Visio Nocturna - Primeiro Desafio escrita por Kalevra


Capítulo 6
Capítulo 5




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Parecia que minha mãe estava competindo na formula 1. Geralmente gastamos 1 hora e meia da minha casa em New Valley ate o consultório do Dr. Fernando que fica em Next Valley. Levamos apenas 40 minutos para chegar ate a ponte que divide as duas cidades. Confesso que, que se eu fosse de rezar o teria feito. Quando eu falava para ela ir mais devagar minha mãe dizia que é muito feio deixar as pessoas nos esperando. Feio seria parar em um hospital ou pior. Quando estávamos já perto da clinica me lembrei que falei com a Jessy que eu ia passar na casa dela.

– Mãe, a senhora me deixa na casa da Jessy na volta? Prometi que ia ajudá-la com a mudança.

– É claro meu filho. Mas não fica lá ate tarde. Amanha o senhor tem aula - eu sabia que ela não ia negar. Minha mãe adorava a Jessy e ficou muito feliz em saber que ela vai se mudar para New Valley.

Finalmente chegamos. Nunca fiquei tão feliz em descer do carro. Minha mãe parou do outro lado da rua e enquanto eu atravessava fiquei pensando em como o meu dia estava estranho. Primeiro aquele acidente em que, aparentemente, eu conversei com um espírito que falou que meu pai tentava me mandar recados. Depois aquele tal de Lucem, que também não parecia pertencer a este mundo, veio me dizer que conhecia o meu pai.

Eu fiquei pensando sobre isso e sobre o meu pesadelo desta noite, acho que não vou relatar nada disso ao doutor, daqui a pouco ele manda me internar.

Quando chegamos na clinica a secretaria do Dr. Fernando disse que eu podia entrar que ele já estava me esperando.

– Mãe eu estou bem, não precisa entrar comigo – eu disse quando percebi a intenção dela de entrar no consultório atrás de mim.

– Tudo bem então. Eu vou visitar a sua vó. Quando acabar me liga.

Ela me deu um abraço e foi embora.

Quando bati na porta o Dr. Fernando disse que eu podia entrar.

– É estranho você atrasar Thiago. Mesmo sendo apenas 10 minutos – disse o Dr. Fernando vindo em minha direção para me cumprimentar. Apesar de o Rodrigo me chamar de tampinha eu sempre me considerei alto com os meus 1,78. Mas perto do Dr. Fernando eu me sentia muito pequeno. Ele tinha quase 2 metros de altura. Por causa do seu passado como campeão de boxe tinha um bom porte físico para os seus quase 40 anos.

– Eu me atrasei por que não fui à aula hoje e geralmente venho direto da escola.

– Bem se sente eu só vou buscar um pouco de água. Você aceita?

Eu neguei com a cabeça e me sentei no divã que fica bem próximo da janela. Enquanto esperava o doutor voltar fiquei me lembrando da minha primeira consulta.

Foi há 8 anos, eu tinha metade da minha idade. Minha mãe resolveu procurar ajuda de um especialista para o meu caso. Se eu me lembro bem já faziam 4 noites que eu não conseguia dormir direito. Eu nunca tive medo do escuro, mas de dormir eu tinha. A tia Lucia disse que conhecia um bom psicólogo que deu aula pra ela na faculdade e deu o cartão dele pra minha mãe. Na mesma hora ela ligou e marcou a minha primeira consulta. Foi um pouco estranho ir para um psicólogo e a Jessy não ajudou muito dizendo que uma tia dela tinha ido a um e não voltou mais pra casa. Quando chegamos ao consultório à mesma secretaria nos recebeu e nos mandou esperar. Pouco tempo depois um garoto que era da minha sala saiu do consultório acompanhado da mãe ele me olhou e sorriu aquilo me deixou mais tranquilo. Atrás deles vinha um senhor moreno muito alto.

– Dr. Fernando este é o seu próximo paciente - disse a secretaria

Na mesma hora deu um sorriso e apertou a mão de minha mãe.

