Não vi mais Cato durante o dia inteiro, e nem no café da manhã no dia seguinte, onde só eu e minha mãe estávamos em casa. Ela disse que Henri já havia ido trabalhar e Cato fora para a escola a pé.

Não me importando, terminei meu café, escovei os dentes e desci pra pegar carona com minha mãe.

Ao chegar ao colégio, procuro por Katniss e encontro a mesma ao lado de seu armário, conversando com Peeta. Um pouco antes de eu me aproximar, Peeta sai de lá sorrindo e acenando para minha amiga, que retribui.

– Adivinha quem vai sair com Peeta? – Katniss pergunta animada quando me vê.

– Alguém aceitou a sair com Peeta? Fala sério! Quer dizer, ele é lindo, mas ele é estranho. Ele fica assim em cima das pessoas – arregalo meus olhos, encarando Katniss por diversos segundos, tentando mostrar como Peeta vive me encarando.

Não era bullying, era apenas meu modo de demonstrar que eu achava a atitude de Peeta estranha.

Mas para de fazer isso ao ver que Katniss desmanchou o sorriso e fez cara feia, fazendo com que uma luz iluminasse minha cabeça.

– Espera, você vai sair com ele? – pergunto descrente.

– É, ele acabou de me convidar – ela responde ríspida.

– Ah, foi mal. Como eu disse, ele é lindo, mas sei lá, é meio estranho – dou de ombros.

Tenho quase certeza que Katniss resmungou algo, mas eu não prestei atenção. Cato passava à minha frente, acompanhado de Glimmer, e nem sequer olhou na minha cara.

Incrível a capacidade que ele tem de fingir que nada aconteceu.

Não queria que ele viesse me abraçando ou qualquer coisa do gênero, mas passar por mim como se não me conhecesse já é forçar a barra.

– Algum problema? – Katniss pergunta, após provavelmente me ouvir grunhir.

– Não, por quê? – digo entre dentes.

– Sei lá. É que normalmente você está observando tudo com sua típica cara de bunda, mas agora está com uma cara de tipo “Quero matar você”!

Eu deveria me sentir ofendida com a parte do “cara de bunda”, mas estava ocupada demais me irritando com o fato de Cato ter me ignorado. Não sei exatamente por que estava tão irritada assim, até porque talvez ele nem tivesse me visto mesmo – o que eu achava difícil –, mas sei que não estava nem um pouco feliz com sua atitude.

– Mas então, que roupa acha que eu devo usar para sair com Peeta? – a morena me pergunta.

– Você é quem vai sair com ele, não eu – rebato, cruzando os braços.

– Ui, não sei se isso é TPM, ou se está irritada porque está encalhada enquanto eu estou saindo com alguém – ela diz com um ar superior.

– Eu tenho o Finnick – digo a primeira coisa que passa em minha cabeça.

– Não, você deu pro Finnick em uma festa. Mas não tem ele. Além do mais, ele está namorando agora.

– Ei, eu não dei pra ele! – digo, ofendida – Eu perdi minha virgindade com ele, é diferente. E foda-se se eu não o tenho, pelo menos posso dizer que fiquei com alguém lindo, como ele. Agora Peeta já não é lá grandes coisas – diminuo o tom de voz na última frase.

Mas a verdade é que eu tinha o Finnick, sim. Apesar de tudo, ele era meu amigo há anos. Meu amigo. E se ele é meu, é meu e de mais ninguém. E ele podia estar namorando a garota mais linda do mundo, mas ele ia continuar sendo meu, e nada mudaria isso.

Katniss ia falar algo, mas a interrompo:

– Espera, o Finnick está namorando? Tipo, quando você diz namorando, você quer dizer pegando mais uma, né? Ou tipo, namorando, namorando mesmo?

– Quero dizer namorando de verdade – ela dá de ombros.

Finnick Odair namorando? Isso só pode significar uma coisa:

O apocalipse zumbi está próximo!

[...]

Minhas aulas foram terrivelmente chatas, e cruzei com Cato diversas vezes durante o dia, mas o mesmo desviava o olhar quando me via encarando e passava reto, conversando com Peeta e Glimmer.

