A Caçadora E O Vampiro escrita por Dory


Capítulo 3
A missão


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, mais um capítulo chegando...
Queria agradecer as leitoras lindas que deixaram reviews e me motivaram a continuar postando...
Espero não decepcionar ao longo da história



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O táxi parou no topo de uma colina. Paguei o motorista e saí do carro com minha mala nas mãos. Assisti o carro dar meia volta e descer pelo mesmo caminho pelo qual viemos e fiquei hipnotizada com o cenário a minha frente. Atravessei a rua para poder ver melhor, recostando-me no tronco de uma das palmeiras que enfeitavam aquele lado da rua.

Da onde estava podia ver todo o vale, com suas casas pequenas e ruas estreitas, mas não foi isso que me chamou atenção. Depois de vários corredores de casas ficava o mar. Ele era azul claro, suas águas pareciam agitadas e a luz do sol refletia em sua superfície como em um espelho. Se me concentrasse podia ouvir o som das ondas batendo na areia fazendo um som baixinho e tranquilo.

Fiquei lá por um longo tempo e não tinha vontade de tirar meus olhos das maravilhas que estavam do outro lado da colina, mas tinha que ir ver Dean, ele estava me esperando. Suspirei e atravessei a rua novamente.

Na minha frente ficava uma casa de dois andares que parecia ser grande demais, cercada por altos coqueiros carregados de cocos verdes que pareciam cheios de água. O jardim era bem conservado, cheio de flores coloridas – das quais não sabia os nomes, nunca me interessei muito por plantas – e um caminho de cascalho ligava a casa azul e a calçada onde estava.

Percorri o caminho lentamente, apreciando o calor dos raios solares tocando minha pele branca como leite, não sabia quando seria a próxima vez que poderia sentir a brisa salgada que bagunçava meus cabelos soltos, fazendo-os cair em meus olhos, ou o calor do sol da Califórnia que aquecia minha pele rapidamente. Senti meu corpo começar a ficar pegajoso de suor, estava vestindo as roupas erradas para esse clima – uma calça jeans, botas e uma camiseta preta de manga longa quente demais.

Toquei a campainha e esperei. Não demorou muito e um homem de cabelos grisalhos e rosto enrugado abriu a porta, fazendo sinal para que entrasse. Ele pegou minha bolsa e fitou-me com seus olhos castanho claro.

“O sr. Hilberg irá atendê-la em alguns minutos” me informou, virando-se e sumindo de vista rapidamente.

Sozinha na sala sem ter o que fazer, caminhei até a lareira onde três fotos emolduradas estavam. Todas mostravam Dean abraçado com uma mulher loira muito bonita. Me perguntava quem era ela, mas não teria coragem de perguntar sobre ela ao D, nunca conversávamos sobre nossas vidas fora do trabalho. A sala era grande e não tinha nenhum aparelho eletrônico. No sofá de couro bege estava um gato persa dormindo tranquilamente. Em cima da lareira estava um quadro grande que mostrava a vista do mar que vira da rua, era bonito, mostrava o vale com seus detalhes bem retratados, mas não transmitia a mesma sensação que a vista em si.

Ouvi passos vindo em minha direção e me virei, esperando que fosse Dean, estava começando a me sentir desconfortável por estar sozinha em um lugar grande demais e estranho para mim. O homem que abrira a porta, provavelmente o mordomo da casa, caminhava em minha direção, parando a poucos centímetros de onde estava.

“O sr. Hilberg irá atendê-la agora” falou de modo profissional “Me acompanhe por favor”

O segui de perto, reparando enquanto andávamos por um comprido corredor que aquela era provavelmente a casa de Dean. Nunca tinha ido lá antes. Quando alcançamos o fim do corredor, que era cheio de janelas que davam para o jardim dos fundos, o homem parou e me indicou a porta, voltando rapidamente pelo corredor.

Bati na porta suavemente, não queria fazer muito barulho. Dean veio me receber com um largo sorriso no rosto. Seus cabelos castanho claro estavam desalinhados e seus olhos chocolate me fitavam alegremente. Sorri também, sentia sua falta.

Quando entrei no escritório, ele me abraçou e me indicou uma das três cadeira de veludo vermelho. Me sentei observando o lugar.

Era pequeno, em uma das paredes ficava uma estante cheia de livros de todos os tipos, a outra parede tinha janelas grandes, através das quais podia ver a piscina. Na minha frente ficava uma mesa de mogno grande e uma cadeira de couro onde Dean estava sentado.

