A Caçadora E O Vampiro escrita por Dory


Capítulo 24
O Ritual


Notas iniciais do capítulo

Oi amores!!!

To super feliz, ganhei minha primeira recomendação na fic!!! Fiquei lendo ela quase pulando na cama de tão feliz que fiquei...
Obrigada Kika Pichsterzy, amei a recomendação, me deixou muuuuito feliz!!! Me motivou a postar mais cedo hoje...

Estou meio triste porque a fic está acabando, depois desse capítulo vamos ter apenas mais dois antes de dizer adeus a Millie e aos outros personagens... E eu ainda não consegui me decidir sobre o que vou escrever na minha próxima fic, não estava querendo escrever uma segunda temporada, queria algo novo, tive duas ideias e ainda estou em dúvida sobre qual escrever...

Enfim, voltando a falar desta fic: estou postando mais um capítulo para vocês... Será que o plano de Millie irá funcionar? Só lendo para descobrir =D


Espero que gostem, boa leitura!!!



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            E mais uma vez estava entrando na floresta que circundava aquela minúscula cidade, mas desta vez estava acompanhada de Mike, Laureen e Alice. Estava escuro lá, a noite caíra mais rápido do que de costume, mas nossas lanternas conseguiam iluminar boa parte da trilha que estávamos seguindo.

            Alice carregava um pequeno mapa em suas mãos já que GPS não funciona muito bem dentro de florestas. Ela havia descoberto o local para podermos realizar o ritual algumas noites atrás, pelo que nos contou havia sido a parte mais difícil de descobrir, eu só não conseguia entender o porquê disso e ela não comentara nada sobre o assunto.

            Estávamos andando a algum tempo em uma trilha estreita que era praticamente invisível para quem olhasse a floresta do lado de fora, mas Alice em nenhum momento aparentou dúvida sobre o caminho que estávamos seguindo. Laureen ia à frente por causa de sua visão aguçada, procurando por qualquer sinal de problemas, Mike vinha logo atrás com uma lanterna em mãos, iluminando o caminho e nos ajudando a seguir em frente sem cair de cara no chão áspero e seco da trilha. Alice estava imersa no mapa, nos indicando o caminho sempre que a trilha se abria em uma bifurcação ou algo do tipo. Eu estava atrás de todos, fechando o grupo. Também segurava uma lanterna em minhas mãos, atenta a qualquer som estranho que reverberasse pelo ambiente escuro e assustador a minha volta, mas parte da minha atenção estava voltada para o chão sob meus pés, não queria cair e me machucar, precisava de toda a minha força para seguir o plano que havíamos elaborado.

            “Alice, como você descobriu esse lugar?” perguntei, queria ter feito esta pergunta antes, mas não tive a oportunidade para fazer tal coisa já que estava ajudando a todos a se prepararem para a caminhada que teríamos que enfrentar.

            “É um lugar com um grande potencial mágico. Até onde consegui descobrir, este lugar foi muito utilizado antigamente para realizar o sacrifício de bruxos poderosos, todo o poder que possuíam foi transferido para o local, mas depois de alguns anos, quando já não conseguiam achar bruxos para sacrificar, abandonaram o local, sem deixar muitas pistas sobre como chegar a ele. As folhas que vocês me entregaram não especificava o lugar que deveria localizar, apenas falava que era um lugar que continha muita magia acumulada, não dava para saber ao certo que tipo de lugar deveria procurar, por isso demorei para localizá-lo” falou Alice sem tirar os olhos do mapa. Havíamos chego a mais uma bifurcação, Ally fez sinal para que seguíssemos pela trilha da esquerda e continuamos indo em frente.

            Dean provavelmente já estava no lugar, havia mandado uma mensagem para ele logo que Alice descobrira onde ficava o local que ele queria para realizar seu ritual, como isso foi antes de minha última reunião com ele não podíamos falar para ele que não havíamos encontrado o lugar e adiar o ritual, mas, mesmo que tivéssemos essa possibilidade, não teria coragem de usá-la, ele ficaria muito bravo e se vingaria de mim de alguma maneira, provavelmente machucando alguém que amo e não poderia suportar ser o motivo da dor deles.

