Card Master Sakura escrita por ghost of Sparta


Capítulo 23
Capítulo 14 - A soma de todos os medos PT1


Notas iniciais do capítulo

Estranhos acontecimentos vão se multiplicando! E Sakura é obrigada a enfrentar um desafio inesperado!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/328547/chapter/23

[Imagem Ilustrativa do Capitulo]

Yoko Tamura
estava terminando de organizar algumas caixas no estoque do supermercado onde conseguira um trabalho temporário. Ela estava acompanhada de uma funcionária do estabelecimento, uma mulher loira de cerca de 20 anos chamada Mariko.

Mariko: ... e esse é o que? Seu quarto emprego temporário?
Yoko: Sim. Por que está me perguntando isso?
Mariko: Você parece muito cansada ultimamente e eu estou preocupada.
Yoko: Eu agradeço a preocupação, mas estou bem. Preciso conseguir uma boa renda, afinal estou criando o meu irmãozinho sozinha agora.
Mariko: Mas os empregos que você está aceitando podem ser muito dificeis. Organizar essas caixas deveria ser trabalho para um homem...
Yoko (carregando duas caixas): Não é nada... que... que eu não consiga lidar...
Mariko: Eu te conheço há anos, Yoko. Sei os problemas pelos quais você passa desde a morte de seus pais e sei que você tem a tendência a se machucar se isso significar que as pessoas que ama ficarão bem. Eu não quero perder minha grande amiga.

Yoko coloca uma ultima caixa de alimentos enlatados sobre uma pilha de caixas. Em seguida ela pega um lenço no bolso de sua calça e limpa o suor em seu rosto.

Yoko: Eu preciso desses empregos temporários, Mariko. Preciso de dinheiro para viver e para cuidar do Kyosuke. Preciso de dinheiro para continuar a faculdade e realizar meu sonho de ser médica. Eu não vou desistir.
Mariko: Tudo bem, mas tente pelo menos descansar de vez em quando, tá? Seu corpo não está acostumado a tanto esforço e essa rotina de faculdade / empregos pode acabar com sua saúde.
Yoko: Não se preocupe. Eu conheço meus limites. E mesmo que por algum motivo eu me esqueça deles, tenho certeza que minha grande amiga vai estar por perto para me dar uma bronca e me colocar nos eixos.

Mariko dá uma risada.

Mariko: Pode ter certeza disso.
Yoko: Agora, vamos acabar logo com isso e encerrar o expediente. Ainda tenho que comprar o jantar do Kyosuke.
Mariko: Certo.

Mariko começa a caminhar por entre as diversas estantes daquele galpão de estoque enquanto faz algumas anotações em sua prancheta. Yoko começa a carregar algumas caixas para a estante mais próxima da entrada do galpão.

Mariko: Sabe... você está parecendo cada vez mais com ele...
Yoko: Com ele? De quem você está falando?
Mariko: Do Kinomoto, oras.

Ao ouvir a menção do nome do rapaz, Yoko sente suas pernas tremerem e quase derruba uma das caixas. Ela consegue recuperar o equilibrio e segue seu trabalho de organização.

Yoko: Da onde você tirou isso?
Mariko: Deixe-me ver... não era ele que vivia arrumando vários empregos para juntar dinheiro?
Yoko: É ele sim... ele ainda continua fazendo isso...
Mariko: Hmmm... me pergunto se ele também não é um dos motivos de você viver correndo atrás de empregos temporários... afinal, desse jeito vocês estão sempre se esbarrando por aí...
Yoko (gritando): Não é nada disso!

Yoko sente seu rosto arder enquanto cora violentamente. Estava se sentindo um pouco aliviada por sua amiga não poder vê-la agora. Mariko dá uma gargalhada.

Mariko: Você sabe que essa reação só confirma tudo, não é?

Yoko nada responde. Ela prefere continuar seu trabalho e tentar deixar o assunto morrer. Mariko segue caminhando por entre as estantes, indo mais ao fundo do galpão, uma área onde a iluminação era mais precária.

Mariko: Você sempre teve uma queda por ele, não é? Pena que ele já gostava de outra pessoa. Mas a esperança é a ultima que morre. Quem sabe um dia o coração dele fica livre para você, não é?

Mariko nota um movimento no sombrio fim do corredor. Ela se vira abruptamente e pensa ver um par de olhos vermelhos a encarando.

Mariko: Tem alguém ai?

Sem resposta. Mariko pega uma lanterna no bolso de seu jaleco e aponta o feiche de luz para o fim do corredor. Não havia nada ali além de caixas. Mariko suspira, aliviada.

Yoko: Algum problema, Mariko?
Mariko: Não é nada. Pensei ter visto alguma coisa. Talvez tenha ratos por aqui.
Yoko: Ratos num supermercado? Não deixe a vigilância sanitária saber disso.
Mariko: Isso é problema do gerente. Sou só uma funcionária que trabalha pelo dinheiro no fim do mês.

Yoko termina de colocar as caixas no lugar. Ela pega uma vassoura e começa a fazer uma breve limpeza no lugar.

Yoko: Mariko... acho que ainda não te agradeci o bastante por ter convencido o gerente a me dar esse emprego temporário.
Mariko: E nem precisa. É para isso que servem os amigos.
Yoko: Prometo que vou te compensar de algum jeito.

Mariko dá meia volta e começa a caminhar para fora das fileiras de estantes.

Mariko: Não precisa fazer nada. Tenho certeza que no dia que eu precisar de algo, você... arghhh!
Yoko: Mariko?

Yoko olha para os corredores de estantes e nota que Mariko estava caída no chão.

Yoko: Mariko!

Yoko larga a vassoura e corre para socorrer a amiga. Mariko se levanta e fica de joelhos enquanto segura sua mão esquerda. Ao lado dela haviam duas caixas viradas e alguns copos de vidro quebrados, os cacos espalhados pelo piso. Yoko se agacha junto a amiga.

Yoko: Você está bem? O que aconteceu?
Mariko: Eu tropecei em algo, perdi o equilibrio e trombei com essa estante. Derrubei algumas caixas com copos de vidro e então...

Mariko mostra sua mão, onde havia um caco de vidro fincado. Um pouco de sangue escorria do ferimento e começava a formar uma pequena poça no chão. Mariko fita a poça de sangue e seu rosto fica pálido repentinamente. Perdendo um pouco do equilibrio, ela acaba nos braços de Yoko.

Yoko: Ei, Mariko! O que você tem?
Mariko: D-desculpa... me senti tonta de repente...

Yoko olha para o sangue no chão.

Yoko: Você por acaso tem hematofobia?
Mariko: Hema o que? Nem sei o que é isso!

Mariko olha para o sangue escorrendo em seu braço e vira seu rosto, tentando esconder seu semblante, que mostrava uma tremenda vontade vomitar.