“Faz muito tempo que não te vejo” falou D, sorrindo para mim.

“Faz mesmo, achei que você tinha se esquecido de mim” confessei, arrependendo-me das minhas palavras assim que as pronunciei, ele podia entender isso de outro jeito.

“Mas é claro que não!” falou, relaxado, ainda sorrindo “Estava difícil de achar mais missões para você. Nunca esqueceria de minha melhor caçadora” terminou, bajulador.

“Você mora aqui?” perguntei, mudando de assunto.

“Somente no verão, mas dessa vez precisava de mais algum tempo longe do trabalho, vou passar o outono aqui também” falou, com o sorriso sumindo aos poucos.

“Então, qual é a missão dessa vez?” perguntei indo direto ao ponto, não tinha porque tentar adiar esse momento, era para isso que estava lá.

“Dessa vez vai ser um pouco mais complicada” falou, estudando minha expressão “por isso resolvi dividir a missão em partes”

“Certo, quais são?”

“Hoje só vou te explicar a primeira parte. Quando for a hora certa ficará sabendo da próxima parte e assim por diante” falou, repousando suas mãos em cima da mesa de modo profissional.

“Posso perguntar o por que disso?” perguntei, intrigada, ele nunca fizera isso antes.

“A missão é muito longa e quero que seja cumprida com sucesso por isso quero que se dedique a cada parte inteiramente, sem ter que se preocupar em executar as outras” explicou “Mas para isso vai precisar de ajuda.”

“Como assim ajuda?” perguntei. Será que ele acha que não sou boa o bastante?, pensei chateada e preocupada.

“A cidade na qual você vai viver é muito... complicada. Descobri algumas coisas sobre o lugar e tudo indica que você terá que enfrentar desafios com os quais não está familiarizada, por isso irá trabalhar com outras duas pessoas” se explicou, mas ainda me sentia desvalorizada. Já tinha feito muito por D, muitas das vezes enfrentando perigos gigantescos, estava chocada que ele não confiasse em mim o suficiente para fazer a tarefa sozinha.

“Não que suas habilidades não sejam fenomenais” complementou ele, me libertando de meus pensamentos pessimistas “Só que essa missão requer muito trabalho, uma pessoa só não daria conta, nem mesmo você”

“Tá legal, já entendi” retruquei carrancuda “Com quem eu vou trabalhar?” não gostava do fato de ter que trabalhar com outras pessoas, preferia fazer tudo sozinha, mas uma vozinha no fundo de minha mente falava que era melhor não contestar.

“Espero que não se importe, mas eu resolvi fazer uma pequena surpresinha para você” olhei-o desconfiada, não achava que D pudesse fazer esse tipo de coisa. Quando ele falou isso, ouvimos uma batida na porta. Ele sorriu. “Pode entrar” falou, mais alto.

Quando a porta se abriu dois homens entraram. O primeiro era baixo e magro, com cabelos curtos e pretos como carvão, usava uma bermuda bege e camiseta polo azul clara que realçava seus olhos azuis e pele branca. O segundo homem era alto e musculoso, usava jeans e uma camiseta cinza que realçava seu corpo, seus cabelos castanhos não eram muito curtos e alguns fios caiam em seus olhos caramelo. Um sorriso se formou em seu rosto quando me olhou e não pudi me impedir de sorrir de volta.

“Mike!” falei, me levantando da cadeira, correndo na direção de seus braços abertos que me envolveram, reconfortando-me.

“Oi, maninha” falou, passando a mão por meus cabelos. “Faz muito tempo que não te vejo” me soltou para poder me olhar melhor “Você não mudou nada” sorriu.

“Você também não” falei, abraçando-o novamente. Senti meus olhos começaram a se encher de água. “Senti sua falta” falei, tentando desesperadamente controlar as lágrimas que insistiam em sair.

“Eu também” falou, enxugando uma lágrima que escapara de meus olhos.

“Você precisa cortar o cabelo” falei rindo, o que o fez sorrir ainda mais.

“Não quero interromper o momento família, mas temos muito o que resolver ainda” falou D, fazendo com que nos sentássemos de frente para ele nas cadeiras de veludo.

Sequei meus olhos com os braços. Senti muita falta de Mike nos últimos seis meses, ele era como um irmão para mim, o único que me fazia sentir querida, mesmo não me sentindo completa – achava que isso era o mais perto de completa que me sentiria – mas me concentrei na missão que D tinha para nós, contente com a surpresa que ele preparara para mim.

