Leah E Benjamin: Amor Ou Impressão? escrita por DragonFly


Capítulo 19
Impasse


Notas iniciais do capítulo

Viu? Nem demorei tanto!

Gostem, t?

xoxo



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Horas depois de muita caminhada, minhas pernas estão latejando e minha boca está seca. Parar nesta cidade pode mudar muita coisa. Não estamos nos reagrupando. Estamos repensando nossos planos e podemos concluir qualquer coisa. Ficaremos em uma casa que os vampiros aliados encontrou, neutra e, praticamente, invisível. A casa não é muito grande. Na verdade, se parece bastante com as cabanas da aldeia de Suhen, com mais cômodos. Estamos cansados. Pelo menos nós, os lobos.

Não pergunto nada, apenas entro na casa e procuro o primeiro quarto que encontro e me deito na primeira cama que vejo. Não é muito confortável, mas é melhor que o chão forrado por esteiras, sem dúvida. Não me importo com quem dividirá o quarto comigo, apenas fecho os olhos e deixo o sono me guiar.

Parece que só se passaram alguns segundos quando sinto alguém me tocar e sacudir, levemente. Ouço um sussurro agradável antes de abrir os olhos e, quando finalmente o vejo, não me importa quantas horas dormi e o quanto deveria estar mal humorada ao ser acordada por alguém. Não quando o tal alguém tem algo que eu quero. Argh! Estou ferrada!

- Eei. - respondo com a voz preguiçosa e rouca. Não quero levantar ainda, mas olhar para ele me faz querer despertar do sonho mais gostoso.

- Bom dia, Dorminhoca! Achei que fosse hibernar... - lhe dou um fraco soco, brincando e me seguro para fazer a cara de brava especial da Leah, mas não consigo.

- Não sou uma deusa da imortalidade, esqueceu? - meu tom é de brincadeira, mas sinto que ele se retém, por um segundo. Ops!

- Eu sei. Você ainda é humana. - Seu sorriso é sincero, mas seu olhar é o mais triste.

- Mais para uma aberração, mas humana, sim. - Agora, sou eu quem está triste. Por alguma razão, expor nossas diferenças me faz lembrar de Sam. Éramos tão iguais, mas nem por isso as coisas deram certo. O problema sou eu, claro. Não quero pensar em nada disso. Quero aproveitar bons momentos agora. - Então, alguma novidade?

- Não, mas você e eu podemos conseguir algumas. O que acha?

- Como assim?

- Bem, como aguardamos a chegada das notícias certas, temos algum tempo até que algo aconteça ou tenhamos que partir... então pensei que, talvez, se você concordasse, poderíamos sair um pouco, agora que está descansada.

- Huhm, sair para onde? Só nós? - Faço minha melhor cara de desconfiada e ele, meio surpreso, parece pensar antes de continuar.

- Só nós. Problema?

- Não. Me espere lá fora.

Antes que ele saísse pela porta, lembrei de um detalhe.

- Ga...Benjamin?

- Ben. Pode me chamar de Ben.

- Certo. Ben, tem mais alguém em casa?

- É, tem sim. Seus amigos estão na sala, comendo todo o estoque da geladeira...

- Imagino. Bom, vou descer pela janela então. - Benjamin me lança um olhar confuso. - Não quero respondê-los. É melhor assim.

- Se você diz.

Quando ele sai, eu pulo da cama e reviro minha mochila zoneada. Meu estoque de roupas para andar pelo mato está tão ruim que decido sair com a roupa que já estou vestindo. Após um banho rápido e um estômago roncando, insistentemente, abro a janela e analiso a situação. Não há nenhuma árvore por perto, mas são só dois andares e eu tiro de letra. Coloco uma perna, depois a outra, através da base e sento. Com os braços, me impulsiono para baixo e pulo. Logo estou recuperando o equilíbrio e procurando qualquer indício da presença de Ben. Avisto um movimento do outro lado da rua, através de um jardim. Sigo até lá e o encontro.

- Vamos?

Meu estômago reclama, mas não ligo se vamos andar ou correr. Apesar da companhia, quero esquecer quem sou e em que estou envolvida. Quero ser, por algumas horas, apenas uma garota em uma aventura quase romântica. Aquela coisa de lobo deve ser empurrada para as profundezas de minha mente. Só quero estar livre.

Ben é paciente com minha velocidade, humanamente normal. Caminhamos no mesmo ritmo. Falando sobre coisas, ou melhor, ele fala sobre coisas. Não quero falar sobre mim. Não sou interessante o bastante para querer mostrar o que vivi. Se pudesse, apagaria tudo o que me aconteceu e tudo o que senti. Ben não tem que saber. Educado demais para ser indiscreto, ele não pergunta, apenas segue contando sobre sua terra e seus dons. São as melhores histórias que já ouvi. Uma parte de mim gostaria de saber como ele se tornou o que é, mas não acho que seria uma boa conversa. Decido me calar e apenas ouvi-lo. Sorrio quando ele sorri. Não há lugar para meus comentário irônicos ou meu humor negro. Aquela Leah está bem distante, neste momento.

