Spirited Away 2 escrita por otempora


Capítulo 13
Mãe




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- Oh, Bou! Seu grande traidor! Não teve nem um pouquinho de saudades da sua pobre mãe?


- Não. - ele respondeu secamente.


Yubaba se aconchegou junto ao fogo que ardia no centro do aposento sem sequer pedir permissão, se acomodando confortavelmente de modo que pudesse ficar de frente para o filho


- Onde está sua irmã?


- Está segura.


A bruxa virou-se para Kamaji, apesar da magia que havia aplicado em si mesma, tinha envelhecido consideravelmente. As rugas dos olhos pendiam para as bochechas e o cabelo surpreendentemente branco preso no mesmo régio coque de sempre. Ajeitou o xale cinzento sobre os ombros durante um longo tempo e fungou.


- Meu velho amigo... – reclamou. – Foi-se o tempo em que uma mãe era respeitada por seus filhos, sabe. O tempo em que todos eles acatavam o que ela faz sem questionar, sabendo que ela o fazia somente para protegê-los.


- Protegê-los? – se zangou Boh. – Você é louca? Foi você quem começou com tudo isso! E eu quase fui morto! Isso é cuidar de um filho?


- Ora, não se pode negar a uma velha uma pequena vingança. – piscou os cílios postiços para o filho, num movimento que ela pensava ser charmoso.


- Pequena vingança? Sua “pequena vingança” vai destruir o mundo dos espíritos! Seu grande ego vai explodir! E você não quer ajudar! Porque é egoísta demais para isso. – gritou Boh apertando ainda mais Chihiro contra si.


- Vai acordá-la. – interferiu Kamaji, que encarava as teias de aranha no teto. Ele ignorou o olhar de agradecimento vindo de Yubaba.


- Eu vim ajudar. – murmurou a mulher de uma forma humilde com a cabeça baixa. Boh e Kamaji se encararam, estupefatos. Divididos entre o riso e o escárnio.


- Está mentindo! – concluiu Kamaji batendo numa mesa. Aranhas fugiram correndo para onde puderam.


- Não. Na verdade, eu já estou farta disso! Ninguém mais ia à casa de banhos. E tudo está destruído, irremediavelmente. Não restou uma pedrinha! – lamentou-se. - O trabalho da minha vida, os meus diamantes! – começou a chorar, as grossas lágrimas lhe borrando a maquiagem. – Ah, meus queridos diamantes! Foram todos engolidos por aquele devorador do – cuspiu o nome. – Sem Rosto!


Boh riu sarcasticamente.


- Já devia imaginar que por ser você não seria um motivo diferente. – falou com azedume.


Kamaji cortou a resposta mal educada de Yubaba.


- O que você tem?


- Um nome. – sussurrou conspiratória, inclinando-se para o velho. E batendo as pestanas, feliz pela atenção que tinha conseguido. Mesmo assim, seu filho ainda não a olhara.


- Como assim, um nome?


- Sei quem está por trás disso. – deu uma de suas piscadelas e aguardou.


- E quem é?


- Aquele Bedel petulante. – encarou o fogo que dançava, recordando. - Eu sabia que devia tê-lo demitido, mas não! Eu tenho um coração de ouro, muito bom mesmo e aquela droga daquela promessa de contratar quem precisasse, como essa daí. – apontou com o seu grande nariz para Chihiro. – Mas se querem minha opinião, ele sempre foi muito arrogante. Porém era eficaz. Ah isso era! Sempre dizia isso a mim mesma. Resolvi por não intervir em nada, julguei que tudo estaria bem. Pobre de mim! E deu no que deu.   


- O girino? – desfez Kamaji batendo novamente na mesa, fazendo uma enxurrada de teias abandonadas caírem – Impossível! Ele não tem um cérebro desenvolvido!


- Ah, isso ele tem! O infeliz roubou-me para conseguir controlar aquele ser desgraçado! Aquele Sem Rosto! Urgh. – estremeceu.


- Roubou o que? – interessou-se Boh. – Talvez possamos pará-lo.


- Acho que não. Ele pegou aquele deus endiabrado que eu lacrei, foi um serviço bem feito. - regozijou-se – O sapo foi bom em ocultar sua presença, eu demorei muito para descobrir. Deve ter feito algum pacto com ele. E eu digo uma coisa, a alegria de viver daquele demônio é destruir. – disse sombriamente.


- Há alguma forma de derrotá-lo? – perguntou Kamaji cabisbaixo.


- Não sei se haja alguém vivo que possa fazê-lo. – respondeu Boh acariciando gentilmente a face da garota. – Haku conseguiria... – sua expressão estava terrivelmente derrotada.


- O que é isso rapaz?! Já vai desistir dessa maneira?


- Você não entende, Kamaji. Aquele deus já é forte por si só, junto com Sem Rosto... eu nem imagino até onde pode chegar seu poder. Tudo que Sem Rosto engole só aumenta sua energia. São invencíveis.


Kamaji virou-se para Yubaba.


- Tem que existir outra forma.


- Ah, existe! Se existe! – riu nervosamente. – Mas é definitivamente mortal! – calou-se percebendo que falara demais.


- Qual é, Yubaba?


- Eu não faria isso se fosse vocês. É idiotice, além de suicídio! – preparava-se para ir embora.


- Desembuche, Yubaba. – ameaçou Kamaji se aproximando dela com as sobrancelhas unidas, o rosto decidido.


A mulher se fez de rogada, mexendo nervosamente nas pregas do vestido. Não haviam mais adornos em seus dedos, nos quais as unhas estavam quebradas.


- É que...


- Vamos, Yubaba. Você certamente não se preocupa conosco. Então, por que não quer contar?


- Porque Bou é meu bebezinho querido e eu não quero que nada aconteça a ele. – esquivou-se.


- Vamos ter que te forçar a contar?


- Droga! – explodiu. – Você era meu empregado! Um subalterno! – soletrou a última palavra. - Não pode falar assim comigo!


- Por favor, Yubaba. – pediu Boh que pela primeira vez olhava para a mãe.


- Não posso fazer isso! – suplicou, mas percebia-se que ela estava hesitando.


- É nossa única chance, mãe. – Boh apelou, os olhos de Yubaba se encheram de lágrimas.


- Tem alguma noção do que quer que eu faça?


- Por favor...


A mulher olhou para Chihiro e bufou:


- Desperdício. – sua voz se elevou. – O lago dos espelhos. É isso que precisam procurar. Não vou dizer mais nada, ouviram?


Levantou-se, com uma estranha agilidade para alguém de sua idade, num rodar de saias. Voltou-se para os dois, imensamente magoada.


- Espero que não morram.


E saiu, batendo a porta.


- Lago dos espelhos, já ouviu falar disso, Kamaji?   


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