“Então...?” falou o homem de cabelos pretos, pressionando D para que falasse da missão e acabasse logo com isso.

“Não me apresse, Taylor” falou D, estreitando os olhos em reprovação. Suspirou e tirou uma pasta preta da gaveta da mesa. Colocou a pasta na minha frente e a abriu. “Sua missão começa aqui” falou, me olhando.

A pasta estava cheia de papéis, mas D apontava para um pacote de papel pardo levemente amassado que parecia estar vazio. Peguei-o e abri, espalhando seu conteúdo pela mesa a minha frente. Eram ao todo seis fotos de pessoas diferentes. Organizei as fotos para ver melhor. A primeira era de uma garota loira de olhos verdes, seu rosto era elegante e pálido. A segunda era de um garoto de olhos escuros quase pretos e cabelos castanho escuro, sua pele pálida parecia tão branca quanto a minha.

“Você tem que se aproximar deles” falou D, interrompendo minhas observações.

“Como assim?” perguntei para ter certeza de que ouvira direito.

“Você tem que se tornar amiga deles, se infiltrar no meio deles, desvendar seus segredos...”

“Você está me pedindo para tentar ser uma garota normal?” perguntei surpresa.

“Estou. Pelo menos por enquanto. Eles estudam na faculdade da cidade, você também vai estudar lá, para facilitar as coisas, já acertei tudo para você” falou, ignorando meu olhar “Pode levar as fotos com você, assim pode memorizar os rostos.” pegou as fotos, colocou-as dentro do envelope e entregou-o para mim.

“Quanto a você Mike, você vai morar junto com a Camille" continuou "como o irmão mais velho que vai cuidar dela na cidade, acho que isso não vai ser nenhum problema para vocês. Vai ir para a mesma faculdade que ela. O endereço da casa de vocês está neste papel junto com os detalhes da sua parte na missão” falou entregando um papel para ele. Não consegui ler o que estava escrito.

“Taylor, você vai ser um professor na faculdade" falou se dirigindo ao homem ao meu lado "observe o movimento de cada estudante, me conte sobre todas as coisas que achar suspeitas... enfim, quero que relate tudo para mim. Todas as informações que precisa estão aqui.” entregou o resto dos papéis que estavam dentro da pasta para o homem de cabelos pretos e voltou a me olhar.

“Millie, essas pessoas são muito importantes para o que tenho em mente, não faça nada de errado. Sua parte na missão é a mais importante, então não me decepcione” falou, esperando uma resposta. Assenti “Estão dispensados. Vocês ficarão aqui esta noite, partirão amanhã cedo” falou, pegando um livro que estava em cima da mesa.

“Para onde vamos exatamente?” perguntei “Você não falou o nome da cidade nem nada”

“O GPS dos carros de vocês estão programados para guiá-los até seu destino, não precisam se preocupar com isso” respondeu sem tirar os olhos do livro. Isso é bem a sua cara mesmo, pensei olhando-o carrancuda, enquanto saía do escritório fechando a porta atrás de mim e seguindo Mike e Taylor pelo corredor.

Quando chegamos a sala, o mordomo veio nos receber. Definitivamente muito eficiente, pensei.

“Vou levá-los até seus aposentos. O jantar será servido às 7:30 p.m.” falou monotonamente, guiando-nos por uma escada que nos levou a outro corredor cheio de janelas e portas. Parou em frente a uma porta e abriu-a. “Seus aposentos, sr Oliver” Mike entrou no quarto fechando a porta atrás de si. Não muito depois o mordomo parou em frente a outra porta. “Seus aposentos sr Vincent” assim que Taylor fechou a porta, o homem me guiou para meu quarto, fechando a porta assim que entrei em meus “aposentos” . Linguagem do século passado está muito fora de moda, pensei divertida.

Minha mala estava nos pés da cama de casal grande demais – acho que era uma king size – que estava coberta com uma colcha bege e almofadas também bege. Na parede em frente a cama estava uma cômoda de madeira branca, ao lado da cama ficavam dois criados-mudos com um abajur bege em cada um. Novamente estranhei a falta de aparelhos eletrônicos, o que me fez ponderar se D tinha algo contra tecnologias, e se a cor bege significava algo para ele.

As três janelas que iam do chão ao teto tinham vista para a rua e o mar lá em baixo brilhava ao pôr-do-sol, suas águas com um leve tom de laranja enquanto o sol parecia mergulhar na vastidão de sua superfície. Fiquei admirando a vista até o sol se esconder completamente, dando lugar a noite escura enquanto o prateado da lua cheia e das estrelas era refletido pelo mar.

