemorar. Fazia algum tempo que ela e Bruce não tinham um tempo a sós para fazer o que quisessem. Ele sempre arranjava uma desculpa. Betty não acreditava, mas fingia acreditar. E quando ele queria ficar a sós com ela, sempre tinha uma aula marcada para interrompê-los.

Professora de tango e dona de um salão de dança muito bem freqüentado. Ela trata a dança como seu segundo oxigênio, além do dinheiro ganho pelas aulas. Ela consegue se sustentar, e sustentar o tratamento do avô, que sofre de Hipertensão. Ele mora com ela em seu apartamento, ao lado do salão, e também estava ali a observando, sentado em uma poltrona de cor vinho.

Ela foi até um canto do salão e trocou sua roupa. Isso, enquanto o avô havia se distraído. Tirou o vestido negro pesado e as sandálias. A enorme rosa vermelha dava em seu cabelo ondulado e loiro um toque a mais de sensualidade. Para ela, tango também eram sutileza e sensualidade. Ela tinha total mestria sobre isso, pois disso ela tinha certeza.

Quando terminou de trocar de roupa, ela olhou novamente para o avô. Agora, mais distraído com noticiário que passava na tevê. Então, ela parou ao seu lado, apoiando-se em um dos braços da poltrona. Pegou o controle remoto ao lado dele e aumentou o volume. Decerto, ela estava interessada no mesmo.

E o apresentador disse:

“Amanhã, o deslizamento de uma caverna no Colorado, que matou mais de vinte jovens, fará aniversário. Uma homenagem será feita...”

Betty suspirou, cansada de ouvir falar de tragédias. Já bastava a que tirara a vida de seus pais, há alguns anos atrás. Aquela notícia fora o basta, para que ela saísse dali, deixando o avô assistir ao noticiário sozinho.

Ela não temia deixá-lo sozinho no salão. Para ela, seu salão era o mais seguro possível, a dança era segura. E seu avô só precisava de alguns minutos sozinho, para relaxar.






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Era meia-noite. Vivian sabia disso, pois acabara de olhar no visor de seu relógio digital, que estava em cima do criado-mudo. Seus olhos estavam pesados, havia cochilado por alguns minutos, até escutar um barulho estranho. Provavelmente era Samuel chegando. Então, levantou-se da cama delicadamente, com certo tom de cansaço e abriu a porta do quarto, certa de que o encontraria em casa. Calçada com as pantufas e vestida com um pijama Baby Doll branco, ela caminhou no corredor com certa cautela, pois não tinha a mesma certeza de ser seu marido.

Respirou fundo, ouvindo seu coração pulsar mais rápido. Pois um pouco do cabelo loiro para trás da orelha e desceu as escadas. Olhado para a sala viu Samuel sentado no sofá. A luz de seu notebook era a única que clareava aquele lugar. Sorriu aliviada por não ser nenhum ladrão. Continuou se aproximando, ainda vagarosamente.

Assim que se aproximou, sentando ao seu lado e beijando levemente seu pescoço, Vivian viu Samuel dar um pulo e fechar o notebook com certa violência. Ela não entendeu o motivo para tal susto, mas esperou ele se acalmar e lhe explicar.

— O que foi Sam? — Olhava-o confusa.

— Ahr, não foi nada querida. — Sam beijou-lhe.

— Você chegou mais tarde hoje. Houve algum problema no escritório? — Sua pergunta foi inevitável.

— Não. Eu cheguei já faz alguns minutos. Estava refazendo algumas anotações aqui para um relatório. Já estava indo dormir.

— Está bem. Boa noite querido. — Vivian deu-lhe outro beijo.

Ela ergueu-se do sofá e voltou a subir as escadas, desaparecendo na escuridão. Samuel abriu novamente o notebook, e voltou a fazer o que estava fazendo anteriormente.





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25 de junho de 2012


Paris abriu a porta em um rompante e quando viu a expressão da mãe, percebeu que havia assustado-a. Ela sorriu sem graça e entrou na sala do consultório, sem ao menos perguntar se podia. Poderia ter pacientes ali, mas a garota não ligou e viu a porta bater. Sua mãe a fitava incrédula, acenando negativamente com a cabeça e retirando os óculos.

A garota sentou-se, ajustando a toca verde que estava cobrindo o topo de seus cabelos de tom castanho claro, quase loiros. Paris viu a mãe arrumar um porta-retratos bem enfrente dela. A foto era a da família toda: Ela, Paris, Charlie e seu pai. O último morreu depois que o navio em que ele estava naufragou, depois de explodir.

— O que veio fazer aqui? — Shanon perguntou.