Mariko: Droga. Eu tenho um problema com sangue... sempre que vejo passo mal...
Yoko: Mas foi isso o que eu perg... ah, esquece. Tem algum kit de primeiros-socorros por aqui?
Mariko: No banheiro.

Yoko ajuda sua amiga a se levantar e a conduz a uma porta do lado oposto da entrada do galpão. Era o local onde ficavam os sanitários. Yoko coloca Mariko sentada num banco de madeira e se apressa em procurar o kit de primeiros socorros. A maleta com o desenho de uma cruz vermelha estava presa numa parede logo após a fileira de pias. Yoko carrega a maleta consigo e pega a mão ferida de Mariko.

Mariko: Ai... isso dói muito...
Yoko: Calma. Eu vou tirar o vidro e depois limpamos a ferida para não infeccionar. Certo?
Mariko (fechando os olhos): Tá bom.
Yoko: 3... 2... 1... já!

Yoko puxa o caco de vidro e Mariko dá um grito de dor.

Yoko: Calma. Respire fundo. Quanto mais rápido fizermos o curativo, mais rápido a dor vai diminuir.

Mariko ergue a manga de sua blusa, já manchada pelo sangue. Yoko coloca o braço da amiga numa pia, abre uma torneira e deixa a água banhar a ferida. Mariko observa o sangue se misturando a água e fica enjoada.

Yoko: Não olhe, Mariko. Você vai acabar passando mal e desmaiando por causa de sua fobia.
Mariko: Ok, ok.

Mariko vira o rosto e tenta controlar a tremedeira em suas pernas.

Yoko: Temos que limpar isso bem... talvez tenha que dar alguns pontos...
Mariko: Mas você é médica. Você pode fazer tudo para mim, não é?
Yoko: Ainda não sou médica. Posso fazer um curativo básico para você, mas é melhor depois ir a um hosp...

Yoko pára de falar ao notar que a água que estava saindo da torneira havia assumido uma coloração vermelha.

Yoko: Mas o que...?
Mariko: Alguma coisa errada?
Yoko: A água... a água virou sangue!
Mariko: Que?!?
Yoko: Está saindo sangue da torneira e não água!

Mariko vira o rosto e olha para o sangue flutuando na pia.

Mariko: Ahhhhhh!

As outras torneiras explodem e vários jorros de sangue começam a inundar o banheiro. A força das explosões é o bastante para danificar todas as pias. Mariko põe as mãos na cabeça e recua, tentando acalmar a tremedeira em todo seu corpo. Yoko fica apenas olhando para as pias destruídas, totalmente perplexa.

Mariko: Ahhhhhh!

O rosto de Mariko fica muito pálido e ela dá um ultimo grito histérico antes de desmaiar.

Yoko: Mariko!

Yoko corre até Mariko e a segura em seus braços. Ela chacoalha a amiga, tentando despertá-la.

Yoko (uma certa apreensão na voz): Vamos lá, Mariko. Acorda. Acorda. Acorda.

Yoko, então, percebe que o sangue desaparecera. Agora todo o banheiro estava apenas sendo inundado por água. Yoko se levanta e molha sua mão numa poça, aparentemente para confirmar que era real.

Yoko: Mas o que está acontecendo?

DIA SEGUINTE – ESCOLA TOMOEDA

Ayu: SANEHARA!

Ayu Sakagami, a capitã do clube de atletismo, estava liderando mais um treinamento. As meninas do clube estavam se exercitando logo de manhã cedo, um esforço que consideravam necessário caso desejassem realmente vencer a Décima Segunda Maratona Juvenil de Tóquio. Rina Sanehara, como de costume, havia ficado envergonhada com o olhar fixo de sua capitã sobre ela. A garota acaba tropeçando nas próprias pernas e caindo de cara no chão.

Ayu: Quantas vezes você pretende fazer bobagens hoje?
Rina (fazendo várias reverências): Desculpa, desculpa, desculpa.
Ayu: Isso não é um programa de comédia, isso é um treinamento de atletismo. Agora, comece a correr a sério e mostre o que pode fazer.

Sanehara se levanta e corre alguns metros, mas acaba tombando de novo. A menina sente a sombra de sua capitã sobre ela e começa a tremer de medo. Então Ayu estende sua mão para Rina, o que deixa a garota surpresa.

Rina: S-senpai?
Ayu: Eu sei que você pode fazer melhor que isso. Eu vi seu verdadeiro potencial. Por favor, se esforce mais.
Rina (um pouco sem graça): S-sim... vou tentar dar o meu melhor...
Sakura: Senpai?

Sakura Kinomoto, Rei Tachibana e Jun Misaka haviam terminado mais uma volta e se aproximado das colegas de clube.

Ayu: O que foi, Kinomoto?
Sakura: Já está na hora de encerrarmos por hoje.
Rei: Nós temos provas nas nossas classes.
Ayu: Ah. É verdade. Vocês haviam avisado. Podem ir então. Eu e a Sanehara vamos praticar mais um pouco.
Rina: B-boa sorte... n-nas p-provas...
Sakura (sorrindo): Obrigada, Sanehara.

Jun coloca sua mão no ombro esquerdo de Rina e dá um sorriso maldoso.

Jun: Hmmm... vai ficar sozinha aqui com a dama-de-ferro? Meus pêsames, Sanehara. Espero que já tenha preparado seu testamento...
Rina (tremendo): T-testamento?
Ayu: MISAKAAAAAAA!
Jun: Já fui!

Jun começa a correr como um raio e logo desaparece de vista.

Ayu (balançando a cabeça negativamente): Por que ela sempre tem que dificultar a minha vida?

Rina se ajoelha no chão, ainda tremendo. Sakura passa a mão na cabeça da colega de maneira carinhosa.

Sakura: Não se preocupe. A Misaka estava só brincando. A capitã Sakagami pode parecer meio dura às vezes, mas isso é porque ela acredita na gente e quer nos ajudar a sempre melhorar. Você gostaria de ter uma medalha de campeã na sua estante, não é?
Rina: S-sim.
Sakura: Então nós temos que trabalhar duro para isso. A capitã vai nos ajudar a ir na direção certa. Você não precisa ficar com medo. Se precisar de qualquer coisa, você pode contar comigo a qualquer hora.
Rina: E-entendi... obrigada, Kinomoto.
Sakura: Não, não. Nós somos amigas, então temos que nos tratar pelo primeiro nome agora.
Rina: Entendi... obrigada... S-sakura...
Sakura (sorrindo): Vamos dar o nosso melhor, Rina!
Rina (erguendo os braços no ar): Sim!

Sakura e Rei se despedem e se dirigem ao vestiário feminino. Elas retiram seus suados uniformes de educação física e se preparam para tomar uma rápida ducha nos chuveiros, onde encontram Jun Misaka.