            Não demorou muito para chegarmos ao local que Alice falara. Era uma clareira na forma de um círculo perfeito, altas árvores e arbustos circundavam os limites da mesma, mas a campina não tinha vegetação alguma. O chão era todo recoberto por folhas escuras e terra, sem flores ou grama. Alguns objetos haviam sido posicionados na clareira e que tinha certeza de que não estavam ali há muito tempo ou por mero acaso. Dean já havia preparado o local para o ritual.

            Andei pela clareira estudando tudo que estava ali. Dois postes de madeira grossas com uma algema em cada extremidade superior haviam sido posicionados no lado direito da clareira. Do lado esquerdo se encontrava uma mesa de madeira levemente inclinada que parecia muito sólida e difícil de se quebrar – porém, para um vampiro, quebrá-la seria tão fácil quanto rasgar uma folha de papel – esta também tinha algemas, mas eram quatro ao invés de duas como os postes e as algemas estavam  posicionadas uma em cada canto da mesa. Entre a mesa e os postes estava uma pequena mesa forrada com um tecido branco muito fino, em cima desta estava um pequeno livro encadernado em couro preto com aparência muito antiga, os objetos que havíamos procurado nas últimas semanas e alguns outros objetos estranhos que não conseguia reconhecer, alguns feitos de madeira, outros feitos de um metal prateado. Um pequeno círculo no centro da clareira havia sido pintado com tinta branca e nele estava pintada uma estrela de cinco pontas e posicionado no centro da estrela se encontrava uma cadeira de madeira com espaldar alto e nenhum estofamento.

            Quando estava terminando de analisar o lugar, avistei Dean parado perto da mesa com os objetos que havia analisado alguns instantes atrás. Ele trajava uma camiseta preta e jeans, seus pés estavam descalços e seu cabelo estava bagunçado. Olhava para mim sorrindo de um modo que me dava calafrios, ele parecia determinado e assustador parado ali nos olhando como um maníaco. Ele também parecia estar bem à vontade naquele ambiente, como se já estivesse acostumado em ficar várias horas dentro de uma floresta escura e fria.

            Alice parecia estar com medo, Mike estava perto dela, seu corpo tenso, pronto para protegê-la se fosse preciso. Vê-los assim me fez pensar em Mark, ele já devia estar muito longe dali, ele estava a salvo. Pelo menos ele eu conseguira proteger. Só precisava colocar o plano em prática e salvar Laureen dos planos de Dean e conseguir tirar todos dali com vida.

            “É um grande prazer finalmente estarmos todos reunidos” começou Dean sem sair de seu lugar perto da pequena mesa. “Vejo que você escolheu seu vampiro, Millie” ele parecia estar estudando minuciosamente Laureen que ostentava uma expressão confiante no rosto, ela não se deixara intimidar pelo olhar que Dean lançava a ela, sua voz estava debochada, ele parecia estar se divertindo com tudo aquilo. Ele é caso de hospício, pensei.  “Acho que podemos começar então”

Ele fez um sinal com as mãos e um grupo de cinco homens musculosos e de olhar assustador entrou na clareira, se aproximando de nós. Eles andaram em nossa direção rapidamente, sem nos dar chance de lutar, mal conseguia manter meus olhos nos movimentos deles de tão rápido que eram. Em questão de segundos me vi amarrada, meus pulsos e meus tornozelos doíam com o aperto das cordas utilizadas para nos manter imóveis. Mike estava ao meu lado também amarrado, tentava se soltar, mas o homem que estava perto dele o acertou na cabeça com um galho, ele tinha uma força descomunal que me fez presumir que ele não era humano, assim como os outros do grupo. Por causa do golpe, Mike caiu de costas no chão desacordado, seu rosto repousando nas folhas secas que recobriam toda a clareira.

“Mike” gritou Alice desesperada. Sendo arrastada até a cadeira localizada no centro do círculo no meio da clareira. Ela se debatia e tentava se livrar dos homens que a seguravam, sabia que ela queria ir até Mike se certificar de que ele estava bem. Pude ver lágrimas começarem a escorrer por seu rosto.

Os dois homens que a arrastavam a colocaram sentada na cadeira bruscamente e prenderam os tornozelos dela nas pernas da mesma. Olhava a tudo aquilo em choque, minha boca aberta, mas sem emitir som algum, estava sem palavras, aquilo não estava no plano. Não conseguia entender por que Dean estava fazendo aquilo, ele confiava em mim, contávamos com isso para executarmos nosso plano e havíamos falhado antes mesmo de conseguirmos ao menos pensar em colocá-lo em prática.