Passamos em frente a uma padaria e o cheirinho de café me faz gemer e ficar tonta. Não preciso dizer que quero comer, pois Ben já está abrindo a porta de vidro e segurando para que eu entre. Agradeço e procuro um lugar para dois. Sei que ele não come, mas ele parece tranquilo se considerarmos que está em um local fechado, preso com uma dúzia de deliciosos humanos recheados de cafeína.

- Então... se quiser me esperar lá fora, não irei demorar. - Eu lhe digo, pois é o mínimo que posso fazer.

- Posso ficar aqui. É mais fácil do que pensei. Tudo, graças a uma pequena distração. - Seu olhar me provoca um arrepio delicioso na nuca. Quero sair daqui agora! Precisamos de uma moita.

Termino meu café e torradas enquanto Ben paga a conta. Eu nem mesmo insisti em pagar, já que não tenho um centavo. Saímos da padaria assim que termino e voltamos a caminhar. Tenho a sensação de que Ben sabe para onde vamos. Ele não pára, nem por um segundo, para pensar que rua seguir.

- Qual é a sensação? - Ele me pergunta, do nada. E eu temo que ele queira algum tipo de declaração de amor que nunca farei.

- De quê?

- De se tornar um animal tão incrível. - Ah. Essa sensação.

- Não acho que seja diferente do que sinto quando sou humana, exceto pela conexão com os outros lobos.. - Essa foi fácil.

- Então você não muda seu interior? É você mesma o tempo todo?

- Sim.

- Huhm.

- Huhm o quê?

- Huhm, apenas pensando... se eu fosse Anubis...

- Seríamos mais diferentes do que hoje! Ele é um chacal!

- Fez seu dever de casa, anh? - Eu rio. Ben está jogando conversa fora, mas não me irrito com isso.

Chegamos a um pequeno parque botânico. É bonito e cheio de flores e folhagens verdes. A grama está aparada e o tempo nublado. Podemos nos sentar um pouco. Benjamin está logo à frente e se recosta a uma árvore de tronco largo, sentando-se na grama verde. Sigo seus movimentos e me encontro meio recostada na árvore, e nele. Logo, seus braços estão à minha volta e eu estremeço. Sei o que está por vir. Sua boca toca a minha, enquanto apago todos os sinais de alerta para catástrofes de meu cérebro. Nossos movimentos são calmos e pausados, mas não perdem o ritmo. Não sei como cogitei viver o resto de minha vida sem um beijo.

Alguns minutos depois, estamos com testas coladas e minha respiração está ofegante, mas não como a de uma cachorro obeso, e sim, como a de alguém que acaba de fazer algo estimulante. De olhos fechados, ele sussurra algo que me faz querer ser uma garota boba e chorar.

- Você é perfeita.

Sei que é a maior mentira, mas também sinto que é o que ele pensa de verdade. Ele não sabe o quanto estive quebrada. Tudo o que ele vê é um desafio que lhe agrada os olhos. Eu deveria contar a ele e lhe dar a oportunidade de cair fora antes que a Leah normal retorne. Ele não vai gostar dela. Nem eu gosto.

- O que farei com você? - Ele pergunta, agora de olhos abertos.

- O mesmo que farei com você: beijar!

- Bobinha. Quero dizer a nossa situação. Nossa rota não será a que seguimos. Os planos mudaram e iremos para qualquer lugar que seja necessário.

- É. - Eu não tinha pensado nisso. Podem nos separar, em breve.

- Podemos decidir por nós mesmos.

- Mas não antes de sabermos o que nos espera. - Eu o corto, pois sei que minha resposta não lhe será justa. - Vamos voltar, por favor. Estão nos esperando.

Levanto-me e caminho na direção que viemos. Ben me alcança e segura minha mão, em silêncio. Um incômodo impasse nos ronda, mas não podemos perder o foco. Temos pessoas inocentes para salvar. Talvez um mundo inteiro em perigo. Não há tempo para uma romance de Leah.

Chegamos em casa e encontramos o grupo reunido, esperando por nós. Ninguém faz perguntas. Estão todos sérios. Sei que faremos decisões complicadas. Para isso estamos aqui. Disfarço e olho para Ben, mas meu coração dá um salto quando não avista o brilho dourado de sempre. Sua luz está opaca, assim como sua expressão. O que foi que eu fiz?


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Notas finais do capítulo

Então?