Rei: A capitã vai te esganar, Misaka.
Jun (rindo): Não se preocupem. Eu sei como lidar com a dama-de-ferro. Só preciso encontrar um lugar onde ela não possa me alcançar... quando será o próximo vôo para fora do país?

Sakura e Rei abrem seus chuveiros enquanto Jun começa a se secar.

Sakura (esfregando os cabelos): Você não devia provocar tanto, Jun. Um dia vai acabar...
Jun: Não me chame por esse nome. Me chame de Misaka.

Sakura fica surpresa com o tom frio com que Jun fala.

Sakura: D-desculpa, Misaka...

Percebendo o clima pesado que havia sido criado, Jun sorri e tenta mudar o assunto.

Jun (terminando de se vestir): Bem... eu vou indo na frente. Ainda tenho que fazer algumas orações antes da prova.
Rei: Você devia tentar estudar de vez em quando, Misaka. Isso iria facilitar um pouco as coisas...
Jun: E tirar o trabalho de Deus? Em que ele iria gastar seus milagres então?
Rei: Tenho certeza que ele pensaria em algumas outras coisas...
Jun: Você se preocupa demais. Vai ficar tudo bem. Até depois, Saks. Te vejo na sala, Rei.

Jun acena para as amigas, recolhe suas coisas e deixa o vestiário. O silêncio impera no local enquanto as meninas seguem tomando seu banho. Após alguns minutos, elas começam a se secar e a colocar seus uniformes.

Sakura: Rei...
Rei: Sim?
Sakura: Por que a Misaka reagiu daquele jeito?
Rei: Sinceramente, eu não tenho muita certeza. Aconteceu comigo uma vez. A capitã Sakagami me disse para não levar para o lado pessoal. Parece que a Misaka odeia o primeiro nome dela.
Sakura: A senpai disse por quê?
Rei: Não. Ela disse que é um assunto pessoal e que era melhor deixar para a própria Misaka contar quando ela estivesse preparada.
Sakura: A senpai parece conhecer bem a Misaka, não é?
Rei: Eu não sei se é verdade, mas ouvi boatos de que elas se conhecem há anos e...

O sinal da escola soa, indicando que as primeiras aulas da manhã estavam prestes a começar.

Sakura: Temos que ir!
Rei: Nos falamos depois, Sakura. Boa sorte nas provas.
Sakura: Para você também, Rei.

As meninas correm para o prédio da escola e se dirigem o mais rápido possível para suas respectivas salas de aula. Ainda haviam alguns alunos nos corredores levando bronca dos membros do conselho estudantil por correrem ali, o que era contra as regras. Temendo também levar uma bronca, Sakura passa por eles andando rápido e fica aliviada quando abre a porta de sua sala e percebe que o professor ainda não chegara.

Yuriko: Olha só... a ‘miss atrasada’ foi a ultima a chegar de novo. Por que não estou surpresa?

Yuriko Yanagizawa havia iniciado suas provocações costumeiras. Mika Inoue e Kaya Miori seguem sua líder, rindo do comentário dela. Sakura opta por apenas ignorar.

Tomoyo: Ohayo, Sakura.
Shaoran: Ohayo, Sakura.

Sakura recebe o cumprimento de sua melhor amiga e de seu namorado ao se sentar em seu lugar.

Sakura: Ohayo, pessoal.
Tomoyo: Como foi o treino hoje?
Sakura (sorrindo): Muito produtivo. Estamos ficando cada vez melhores.
Shaoran: Você lembrou de estudar para as provas, não é?
Sakura: Claro que sim. Estudei alguns minutos depois do nosso treino ontem...
Shaoran: Só depois do treino? Mas nós ficamos até tarde...
Kazuko: O que vocês ficaram fazendo até tarde?

Kazuko estava passando um lápis com estampa de ursinhos entre os dedos, observando a conversa de seu lugar habitual, a cadeira logo atrás de Tomoyo Daidouji.

Sakura (sorrindo, sem graça): Nós? É... bem... nós estávamos...
Shaoran: Isso não é da sua conta, Nishimura. Você devia parar de prestar atenção na conversa dos outros e cuidar da própria vida.
Kazuko (baixando a cabeça): D-desculpa...
Sakura: Shaoran!

Nesse momento, o professor Terada entra na sala de aula, atraindo a atenção de todos os alunos.

Professor Terada: Ohayo, meus alunos. Todos aos seus lugares, por favor.

O professor Terada se senta em sua mesa e começa a retirar algumas folhas de sua pasta. Ele se surpreende ao perceber que Rika Sasaki estava parada diante dele.

Professor Terada: Rika?
Rika: Ohayo, querido professor.

O professor Terada é o único a notar uma quase imperceptível pausa após a palavra “querido”. Rika estende seus braços para o professor e lhe entrega uma maça.

Professor Terada: Para mim?
Rika: Sim. Um presente para agradecer por sempre tomar conta de mim... quero dizer... de todos nós...

O professor sorri e passa a mão na cabeça de Rika, deixando a menina levemente corada.

Professor Terada: Agradeço o presente. Fiquei muito feliz.
Rika: Sério?
Professor Terada: Sim. Com certeza.
Rika: Que bom.
Professor Terada: Agora, por favor, volte ao seu lugar para podermos começar.
Rika: Certo.

Rika dá meia-volta e se dirige ao seu lugar.

Professor Terada: Hoje vamos começar pela prova de matemática. Espero que tenham estudado direitinho.

Sakura olha para trás e nota o olhar de preocupação de Shaoran.

Sakura (fazendo sinal de positivo): Não se preocupe, Shao-kun. Eu não dormi até decorar todas aquelas fórmulas. Tenho certeza que vou tirar uma nota boa.
Shaoran: Hmmm...
Tomoyo (acenando para os amigos): Boa sorte, pessoal.

O professor passa por todas as cadeiras deixando as provas viradas sobre as mesas. Após terminar o processo, ele se recosta em sua mesa e sorri amigavelmente.

Professor Terada: Desejo boa sorte a todos. Podem começar.

Os alunos viram suas provas e a sala de aula logo é tomada pelo som de canetas e lápis trabalhando. Alguns murmúrios são ouvidos, mostrando que haviam alunos preocupados com o grau de dificuldade da prova. Sakura escreve seu nome completo em sua prova e analisa todas as questões do começo ao fim. A menina respira fundo e fecha seus olhos.

Sakura (murmurando): Eu consigo ver... todas as formulas... consigo lembrar de todas elas...

Sakura vê diversos números e sinais flutuando em sua mente, cada um deles emanando uma forte e intensa luz. A menina abre seus olhos e encara as questões em sua prova mais uma vez.

Sakura (murmurando): ... mas não tenho nenhuma idéia do que fazer com elas...

Sakura bate sua cabeça contra a mesa, derrotada.



