O Feiticeiro Parte III - O Medalhão de Mu escrita por André Tornado


Capítulo 16
II.7 Destruição.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo narrado na primeira pessoa.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/324955/chapter/16

As minhas passadas eram refletidas nas paredes e no teto daqueles corredores solitários, mesmo calçando sapatos de pano, ecoando sinistramente e mentindo-me, pois faziam-me crer que bastavam as passadas para me colocar fora de perigo.

Cansada parei, concedendo a mim mesma uma curta pausa. Conciliei a respiração acelerada, limpei o suor da testa. A sweat azul agasalhava-me demasiado naquele ambiente abafado e lúgubre.

Fiz como Goten me tinha aconselhado. Sempre que pudera, tinha subido e, quanto mais subia, mais me afastava dos grunhidos dos bichos negros.

Espaçadamente, tudo tremia e escutava o som abafado de explosões, sinal de que se combatia no exterior e eu enchia-me de receios. Não podia ficar ali dentro, senão era apanhada pelos bichos ou pelo demónio que me tinha raptado. Mas se fosse para o exterior poderia ser apanhada pelo fogo cruzado dos guerreiros.

Já não conseguia correr mais e pus-me simplesmente a andar. Por sorte, divisei uma escadaria encaracolada, dissimulada atrás de um reposteiro. Subi galgando dois e três degraus, afastei um segundo reposteiro agitando uma nuvem de pó e tive de tapar os olhos com uma mão, encandeada pela luz do sol. Tinha conseguido sair dos subterrâneos e o meu coração bateu de felicidade.

Estava num pequeno pátio quadrangular. Vi o céu azul, vi que no centro havia um pedestal com uma estátua negra enfeitada com um colar de flores brancas murchas. Representava uma figura feminina distorcida, que parecia bela a um primeiro olhar e repulsiva se a fixássemos mais do que cinco segundos. Apartei o olhar, arrepiada.

De repente, tapei os ouvidos porque soou um grito enorme que parecia querer rasgar o mundo apenas com o poder do som. A terra voltou a tremer. Caí, aos pés da estátua negra. Esperei que o terramoto terminasse e depois levantei-me, escapulindo-me pela arcada oposta àquela de onde tinha saído. Quando corria fui empurrada por um segundo terramoto contra uma parede e acabei sentada no chão, agarrada às costas magoadas. Segundo grito, segunda tentativa para rasgar o mundo. Que era bem resistente, o mundo, pois continuou inteiro e a girar quando o segundo grito se calou.

Levantei-me, corri a mancar, tinha uma perna dorida, as costas estalavam, os pulmões gritavam sem fôlego, estava mortalmente exausta. Encontrei uma porta dupla entreaberta. Não me fiz rogada e entrei.

Senti um arrepio de emoção, detive-me perante aquela revelação.

- Que maravilha – suspirei.

O salão onde me encontrava era uma autêntica obra de arte. Era lindíssimo, um local sublime, amplo, que nos esmagava numa beleza luminosa, elaborada num imaculado e celestial branco. Era cortado por um tapete vermelho que levava até um palco onde repousava um trono imponente. As colunas finas bordavam as orlas do salão e os vitrais do teto, que coavam a luminosidade do exterior, eram um esplendor inigualável. A tranquilidade do salão fazia com que parecesse impossível que fizesse parte do medonho Templo da Lua e julguei ter penetrado noutra dimensão, um recanto resguardado da loucura dos feiticeiros.

A luz branca ganhou intensidade. Semicerrei os olhos. A claridade aumentou tanto que se tornou insuportável. Os desenhos dos vitrais esbateram-se, passaram de branco para amarelo e a seguir para laranja. Vermelho… Fogo! Compreendi que aquilo iria rebentar.

Gritei, atirei-me para o lado. O abanão que sacudiu o salão antes do momento final empurrou-me para a galeria colunada.

A explosão foi pavorosa e o estrondo foi aterrador.

Desesperada, cobri a cabeça com os braços.

O que era sólido liquefez-se. As colunas ruíram, os alicerces derrubaram-se, o pavimento rachou, o teto de vitrais quebrou-se. A beleza irreal daquele salão perdia-se para sempre.

Um grande pedaço de parede tombou à minha frente, inclinou-se sobre mim. Fiquei entalada entre esse pedaço e a parede onde me encostava. Foi o que me salvou. O calor da explosão penetrou de chofre nos escombros do salão queimando tudo à sua passagem. Os destroços caíram numa chuva mortal e violenta que soterrou tudo, pedras caindo, martelando, resvalando.

A calma regressou segundos depois. Tremia, mas estava bem, sem nenhum ferimento a registar, a não ser alguns arranhões, talvez um punhado de nódoas negras, a mesma dor nas costas e na perna. Estava viva e era um milagre estar viva.

Descobri uma tira de luz no fundo do buraco onde me enfiava. Rastejei até à luz, espreitei. Vi outra vez o céu, no seu esplendoroso azul, distante da comoção que agitava a terra.

Vi também duas silhuetas douradas, suspensas entre as nuvens. Eram acompanhados por faíscas e tinham longos cabelos loiros. Reconheci um deles apesar de, assim à distância, serem iguais, como falsos gémeos, nascidos da mesma raça mas de progenitores diferentes.

- Goku…

Dois super saiya-jin, nível três. Recolhi-me.

O combate prosseguia e haveriam de surgir mais ataques flamejantes. Seria mais seguro ficar ali, escondida debaixo daquela parede tombada que já me tinha salvado uma vez.

Devagarinho, abracei-me às pernas fletidas, encostei a testa aos joelhos e esperei enterrada entre aquelas ruínas escuras e fumegantes.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Intervalo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Feiticeiro Parte III - O Medalhão de Mu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.