WE ARE NEVER EVER GETTING BACK TOGETHER

Prólogo

SAM PUCKET

– Sam, nós já chegamos. Acorde!

Sinto meu corpo ser balançado levemente e abro os olhos, encarando as grandes orbes castanhas e os cabelos ruivos da minha amiga.

– O que? - Pergunto grogue.

Passo a mão por minha blusa em uma falha tentativa de desamassá-la.

– Chegamos em Seattle. Você dormiu durante toda a viagem. - Responde já levantando da poltrona do avião.

– Hum... - Resmungo, repetindo seu gesto e me encaminhando para a porta de saída, com ela em meu encalço.

[...]

– Nossa, esse aeroporto está parecendo um formigueiro. Achei que nunca fôssemos conseguir pegar nossas malas. - Reclamo, tentando desviar da multidão eufórica.

– Não exagera, Sam. Nem está tão cheio assim. - Diz a ruiva com a sua voz doce de sempre e uma calma desnecessária. Sério, como ela consegue ser assim?

Finalmente, conseguimos sair e eu estendo a mão direita para parar um dos táxis que estavam passando. O motorista gordinho desce para nos ajudar a pôr nossas bagagens no porta-malas.

– Bushwell Plaza. - Digo para o homem quando já estamos todos dentro do carro.

Pego meus fones de ouvido e meu celular dentro da minha bolsa e seleciono uma das músicas.

DON'T FORGET - Demi Lovato

Começo a cantarolar baixinho e permito que todas as lembranças invadam minha mente. Encosto minha cabeça no vidro frio, observando a leve chuva que cai do lado de fora.

Dois anos. Dois anos se passaram desde a última vez que os vi. Tanta coisa mudou desde que a Carly foi morar com o pai na Itália...

Poucas semanas depois de o ano letivo terminar, recebi a minha carta de aceitação na Universidade de Julliards em Nova York. Como eu nunca tinha dito para ninguém, nem mesmo para minha mãe, sobre esse meu sonho secreto, devo presumir que foi uma grande surpresa para todos ao notarem que a única coisa que deixei para trás foi uma carta contendo explicações.

Chegar em Nova York foi como chegar em outro mundo. Um mundo ao qual tive de lutar para me adaptar. Consegui um emprego como babá e foi lá onde conheci Cat Valentine, minha amiga ruiva e sem noção. Descobri que faríamos a mesma universidade e, com o nosso primeiro salário, alugamos um apartamento que dividimos até hoje.

Nos primeiros meses, mantive contato com os meus amigos de Seattle, inclusive com o nerd. Freddie me contou que começara um curso de cinema na Seattle University e, de certa forma, me senti feliz por ele. Gibby fez uma parceria com Spencer e juntos montaram a própria galeria de arte, que, pelo que sei, é muito famosa por aqui. Spencer, acreditem ou não, se casou com uma das mulheres do "Clube do Livro" e essa união já tem quase um ano e meio. Infelizmente, não pude vir ao casamento, pois estava ocupada estudando para as provas da universidade, que são tanto práticas quanto teóricas.

Carly, bom, ficou muito empolgada com o fato de estar morando com o pai, a casa nova e tal. Terminou o colegial e rapidamente ingressou em um curso de moda na universidade local da Itália. Bem a cara dela mesmo. Nossas ligações costumavam durar horas e horas, mas foi uma simples notícia que acabou com tudo isso. Ela estava namorando o Freddie. Um namoro a distância, é claro, mas ainda assim muito sólido. Eu o amava naquela época e me doeu saber que os dois estavam juntos. Desde então, comecei a me afastar de Carly aos poucos, ignorava suas ligações e quando atendia era sempre rápida e, algumas vezes, até grossa. Acontece que eu não aguentava escutar o quanto eles estavam felizes e ter de fingir que eu estava bem. Com o tempo, ela parou de ligar e, por mais que sentisse sua falta, estava aliviada. Logo, eu perdera o contato com todos os outros.

Sim, eu sinto saudades. Muitas saudades. Mas, como tudo na vida, aprendi a me acostumar e percebi que foi o melhor para mim.

