POV Edward

Eu não sabia por que Rosalie estava tocando naquele assunto... Já fazia tanto tempo!

Eu tinha acabado de sair do Café, onde estava falando com Bella, e alguns minutos depois Rosalie foi me chamar em meu trailer para me mostrar um álbum de fotos de quando estudamos juntos.

Eu a segui, mais por educação, pois no fundo ainda não queria ser visto junto dela. Eu sabia que ela não gostava de Bella e isso me fazia mal. Nós vimos o álbum e eu fingi interesse durante um tempo, mas não agüentava mais ficar ali. Era quase horário de gravação e eu não podia sequer pensar em atrasar.

Quando estava quase indo embora, ela encontrou a foto de uma antiga amiga nossa, Tanya, e lembrou-se de inúmeras histórias da época – o que acabou me tirando do sério. Primeiro, porque queria muito sair correndo dali. Segundo, porque Rosalie não sabia falar de Tanya sem ter um ataque histérico de ciúmes – e eu odiava quando isso acontecia. Eram lembranças e histórias tão ridículas que simplesmente lembrar o assunto me deixava nervoso em questão de segundos.

- Quando éramos crianças, Edward! – ela insistia, pegando no meu braço, mesmo depois que eu já tinha me levantado para ir embora – Lembra que nossos pais diziam que queriam que nós ficássemos juntos?

- Não, eu não lembro.

- Mas eu lembro, e você começou a namorar aquela sem-sal da Tanya só pra me irritar...

- Isso é absurdamente ridículo, Rose. Por favor, pare de falar nisso...

- Confesse! Vocês namoraram, não é?!

- Éramos amigos! – Mas que raio de conversa era aquela?! Nós tínhamos doze, treze anos, o que importava? Era como se ela estivesse me irritando de propósito.

Rosalie fechou a cara, ofendida por eu ter gritado com ela.

- Namorados, eu sei! – ela gritava.

Eu bufei, passando as mãos pelos cabelos. Ah, se eu não fosse um cavalheiro...

- Eu não consigo acreditar que você me fez vir até aqui para falar desse assunto! É ridículo, Rosalie!

- E qual é o problema em falar da sua namoradinha de...

- Amiga! Apenas isso, Rosalie! Por favor, entenda e pare de dizer que aquela garota é minha namorada!

Ela olhou para fora do trailer e para mim novamente, com cara de arrependimento, como se pedisse para que eu parasse de gritar. Não me importei com quem quer que estivesse passando ali fora no momento – Laurent, um paparazzi, o Papa... tudo que eu queria era deixar claro, de uma vez por todas, que eu desejava imensamente que Rosalie Hale me deixasse em paz.

- Edward, pare... – ela baixou a voz – Já é bastante ruim que... – ela parou fazendo uma careta.

- Ruim? – eu a interrompi, agora com raiva – O que seria ruim, além do fato de você me trazer aqui para falar sobre algo que eu não quero? Esqueça essa história, ok? Eu não dou a mínima pra ela!

Na mesma hora, ouvi um som parecido com metal caindo no chão com estrondo. Me virei a tempo de ver Bella sair correndo, com lágrimas nos olhos.

- Bella... – Chamei, mas ela corria cada vez mais rápido – Bella!

Tentei segui-la para explicar, mas Rosalie agarrou meu braço com força, tentando me impedir de sair.

- Não, Edward, não! – ela bloqueava minha saída – Você não vai sair daqui pra ir atrás daquela garotinha sem-sal!

- O que você fez, Rosalie? – eu estava com tanta raiva que não pensei no que estava fazendo. Eu gritava com ela, sem me importar se outros escutariam – O que diabos você fez?!

Ela sorria, apesar de seus olhos estarem assustados.

- Eu?! O que eu posso ter feito de errado? Se ela não entendeu o que você disse, a culpa não é minha...

Então minha ficha caiu. Bella havia escutado alguma coisa totalmente fora do contexto e entendido mal. Repassei a conversa mentalmente e percebi a confusão que ela havia feito. Era fácil imaginar que eu estaria falando dela. Amaldiçoei todos os deuses em que consegui pensar pela minha falta de sorte.

- Ela... – eu falava com dificuldade, em parte pelo ódio que eu estava sentindo – Ela entendeu tudo errado...

