Eu e Rodrigo mal conversamos no caminho de volta, primeiro porque não queríamos que minha mãe ouvisse alguma coisa, segundo porque minha mãe não parou de falar da casa da minha vó. Sempre que minha mãe ia lá voltava falando que minha vó devia comprar uma casa em New Valley ou em Doc Valley, que era uma cidade bem próxima da nossa. Minha vó adorava a casa dela e adorava ainda mais Next Valley. Ela já tinha quase 95 anos, mas aparentava ter só 70. Era um pouco respondona, mas muito carinhosa. Era vaidosa e vazia questão de caminhar pelas ruas de Next Valley sempre muito bem arrumada. Quando New Valley foi fundada, minha vó comprou uma casa lá para meu tio Carlos, mas ele morreu dois anos depois. Hoje eu e minha mãe moramos na casa dele. Em oito anos minha vó só foi a New Valley nos visitar umas quatro vezes e na ultima vez jurou que não voltaria tão cedo.

Thiago venha. Eu preciso de você. Venha.

Acordei com o Rodrigo me balançando e perguntando se eu estava bem. Pude ver pela sua expressão que ele também estava com receio que eu dormisse. Não podia culpá-lo. Apenas respondi que estava bem.

Assim que viramos a rua vimos a Mabi chorando na calçada. Eu olhei para o Rodrigo que pediu a minha mãe para parar o carro. Assim que ela parou eu abri a porta e corri em direção à casa do Rodrigo.

- O que aconteceu Mabi? Esta tudo bem com você? Cadê os seus pais?

Eu falei tão rápido e embolado que ela acabou dando uma risada.

- Esta tudo bem. Papai e mamãe saíram.

- Então por que o motivo do choro? – Rodrigo perguntou aflito.

- Não é nada de mais.

- Ninguém chora do nada Mabi.

- Verdade Rodrigo. Ninguém chora atoa, mas uma garota não vai contar para o irmão e o melhor amigo dele o motivo – eu me assustei com as palavras repentinas de minha mãe.

- Mabi, querida, você quer conversar um pouco?

No começo Mabi pareceu não gostar da ideia, mas acabou aceitando.

- Os dois já pra casa. Isso é assunto de mulher.

Eu e o Rodrigo demos de ombro e fomos para minha casa. Assim que entramos o Rodrigo perguntou o que eu tinha achado do dia de hoje

- Vou estranho, mas apesar de tudo, não tão estranho.

- Mas você acredita mesmo que o seu pai vai conversar com você lá do inferno via sonho?

- Bom, não seria por telefone ne?

Começamos a rir, mas logo a seriedade voltou.

- Thiago, você acha que... bem... você sabe. A Mabi vai...

- Não pense nisso Rodrigo! – Para mim era insuportável imaginar o mundo sem a Mabi – Não vai acontecer nada com ela. Eu quero acreditar nisso e você deveria fazer o mesmo – eu tentei passar para ele uma segurança que nem eu mesmo tinha.

Depois de muita conversa acabamos chegando à conclusão de tudo foi real. E o melhor a se fazer era esperar pelo recado do meu pai. Eu estava assustado, mas queria entender o que estava acontecendo.

- Então esta noite nada de calmante?

- Nenhum.

- Thiago?

- Hun

- Não importa o que aconteça eu estarei aqui e a Jessy também.

Eu consegui dar um sorriso sincero. Se tinha alguém que era um amigo de verdade este era o Rodrigo. Ele era como um irmão.

- Muito obrigado cara. E por falar na Jessy...

- Não tem nada o que falar. É melhor eu ir pra casa, amanhã já começam os trabalhos em dupla. – é. O trabalho que eu sonhava em fazer coma Mabi – Ah! A Mabi mandou te avisar que vai fazer o trabalho com você. Ela falou com a professora que você não tinha dormido bem e por isso não tinha ido à aula.

Essa era a única vantagem dos meus pesadelos. Por causa do calmante forte que eu tomava às vezes eu não conseguia acordar para ir há escola.

- Que bom. Já estava me imaginando fazendo o trabalho com algum nerd estranho da minha sala.

-Você parece feliz mesmo com a notícia. – o Rodrigo me lançou um olhar estranho. Por algum tempo ate parecia que ele sabia de alguma coisa. – Enfim. Boa noite cara tenha bons sonhos e boa sorte.

- Valeu. Eu vou mesmo precisar.

Levei o Rodrigo ate a porta e fui direto tomar um banho. É uma mania minha tomar no mínimo três banhos por dia. Um quando acordo, o segundo quando chego da aula e o terceiro na hora de dormir. Tomei um banho bem demorado. Esquentei um prato de comida no micro-ondas e fui me deitar. Assim que arrumei a cama minha mãe entrou no meu quarto me dando, pelo visto, a única noticia normal e boa do dia: a Mabi tinha brigado com o Farofa, por isso ela estava chorando.

“Graças a Deus!”

- Que bom que você ficou satisfeito, mas Ele não teve nada haver com isso.