Sakura, Naoko, Tomoyo, Meiling e Rika estavam sentadas embaixo de uma árvore no pátio. Haviam se reunido para lanchar e conversar durante o intervalo. Meiling serve alguns copos de suco para as amigas enquanto Rika serve pedaços de bolo.

Sakura: Nossa! Seu bolo está delicioso, Rika. Você fica melhor na cozinha a cada dia que passa.
Rika: Obrigada, Sakura. Fico feliz que tenha gostado.
Tomoyo: Quem seu deu bem foi a Meiling. Está ganhando doces deliciosos todos os dias.
Meiling (rindo): O que eu posso fazer se a minha grande amiga me ama de paixão, né?
Tomoyo (rindo): Eu achei que os doces eram fruto da sua pequena chantagem emocional...
Meiling (com a boca cheia): Não sei do que você está falando...
Rika: O que você achou, Naoko?
Naoko: ...

Naoko parecia não estar prestando muita atenção. Olhava para o copo de suco em suas mãos, sua mente perdida em seus próprios pensamentos.

Rika: Naoko?
Naoko (levando um pequeno susto): Hã? Desculpa. Você disse alguma coisa?
Rika: Perguntei como está o bolo.
Naoko (após tomar um gole do suco): Ah. Eu achei delicioso, como sempre. Você vai dar uma excelente esposa.
Rika: V-vou?

Rika tenta em vão ocultar seu rosto corado com suas mãos.

Meiling: Ah. Isso me lembra uma coisa importante!

Meiling termina de engolir seu pedaço de bolo e bebe um rápido gole de seu suco. Em seguida ela sorri para Rika.

Meiling: Você já começou a botar em prática nossos planos?
Sakura: Planos?
Meiling: Isso, isso. Eu estou ajudando a Rika a consertar as coisas com o namorado.
Naoko: É mesmo? E como vocês vão fazer isso?
Meiling: O primeiro passo é pedir desculpas pelas coisas que aconteceram e entregar um pequeno presente de reconciliação.
Rika: Eu... eu já dei um pequeno presente a ele... e ele aparentemente gostou...
Meiling: Sério?

Meiling passa o braço sobre os ombros de Rika e a premia com um grande sorriso.

Meiling: Bom trabalho! Isso já deixa uma abertura para prosseguirmos.
Rika: O-obrigada.
Meiling: Agora você tem que marcar um encontro com ele.
Rika: Um encontro?
Meiling: Isso. De preferência num lugar que ele goste muito.
Rika (colocando a mão no queixo, pensativa): Um lugar que ele goste muito...
Meiling: Quando estiverem juntos, você tem que pedir desculpas para ele, dizer que foi tudo um mal-entendido...
Rika: Hmmm...
Meiling: ... faça uma carinha fofa...
Rika: Hmmm...
Meiling: ... e então você reafirma seus sentimentos por ele, selando a reconciliação com um beijo.
Rika: B-beijo?!?
Meiling: Isso. Vocês já fizeram isso antes, não é?
Rika: N-não...

O queixo de Meiling quase atinge o chão.

Meiling: Nunca se beijaram?

Rika apenas balança a cabeça, negando o fato mais uma vez.

Meiling: Como pode isso? Você tem um namorado mais velho, não é? Que tipo de garoto é esse que não se interessa em beijar a namorada?
Rika: É que... é que... é que...
Tomoyo: Tenho certeza que ele deve ser um cavaleiro e está esperando a Rika estar pronta para o passo seguinte. Estou certa?

Rika suspira, aliviada e grata pela ajuda da amiga.

Rika: É isso mesmo.
Naoko: Que sorte a sua por ter um namorado tão compreensivel, Rika.
Meiling (cruzando os braços): Talvez seja melhor eu conhecer seu namorado para ter certeza que você não está cometendo nenhum engano...
Rika: Não! Você não pode!
Meiling (erguendo uma sobrancelha): E por que não?
Rika: É porque... é porque ele possui um emprego... e por ele ser mais velho, as pessoas podem ver nossa relação de uma forma ruim... eu não quero que ele seja prejudicado por minha causa...
Meiling: Quantos anos seu namorado realmente tem?
Rika: Hã... bem...
Meiling: Você tem certeza que ele realmente gosta de garotas?
Rika (surpresa com a pergunta): É claro que gosta!
Sakura: Ele é uma boa pessoa, Meiling.

Meiling se volta para Sakura, estudando a amiga por alguns instantes.

Meiling: Você sabe quem é, não é?
Sakura: Sim, mas vou respeitar a vontade da Rika e manter segredo.
Meiling: Você tem certeza que ele é uma boa pessoa?
Sakura: Sim. Não precisa se preocupar quanto a isso.

Meiling fecha os olhos, pensativa.

Meiling: Bem... se as duas concordam que ele é uma boa pessoa, vou confiar no julgamento de vocês.
Rika: Obrigada por entender, Meiling.
Meiling: Mas o beijo definitivamente seria perfeito para fechar o encontro.
Rika: E-eu não acho que consigo... é m-muito embaraçoso...
Meiling: Se quiser eu posso te dar umas aulas.
Tomoyo: Então você já beijou seu namorado?
Meiling (sorrindo e parecendo estar sem graça): Claro. Fazemos isso o tempo todo. Somos um casal muito íntimo...

Meiling vira seu copo, tomando seu suco num gole só.

Rika: Será que não tem outro jeito?
Sakura: Que tal um beijo no rosto? Acho que é o bastante para mostrar seus sentimentos.
Meiling: É uma boa idéia também. Você topa, Rika?
Rika: Sim.
Meiling: Então está fechado. Falta só planejar o local do encontro e a roupa que você vai vestir. E, além disso, temos que ensaiar o que você vai dizer.
Rika: Precisamos ser tão detalhistas assim?
Meiling: Claro que sim. Meus trabalhos como conselheira amorosa são sempre perfeitos.
Tomoyo: Eu achei que esse fosse seu primeiro trabalho...
Meiling: É como dizem, não é? A primeira impressão é a que fica.

As meninas começam a rir. Sakura olha para o lado e percebe que, apesar de estar sorrindo, Naoko ainda parecia estar com os pensamentos longe.

Sakura: Naoko... você está bem?
Naoko: Hã? Por que está me perguntando isso?
Sakura: Você parece distraída demais. Tem algo te chateando?
Naoko (ajeitando os óculos e evitando olhar a amiga nos olhos): Não é nada demais. Estou apenas preocupada com as notas.
Sakura: Tem certeza que é só isso?
Naoko: Tenho sim.
Sakura: Você sabe que pode contar comigo para o que precisar, não é?
Naoko (sorrindo): Claro.
Sakura: Eu também estou preocupada com as notas da prova da semana passada... não tenho certeza se me saí muito bem e...
Chiharu: Ah. Aí estão vocês.