Laureen estava sendo presa pelos tornozelos nos postes de madeiras, ficando de cabeça para baixo, seus pulsos foram amarrados frouxamente para que ficassem perto um do outro. Não entendi por que ela não estava tentando lutar, ela era mais forte que os homens que a carregavam, disso tinha certeza. Ela me olhava como se pedisse desculpas, mas não conseguia entender sobre o que ela queria se desculpar.

“Desculpe por isso Millie, mas não posso me arriscar” Dean veio até mim e afagou meus cabelos, tentei tirar-me de seu alcance, mas ele se agachou a minha frente e segurou meu queixo com força, me fazendo olhar para ele.

“Te odeio” gritei para ele enquanto sentia meu rosto molhado por causa das lágrimas de desespero rolavam por minha face.

“Você vai voltar a gostar de mim, tenho certeza disso, você nunca conseguiu ficar brava comigo por muito tempo. Você tem que entender que a culpa disso tudo que está vendo é sua e do seu irmão, se não tivessem resolvido criar um plano para me atrapalhar poderia estar solta, me ajudando e nenhum de meus amigos teria que prender vocês, estaríamos todos juntos motivados a seguir em frente por causa da mesma coisa: a cura. Vou ser sincero com você, esperava várias coisas de ti, menos isso. Achei que estivéssemos buscando a mesma coisa” o aperto em meu queixo parecia estar aumentando, tentei novamente me desvencilhar dele, mas isso só fez com que ele me segurasse ainda mais forte.

“Como você descobriu tudo isso? Nosso plano era perfeito, você nunca descobriria o que iríamos fazer” falei tentando entender o que havia dado errado.

Dean riu e se afastou de mim indo se aproximar de Laureen. Se apoiou em um dos postes de madeira e olhou para mim se divertindo com toda aquela situação.

“Vamos dizer que tive uma colaboração interna” ele olhou para ela divertido “Por que você não conta para ela, querida?”

“Me desculpa, Millie, mas não tinha outro jeito, seu plano não ia dar certo e Sophie precisa dessa cura”

“Por que, Laureen? Teria dado certo sim, nós íamos conseguir” minha voz estava tremendo por causa do nó que sentia se formando em minha garganta por causa das lágrimas que escorriam livremente.

“Você não entende, Millie, eu precisava fazer isso. Minha morte vai ser por uma causa nobre e eu não aguentava mais viver, não consigo mais suportar a dor que carrego dentro de mim desde que Albert morreu, a culpa me consome a cada dia, está se tornando cada vez mais insuportável. Não ia conseguir suportar muito mais, se não tivesse a chance de salvar Sophie com minha morte eu mesma teria feito algo para acabar com tudo isso que sinto por dentro” seu rosto demonstrava todas as emoções que sentia, fazendo seu relato ainda mais real.

“Por isso você estava tão estranha ultimamente? Não pode simplesmente tentar deixar isso para trás? Nós poderíamos te ajudar, teríamos conseguido achar alguma coisa para fazer tudo isso parar”

“Vocês não achariam nada, seria inútil tentar. E eu já não quero mais viver sem ele. Ele foi meu único amor, o único homem que realmente amei e que me amava também, nunca poderei esquecer o que aconteceu, nunca poderei me perdoar por tê-lo matado”.

“Você estava apenas se defendendo, foi instinto, a culpa não é sua” ainda tentava fazê-la desistir desta idéia maluca, mas ela parecia muito determinada, sabia que qualquer coisa que falasse a ela seria inútil, ela iria até o fim com seu plano secreto, um plano que arruinara o meu e que a levaria para os braços da morte.

“Não adianta me falar isso, eu sinto como se a culpa fosse minha e nada poderia mudar isso. Sophie precisa dessa cura, faça minha morte valer à pena” ela fechou os olhos mostrando que não queria mais falar nada. Olhei para Alice em busca de ajuda, mas ela estava chorando também, não conseguiríamos salvar Laureen e isso nos fazia sofrer. Havíamos falhado.

O céu que até o momento estava encoberto por nuvens clareou, revelando uma noite estrelada com a lua quase chegando ao ponto mais alto do céu. Dean olhava para cima assim como eu.

