POV’ Clara

Nunca tinha visto o Lipe daquele jeito. Ele chorou por mim, com medo de eu morrer. Uma coisa que nenhum garoto faria por mim. Sim, eu posso dizer que ele era o meu príncipe encantado dos sonhos.

Mas tinha uma coisa que me assustava: o Guilherme era um maníaco. E eu não estou exagerando.

Momento flashback on

Eu tinha acabado de acordar. Percebi que a minha mãe não estava em casa e tomei meu café da manhã normalmente, quando a campainha tocou. Eu abri a porta e ele estava lá, sorrindo. Tentei fechar a porta, mas ele conseguiu entrar.

- Guilherme, sai daqui. Eu vou chamar a polícia!

- Calma, anjo. Eu só vim conversar. Senta aqui – ele se sentou no sofá e apontou para o espaço ao lado dele.

- Cadê o meu telefone? – eu rondava pela casa tentando achar o telefone sem fio.

- Esse aqui? – ele estava com ele nas mãos.

- Eu vou chamar o Lipe!

- Você não pode. Sabe por quê? Ele saiu faz uns minutos. Ou conversamos por bem ou por mal.

Ele não me deu tempo para dizer nada. Ele conseguiu me imobilizar e tirou uma arma do cinto. Ele apontou para minha cabeça e me mandou sentar.

- Se você gritar vai tomar bala!

- Eu não vou gritar. Não faz nada comigo, por favor!

- Anjo, anjo... – ele deu uma risada insana.

Eu fiquei com muito medo de morrer. Ele tirou uma garrafa da mochila e me mandou beber o que tinha nela.

- Eu não vou beber nada!

- Tudo bem, eu não queria ver uma bala alojada na sua linda cabecinha, mas você que pediu... – ele deu de ombros e ajeitou o gatilho.

- O.k! – eu ergui minhas mãos em sinal de desistência.

O líquido tinha um gosto amargo e poucos minutos depois eu já estava tonta. Parecia que ele tinha misturado muitas bebidas. Não conseguia me mexer direito e minha cabeça doía. Deitei no sofá e comecei a chorar.

- Olha isso não vai doer nada o.k? Só vou fazer o que eu queria há muito tempo.

Ele me deitou em seu colo e começou a dar beijos na minha boca e no meu pescoço. Eu estava mole e não consegui gritar nem falar direito. A campainha tocou e ele ficou desesperado. Ele se dirigiu as escadas.

- Sabem que você tá aqui?

- Uhum... – foi só o que eu consegui dizer.

Ele subiu e me escondeu debaixo da cama do meu quarto. Desceu as escadas e me deixou sozinha.

Bem, se for a minha mãe, acho que vai ficar tudo bem. Tomara que o Lipe volte logo..., eu pensei tentando me arrastar para a porta.

- Clara! – eu ouvi alguém me chamar do andar de baixo.

Agora tudo vai ficar bem, eu pensei.

Depois eu não me lembro direito o que aconteceu, só sei que Lipe me ajudou.

Momento flashback off

Tive que ficar em casa por um tempo, e por isso, meus amigos foram me visitar e pude explicar tudo para eles. Falaram que iam denunciar o Guilherme, já que ele era maior de idade e coisa e tal. Mas não iria resolver. Ele era maníaco e viria atrás de mim de novo.

Eu tive que ficar em casa com supervisão, mas foi legal. Lipe ficava comigo e tínhamos tempo só para nós, sem ninguém para atrapalhar.

Um dia, quando voltávamos da escola, Lipe me contou que achava que o Guilherme tinha usado drogas naquele dia, pelo cheiro do hálito dele. Também disse que já tinha visto Guilherme fumando algumas vezes. Logo, quando passamos por uma esquina Guilherme estava lá, na sarjeta, fumando uma pedrinha branca com cheiro forte.

- Acho que não vou ter outra oportunidade. Vou quebrar a cara desse idiota – ele cerrou os punhos.

- Lipe, ele já tá acabando com a própria vida. Não precisa fazer nada, ele já faz isso sozinho.

- Tem razão. Quer ver um filme em casa?

- Vamos!

…

E assim os anos se passaram. Sempre ficamos juntos no que der e vier. Cursamos faculdades diferentes, mas tínhamos o mesmo sonho. Arranjar dinheiro para fazer uma festa de casamento. Nada de vestido branco e grinalda, só no civil mesmo.

Cada dia eu ficava mais feliz e apaixonada pelo Felipe. O garoto que já tinha salvo a minha vida algumas vezes, o garoto que tinha feito eu me apaixonar de verdade, o meu garoto.