Bruxa

Mesmo durante a noite, tudo parecia triste, as arvores não balançavam como antes e até mesmo os grilos estavam quietos, era como se tudo sentisse falta de Sakura. A casa se mantinha em um silencio fúnebre, afinal, a alegria do ambiente morrera. Os fatos decorrentes depois daquela noite foram repletos de preocupações e desespero, ninguém sabia o que tinha acontecido ou quem era o culpado, ninguém achava pontas soltas e o estresse somente aumentava.

Estava para dar 20h da noite em ponto e todos estavam presentes, Yeilan, Syaoran, Fay e Kurogane. Fay, utilizando seu cetro de magia, escreveu caracteres no chão ao redor de um círculo desenhado com magia, dava a impressão de que ele estava escrevendo no ar. O círculo era grande o suficiente para todos os quatro, era uma estratégia arriscada, pois ele poderia fazer aquilo somente uma vez devido ao fato de consumir muita magia.

Quando estava tudo pronto, Fay bateu o cetro no chão e o mesmo começou a ceder, como se fosse geleia, engolindo-os de vagar até não sobrar nem vestígio de que estiveram ali. Em um outro lugar, o céu em um certo ponto começou a derreter até soltar as quatro pessoas que foram engolidas, como se ali, eles tivessem chegado com a chuva grossa que caia na cidade aquela noite.

O lugar também estava frio, parecia época de chuva, uma mulher alta e bonita estava parada em frente a eles. Atrás dela, uma loja tradicionalmente japonesa. A mulher de vestido preto e cabelos mais escuros ainda tinha olhos tão vermelhos que destacava seu rosto branco no meio de todas aquelas madeixas tão longas e lisas. Ela não parecia se importar com a chuva, na verdade, ninguém se importava.

_Eu estava esperando vocês! – disse ela sorrindo.

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Seu corpo estava gelado, não conseguia se mover direito, não estava amarrada nem nada, mas apenas não conseguia pensar direito. O peito estava apertado, mas podia respirar direito, era a mesma sensação de quando se está em baixo d’agua por muito tempo, o pulmão aperta pedindo mais ar. Sakura não conseguia ver nem ouvir muita coisa, estava tudo embaçado. Isso era importante? Queria apenas dormir, o que estava acontecendo mesmo? Não importava, ela ia dormir.

A consciência de Sakura era uma fina linha tênue que se dispersava aos poucos até sumir completamente e ela cair em um sono profundo. Suas asas a envolviam como num gesto inconsciente de se proteger

Em pé frente a redoma de vidro coberta de escrituras magicas, que estavam escritas nas paredes, teto e chão a fim de conter o poder de Sakura. O homem admirava a beleza de seu passarinho engaiolado. A filha favorita de Deus estava finalmente em suas mãos, ele finalmente poderia realizar seu grande sonho.

A porta de sala abriu-se, o garoto magro, de rabo de cavalo entrou e ajoelhou-se, ajeitando os pequenos óculos.

_Eles virão em breve atrás da garota, meu senhor!

_Eu sei Watanuki, perfeitamente, faça os preparativos.

Watanuki consentiu e retirou-se dos aposentos, um segundo antes de sair da sala, ele novamente parou e arrumou os óculos novamente.

_Está tudo de acordo com o futuro que planejei. – riu o homem, sem tirar os olhos de Sakura.

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Um grande silencio se estabeleceu perante a bruxa e seus esperados convidados. Eles não deram nem mesmo um passo, esperando pela palavra da mesma.

_Sejam bem vindos, meu nome é Yuko e sou a dona desta loja.

_Loja? – disse Syaoran.

_sim, uma loja de desejos.

Syaoran parou para assimilar o que a mulher havia dito, ela disse uma loja de desejos? Fora uma sugestão de Fay vir até a bruxa, ele falou que a mulher era confiável e que já fora um cliente uma vez. Mas era realmente possível?

_Então pode nos levar até Sakura? – disse Syaoran.

_Se for isso que você quer, mas poderá pagar pelo preço? – Syaoran manteve-se em silencio, então Yuko continuou - Para todas as coisas que desejar, você deve dar algo de valor igual em troca. Você não deve pagar nem mais do que vale, nem menos do que deve. Não pode ser maior nem menor, deve ser igual. Ou então, haverá infortúnios. Varia de acordo com a pessoa, ou do que o destino lhe reserva, ou dos espíritos dos outros mundos.

E mais uma vez, todos mantiveram-se calados, apenas a chuva se fazia presente. A bruxa olhou para Syaoran, ele sentiu como se ela estivesse olhando para sua alma. Ela não desviava o olhar nem por um momento.

_Seu nome...

_Syaoran! – respondeu.

_Syaoran hein – ela sorriu – sim, eu me lembro desse olho. Ele é muito especial, não é?

O chinês colocou a mão sobre o olho cego, ela sabia sobre os poderes de Clow? Fay deu um passo à frente, cumprimentando a Bruxa que a muito tempo tinha visto.

_Como vai Yuko-san?

_Fay, vou muito bem – disse ela sorrindo como se fosse uma pessoa normal – seu pagamento me foi muito útil.

_Ah, não, eu apenas fui um intermédio.

_Entendo – e assim, ela olhou para Yeilan, que adiantou-se e fez uma pequena reverencia em comprimento.

_Muito obrigada pelos seus serviços.

_Eu recebi o pagamento adequado, sem mais, nem menos. Não precisa agradecer.

Syaoran não estava entendendo nada da história, sua mãe já estivera em contato com a bruxa?