As meninas notam Chiharu Mihara se aproximando. Ela se senta junto a suas amigas.

Chiharu: Ohayo, meninas.
Meiling: Chiharu? Eu pensei que você não vinha mais.
Sakura: Você perdeu metade das aulas. O que aconteceu?
Chiharu: Eu tive que...

Chiharu pausa por um instante, mordendo levemente os lábios.

Chiharu: ... resolver uns problemas pessoais e acabei me atrasando. Quando cheguei à escola, fui direto para a sala dos professores tentar justificar meu atraso.
Tomoyo: E está tudo bem?
Chiharu: Está sim. Mas as coisas por lá estavam meio agitadas.
Rika: Como assim?
Chiharu: Os professores estavam falando sobre uma aluna que passou mal na biblioteca. Aparentemente ela teve algum tipo de crise de pânico e desmaiou.
Sakura: Que terrível. E a menina está bem?
Chiharu: Ela estava na enfermaria, até onde eu sei.
Yuriko: Você está muito mal-informada.

Sakura e suas amigas se surpreendem ao notar que Yuriko estava bem atrás delas. E, como sempre, ela estava acompanhada de Kaya e Mika.

Naoko (murmurando): Yuriko...
Yuriko: A garota de quem vocês estão falando é da turma 8-1 e se chama Sena Hasegawa. Ela estava fazendo uma pesquisa na biblioteca com uma amiga quando tudo aconteceu.
Mika: Ela foi procurar um livro para um trabalho escolar e levou um susto quando viu alguns cupins numa estante que estava sendo carregada para um depósito.
Kaya: A Hasegawa tem um grande medo de cupins e logo se protegeu atrás da amiga.
Naoko (ajeitando os óculos): Hmmm. Ela tem isopterofobia...
Mika: Iso o que?
Yuriko: Isopterofobia é o nome da doença das pessoas que possuem um medo exagerado de cupins. Ignore a quatro-olhos. Ela só quer bancar a espertinha.
Kaya: Aparentemente os cupins se multiplicaram absurdamente do nada e avançaram sobre Hasegawa, cobrindo todo o corpo dela.
Mika: Ela começou a gritar desesperada e a rolar no chão, tentando se livrar dos cupins. As pessoas tentaram ajudar, mas os cupins pareciam grudados nela.
Kaya: Quando a Hasegawa parou de se mexer e desmaiou, os cupins repentinamente desapareceram.
Chiharu: Desapareceram?
Yuriko: A Hasegawa foi levada para a enfermaria depois disso. Posteriormente, os professores decidiram levá-la para um hospital. Todos os que presenciaram a cena juram que viram a garota ser atacada por cupins, mas os professores não encontraram nenhuma prova disso.

Sakura fica um pouco preocupada com a história.

“Será que isso tem alguma relação com a magia do caos? Bem, não custa perguntar a opinião do Eriol. Vou fazer isso depois.”

Meiling: E você está nos contando isso por que...?
Yuriko (dando de ombros): Nenhum motivo especial. Apenas achei que devia manter as perdedoras atualizadas quanto ao que acontece na escola.
Meiling: Ei! Quem você está chamando de perdedora?

Chiharu e Rika seguram Meiling, impedindo a chinesa de atacar Yuriko.

Chiharu: Se acalme. Você acabou de voltar de uma suspensão, não precisa pegar outra.
Meiling: Droga.
Chiharu: Se isso era tudo o que você queria, Yuriko, então já pode ir.
Rika: Nós queremos continuar nosso lanche em paz, por favor.
Yuriko: Na verdade, tem mais uma coisa que eu quero.
Tomoyo: E o que seria?

Yuriko aproxima seu rosto ameaçadoramente do rosto de Sakura.

Yuriko: Você e eu. Desafio de basquete. Agora.
Sakura: O que? Mas eu estou no meio do meu lanche...
Yuriko: Eu disse agora!

Yuriko começa a arrastar Sakura pela gola da camisa.

Sakura: Hoeeeeeee!

Quando Sakura consegue finalmente se soltar, percebe que já está na quadra de basquete da escola. Kaya joga uma bola de basquete para Yuriko.

Yuriko: Dez arremessos. Quem acertar mais vence a disputa.
Sakura: Mas eu nunca fui muito de jogar basquete...
Yuriko (um sorriso triunfante): Então prepare-se para perder.

Mika espalha a noticia da disputa com uma rapidez impressionante e diversos alunos e alunas resolvem comparecer para assistir.

Garota 1: Olha! A Yuriko e a Sakura estão disputando de novo!
Garoto 1: Quem será que vai ganhar dessa vez?
Garota 2: Eu aposto na Yuriko. Ela é um verdadeiro prodigio. É boa em tudo que faz.
Garoto 2: Mas em questão de esportes, eu acho que a Kinomoto está um degrau acima.
Garota 1: Não importa quem ganha. As duas são as mais populares da escola e vê-la disputando é sempre excitante!

Sakura e Yuriko haviam se tornado a atração do intervalo. Chiharu, Rika, Meiling, Naoko e Tomoyo ficam à beira da quadra, torcendo pela amiga.

Tomoyo: Vai, Sakura!
Rika: Boa sorte, Sakura!
Chiharu: Estamos torcendo por você!
Meiling: Mostra para ela como se faz!
Mika: Não sejam bobas. A Sakura não tem a mínima chance dessa vez. Nossa explosiva líder vai derrotá-la de maneira vergonhosa.

Mika e Kaya começam a agitar alguns pompons e a gritar incentivos para Yuriko. Tomoyo e suas amigas devolvem na mesma moeda, seus gritos buscando dar forças para Sakura. Naoko fica apenas observando em silêncio. Parecia não saber como reagir aquela situação.

Yuriko: Eu começo.

Yuriko dá alguns passos à frente, se posiciona e dá um pequeno salto, arremessando a bola de basquete. A bola faz um arco perfeito no ar e cai dentro da cesta.

Kaya: Cesta!

Kaya e Mika vibram muito e são acompanhadas por aplausos dos alunos presentes. Yuriko faz uma reverência para o público e sorri amistosamente. Um garoto que estava assistindo a disputa pega a bola e a entrega para Yuriko.

Yuriko (um semblante meigo): Muito obrigada.

O garoto cora violentamente e desaba no chão, não resistindo a força do charme de Yuriko. Seus colegas logo se aproximam para ajudá-lo. Yuriko dá meia-volta e caminha em direção a Sakura.

Yuriko: Sua vez.

Yuriko entrega a bola para sua adversária. Sakura respira fundo, ergue suas mãos e faz seu arremesso. A bola faz seu percurso no ar, captando os olhares de todos os estudantes na quadra, e atinge a tabela, afundando na cesta em seguida. Kaya e Mika se entreolham, incrédulas.