— Queria pedir permissão pro Freddy dormir lá em casa, hoje. — Seus olhos claros tentavam persuadir sua mãe, mas aquela era a pior pessoa que Paris poderia escolher para perguntar uma coisa daquele tipo.

— Por que não esperou que eu chegasse em casa para conversarmos sobre isso?

— Preciso da resposta agora, mãe. Então... A senhora deixa? — Seus olhos brilharam.

— Não. — Shanon foi curta e direta. — Que eu me lembre, já falamos sobre isso, e eu dei a mesma resposta.

— Você teve vida? — Paris bufou. — Mãe é só essa noite. Por que não pode deixá-lo dormir lá em casa?

— Preciso te responder esta pergunta?

— Claro que precisa! — Paris alterou o tom de voz. — A senhora sempre tem um argumento na ponta da língua. — O tom irônico da jovem fora inevitável.

— Querida... Quando chegar em casa, conversamos. Está bem?

— Não. Não está bem!

E Paris se ergueu da cadeira furiosa, quase derrubando o porta-retratos da mesa. Shanon fora rápida e o segurou. A psicóloga ouviu a porta bater bruscamente e ajeitou os óculos. Até quando ela vai ser assim?

A mulher apenas encarou o porta-retratos, lembrando dos momentos que não viveu com o falecido marido. Ela era uma linda mulher de cabelos castanhos na altura dos ombros, olhos azuis e pele alva. Era magra e dona de uma personalidade muito forte. Não parecia ter seus quase quarenta anos.

Então voltou a olhar para a porta, quando uma mulher loira com seu filho abriu-a.

— Podemos entrar? — Disse Vivian, sorrindo.

— Claro! Vocês são pontuais, em? — Brincou a psicóloga. Ela tentava livrar-se dos pensamentos ruins, enquanto tirava o naufrágio do navio Rainha Fohtaed, da mente.

Vivian olhou para o relógio. 08h10min. Adam continuou observando a Dra. Robynson com um olhar indiferente, e foi assim a consulta inteira. Shanon queria saber mais sobre o garoto, estava muito intrigada. Porém, naquele dia não conseguiu mais nada, além de um “não sei”.





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O delicioso bolo de chocolate com cauda de brigadeiro fora colocado na mesa cautelosamente. Vivian era acostumada a manusear bolos, pois não era o primeiro aniversário na família. O sol estava se pondo, e seus últimos raios de sol passavam pela janela aberta, iluminando aquela parte da casa. Adam estava parado de frente à mesa, com as mãos nela. Seu sorriso traduzia sua felicidade naquele momento. Finalmente a família estava reunida. Assim é bem melhor. Pensou o garoto, antes de ver a irmã quase passar o dedo no bolo.

— Ei! — Fez uma careta, olhando para seu pai, parado bem ao lado de sua mãe.

Felizmente seu pai tirara um dia de folga. Ele parecia estar bastante feliz, com um sorriso de orelha a orelha. Adam pensou que fosse pelo fato de ele estar ficando grandinho, como sua mãe dizia. Ou simplesmente por estar longe do escritório. Ele não sabia decifrar a expressão do pai, mas mesmo assim ficou feliz por ver toda a família ali reunida, e comemorando seu aniversário.

O garoto despertou de seus pensamentos quando escutou as primeiras vozes iniciando os parabéns. Lucy saltitava, enquanto cantava. Os olhos de sua mãe brilhavam, e ele ainda fitava o sorriso largo do pai. Samuel carregava em seu rosto jovem um olhar castanho enigmático e um sorriso encantador. Ele tinha cabelos marrons, quase chegando a tons grisalhos, e também uma barba feita, que marcava seu perfeito maxilar.

A tia de Adam, Bailey, também estava lá. Ela era irmã de seu pai e tinha uma filha chamada Gale, que estava acompanhando-a. A mulher e sua filha eram um pouco parecidas, já que as duas tinham cabelos castanhos longos e olhos também de mesma cor. A diferença era praticamente a idade das duas. Bailey estava com um rabo de cavalo, enquanto sua filha usava duas tranças colocadas para trás.

Quando Adam percebeu que as palmas estavam sumindo, ele inclinou-se para frente, apagando a vela e fazendo um único pedido.





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Um dos braços fortes de Freddy passou pelos ombros de sua namorada, até se ver envolvendo-a por completo. Ela sorriu e deu-lhe em selinho. Ele queria mais, mas provavelmente ela não daria, pois havia acabado de se distrair. Neste momento Paris largou o namorado e correu, fazendo uma trança por entre as pessoas que ali andavam. Avistou sua melhor amiga se aproximando. Quando Allison viu Paris a abraçou. A outra não pensou duas vezes e disparou:

— Achei que você não vinha. Cheguei até a pensar: Ela deve ter ficado ocupada demais gritando com seu reflexo na frente do espelho.