“Está na hora” falou. Fez sinal para que um de seus capangas fosse até ele. O homem que estava perto de Mike foi até a mesa grande e se deitou, deixando Dean  algemá-lo sem lutar ou argumentar. Ele já sabia o que iria acontecer e estava aceitando sua morte de bom grado.

“Espero que tudo dê certo, Mestre” falou o homem quando D terminou de prendê-lo.

“Vai dar tudo certo” falou Dean o tranqüilizando. Com um gesto os outros capangas que estavam perto de nós deixaram a clareira sem fazer ruídos. Não sei para onde foram ao certo já que estava com meus olhos fixos a cada movimento que Dean realizava.

Observei D pegar dois objetos de madeira que estavam a sua frente e ir na direção de Laureen. Queria gritar para que ele parasse, mas minha voz não saiu, não conseguia fazer nada, só podia continuar olhando tentando achar um jeito de salvar minha amiga, no entanto nada me vinha à mente.

D carregava em uma das mãos a adaga de pedra que eu havia recuperado para ele. Com ela, abriu um corte profundo em cada um dos pulsos de Laureen que estavam amarrados juntos. Era estranho que uma adaga de pedra conseguisse perfurar a pele de um vampiro, até onde sabia apenas madeira seria capaz de tal coisa, mas por ser uma adaga envolta em magia qualquer coisa era possível. Dean encaixou os dois objetos de madeira que estavam em sua mão nos cortes que fizera em Laureen impedindo que os mesmos se fechassem. O sangue escuro escorria de seus pulsos formando uma poça no chão da clareira. Laureen parecia estar sentindo dor, mas tentava deixar seu rosto sem emoção.

Depois disso Dean caminhou calmamente até a mesa onde o homem estava deitado. Presumi que ele fosse o lobisomem sobre o qual havia falado que iria fazer parte do ritual já que fez a mesma coisa com ele: cortou os pulsos do homem com a adaga e colocou os objetos prateados nos cortes para que eles não se fechassem. O sangue logo começou a escorrer pela extensão da mesa formando duas poças escuras perto uma da outra que eventualmente se tornariam uma poça só, conforme a quantidade de sangue aumentasse.

“Alice, agora é sua vez de se mostrar prestativa” ele caminhou até ela com o livro preto em suas mãos. Abriu ele e o entregou a garota que ainda estava chorando e soluçando com medo do que estava prestes a acontecer “Comece a fazer o ritual”

Por causa do medo que sentia Ally começou a ler as palavras escritas nas páginas daquele livro em meio às lágrimas, não teria coragem de contrariar o maníaco que estava prestes a tirar a vida de nossa amiga. Não conseguia entender as palavras que ela pronunciava em uma voz clara apesar das lágrimas por estarem na linguagem dos bruxos, mas tinha certeza de que Alice estava entendendo tudo que lia e pronunciava.

A lua finalmente chegou ao seu ápice. O homem algemado na mesa começou a se contorcer, mas não conseguia por causa de suas amarras. Seu corpo parecia se contorcer cada vez mais forte, mas não sabia se era por causa da transformação ou por causa das palavras que fluíam através da boca de Alice.

Observava a tudo aquilo como se estivesse congelada. Ainda não conseguia acreditar que Laureen nos traíra contando nosso plano para Dean, não conseguia acreditar que ela quisesse participar de tudo isso para poder morrer e acabar com um sofrimento que durara mais de cem anos, um sofrimento que ela guardara apenas para si. Mas tinha certeza de uma coisa: ter mandado Mark para longe havia sido a coisa certa a se fazer, ele nunca deixaria que ela se sacrificasse, ele teria tentado se sacrificar no lugar dela, mesmo que isso me devastasse por dentro. Ele teria feito isso por qualquer um de nós e eu não poderia suportar isso.

As lágrimas ainda escorriam pelo meu rosto e Dean veio se sentar ao meu lado para assistir o ritual, ele sabia que estava sofrendo por dentro e respeitou isso se mantendo em silêncio e deixando suas mãos longe de mim. Não demorou muito para que ele se levantasse e fosse até a mesa onde estavam o cálice e a tigela de pedra, pegando-os. Colocou o cálice na poça de sangue embaixo de Laureen, fazendo com que o sangue dela caísse dentro dele. Fez o mesmo com a tigela, mas a colocou nas poças de sangue do lobisomem que continuava tentando se livrar das algemas e se transformar com mais facilidade.  Percebi que o corpo de Dean estava tremendo também, mas provavelmente ele estava tão feliz de seus planos estarem funcionando que estava tremendo por causa do contentamento que estava se acumulando em seu interior.