– A senhora deve ser a Regina – minha mãe confirmou com a cabeça enquanto retribuía o aperto de mão – então este jovenzinho é o Thiago? Você é bem grande para 8 anos – ele disse isso com um sorriso sincero no rosto. Quando entrei no consultório já não estava mais com medo.

“Ele era bem legal” – pensei comigo

O consultório era bem diferente do que eu imaginava. Era uma sala grande e tinha uma estante grande cheia de livros e uma menor com varias revistas em quadrinhos. Em um canto tinha uma mesa e uma cadeira. No outro, perto da janela estava o mesmo divã. Do lado dele tem duas poltronas. Na parede de trás da mesa do doutor tem um quadro com varias medalhas de ouro e só algumas de prata e do lado tinha um par de luvas de boxe pregadas na parede. Eu achei incrível o meu psicólogo ser lutador de boxe a minha mãe a principio não pareceu muito satisfeita.

– A senhora pode se sentar aqui- ele falou apontando para uma das poltronas ao lado do divã e você Thiago pode sentar ou deitar no divã.

Eu me sentei e o Dr. Fernando falou um pouco do método dele para casos de noites de sem dormir

– Eu acredito que quando uma criança tem dificuldade para dormir os culpados são os pesadelos – ele acertou em cheio – É muito comum a criança ter medo de dormir se têm pesadelos todas as noites e pela carinha de sono do Thiago arrisco dizer que ele não tem dormido muito bem não é?!

Eu confirmei com a cabeça e olhei para minha mãe. Sua expressão já havia mudado.

– Thiago me conta uma coisa, você tem muitos pesadelos?

Eu olhei pra minha mãe que segurou a minha mão e deu um leve sorriso

– Tenho sim - eu disse num tom baixo

– E nesses pesadelos tem alguma coisa que se repete? Por exemplo: você conversa sempre com uma mesma pessoa ou vê alguém?

Eu pensei um pouco e respondi que sempre tinha uma voz que me chamava.

– E o que essa voz diz pra você?

– Só o meu nome, mas eu nunca respondo – na verdade eu nunca respondi – e a voz é fria e parece ser de alguém triste.

– Por que você acha que a voz é de alguém triste?

– Por que lembra a voz da mamãe quando fala do meu pai – nesse momento os olhos da minha mãe se encheram de lagrimas e o Dr. Fernando me perguntou por que eu nunca respondi.

– É por causa do moço.

– Que moço Thiago? - desta vez ele chegou bem perto de mim e me olhou fundo nos olhos.

– Eu não sei. Não é sempre que ele aparece.

– Quando ele aparece você fica com medo?

– Não. Ele é meu amigo. Ele conversa comigo e me leva para passear no parque que tem perto da minha escola.

– Que parque? – Desta vez o olhar dele foi diferente passou de compreensivo para intrigado.

– É o parque onde o vovô e minha tia estão dormindo. Quando o moço me leva pra lá eu converso com a tia Bia e ela me conta historias.

Minha mãe estava assustada. Minha tia Bia tinha morrido há dois anos quando ladrões assaltaram a casa e a incendiaram e meu avô morreu antes do meu nascimento.

– Esse moço, como ele chama?

– Eu não sei. Sempre que ele tenta falar comigo a voz triste e fria começa a me gritar e eu fico com medo.

– A voz não gosta do seu amigo?

– Acho que não.

– Esse seu amigo, como ele é?

– Ele é alto, loiro, tem uma voz bonita e os olhos cinza.

O Dr. Fernando voltou com uma jarra cheia de água. Eu devia estar com uma cara péssima, pois ele perguntou se eu tinha certeza que não queria água.

Acho que nem se bebesse a jarra inteira melhoraria.

O homem que andava e conversa comigo nos meus sonhos desde que eu era uma criança era o mesmo que hoje me ofereceu ajuda: Lucem.


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