— Que bom que pensou não é? Já é um ótimo começo. — Brincou. — Foram alguns minutos de reflexão.

Freddy se aproximou com seu irmão mais novo, Ted.

— Nossa! Você está linda, Allie! — Disse-lhe, enquanto soltava uma piscadela com seus olhos azuis.

Paris apenas socou a barriga do rapaz, fazendo-o engolir seu elogio. Ela virou-se para ele e aproximou seu rosto.

— Da próxima vez, te trago uma mordaça. — E então saiu, abraçada da amiga.

— Não se preocupe, ele não faz meu tipo. — Allison sussurrou, soltando uma risada em seguida.

Paris também gargalhou e olhou por cima dos ombros. Ela viu os dois parados no meio da multidão.

— Vocês não vêm? — Falou.

Freddy olhou para Ted. Ele parecia querer algo, mas seu rosto vermelho dizia que ele estava com vergonha.

— Tá. Pode falar. O que você quer?

— Eu quero um refrigerante. Tô com muita sede.

— Ahr, ok! — E Freddy cedeu. — Vocês podem ir andando, vejo vocês lá dentro! — Gritou ele, para as duas garotas, que agora voltaram a caminhar.

Toda vez que o rapaz olhava para seu irmão, sem contar com seus treze anos, ele via apenas aquele bebezinho pedindo um carinho. Mesmo que seus pais fossem suficientemente carinhosos, ele ainda sentia ausência de contato com ele. Toda vez que ele olhava para Ted, era como se conseguisse se ver naquela idade, com toda aquela fragilidade. Com aquela perna mecânica. Às vezes, Freddy pensava em como era ruim ver o irmão daquela forma, tão indefeso. Ele sabia que Ted poderia se virar sozinho, e ele até faz esforço para isso. Mas o sentimento é muito maior. Freddy não se considerava um cara sensível, porém, quando se tratava de Ted, toda sensibilidade era pouca.





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Vivian se aproximou lentamente, tocando a venda negra que estava deixando Adam mais ansioso. Quando a venda fora tirada, o loiro arregalou os olhos, se espantando com tamanha beleza que o lugar lhe proporcionava. Estava se sentindo maravilhado com as cores e todas as luzes. O circo era mais magnífico quando se estava nele: luzes coloridas e enfeites alegres. O garoto ficou ainda mais empolgado quando um mágico os pegou de surpresa, arrancando uma expressão de espanto de Vivian, que sorriu em seguida. Sem dar nenhuma palavra, ele mostrou um sorriso e se aproximou de Adam, levando sua mão enluvada até a orelha do pequeno.

De lá tirou uma moeda brilhante e o mostrou.

— Que legal! — Seus olhos brilharam.

Suavemente, o mágico foi tirando sua cartola, e de lá, com movimentos um pouco mais rápidos, revelou um lindo buquê de rosas vermelhas, entregando de imediato para a mulher loira sorridente.

— Obrigada. — Sorriu.

Samuel envolveu-lhe em um abraço, e viram quando o mágico mostrou um balão amarelo com um smiley para Lucy. Ela sorriu de orelha á orelha, mostrando seus dentinhos.

Todos se sentiam muito felizes. De repente o mágico mostrou-lhe um último olhar misterioso, antes de desaparecer no meio das pessoas que caminhavam por ali. Adam ainda correu para tentar ver o mágico uma última vez, mas havia o perdido. E foi escutando um barulho estranho que ele olhou para o lado. De repente viu uma enorme chama, que nascia na boca do cuspidor de fogo. Ele fitou bem a chama, que parecia se mover por conta própria, fazendo uma imagem estranha, que ele não soube decifrar. O cuspidor de fogo mandou-lhe um olhar estranho, antes de soprar mais uma vez a chama, que agora parecia bem mais bizarra.

Adam sentiu um arrepio, mas essa sensação se foi quando seu pai tocou seu ombro.

— Que tal comprarmos as entradas logo? — O homem falou, avistando a bilheteria a alguns metros deles.

Adam concordou, acenando positivamente com a cabeça. Ele queria se divertir. Era seu aniversário. Essa data ficaria marcada em sua vida. Marcada para sempre.


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Notas finais do capítulo

Esta fic fora baseada nas tragédias dos circos: Ringling Brothers(de 6 de julho de 1944 - Connecticut) e Vênus(de 8 de fevereiro de 1981 - Bangalore/Índia).
Obrigado pela leitura, e não esqueça de comentar :D