O Feiticeiro Parte III - O Medalhão de Mu escrita por André Tornado


Capítulo 12
II.3 Regresso ao mundo dos vivos.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo narrado na primeira pessoa.



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Um coro de vozes ensurdecedoras juntou-se num bolo indistinto de ruído e fundiu-se numa só voz quando despertei. A cabeça doía-me. O demónio falava.

Soltou-me e caí sobre uma pedra estreita, dura e fria. Fingi que continuava desmaiada, de olhos fechados, a respirar devagar, a escutar. Estava de barriga para baixo, os braços pendurados.

- Cumpriste a tua tarefa, Kumis. Fiquei agradado.

Estava mais alguém com o demónio. Talvez o feiticeiro que se queria apoderar de mim… A voz dele era dura e fria como a pedra.

- Porque levaste tanto tempo, Kumis?

- O jovem saiya-jin levou-a para um sítio longínquo, sensei. Para o Palácio Celestial.

- Hum… Interessante. Sabia que Son Goku conhecia o kami-sama, mas nunca julguei que ele e os seus companheiros lhe fossem tão próximos.

- Tive de arrancá-la de lá à força. Primeiro, combati contra um guerreiro de três olhos.

- Encontraste Ten Shin Han.

- E a seguir lutei contra um feiticeiro.

- Um feiticeiro?

- Fez-me frente com um conjuro muito bem elaborado, mas era inexperiente e consegui quebrar o conjuro facilmente. A rapariga gritou pelo nome dele quando o derrubei.

- E como se chama esse feiticeiro?

- Toynara.

- Toynara?!

A voz do feiticeiro deixou de ser dura e fria naquele berro. Arquejou, inspirou fundo, utilizou uma pausa para recuperar o domínio sobre si mesmo, sobre o demónio, sobre a situação. O meu coração batia depressa e se não me acalmasse acabaria por me denunciar. Mas aquela conversa começava a enervar-me.

- Tens a certeza que foi esse o nome que ouviste, Kumis?

- Hai, sensei.

- Quer dizer que Toynara está vivo…

- Quem é esse Toynara, sensei?

- A pergunta é impertinente, mas irei responder-te.

- Gomen nasai, sensei. Não pretendia ofender-vos.

- Hum… Os teus modos compensam a tua impertinência, ao contrário do teu irmão que está sempre a desafiar-me. Bem, respondo-te. Toynara era um sacerdote do templo e traiu-me. Sentenciei-o à morte mas, por alguma razão desconhecida, conseguiu sobreviver.

- Se soubesse que esse Toynara era tão importante, tê-lo-ia morto.

- Uma oportunidade desperdiçada, de facto.

Mas estava ali a minha oportunidade. Os dois conversavam e estavam distraídos o suficiente para me concederem a nesga de tempo que me permitiria escapar.

Entreabri os olhos. Vi o demónio, de costas para mim, e um homem magro, vestido com um comprido hábito cinzento, o rosto velado pelo capuz do hábito. Saltei daquela pedra estreita, dura e fria e saí a correr pela porta escancarada que encontrei à minha direita. Ouvi a ordem estridente:

- Kumis, a rapariga está a fugir. Vai atrás dela!

O medo fez-me veloz e ágil. Corri como se voasse por aqueles corredores cavernosos e escuros. O fogo dos archotes agitava-se à minha passagem criando mais sombras nas saliências rochosas. Tinha a sensação assustadora de não correr sozinha, que era acompanhada por presenças invisíveis.

Ouvia os passos de Kumis, o demónio, na minha peugada. Dobrei uma esquina, desci um lanço de escadas. Escorreguei pelos degraus carcomidos, caí, magoei os joelhos. Levantei-me num breu aterrador, mas continuei a correr em direção à luz que ondulava adiante.

Os fantasmas insistiam em acompanhar-me ululantes. Pelo menos, tinha conseguido despistar Kumis, já não ouvia os passos dele. Mas estava num sítio fundo, escuro, confuso. Um labirinto impossível de vencer.

A luz era apenas um archote, pregado numa parede interminável. Parei de correr, andei tateando por ali afora, vencendo o corredor passo por passo. A perna esquerda doía-me por causa da queda, massajei o local dorido.

Avistei um par de luzinhas vermelhas no fundo do corredor. Abrandei. Quando o par de luzinhas se foi desdobrando em dezenas de pares de luzinhas parei de vez. O suor pingou-me da testa.

Eram bichos, negros e atarracados, com braços longos e garras no fim dos braços. Grunhiam e arrastavam os pés no chão rochoso. Olhei para trás e descobri mais bichos. Estava encurralada. Fiquei gelada.

Então, reparei numa pequena passagem sinuosa, disfarçada entre duas colunas corroídas, à minha direita. Entrei pela passagem correndo como se fugisse da própria sombra. Os bichos grunhiram mais alto e as patas martelaram pelo corredor afora, perseguindo-me num magote furioso.

