– Droga! Parece que uma bomba nuclear explodiu aqui! - penso, olhando na direção da praça devastada. O lado bom é que talvez os sangue-sugas do mal estejam todos ferrados demais para fazerem algo mais, o ruim é que não encontro nenhum aliado.

De repente um assobio baixo desperta minha atenção. Jacob também acaba de ouvir o mesmo e se vira na direção do som. Por mais que a visibilidade ainda não seja a melhor, já se vê algo além de vultos. No canto direito da minha visão periférica, percebo um lento e cuidadoso movimento. Forço a visão e identifico Edward, escondido atrás de uma pilastra que resistiu à explosão. Nos arrastamos em sua direção. Torço para que ele não esteja sozinho. Quando finalmente o alcançamos, identifico outros com ele. Bella, Seth e Tanya estão com ele. Inteiros. Seth emite o som de choro lupino, muito baixo, mas o suficiente para que eu perceba que está tão feliz quanto eu, por nos encontrarmos vivos. Queria poder abraçá-lo.

Em um tom de voz muito baixo, Edward nos explica que viu alguns movimentos ao redor, mas que a maioria dos aliados vai se manter silente enqanto não tiver certeza do quanto fomemos bem-sucedidos. Sua leitura de mentes também não funciona e o instinto auditivo é a única coisa que temos ao nosso lado agora, vampiros e lobos.

– Vocês devem estar se perguntando o que houve aqui. Não sei ao certo, mas parece que um de nós tinha um alto poder explosivo e só precisava da ajuda de Kate para levar tudo aos ares. - sussurra Tanya.

Fico satisfeita ao saber que isto é obra de um aliado. Dos males o menor, ainda que pareça que perdemos muitos de nós... Droga! Onde está Benjamin? Percebo pequenas movimentações ao redor, mas nada que me mostre meu Garoto Dourado. Não posso mais ficar aqui parada. Preciso agir. Olho para Edward e ele assente. Estou por minha conta, mas sei que eles vão olhar minhas costas. Não me surpreendo ao sentir Seth e Jacob se deslocando comigo. A neblina está cada vez mais fraca, o que me faz olhar para os lados antes de sair de trás da pilastra. Um grupo de vampiros se levanta a diante. Forço a visão e vejo que os conheço. São aliados e entendem quando aponto com o focinho na direção onde o grupo de Edward está. Eles passam por nós, aparentemente intactos. Sigo lentamente, à procura de Ben. Meu peito se aperta quando vejo os cabelos loiros de Kate, completamente arrepiados enquanto a Denali fica sentada, sem ação, com um olhar vidrado. Garret está com ela, falando em voz baixa, mas ela não parece querer responder. À sua volta, a destruição é ainda mais evidente. Tentando ajudá-la, eu me aproximo de onde os dois estão agachados. Garret, sem tirar os olhos de Kate, nos diz que alguém precisa de ajuda logo abaixo de umas vigas e fiação elétrica. Vou até lá e descubro um vampiro cujo nome não me recordo, mas que sei se tratar de um dos aliados. Ele está soltando fumaça, aparentemente de seus poros de pedra, e seus cabelos negros e espessos estão ainda piores do que os de Kate. No lugar de seus mãos, vejo apenas dois fiapos de algo carbonizado.

– Ei, o que foi isso? - quero perguntar, mas com a forma de lobo é impossível, para minha sorte ele parece entender.

– Fiz o que podia. Causei um curto nas habilidades de todo mundo por aqui, mas agora estou inútil.

Então ele é o tal vampirão que precisava de Kate para explodir alguma coisa. Conforme olho para os arredores, percebo que vários lobos já estão se atracando com os vampiros que viemos derrotar. E então compreendo: o plano era nos deixar no escuro em habilidades, mas não em força. Ainda podemos lutar. E, bem, ainda posso abocanhar alguns traseiros gelados. Sem pensar, sigo meu instinto e avanço para o grupo de lobos que acaba de surpreender um grupo ainda maior de vampiros do mal. Somos mais três para ajudar, o que logo se reflete na situação. A luta é ágil e igualada, mas eles não são fortes o bastante para lidar com um bando de lobos raivosos e de saco cheio com isso tudo. Ainda nem cuspi o braço de pedra e já vejo um grupo tentar fugir mais à frente. Corremos e os pegamos também. Logo não há muito mais o que fazer. Perdemos muitos aliados, mas vencemos. Com todo tumulto, não tivemos tempo de nos transformar de volta em humanos. Com um vestido leve amarrado em minhas patas traseiras, corro para uma parde intacta, pensando no quanto será mais fácil lidar com tudo em minha forma humana. Poder abraçar o Seth... gritar pelo Benjamin, que já está me assustando com esse desaparecimento...

Sigo na direção da parede onde não parece haver muito movimento, mas não antes de avistar Paul e Tia vindo em minha direção. Ao se aproximar, Paul emite um choro fraco. Sem entender, olho para Tia e é então que percebo: algo horrível aconteceu. Ela tem um olhar complacente, enquanto acaricia a cabeça do lobo Paul. Tenho certeza de que aconteceu algo terrível com Benjamin, mas logo sinto uma mão e um cheiro me tocar o dorso peludo. Meu Garoto Dourado está aqui e se abaixa para me abraçar como um dono a seu cachorro fiel. Eu, heim, sai pra lá! Me afasto dele, mas só o bastante para olhar em seus olhos, que estão tão complacentes quanto os de Tia. Não penso duas vezes, corro para o lugarzinho onde pretendo me transformar. Ouço a voz de veludo de Ben me pedindo para esperar, mas já esperei demais. Preciso fazer perguntas e não falar está me matando.

Não sinto o crepitar da energia quando me volto para meu lobo, ordenando-lhe que me deixe ser humana novamente. Não há o calor da transformação, nem o arrepio dos pelos pela magia. Após cinco tentativas, ainda sou um lobo cinzento exausto e sem voz. Não consigo reprimir um uivo quando o Garoto Dourado se aproxima e me abraça com seus braços de aparência humana. Se eu não consegui desfazer a transformação, é por isso que Paul estava daquele jeito. Ele já tentou e falhou, assim como, provavelmente, toda a alcateia. Não podemos voltar à forma humana.