Ficamos lá por mais um longo tempo. O sangue, tanto de Laureen quanto do lobisomem, encheram os recipientes que começaram a transbordar, tingindo a pedra da qual eram feitos de carmim. Havia algo que não notara sobre esses objetos até aquele momento: os buracos esculpidos nos objetos que formavam estranhos símbolos não vazavam, era como se eles estivessem seguros por magia e que isso não deixasse nada passar através deles.

“Não é magnífico?” perguntou, se sentando ao meu lado novamente.

“Nenhuma morte é magnífica” respondi secamente.

“Não estava me referindo a isso” falou, apontando para o brilho que estava emanando do cálice e da tigela cobertos de sangue. Era como se eles estivessem sendo envoltos em uma bolha dourada que emanava luz própria “Isso é trabalho da Alice, ela está fazendo isso. Faz parte do encantamento”

“Se esse ritual não funcionar, se não conseguirmos a cura, se Laureen tiver morrido em vão, juro que te mato” falei histericamente. Minha voz estava algumas oitavas mais alta, meu coração doía ao presenciar tal cena, ver minha amiga sangrar até a morte seria algo que me assombraria por toda a eternidade.

“Espero que funcione então” riu Dean, fazendo pouco caso de minhas palavras.

O homem deitado sobre a mesa começou a gritar, mas ainda assim podia escutar cada osso de seu corpo se partindo , fazendo-o agonizar cada vez mais. Seu corpo, apesar de estar amarrado, estava contorcido em ângulos impossíveis para qualquer humano. Quando seus gritos cessaram, seu corpo já estava todo recoberto por pelos escuros. Ele havia se transformado, mas sua vida chegara ao fim, uma última gota de sangue caiu na tigela ao mesmo tempo que a última gota de sangue de Laureen caía dentro do cálice.

Dean foi até o homem com a adaga de pedra em mãos. Cravou-a em seu coração, fazendo o mesmo com Laureen, fazendo com que o ritual se tornasse cada vez mais próximo do fim. Percebi o corpo de D tremer cada vez mais violentamente sem entender o que estava acontecendo a ele, não podia ser apenas felicidade por ter obtido a cura, havia algo a mais nisso tudo. Ver o corpo inerte de Laureen me doía o coração, não suportava olhá-la, me sentia culpada por sua morte também, mesmo não tendo culpa alguma sobre isso.

O cálice e a tigela começaram a flutuar, indo um de encontro ao outro. Alice estava com os olhos fechados e sangue sujava sua face.

“Ally” gritei, tentando fazê-la abrir os olhos e parar o ritual, ela estava sangrando cada vez mais, mas nada a tirava do estado de estupor que estava, era como se a magia a tivesse selado em uma bolha e que nada pudesse penetrá-la.

Dean foi até onde o cálice e a tigela estavam. O sangue que estava dentro dos objetos começou a derramar, formando uma cascata quando ambos os sangues se misturavam. Dean tirou do bolso dois pequenos frascos transparentes e os encheu na cascata vermelha que manchava as folhas aos seus pés. Depois de ter enchido os frascos e os colocado em cima da mesinha, foi até a cascata e bebeu o sangue que caía, se sujando no processo. Aquela cena fazia meu estômago se contorcer dentro de mim, comecei a ficar nauseada e levemente tonta.

De repente Dean caiu de quatro no chão, seu corpo rejeitando tudo que havia bebido. Vê-lo assim fazia meu estômago protestar ainda mais. Lutava para que não vomitasse, mas estava cada vez mais difícil. O corpo de D começou a tremer ainda mais intensamente, seu corpo se contorcia em ângulos estranhos, seus ossos estalavam como se estivessem sendo quebrados, ele gritava a cada barulho que vinha de seu corpo. Seu rosto começou a se retorcer, transformando-o em um monstro sem face por alguns instantes até que tudo voltou ao seu devido lugar, mas era como se seu rosto estivesse se alongando, formando um focinho. Seu corpo começou a se recobrir com pelos escuros e longos, seus dedos se transformaram em garras afiadas e amareladas, seus olhos haviam se tornado pretos. Foi quando percebi o que estava acontecendo.