Chiharu: Cesta!

Com o anúncio de Chiharu, que havia decidido intervir visto que Kaya parecia perdida, os alunos presentes aplaudem o feito. Sakura sorri e acena para os colegas.

Rika: Bom trabalho, Sakura!
Tomoyo (a câmera registrando tudo): Um arremesso perfeito da minha melhor amiga! Será o inicio de uma carreira de sucesso no basquete? Será que a NBA está preparada?
Sakura (gota caindo): Menos, Tomoyo. Bem menos.

Yuriko pega a bola e a quica no chão algumas vezes. Ela suspira, incomodada.

Yuriko: Arremesso perfeito? Foi apenas um golpe de sorte. Posso fazer melhor do que você, Sakura.

Yuriko olha para Sakura com desdém.

Yuriko: Eu sou melhor do que você.
Sakura: Mas Yuriko, eu não...
Yuriko: Essa disputa ainda não acabou. Vamos prosseguir!
Sakura (suspirando): Ok.

E a disputa prossegue pelos minutos seguintes. Tanto Sakura quanto Yuriko erram apenas um de seus arremessos. Até mesmo alguns jogadores do clube de basquete ficam impressionados. Yuriko pega a bola para seu último arremesso. Ela respira fundo, lança e consegue mais uma cesta. Mais aplausos por parte do público e alguns gritos de apoio.

Yuriko: Dessa vez a vitória será minha, trapaceira.
Sakura: Trapaceira? Do que você...?
Yuriko (cochichando para Sakura): Nada de usar seus truques mágicos, aberração. Estou de olho em você.

Sakura olha para Yuriko com cara de espanto.

“Então ela realmente desconfia dos meus poderes mágicos. E agora? Como vou despistar ela? O quanto será que ela sabe?”

Yuriko: O que está esperando? Arremesse!
Sakura: T-tá!

Sakura dá um pequeno salto e faz seu arremesso. A bola atinge a tabela e começa a girar sobre o aro da cesta. Todos ficam observando a bola enquanto ela faz seu giro, no que parece levar horas. Yuriko morde os lábios, torcendo para a bola cair fora da cesta. Para sua infelicidade, entretanto, a cesta é convertida.

Chiharu (pulando de alegria): Cesta!

Uma nova onda de aplausos toma o local. Yuriko vai até Sakura e agarra sua mão.

Yuriko: Você trapaceou! Não tinha como aquela bola ter caído dentro da cesta!
Sakura: Mas como eu poderia trapacear?
Yuriko: Você deve ter usado um pouco do seu vodu!
Sakura (desviando o olhar): Eu não sei do que você está falando...
Yuriko: Você usou, não foi?
Sakura: Mesmo que eu pudesse trapacear, eu nunca faria isso.
Yuriko: E eu devo acreditar nisso? Ninguém pode ser tão certinh...
Meiling: Ei!

Meiling puxa Sakura para longe de Yuriko. Tomoyo, Rika e Chiharu tomam a frente delas, servindo de escudo.

Rika: Você está fazendo muito drama.
Chiharu: Não seja uma má perdedora, Yuriko.
Yuriko: Perdedora? Não me faça rir. Esse jogo ainda não acabou. Ainda estamos empatadas.
Naoko: Yuriko... você não acha que é o bastante por hoje?
Yuriko: Não se meta onde não é chamada!

Os alunos que estavam assistindo a disputa ficam observando o grupo de meninas reunido no centro da quadra. Elas pareciam estar discutindo sobre algo, mas eles não sabiam o que.

Garota 1: Será que houve alguma falta?
Garoto 1: Eu não vi nada de errado.
Garota 2: O que vai acontecer agora?
Yuriko: DESEMPATE!

O grito de Yuriko chama a atenção de todos.

Yuriko: Vamos jogar cesta a cesta durante o desempate. Quem não conseguir converter, perde.

Yuriko quica a bola três vezes no chão e se prepara para seu arremesso, mal dando tempo para Sakura e as outras meninas se afastarem.

Professora Hashimoto: Mas o que está acontecendo aqui?!?

A chegada repentina da professora acaba distraindo Yuriko. Seu arremesso apesar de forte não sai com precisão.

Yuriko: Professora?

A bola atinge o aro da cesta e retorna a seu ponto de origem. Yuriko é atingida na cabeça e o impacto a joga para trás. A menina cai, sua cabeça atingindo a quadra com força.

Naoko: YURIKO!

Naoko se mexe mais rápido que todos e acaba sendo a primeira a alcançar Yuriko. Ela ajuda a prima a se levantar com cuidado, colocando-a sentada na quadra.

Yuriko: Ai, ai...
Naoko (passando a mão na cabeça da prima à procura de ferimentos): Você está bem, Yu-chan? Você caiu muito feio... sua cabeça está doendo? Você devia ter mais cuidado com a cabeça e...
Yuriko: O que você disse?

Yuriko e Naoko trocam um olhar prolongado. Naoko podia sentir a raiva emanando dos olhos de sua prima. Ela engole sua saliva com dificuldade, sentindo que fizera algo que não devia.

Yuriko: Fique longe de mim...
Naoko: Mas...
Yuriko: EU DISSE PARA FICAR LONGE DE MIM!

Yuriko empurra Naoko com força, afastando-a.

Yuriko: Eu não preciso da ajuda de pessoas falsas como você!

Yuriko tenta se levantar sozinha, mas, ainda um pouco tonta, perde o equilibrio. Ela acaba sendo segura pela professora Hashimoto.

Professora Hashimoto: Você bateu a cabeça. Tem que ir para a enfermaria agora.
Yuriko: Mas...
Professora Hashimoto: Sem reclamações. É uma ordem. Vou pedir a algum aluno para...
Yuriko: Kaya! Mika!

As duas meninas largam seus pompons e correm até sua líder, se ajoelhando diante dela.

Kaya: Pode falar, calorosa líder.
Yuriko: Me ajudem a ir para a enfermaria.
Mika: Pode deixar!

Yuriko se apoia em Kaya e Mika.

Professora Hashimoto: Podem ir então. Estarei lá em alguns minutos para ver o seu estado.

Yuriko e suas subalternas caminham para fora da quadra lentamente e logo desaparecem de vista. Todos ficam observando a cena, alguns preocupados verdadeiramente com Yuriko, outros imaginando como teria terminado o desafio. Naoko fica sentada no chão, lágrimas escorrendo de seus olhos. Sakura abraça a amiga para consolá-la.

Professora Hashimoto (olhando para todos que estavam na quadra): Quanto a vocês... eu quero uma boa explicação para o que estavam fazendo aqui!

Os alunos tremem de medo perante o olhar ameaçador da professora.

Professora Hashimoto: Muito bem... quem vai ser o primeiro a falar?

