-Clove, você está pronta? –minha mãe perguntou invadindo o meu quarto.

            Como eu odiava tudo aquilo. Era uma grande frescura. Eu iria certamente me candidatar para os Jogos Vorazes, vencer, e pronto. Porém meus pais insistiam na ideia de realizar um baile antes. Se eles acham que isso iria proporcionar apoio moral estavam muito enganados. Aquilo parecia muito mais uma despedida, ou melhor, um funeral.

            -Sim. – respondi grosseiramente, tentando mostrar para ela que eu não queria me reunir naquela “festa”.

            Minha tentativa foi em vão. Ela entrou no quarto me olhou dos pés a cabeça. Pude ver seu olho encher de água, mas continuava com um sorriso no rosto. Por fim, segurou a minha mão e me levou ao salão principal, onde a festa acontecia.

            O salão inteiro parou quando entrei. Os olhos estavam virados para mim. Aquele silêncio era perturbador. O som do meu salto e o de minha mãe pela escada ecoava pela sala. Olhei todas pessoas que preenchiam a minha casa.

            -Cato– murmurei baixo o suficiente para ninguém ouvir.

            Os meus pais e os de Cato não se davam nada bem. Viviam em uma merda de competição sem fim. Agora que ele pretendia ser o tributo masculino do nosso distrito, meu coração estava destruído. Teríamos que matar um a o outro.

            A festa foi passando mais devagar do que imaginava. Os minutos pareciam séculos quando eu não estava perto do Cato. Detestava esse sentimento. Como se eu contasse os segundos que faltam para encontrá-lo.

            Ficava imaginava nós dois, juntos, pela eternidade. Porém eu sabia que esse não era o nosso destino. O nosso destino era muito mais terrível e complicado. Acreditava que em outra vida, quem sabe, eu seria a garota dele e manteríamos todas as nossas promessas. Seria Cato e Clove contra o mundo. A melhor parte, é que teria um grande “Feliz para sempre” no final.

            -Venha comigo. –disse ele me puxando para fora da festa.

            Fomos andando para longe. Saímos dos limites da minha casa. Aquilo me deixava animada, mas ao mesmo tempo angustiada. Se fossemos pegos certamente estaríamos mortos. Mas quem se importa? Estávamos juntos.

            -Olhe esse lugar. –ele falou como se estivesse algo de especial naquilo, mas era apenas mata.

            -Já percebeu como parecemos àquela história do Romeu e Julieta? –comentei, ignorando por completo o que ele falou anteriormente– Só que eu sou muito melhor que Julieta.

            Sorrimos um para o outro.

            Ficamos em silêncio durante um bom tempo. Apenas aproveitando a presença um do outro. Era tão bom ficar com ele. Ele veio até mim como uma espécie de herói. Certamente, acabou virando mais que isso.

            -Por que você não me matou? –perguntei a ele, quebrando o silêncio e criando um clima pesado.

            Flashback on

            O último treinamento para os Jogos Vorazes. Nele, era permitido matar. Minha tensão estava ao máximo. Agora era oficial: Matar ou morrer.

            Onde eu estava depois de dois dias de jogo? Enfiada em um caverna terrivelmente escura, com apenas uma brecha de luz, esperando alguma coisa milagrosamente acontecer, para eu sair viva.

Um garoto tinha me dado uma facada na perna. Eu não consiga mais andar direito. Tinha feito um curativo primitivo, mas não era o suficiente para poder andar melhor.

            Do lado de fora as pessoas se matavam rapidamente. Conseguia ouvir a anunciação das mortes. Sobraram apenas eu, uma garota, e dois garotos no jogo.

Apenas orava aos céus para que matassem a garota, assim poderia ser liberada, como a última sobrevivente mulher.

Meus pensamentos foram interrompidos quando ouvi passos. Alguém estava entrando na caverna. Meu coração disparou. Não estaria pronta para lutar. Se quer possuía uma faca para atirar.

Um garoto loiro surgiu das sombras. Fitou-me durante um minuto. Quando finalmente pensei que ele fosse me matar, ele lançou um sorriso para mim, e foi embora.

Mas que droga aquele garoto estava fazendo?

Flashback off

            -Digamos que eu goste de baixinhas. –ele falou rindo.

            Ele era um grande idiota. Eu não sou tão pequena. As pessoas que são grandes demais.

            -Cato, você sabe que algum de nós vai morrer...

            Ele me interrompeu com um beijo. Um beijo suave e doce. Durante aqueles segundos, nada mais importava. A minha angustia, o medo, e todos os terríveis sentimentos que preenchiam minha cabeça sumiram.

            Eu o amava.