Dean era um lobisomem. Mesmo o momento não sendo bom para isso, comecei a ligar as peças. Dean sempre foi um lobisomem, por isso ele tinha tanto ódio de vampiros, mas aceitava a existência de lobisomens, por isso nunca o via em noites de lua cheia. No entanto não consegui pensar muito sobre isso, minha mente estava apavorada por estar tão perto assim de um lobisomem, nunca precisei enfrentar esse tipo de criatura antes.

Um silêncio caiu sobre a clareira. Olhei para Alice que estava desacordada e toda suja com seu próprio sangue. Voltei a olhar para o lobisomem que chegava cada vez mais perto. Não sabia o que fazer, Mike ainda estava desacordado e eu não conseguia me mexer. Não tinha nada que pudesse fazer a não ser desejar uma morte rápida e indolor.

Fechei os olhos e esperei sentir os dentes do lobo me rasgarem, mas nada aconteceu. Abri meus olhos assustada por nada ter acontecido e encontrei o lobo caído no chão com alguém o prendendo onde estava, o lobo tentava desesperadamente morder a pessoa que o impedia de comer sua refeição – que no caso seria eu – mas não conseguia o alcançar na posição em que se encontrava.

O homem grunhiu para o lobo expondo caninos pontiagudos. Eu finalmente descobri quem era aquele homem que lutava contra Dean. Mark havia voltado para a cidade antes do previsto e estava ali, me protegendo do caçador.

Um uivo alto reverberou pela campina, sendo seguido por mais uivos, que pareciam cada vez mais perto de onde estávamos. De onde estava, não conseguia enxergar direito o que acontecia dentro da floresta, mas consegui distinguir quatro pares de olhos pretos brilhando sob o luar.

Da floresta surgiram quatro lobos grandes e peludos. Todos se voltaram para Mark, que se pôs de pé para poder se proteger melhor. Um dos lobos correu em sua direção, o derrubando no chão. O resto do bando chegou mais perto do corpo caído, me impossibilitando de ver o que estava acontecendo.

“Mark” gritei tentando me livrar das cordas que me machucavam, mas sem obter resultados.

Um outro lobo, de pelagem clara e curta, entrou na clareira, mas, ao invés de se juntar ao bando, começou a lutar contra ele, tentando proteger Mark.

“Sophie?” murmurei. O lobo me olhou, mas logo voltou a se concentrar nos lobos a sua volta. Sabia que era ela, aquele olhar havia entregado tudo. Não sei como ela estava conseguindo raciocinar o suficiente para atacar apenas os lobos e manter Mark a salvo, mas estava feliz que ela estivesse conseguindo fazer tal coisa.

Meu estômago estava ficando pior e a tontura também, estava me sentindo mais doente a cada minuto que passava. O barulho de carne sendo rasgada só piorava a situação, minha preocupação com Mark e Sophie aumentava a cada grunhir que ouvia. Estava com medo de que algo acontecesse a eles, mas tinha que admitir que a volta antecipada de Mark foi a única coisa que nos salvara, mesmo estando longe, ele parecia saber quando me colocava em perigo.

Tudo a minha volta começou a ficar embaçado, meu cérebro estava tentando processar muitas informações e estava se sentindo sobrecarregado. Meu corpo começou a cair no chão e não conseguia fazer meus músculos responderem para tentar me manter sentada. Tudo a minha volta começou a escurecer, sabia que estava prestes a desmaiar, mas, antes que isso pudesse acontecer, ouvi uma voz perto de mim, uma das vozes que ouvira na casa onde conseguira a tigela de pedra.

“Nós a avisamos que não daria certo. Não há cura para estas criaturas. Sua amiga morreu, você pagou o preço por ter ido nos visitar” sua voz era ríspida e ia sumindo aos poucos.

Quando a voz terminou de falar e desapareceu completamente, desmaiei.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Eu escrevi esse capítulo tentando não utilizar o que parecia mais provável, sei que vocês acharam que o plano da Millie iria funcionar e tudo ficaria bem, mas a vida nem sempre é tão feliz assim... realmente espero que tenham gostado mesmo assim!

Beijinhos e até o próximo capítulo!!!



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