A porta da enfermaria é aberta com violência enquanto Mika e Kaya conduzem sua cambaleante líder a um dos leitos. Assim que se deita, Yuriko dá uma olhada geral no ambiente.

Yuriko: Onde está a enfermeira?
Mika: Parece que ela não está aqui...
Yuriko: Para que aquela velha é paga se nem ao menos está presente quando precisamos dela? Meu pai com certeza vai apresentar uma queixa!
Kaya: O que devemos fazer?
Yuriko: Não é óbvio? Eu preciso de cuidados médicos... então achem aquele velha e a tragam aqui imediatamente!
Mika (e Kaya): Sim!

Mika e Kaya deixam a enfermaria em disparada. Yuriko tenta se sentar, mas não consegue. Qualquer movimento muito brusco acabava em uma vertigem.

Sekai: Vejo que levou a pior.

Yuriko olha para o lado e nota que havia um leito próximo, separado apenas por uma cortina. Ela conseguia ver a sombra de alguém por trás da cortina.

Yuriko: Quem está aí?

A cortina é repentinamente puxada e Yuriko se depara com Sekai Natsume sentada no leito ao lado.

Yuriko: Ah. É você, Raposa de Prata.
Sekai (um sorriso debochado): Ora, ora. Desse jeito vou acabar acreditando que você não está feliz em me ver.
Yuriko: O que você quer?
Sekai (ajeitando a gargantilha em seu pescoço): Estou apenas interessada no bem-estar da minha aliada. Se envolveu em outra disputa idiota?
Yuriko (cruzando os braços): Não é uma disputa idiota! Eu tenho que mostrar a todos nessa escola que eu sou melhor que Sakura Kinomoto.
Sekai: Bem... ao meu ver você não está se saindo muito bem...
Yuriko: Aquela garota trapaceia. Tenho certeza disso. Mas vou vencê-la de qualquer jeito.
Sekai: Que tal levar isso mais a sério?

Sekai se senta na beirada da cama de Yuriko.

Yuriko: O que você quer dizer?
Sekai: Enquanto você estava brincando de ser saco de pancadas da Sakura, eu bolei um plano interessante para iniciarmos nossa operação.
Yuriko (a mão no queixo): E que plano seria esse?
Sekai (os punhos cerrados): Simplesmente derrotar a Sakura não é o bastante. Você tem que humilhá-la, roubar todas as coisas boas dela, jogar sua reputação na lama, fazer o mundinho perfeito ao seu redor desmoronar. Então quando aquela idiota de olhos verdes estiver desesperada tentando recolher os cacos de sua vida, eu vou aparecer para pisar ainda mais nela.

Yuriko olha, surpresa, para Sekai.

Yuriko: Você realmente odeia ela, não é?
Sekai: Você não tem idéia...
Yuriko: Posso saber o motivo?
Sekai: Não é da sua conta.
Yuriko: É claro que é da minha conta. Eu tenho o direito de...

Sekai se aproxima ameaçadoramente de Yuriko, seus olhos caramelo intimidando a menina.

Sekai: Se sua senpai diz que não é da sua conta, você apenas abaixa sua cabeça e concorda. Entendido?
Yuriko: S-sim...

Sekai passa a mão na cabeça de Yuriko, tratando-a como se fosse um animal. Apesar de contrariada, Yuriko resolve que qualquer tipo de reação abrupta seria prejudicial para ela.

Sekai: Boa menina, boa menina. Agora eu preciso saber se você tem contatos dentro do clube de ciências.
Yuriko: Tenho sim. Posso cobrar alguns favores. Por quê?
Sekai: Isso é ótimo. Deixe-me explicar o primeiro passo da ‘Operação Sakura na Fogueira’...

O resto do dia passa tranquilamente, sem nenhum fato de grande destaque. Faltando poucos minutos para o fim das aulas, o professor Terada pega algumas folhas em sua pasta.

Professor Terada: ... e agora vou aproveitar para distribuir as provas de matemática, já corrigidas e com nota final.

Vários murmúrios de apreensão tomam a sala. O professor vai passando de cadeira em cadeira e entregando as provas.

Professor Terada: Quero dar os parabéns a vocês. No geral, salvo algumas exceções, as notas da classe foram muito boas. Espero que continuem se esforçando desse jeito.

Vários suspiros de alivio são ouvidos, bem como alguns gemidos de desespero. Sakura e Kazuko recebem suas provas e as mantêm viradas. Estavam incertas se queriam ver suas notas.

Shaoran: Anda logo, Sakura. Desse jeito você não vai saber se está de recuperação.
Sakura: É que é embaraçoso... e se minha nota for muito ruim?
Tomoyo: Tenho certeza que não pode ter sido tão ruim assim. Você devia olhar logo, Sakura. Você também, Kazuko. Não há porque ter medo.
Sakura: Acho que vocês estão certos...

Sakura e Kazuko se entreolham e acenam positivamente com a cabeça. Elas erguem suas provas no ar, as mãos um pouco trêmulas, e as viram repentinamente.

Shaoran: E então? Como foi?
Tomoyo: Sakura? Kazuko?

Tomoyo nota que suas duas amigas estavam paralisadas, seus rostos pálidos fazendo-as parecerem fantasmas. Curioso, Shaoran pega a prova da mão de Sakura. O chinês fica boquiaberto.

Shaoran: Isso não é ruim... é um desastre...

Tomoyo observa a nota na prova de Sakura e depois faz o mesmo com a prova de Kazuko. Haviam tirado, respectivamente, 10 e 15 pontos de um total de 100, notas extremamente baixas e longe da média exigida pela escola.

Sakura (com lágrimas começando a surgir nos olhos): D-desastre?
Shaoran (agitando os braços no ar enquanto tenta se explicar): Não! Não foi isso que eu quis dizer! Não é que sua nota seja ruim... mas não também não é boa... quer dizer...
Tomoyo: O que o Shaoran está tentando dizer é que essa nota baixa não é o fim do mundo. Se você se esforçar, com certeza vai conseguir melhorar sua nota na recuperação. Vocês duas podem contar com nosso apoio se precisarem.

Kazuko lança um olhar de súplica para Shaoran, mas o garoto simplesmente a ignora. Sakura baixa a cabeça, abatida.

Sakura: Eu vou levar uma bronca do meu pai...

O sinal da escola ressoa, avisando do fim das aulas.

Professor Terada: Por hoje é só. Estaremos divulgando os horários das provas de recuperação no quadro de avisos e durante as próximas aulas. Se esforcem bastante.

Os alunos recolhem seus pertences e começam a deixar a sala.

Tomoyo: O Shaoran pode te ajudar nos estudos, Sakura. As notas dele estão boas.
Shaoran: Eu não sei se sou a pessoa mais adequada para te ajudar nisso... é uma coisa importante...
Sakura: Shaoran...