Descobri uma luz azul a sair por uma porta entreaberta. Um refúgio! Entrei num pulo. Não contei com os degraus a seguir à porta, caí. Levantei-me aflita. Caí outra vez ao tropeçar num cabo estendido algures na entrada daquela câmara. A luz azul extinguiu-se, um zumbido elétrico que soava ali dentro também. Ficou apenas uma claridade ténue, acinzentada e sufocante.

Sentada no chão, afastei os cabelos dos olhos.

Um dos bichos assomou-se à entrada. O desalento do meu falhanço comeu o resto das minhas energias. Era tarde demais… Iria ser atacada, despedaçada. Encolhi-me, solucei de medo.

Mais grunhidos, mais bichos. Gritei, tapei a cara com as mãos. Escutei o som de vidros a se partirem em mil pedaços, uma grande janela a cair de muito alto. Devia ser a minha alma a estilhaçar-se, antes mesmo do corpo.

O ataque veio. Inesperadamente escutei o som seco de um soco. E depois silvos e um odor pestilento. Grunhidos mais agudos, o martelar das patas a afastar-se a levar os grunhidos.

Destapei a cara. Estava um rapaz de pé, encarando a porta onde já não estava nenhum bicho. Vestia uma túnica com um grande buraco nas costas, estava encharcado, coberto por uma matéria verde e viscosa.

Quando ele se voltou para mim, reconheci-o. Tinha outro buraco na parte da frente da túnica.

- Go… Goten?

Ele recuou.

- Como é que sabes o meu nome? – O rosto crispou-se, alçou o mesmo punho que utilizara para rechaçar os bichos. – Quem és tu? És um feitiço de Zephir?

- Não! – Exclamei esticando os braços para me defender. – Não, Son Goten!

- Fala!

- Mas Trunks disse-me que estavas morto!

- Ahn? Trunks?

Levantei-me lentamente. Continuava a ameaçar-me com o punho fechado.

- De certeza que não és um maldito feitiço? Este lugar é assombrado.

- Tu é que és uma assombração – refutei. – Não tinhas sido morto por… por…

Não consegui completar. Olhei-o de cima a baixo. Ele estremeceu, transtornado com alguma memória. Talvez o momento em que Trunks o atacara.

- Hai, estou vivo – respondeu confuso. – Acho que nunca cheguei a morrer.

Olhamos ao mesmo tempo para uma caixa negra que estava no centro da câmara, com o tamanho exato para o conter. No interior havia gelo e restos da mesma matéria viscosa e verde que o cobria. Vidros partidos espalhavam-se do lado esquerdo, restos de uma espécie de tampa. Um cabo saía da parte inferior da caixa e enrolava-se como a pele descartada de uma cobra.

- Ainda não me disseste quem és tu!

- Chamo-me Ana e venho da Dimensão Real.

- Nani?

A explicação deve ter acendido mais dúvidas, à mistura com as memórias recentes. Baixou o punho.

- Zephir quer apanhar-me – expliquei agarrando-o pela túnica. – E Zephir não pode apanhar-me. Anda um demónio a perseguir-me que se chama Kumis. Ajuda-me a sair daqui.

Agarrou na minha mão e saímos da câmara, andámos alguns metros. Os grunhidos regressaram ao corredor. Senti um calafrio ao vislumbrar pares de luzinhas vermelhas atrás de nós.

- Os kucris voltaram.

- Kucris? – Estranhei.

- Hai.

Soltou-me a mão. Afastou-me com um braço e transformou-se em super saiya-jin. Senti um calafrio ao presenciar a esplendorosa beleza e o magnífico poder de um super saiya-jin. Son Goten estava maravilhosamente belo naquela aparência dourada e faiscante.

Os bichos organizavam-se num grupo compacto, preparando o ataque, grunhindo, exibindo as garras. Goten concentrou energia.

- Escuta, Ana. Será melhor fugires.

- Fugir? Mas queres que fuja para onde?

- Vou combater, não te poderei proteger.

- Mas protegeste-me, ali, na câmara.

- Eram apenas três kucris. Agora, temos um exército deles. Foge, onegai shimass.

Escutei, por instantes, a voz de Son Gohan.

Um kucri investiu com um salto, garras em riste.

- Goten! - Gritei.

As garras passaram-lhe rente à cara. Desviou-se, acertou no kucri com uma potente joelhada. Disparou um raio alaranjado e fritou um grupo de cinco bichos que corriam na nossa direção. O fumo em que se converteram cheirava a enxofre.

Não o queria atrapalhar. Desejei-lhe boa sorte e fiz como me pedira. Fugi, corri como uma louca pelo corredor afora.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
O combate interminável.



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