_O único artefato magico capaz de trocar magias, esse foi o meu pedido. Isto aconteceu naquela noite, em que você recebeu os poderes de Clow, filho. – disse Yeilan – pedi a Fay que me ajudasse, então ele disse que haveria uma bruxa que realiza desejos, no entanto, fui eu quem pagou o preço.

_E qual foi o preço?

_Um lindo dragão de ouro! – disse Yuko.

Syaoran se lembrava daquele dragão, era o selo da entrada pro subterrâneo de sua casa, onde fora realizado todo o ritual para sua entrada aos Lis. Não era um dragão qualquer, ele permitia a entrada somente quem tinha sangue nobre dos Lis.

_Espera, então como foi que Sakura entrou naquele lugar? Coincidência?

_Nada neste mundo acontece por acaso, não existem coincidências, apenas o inevitável.

_Então porquê?

_Sendo aquela garota, com todo aquele poder – disse Kurogane – Eu não me surpreenderia.

_Mas ainda deve haver uma explicação. – disse Fay, pensando alto.

Novamente, todos olharam para a bruxa em sua frente. Era uma sensação estranha sua presença, ela estava com um rosto sério, como se soubesse de algo, mas não iria contar. E eles não estavam totalmente errados, Yuko sabia que não poderia interferir no destino.

_O nome de quem vocês procuram é Fey Wang Reed, ele foi um mago antigo discípulo de Mago Clow. No entanto, Fey Wang tinha um desejo que não era possível realizar, o preço era alto demais. – narrava Yuko – Depois de uma longa disputa, Fey Wang desapareceu sem deixar rastros. E para realizar este desejo, durante todo esse tempo, ele esteve procurando pela Filha Favorita de Deus, um poder muito antigo que foi herdado pela criança que vocês tanto procuram. Sakura

Todos ficaram em silencio, Yeilan sabia que receber o título de Filho favorito de Deus não era algo pequeno.

_o que quer dizer? – perguntou Syaoran.

_Reza a lenda – recomeçou Yuko – que o Filho Favorito de Deus seria um ser de coração puro, amado por tudo e todos, amado até mesmo pelos ventos, plantas e animais. Uma pessoa de grande sorte e um imensurável poder magico.

_Ainda sim, isso não me surpreende. – resmungou Kurogane.

_O poder de Sakura não é algo comum, era algo que não era para existir. Ela é uma pessoa que transcende dimensões, capaz de trocar de um mundo para outro no tempo e espaço.

Syaoran ouvia cada palavra amargurado, seu punho estava cerrado, com os nós dos dedos já brancos. Ele ficava com a imagem na cabeça de sua mulher aprisionada, nas mãos de um homem desconhecido. Tinham que resgata-la, como fora tão descuidado?

_O fato de Sakura ser a filha favorita de Deus explica o porquê o dragão mostrou-se diante dela. – disse Yeilan – mas estou curiosa, porque conta tudo isso pra gente, não desejamos nada ainda.

_Eu só estou atendendo a um desejo que já foi pago.

Yuko não respondeu mais nada, por alguns segundos, todos sentiram o peso do que estavam enfrentando. Sakura realmente era a Filha Favorita de Deus, pois todos estavam decididos a lutar por ela. A menina encantou e aqueceu muitos corações gelados. Se o Clã Li poderia ser considerado uma família, então Sakura era parte dela, e a trariam de volta, nem que fosse com garras e dentes.

A bruxa olhou para todos os rostos molhados pela chuva, ela sorriu. Pelo visto eles tinham feito suas escolhas, mas ainda estava longe de terminar, ainda viriam mais escolhas.

_Seu destino está traçado com aquela garota, são caminhos cruzados. Eu posso ver a fina linha em seu dedo. – declarou Yuko – Qual é o seu desejo?

_Queremos encontrar Sakura.

_É isso que realmente quer? Fey Wang não é alguém simples de derrotar, você vai precisar muito mais do que tem agora.

_Como assim? – disse Kurogane.

Yuko estendeu o braço para a lateral do corpo e esperou alguns segundos, era quase imperceptível a borboleta negra voando até pousar na mão de Yuko. A bruxa fechou a mão e quando abriu novamente um colar estava no lugar da borboleta, ela o balançava diante de seus olhos como se fosse hipnotizar seus convidados. Kurogane afastou-se um pouco, temeroso. Não confiava na bruxa.

_Este colar é algo extremamente importante, fundamental para sua jornada. No entanto, a escolha é sua. Será um preço adicional a pagar.

Ninguém, por mais uma vez, ousou falar uma palavra, como a pergunta fora direcionada a Syaoran, seria escolha dele aceitar. Ele, por sua vez, não pensou duas vezes, caminhou até a bruxa e segurou o colar.

_Se isto ajudara a salvar Sakura, então eu vou leva-lo.

_Tem certeza? Não irá se arrepender?

Ele não respondeu duas vezes, o olhar já dizia tudo. Era um olhar que dizia ir até os confins da terra, arriscando sua vida para salva-la. Yuko sorriu, a decisão foi tomada.

_Pois bem, eu irei realizar seu desejo.

_E qual é o pagamento? – disse Syaoran, que impressionou até mesmo Yeilan, surpreendendo-se com a confiança de seu filho.

_Eu quero as memorias de Sakura.

Todos olharam para o menino chinês, molhado pela chuva, que parecia carregar uma pedra em suas costas. Syaoran estava de cabeça baixa, deixando a água escorreu por seu rosto. Ele serrou os punhos e ergueu o olhar decidido.

_Eu aceito.