Shaoran evita o olhar de Sakura. Apesar de continuar ao lado da namorada, o garoto chinês aparentava ter perdido um pouco de sua confiança nos últimos dias. Essa situação estava deixando Sakura muito preocupada.

Meiling: Mas é claro que o Shaoran é a pessoa certa!

Meiling havia surgido por trás e aproximado Sakura e Shaoran.

Meiling: Você está intimada a comparecer a nossa casa, Sakura. Vamos fazer um grupo de estudo!
Sakura: Sério? Tudo bem para você, Shaoran?
Shaoran: S-sim... tudo bem.
Sakura: O que você acha da idéia, Kazuko?
Kazuko: Eu acho...
Shaoran (falando alto): É melhor que seja apenas eu, você e a Meiling. Gente demais vai atrapalhar sua concentração.

Kazuko pensa em falar alguma coisa, mas as palavras não saem de sua boca. Sentindo as lágrimas começando a brotar em seus olhos, a menina se vira, preparada para sair correndo, mas é segura por Tomoyo.

Tomoyo: Você vai estudar comigo, Kazuko.

Kazuko fica surpresa.

Kazuko: Eu? Por que eu?
Tomoyo: Porque eu quero ajudar minha amiga. Você sempre vai poder contar comigo para o que precisar.
Kazuko: Tomoyo...
Tomoyo (sorrindo): Tenho certeza que consigo te ajudar. Não se preocupe.

Kazuko enxuga seus olhos e sorri para Tomoyo.

Kazuko: Então eu vou aceitar. Obrigada.
Tomoyo: Que bom! Vamos trabalhar muito juntas!

Percebendo que Tomoyo resolvera a situação, Meiling volta sua atenção para Sakura e Shaoran.

Meiling: Então está tudo decidido! Apareça mais tarde lá em casa para estudarmos juntas, Sakura!
Sakura: Certo. Eu vou só...

O sistema de som da escola ecoa ao ser ativado e uma voz se prepara para fazer um anúncio.

– Atenção! Sakura Kinomoto da turma 7-2 e Jun Misaka da turma 7-1, compareçam imediatamente a sala dos professores.

Tomoyo: O que será que os professores querem?
Sakura: Deve ser algo relacionado a recuperação.
Shaoran: Quer que eu te espere?
Sakura: Não precisa. Você e a Meiling podem ir para casa. Vou aparecer lá mais tarde.
Shaoran: Certo.
Meiling: Vou pedir para o Wei providenciar um jantar bem gostoso para a gente. Até mais.
Sakura: Até.

Sakura pega sua mochila e caminha pelos corredores movimentados da escola até chegar à sala dos professores. A sala estava vazia, exceto pela presença de uma mulher de cabelos curtos e pretos, usando um óculos de armação triangular. Sakura já havia a visto algumas vezes antes. Era a coordenadora dos professores e seu nome era Koneko Nagase.

Sakura: Olá, professora Nagase.
Jun: Tô na área.

Sakura nota que sua amiga Jun havia entrado na sala logo atrás dela.

Professora Nagase: Sentem-se, meninas.

As duas meninas prontamente obedecem. A professora Nagase ajeita seus óculos antes de começar a falar.

Professora Nagase: As duas já receberam as notas de suas provas. Estou certa?
Sakura: Sim, senhora.
Professora Nagase: Então ambas já sabem que estão de recuperação.
Jun: Você também, Sakura?
Sakura: Fui derrotada pela matemática. E você?
Jun (coçando a cabeça): Desastre total. Acho que só não zerei a prova porque surpreendentemente escrevi meu nome corretamente...
Professora Nagase: Vocês duas me preocupam. Além de terem ficado de recuperação em matemática, ambas tiveram uma queda geral em todas as notas. Eu acredito que sei qual o problema de vocês.
Sakura: Como assim?
Professora Nagase (ajeitando algumas folhas em sua mesa): Vocês duas estão muito empenhadas nas atividades de seus clubes e estão deixando os estudos em segundo plano. É muito bom que vocês queiram ajudar a escola a ganhar competições, valorizo muito o espírito esportivo, mas não podemos esquecer que estamos numa escola...
Jun: Não estou gostando do rumo dessa conversa...
Professora Nagase: Estarei suspendendo vocês dos seus clubes para que possam se empenhar mais em seus estudos.
Jun: Não! A senhora não pode fazer isso!
Sakura: Nós estamos trabalhando tão duro para a competição... não quero deixar a capitã Sakagami na mão logo agora.
Professora Nagase: Já ficou bem claro que vocês não conseguem conciliar suas atividades de clubes e os estudos. Suas notas tem prioridade.
Sakura: Nós podemos melhorar. Podemos manter nossas notas boas e trabalhar nos clubes. Sei que podemos fazer isso se nos esforçarmos.
Jun: Nos dê uma chance, professora.
Sakura: Só precisamos de mais uma chance.

Sakura e Jun fazem menção de ajoelhar para implorar, mas a professora Nagase se levanta e as impede.

Professora Nagase: Não é preciso tanto. Vou dar mais uma chance a vocês.
Jun (jogando os braços no ar): Oba! A professora Nagase é nota 10!
Professora Nagase: Vocês vão continuar temporariamente suspensas de seus clubes.
Jun (um sorriso amarelo no rosto): A professora Nagase é nota 5!
Professora Nagase: Vamos fazer um acordo. Se tirarem mais de 80 pontos na prova de recuperação, desfaço a suspensão. Caso contrário, vocês continuam suspensas até o fim do próximo semestre. Entendido?

Sakura e Jun se entreolham. Seus rostos haviam ficado pálidos repentinamente.

Sakura: M-mais de...
Jun: ... 80 pontos... ?
Professora Nagase: Já querem desistir? Vou providenciar a papelada e...
Sakura (balançando a cabeça freneticamente): Não, não. Vamos dar um jeito. Conte conosco.
Jun (fazendo sinal de positivo): Tirar uma nota tão alta numa prova? Desafio aceito!

(CONTINUA...)


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Quem é vivo, sempre aparece. Trago para vocês mais um capítulo da fanfic. Espero que se divirtam lendo.

Sakura vai enfrentar um inimigo muito poderoso: uma prova de matemática!! Será que ela vai se dar bem nessa? Só acompanhando para saber...

Não sei se vou conseguir postar a próxima parte antes do dia 25, então já vou aproveitar e desejar Feliz Natal para todos.

Até breve e que a força esteja com vocês!

Curiosidades:

— Hematofobia (também conhecida como hemafobia) é o medo exagerado de sangue.
— Isopterofobia é o medo exagerado de cupins.
— Ohayo significa ‘Bom dia’.
— Senpai significa "veterano". É usado para se referir a alunos de séries mais avançadas na escola. Serve, também, para denotar hierarquia em outros ambientes.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Card Master Sakura" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.