- Ah, eu imagino que tenha entendido mesmo – Rosalie disse, e passou a falar com voz de falsete – Ela não é minha namorada, Rose... Não quero falar dela, Rose... Não me importo com ela, Rose...

Minha visão escureceu. Senti o sangue subir e meu coração bater cada vez mais rápido.

- Cale a boca, Rosalie...

- Ora, que culpa tenho eu se a sua namoradinha é uma tapada?! Obviamente eu gostaria que ela te visse no meu trailer, mas daí a te escutar acabando com ela para a “Rosalie malvada”? É difícil até de acreditar. Só sendo muito palerma para cair numa dessa...

- Pare de falar, Rosalie. – meus punhos se fecharam automaticamente.

- Francamente, Edward. Você merece coisa melhor do que aquela anta.

- Cale a boca!!

Quando dei por mim, eu já tinha agarrado seus braços e tirado Rosalie da frente da porta.

- O que você pensa que está fazendo?! – senti suas unhas arranharem meus braços numa tentativa inútil de me segurar. – Você me machucou!

Comecei a correr atrás de Bella, procurando-a por todo canto. Algo no fundo de minha mente dizia que eu não havia agido como um cavalheiro com Rosalie, mas eu simplesmente não poderia olhar pra ela agora.

Eu seguia direto para o Café, o lugar onde eu sabia que a encontraria, mas no meio do caminho, Mason me bloqueou, impedindo-me de continuar.

- Edward, você vai gravar a finalização da sua última cena às 9h. – ele disse, colocando uma mão em meu ombro – Já procurou sua maquiadora?

- Não, Mason, eu só...

- Pois então a procure, não queremos atrasos.

- Claro, eu só preciso... – eu me esquivava, tentando passar, mas ele não deixava. Mason me puxou pelo braço e me encaminhou para o lado contrário.

- Sabe, Edward, eu preciso conversar com você sobre sua atuação, você está meio distraído... Você não pode deixar seus problemas pessoais atrapalharem sua carreira! Lauren falou comigo, ela está preocupada...

- Sr. Mason, eu realmente preciso voltar, eu...

- ... não está comendo direito. Ela disse que sua mãe ligou e lembrou que você não pode ficar sem seu ursinho Ted...

- Sr. Mason, por favor...

- ... pesadelos à noite, e nós não queremos isso, não é Edward?

Ele me olhou, esperando uma resposta. Eu não fazia a mínima ideia do que ele tinha acabado de falar. Minha mãe ligou dizendo que o Ted estava tendo pesadelos à noite?

- Você está bem, Edward? – ele parou na minha frente, cerrando os olhos – Está meio pálido... Talvez você nem precise de maquiagem hoje, para ser sincero... – ele analisava meu rosto cuidadosamente, virando-o de um lado para o outro.

- Não, eu não estou bem – eu disse, colocando a mão na testa dramaticamente e fazendo cara de dor – Sabe, Sr. Mason, o senhor tem toda razão. Eu preciso estar mais focado. Talvez um café me faça melhor.

- Muito bem, garoto! Peça um café forte, faz bem para qualquer tipo de problema. Peça também um pedaço de chocolate, eles colocam no meio, fica uma delícia...

- Obrigado, Sr. Mason. – eu o interrompi, já correndo em direção ao Café.

- E não esqueça o seu Ted!

Corri o mais rápido que pude. Quando entrei no Café, Alice estava com um ar preocupado atrás do balcão, no lugar de Bella, e todos os outros garçons pararam para me olhar. Eu estava totalmente sem fôlego, mas Alice me pegou pelo braço e me levou pros fundos do Café. Eu não me importava de ser arrastado, desde que ela respondesse minha única pergunta.

- Alice... – eu falei, arfando – Onde está Bella?

- Eu faço as perguntas! O que você fez, Edward?! – ela gritou, os olhos cheios d’água.

- Onde ela está?! – eu estava ficando com raiva. Por que todos estavam me atrapalhando?

- Ela foi embora, saiu daqui chorando! Disse que não estava bem...

- Mas que droga! – eu soquei uma árvore com tanta força que minha mão ficou roxa na hora. A dor que eu esperava não veio.

- Escute aqui, Edward – Alice apontou um dedo no meu rosto e fui obrigado a encará-la – Se você fez alguma coisa pra ela, eu juro...