Glimmer quando me via mandava um sorriso e Peeta ficava me encarando e até sorria minimamente, o que só confirmava que Cato estava realmente me ignorando. Ele achava que o quê? Que eu ia obrigá-lo a se casar comigo apenas por que havíamos dado um beijinho de nada?

– Clove! – Katniss me deu uma cotovela bem na costela, o que fez meu rosto esquentar de raiva.

– O que é? – pergunto irritada.

– Certo, pode ir falando o que aconteceu – ela cruza os braços.

– Como assim?

– Ah, Clove, qual é! Normal é a ultima coisa que posso falar que você está hoje. Você está irritadinha por nada, e não falou praticamente o dia inteiro, a não ser quando foi pra falar mal de Peeta – ela diz.

– Não é nada.

– Eu juro que se você não me contar, eu vou te segurar aqui no colégio pelos cabelos até você falar – ela me ameaça, e suspiro, me dando por vencida.

– ‘Tá bem, ‘tá bem. Tipo, ontem você sabe que faltei, por tudo aquilo que aconteceu e daí eu precisava descansar. Acontece que Cato ficou em casa comigo, “cuidando” de mim – faço aspas com os dedos.

– E daí? Ele não é seu meio-irmão ou qualquer coisa parecida? O que tem demais?

– Acontece que... Ai, para de me olhar com essa cara! – digo, com medo de Katniss com aqueles olhos semicerrados – Acontece que nós nos beijamos! – falo de uma vez.

Katniss abre a boca em um perfeito “o” e não fala por diversos segundos.

– Eu sabia que toda aquela história de “Eu não gosto dele porque são estranhos”, “Eu odeio o Cato” e blábláblá era tesão reprimido! – ela dá uma risada.

– Não fala merda, garota! Foi só um beijinho de nada, e eu até preferiria que isso não tivesse acontecido. Agora ele está agindo como um idiota, recusando-se a olhar na minha cara desde que isso aconteceu – cruzo os braços, um tanto irritada.

– Como se você e o Finnick não tivessem ficado sem se falar por dois dias depois de transarem, até verem que era ridículo ficarem se ignorando por isso. Você admitindo ou não, Cato realmente é seu amigo, e não vai ser por isso que ele nunca mais vai falar com você! Até porque vocês moram embaixo do mesmo teto – ela segura o riso – Então, relaxa. Se ele prefere fingir que nada aconteceu, faça o mesmo, e aja como a amiga que eu sei que você é dele.

E Katniss merecia palmas por ter falado alguma coisa que se prestasse o dia inteiro, além de ficar dizendo como Peeta é lindo.

– É, você tem razão – sorrio.

– Eu sei – ela diz – Enfim, eu tenho que ir. Amanhã a gente se fala – ela se despede de mim e vai embora, enquanto eu vou a procura de Cato.

Encontro o loiro conversando com Peeta perto da entrada do colégio.

– Hm, Cato – o chamo, fazendo os dois me olharem – Vai demorar muito para ir embora?

– Acho que não – ele diz, sem olhar nos meus olhos – Por quê?

– Então eu vou te esperar lá fora, tudo bem?

– Sem problemas – ele dá de ombros.

Dou um beijo no rosto de Peeta e vou lá pra fora. Alguns minutos depois, Cato chega.

Vamos até a metade do caminho em completo silêncio, até que decido quebrar o gelo.

– E então?

– Então o quê? – ele me encara confuso.

– Vai me ignorar até quando? – pergunto – E nem venha dizer que não está me ignorando, porque sabemos que está. Você não olhou na minha cara desde ontem. E não é porque aquilo aconteceu ontem que vou sair te beijando toda vez que eu te ver.

– Eu... Eu não estou te ignorando – ele diz, e o olho de cara feia – É só que...

– Só que o que, Cato?

– Nada, nada – ele suspira – Você tem razão, estou agindo feito um idiota. Quero dizer, nós precisamos ter uma convivência pacifica pra morarmos na mesma casa sem atear fogo a ela – ele diz, me fazendo rir.

– Então a gente finge que nada aconteceu, e continuamos sendo bons meio-irmãos, ok? – sorrio para ele, que retribui.

– É claro – ele diz, e apoia um de seus braços me meu ombro, soltando o peso logo em seguida.

E apesar de quase não aguentar com seu peso, a verdade é que eu preferia muito mais ele próximo a mim, dessa maneira, do que me ignorando.