– Quando vai ser a premiação? - Pergunta Cat quebrando o silêncio e interrompendo meus devaneios.

Ah é, a premiação! Tinha até esquecido o motivo de eu estar de volta . Há algumas semanas, recebi um email de um dos organizadores explicando que haveria um evento para premiar os dez melhores webshows dos últimos cinco anos e, felizmente, iCarly estava entre os escolhidos. Estava pronta para recusar, mas Cat, sabendo de toda a história, não me deixou fazer isso e se prontificou a vir comigo. Segundo ela, preciso aprender a dar segundas chances e esquecer o passado.

– Na sexta. - Respondo. - Iremos embora no sábado à noite.

– E o que faremos a semana inteira?

– Não sei. Hoje vamos somente descansar e amanhã podemos fazer compras. Estou mesmo precisando de um vestido novo para a premiação. - Digo sem muito interesse.

Cat bate palmas entusiasmada e pelo retrovisor posso ver o taxista revirar os olhos.

– Seria ótimo. Comprarei um presente para o Robbie. Ele me disse uma vez que queria uma camisa do Star Wars...

Robbie é um ex-colega de escola de Cat e seu futuro namorado também. Particularmente, eu o acho um garoto muito estranho (Fiquei sabendo que ele vivia andando com um boneco-fantoche que tinha vontades próprias (?), ainda bem que não faz mais isso). Mas se ele faz a ruiva feliz, quem sou eu para contrariar?

– Porque não assume logo que estão namorando?

– Porque nós não estamos namorando.

– Ah não? Então me explica, porque todas as sextas vocês saem para jantar juntinhos como em um encontro e porque ele se mudou de Los Angeles para Nova York apenas para ficar perto de você? - Levanto uma sobrancelha desafiadoramente.

– Ahn... - Começa e eu sorrio, sabendo que ela não tem argumentos. - Olha! Aquele não é o Bushwell? É um belo prédio, quase tão grande quanto o que moramos. - Tenta mudar de assunto apontando para algo mais a frente.

Olho na mesma direção que ela. É realmente o Bushwell. Nossa, faz tanto tempo que não vejo esse lugar! Um pequeno sorriso brota em meus lábios, o assunto "Robbie" subitamente esquecido.

Guardo meus fones e meu celular de volta na minha bolsa. O táxi para na calçada da portaria e nós descemos. Após pegarmos nossas malas, uma de cada, pergunto o preço da corrida ao homem e dou-lhe o dinheiro.

Agarro a minha mala preta de rodinhas e entro no saguão do prédio.

Um homem elegante de, mais ou menos, uns 40 anos, provavelmente o porteiro, nos recebe com um "boa tarde" simpático. Porque ele me parece tão familiar? Aliás, onde está o Lewbert?

Lewbert, Lewbert...

OMG! Esse é o Lewbert, só que sem a verruga e em uma versão mais sofisticada. O que diabos aconteceu por aqui?

– O que fizeram com você? - Questiono abismada.

– Como? - Ele franzi o cenho.

Que merda, eu fico dois anos fora e o Lewbert se transforma de um idiota nojento para um homem de verdade!, penso.

Balanço a cabeça e, sem mais nenhuma palavra, vou de encontro à Cat, que me aguarda no elevador ao lado de sua mala - rosa com pôneis roxos.

– Que surto foi aquele? O pobre ficou com uma cara tão engraçada. - Ela ri. Dou um soco de brincadeira em seu braço.

– É só que... Ah, esquece!

O elevador abre as portas no nosso andar de destino e sinto minha respiração dobrar de velocidade.

Calma, Sam, calma! São seus amigos, não tem nada a temer!

Errado, consciência! Eles costumavam ser meus amigos. Agora eu nem sei mais!

Paro em frente a porta marrom no final do corredor. 8C. Bato três vezes e uma parte de mim, muito grande por sinal, deseja que ninguém esteja em casa, para que assim eu tenha uma desculpa para pegar o próximo vôo para NY e voltar para a minha vida rotineira.

Mas, é claro, que, com a sorte que eu tenho, não é isso que acontece.

– Sam!

– Olá, Carly.