- Foi um mal entendido, Alice! – eu disse com raiva. Falava mais rápido que o normal e as palavras se embaralhavam ao sair – Rosalie fez Bella acreditar que eu a estava enganando... Não me pergunte como ela fez isso, só sei que Bella apareceu na hora errada e escutou metade de uma história que parecia sobre ela, mas não era. Ela entendeu tudo errado e eu preciso explicar isso pra ela!

Alice franziu a testa. Não me preocupei se ela havia me entendido ou não.

- Por favor, Alice, onde ela está?!

- Ela está em casa, mas eu acho melhor você a deixar esfriar a cabeça. Ela não vai te atender.

- Eu preciso tentar!

Eu não sabia o que ainda estava fazendo ali. Saí do Café indo direto para a saída do set. Ouvi o segurança chamando meu nome, mas eu não me importei. Continuei correndo, como se minha vida dependesse daquilo. E ela, no fim das contas, dependia.

Apenas mais tarde pensei que poderia ter usado meu carro. Talvez assim conseguisse fugir da horda de meninas que se formou de repente e corria atrás de mim. Suas vozes estridentes gritando meu nome eram apenas plano de fundo no turbilhão que estava a minha mente.

Eu não conseguia parar de pensar na burrada que tinha feito. Não era completamente minha culpa, nem culpa de Rosalie. Quem poderia adivinhar o que podia acontecer? Mas poderia ter evitado. Sim, eu poderia. Meu primeiro erro foi ter ido ao trailer de Rosalie. Confiar nela nunca havia me dado bons resultados. E agora, por causa disso, eu havia perdido a única pessoa que havia conseguido fazer meu coração parecer uma bateria de escola de samba.

Quando cheguei ao seu prédio, pedi ao porteiro que ligasse no apartamento de Bella. Passaram-se intermináveis segundos e ninguém atendia.

- Ela não está aqui? Você a viu entrando?! – comecei a me desesperar. Nem me importei com a montanha de pessoas me aguardando do lado de fora da porta.

- Sr. Cullen, por favor, se acalme. Ela subiu, mas não estava bem.

- Por favor, ligue até alguém atender!

- Eu não vou incomodá-la, Sr. Cullen.

- Só mais uma vez, pelo amor de Deus! – eu chorava como uma criança. A simples ideia de perdê-la para sempre me aterrorizava.

- Tudo bem. – ele me olhava com cara de pena. – Vou tentar uma última vez.

Ele discou de novo e dessa vez alguém atendeu.

- Srta. Swan? Me desculpe incomodá-la, a Srta. estava dormindo?... Sim, sim, me desculpe outra vez... Há um homem procurando pela senhorita na portaria. Devo deixá-lo subir?... Srta. Swan?... Isabella, a Srta. ainda está na linha?... – eu comecei a me desesperar de novo. O que diabos estava acontecendo? – Ah, sim, me desculpe, eu fiquei preocupado, a Srta. não respondia... Edward. Edward Cullen... Tudo bem... Tudo bem, eu dou o recado. Melhoras.

Ele me olhou com uma cara de desculpa.

- E então? – eu perguntei, cada vez mais aflito.

- Ela... hmm... Ela me pediu para dar-lhe um recado, mas suas palavras foram um tanto... er... Mal educadas, por falta de adjetivo melhor. Mas falando numa linguagem mais culta, ela pediu para que você fosse embora e nunca mais voltasse a procurá-la... Sinto muito.

Senti que meu mundo caia ali mesmo, no chão daquela portaria. Era como se nada mais fizesse sentido. Como se os últimos dias tivessem sido um sonho – um lindo sonho – do qual eu acabara de acordar.

Enquanto eu estava sentado no chão, senti uma mão me levantar e reconheci um dos seguranças do set. Não sei como voltamos ao trailer, nem como as maquiadoras apareceram, e não fazia a mínima ideia do que fazer dali pra frente. Eu queria sumir, dizer que não queria mais fazer nada daquilo. Queria gritar que parassem de depender de mim, que eu não acreditava mais em histórias de amor e me deixassem sozinho.

Até que vi Rosalie Hale passando com uma equipe atrás dela. Despertei novamente ali e vi claramente o que eu deveria fazer. Não podia ser tarde demais, eu nunca aceitaria essa possibilidade. Segui para meu trabalho sentindo-me um pouco mais forte com a esperança que nascia em mim e deixei que um sorriso surgisse em meus lábios.

Até lá, eu faria meu trabalho: agiria como se nada tivesse me atingido.