O Feiticeiro Parte III - O Medalhão de Mu escrita por André Tornado


Capítulo 54
VII.1 Uma menina em apuros.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/324955/chapter/54

Sentado no seu cadeirão favorito, acendeu um charuto e começou a fumá-lo religiosamente. O fumo saía-lhe da boca em argolas perfeitas. Quando praticava aquele ritual, conseguia relaxar-se totalmente ao ponto de não pensar em nada. O médico já o tinha avisado para deixar de fumar, mas ignorava ostensivamente esses conselhos que o deprimiam. Um charuto seria sempre o passatempo favorito de Mr. Satan.

Os escritores tinham acabado de sair e sentia-se, pela primeira vez desde que começara aquela empresa, satisfeito com a sua biografia. Os capítulos dedicados ao Cell Games estavam completos e contavam exatamente como tinha acontecido – ou pelo menos, tinham sido fiéis à versão oficial. Estava tudo tão bem descrito que ele chegara a emocionar-se. Ao verem as lágrimas do grande campeão, todos os escritores se levantaram ao mesmo tempo e aclamaram-no em uníssono durante mais de meia hora.

Continuava a ser amado e isso era uma sensação melhor que a de fumar um charuto especial. 

Ao abrir os olhos tinha o mordomo postado à sua frente. Endireitou o charuto entre os dedos.

- O que foi?

- Mr. Satan, a sua filha veio visitar-vos.

Esqueceu prontamente a emoção daquela tarde. Saltou do cadeirão, correu para apertá-la nos braços.

- Videl!

- Papa… Esqueces-te que já não sou a tua menina pequenina?

O mordomo saiu discretamente da sala, fechando a porta dupla silenciosamente. Mr. Satan corou enquanto pousava a filha no chão.

- Pois… Gomen nasai. É verdade, esqueço-me que és uma menina crescida.

- Uma mulher.

- Hai, uma mulher. Bonita como a tua mãe.

- Papa! – Foi a vez de ela corar.

Reparou nas folhas de papel espalhadas pelo sofá, pela mesa e pelo bar, pela sala inteira como se tivessem sido dispersas por uma ventania que por ali entrara.

- Tiveste trabalho hoje.

- Hai.

- Os biógrafos não te perguntaram onde passaste os últimos nove meses, papa?

- Claro! – O charuto fumegava-lhe entre os dedos. – Disse-lhes que tinha estado de férias, numas ilhas do sul. Ficaram satisfeitos, não perguntaram mais nada.

- Vês como foi fácil justificar a tua ausência?

Ela sentou-se no sofá, ele regressou ao cadeirão.

- Mais uma vez, safo-me bem inventando uma mentira qualquer… Não é assim?

- Remorsos nesta fase, papa?

- Eh… – Tirou uma passa ao charuto, esquivando-se à resposta.

- A biografia já está do teu agrado?

- Está perfeita!

Sorriu e as rugas em redor dos olhos apareceram em todo o seu esplendor. Videl sorriu com ele, mas depois, bateu com as mãos nos joelhos e disse:

- Bem, papa, venho buscar a Pan-chan. Podes chamá-la. Nem sei como é que conseguiste trabalhar com ela a cirandar pela casa. Enviaste-a para os jardins para brincar com o Beh e com Mr. Bu, não foi?

O sorriso de Mr. Satan desapareceu.

- Nani?

Os dedos de Videl crisparam-se, as unhas arranharam a pele dos joelhos.

- Pan-chan… Manda chamá-la, está bem?

E como o pai continuava pasmado, ela adiantou levantando-se:

- Então, chamo-a eu. Não preciso de mordomo para chamar a minha filha. Lá em casa, não tenho mordomo! – E riu-se da espécie de piada.

Mr. Satan também se levantou. Hesitou, mas acabou por dizer:

- Pan-chan não está comigo.

Houve uma pausa, como o tempo que se leva a esticar a corda do arco antes de disparar a flecha. Pontaria. Mais um instante. E então a flecha partiu, atravessou o cérebro de Videl que levou as mãos à cabeça e berrou:

- Papa, Pan-chan não está aqui?!!

- Não, Videl… Desde que chegámos daquele sítio esquisito que nunca mais a vi… Passa-se alguma coisa?

Videl saiu esbaforida da mansão do pai, enfiou-se no automóvel e atravessou metade da cidade numa velocidade alucinante, sem olhar para nada, nem semáforos, sinais de trânsito, peões, outros automóveis. Julgava ter escutado as sirenes da polícia algures, no meio do trajeto. Entrou em casa aos gritos.

- Gohan! Gohan! A nossa filha desapareceu!

Ele correu para junto dela, a atirar para o chão o livro que tinha nas mãos.

- Nani? Mas ela não passou a noite na casa do teu pai?

- O meu pai não sabe onde é que ela está! – Arrepanhou os cabelos, suada, vermelha de medo. – Ela desapareceu. A minha querida Pan… desapareceu!

Tapou a boca com as mãos, arregalou os olhos.

- Foi do castigo. Ela não quis comer as ervilhas e eu mandei-a para o quarto de castigo.

Ele abanou a cabeça.

- A Pan não aceita mal os castigos. Aconteceu outra coisa…

Sem destapar a boca, Videl perguntou:

- Mas onde é que ela está?!

- Já viste se está com a Maron?

- Hai, telefonei hoje de manhã para a casa de Kuririn-san. Ninguém me atendeu.

- E com Bra?

- Também não. Bulma-san disse-me que não estava lá.

De repente, Gohan  empalideceu.

- O que foi?

- Masaka

- Gohan-san, o que foi? – Gritou-lhe.

- Zephir.

- Ahn?! Zephir, o quê? Estás a dizer-me que… que a nossa filha… O que é que queres dizer?

Ele correu para o quarto, escancarou o roupeiro, puxou uma caixa da prateleira de cima. Despiu a blusa, tirou as calças, sacudiu os sapatos dos pés. Arrancou a tampa à caixa, começou a vestir o dogi. Videl apareceu na porta, de braços abertos a segurar a ombreira como se acontecesse um tremor de terra e ela estivesse a aguentar a casa inteira. Ofegava.

- Pan foi para o Templo da Lua? Mas por que estúpida razão foi a nossa filha para o Templo da Lua?! Diz-me, Gohan!

- Ela quer combater Zephir. Desde o início que o quer combater.

- Nani? E o que é que tu estás a fazer?

Os dedos dele tremiam enquanto enrolava o cinto na cintura, a prender a túnica e as calças.

- Vou atrás dela… O que é que querias que eu fizesse?

Como ela estava a tapar a porta, abriu a janela do quarto.

- Tu também vais combater?

- Se for necessário…

Espreitou-a por cima do ombro. A brisa que penetrava no quarto agitava os cabelos dele e também os cabelos dela. Ficaram parados, à espera de se despedirem, a não querer fazê-lo.

- Trarei a nossa filha, sã e salva, Videl.

E saltou pela janela.

Videl regressou à sala, devagar, sonâmbula. Afundou-se no sofá. O silêncio da casa pesava como chumbo. As lágrimas estavam prestes a saltar-lhe dos olhos escancarados, mas estava tão assustada que não chorou.

Deixou-se ficar a olhar fixamente para a porta, à espera. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Alternativas.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Feiticeiro Parte III - O Medalhão de Mu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.