Peguei minhas roupas na mala e fui para o banheiro da suíte. A banheira demorou para encher mas finalmente consegui entrar na água quente com espumas para poder tomar um banho e relaxar do dia que tivera.

O jantar foi um evento silencioso, silencioso até demais. Ninguém ousou tocar no assunto da missão ou qualquer outro assunto. Apesar da comida ser muito boa, queria que o jantar acabasse logo, o silêncio estava me deixando desconfortável. Assim que todos terminamos a sobremesa, nos levantamos para ir cada um para seu quarto.

“Millie?” me chamou Dean.

“Sim?”

“Posso falar com você em particular?” perguntou, quando assenti ele me guiou até uma sala menor com um sofá de veludo vermelho e poltronas bege. A sala não tinha TV, assim como os outros cômodos da casa. Me sentei em uma poltrona enquanto D se sentou no sofá me olhando.

“O que foi, D?” perguntei curiosa.

“Olha, eu sei que a missão não é o que você esperava nem é algo com o qual esteja acostumada, mas vai me agradecer depois.”

“Eu não estou brava por ter ficado com essa parte da missão, apesar de estar um pouco chateada por ter que trabalhar em equipe, se é isso que você queria saber” falei apressada.

“Fico feliz em saber que não está brava comigo, mas não foi por causa disso que te chamei aqui” falou, olhando o chão aos seus pés.

“Então...” apressei-o.

“Tome cuidado nesta cidade” falou, preocupado “As aparências enganam” suspirou “Não vou poder me perdoar se algo acontecer com você” não consegui decifrar sua expressão, mas tinha a impressão de que ele gostava de mim, mais do que deveria.

“Pode deixar, eu sei me cuidar” falei rudemente. Após alguns segundos em silêncio, o ambiente ficou muito estranho entre nós, como D não falou mais nada, me levantei e saí da sala, indo para meu quarto sem querer pensar no que ele havia falado.

Abri a janela para que a brisa pudesse refrescar o quarto, ascendi a luz do abajur e me deitei para ler. Uma batida na porta me interrompeu.

“Entre” falei, curiosa para saber quem era, torcendo para que não fosse Dean. Mike colocou a cabeça para dentro do quarto para se certificar de que não estava sem roupa e entrou, vindo-se sentar ao meu lado na cama.

“O que o Dean queria?” perguntou.

“Ele me pediu para tomar cuidado. Falou que ele não se perdoaria se algo acontecesse comigo” respondi, meu tom de voz deixava claro que não me importava para o que D tinha falado. Mike me olhou surpreso.

“Isso é novidade, ele nunca parece se importar com nossa segurança” resmungou “E então, como foi sua última missão?” perguntou mudando de assunto.

Era tão bom poder conversar com o Mike, senti muita falta dele na minha última missão, foram seis meses muito longos, sem ninguém para compartilhar minhas frustrações e experiências. Era muito bom estar conversando com alguém que sabia o que eu era e se sentia como eu, meio deslocado.

Ficamos conversando até de madrugada, sem reparar no tempo correndo de nós. Quando ele saiu, dormi rapidamente, acordando somente com o nascer do sol que deixava o quarto claro demais.

É hoje, suspirei, mais uma missão.

Dean não estava presente no café da manhã e também não apareceu quando o mordomo nos levou até a garagem e nos entregou as chaves de dois carros pretos que estavam estacionados lá. Mike e eu fomos em um Edge da Ford e Taylor foi em um Audi. No caminho não consegui parar de pensar que talvez o motivo pelo qual não vimos D de manhã foi por causa da nossa conversa na noite passada, mas logo tirei a ideia da cabeça e aproveitei a viagem.

Atravessamos várias cidades no nosso caminho até chegarmos em uma pequena cidade no interior do estado de Oregon.

“Por que toda missão que Dean nos dá tem que ser no meio do mato?” resmunguei olhando a floresta que cercava a estrada que levava até a cidade.

“Você não gosta de cidades pequenas não é?” riu Mike, a pergunta era retórica mas respondi mesmo assim.

“Não” falei, rabugenta “Mas não tenho outra escolha” murmurei, enquanto olhava a floresta interminável através da minha janela.

“O que você acha que nos espera lá?” murmurou inseguro.

“Não sei, mas acho que não vai ser algo fácil. Para ele ter me dado aquele aviso, algo muito ruim nos espera.”


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Notas finais do capítulo

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