Como Irritar Um Capitão Pirata escrita por Mrs Jones


Capítulo 35
Capítulo 31 - Durma em paz, papai


Notas iniciais do capítulo

Oi meninas, como estão? Desculpem a demora, ainda estou com aquele problema no pc e aqui em casa o notebook é muito disputado por isso demorei a conseguir escrever o capítulo. Ficou grande então espero que sirva como recompensa pela demora. Gente, uma semana para Once, nem acredito. Vi uns spoilers e parece que vamos ter muito tempo para apreciar a beleza do Hook porque o próximo episódio vai ser um pouco voltado pra ele. Também vi que o episódio 17 vai se chamar O Jolly Roger e espero que seja centrado no nosso Capitão. Comecei uma nova fic, é sobre A Menina Que Roubava Livros. Claro que não vou esquecer essa, vou postar as duas semanalmente (às vezes até duas vezes na semana). Quem quiser ler, o link vai estar no final.



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Capítulo 31 – Durma em paz, papai

– Você ia chorar se eu morresse? – o Capitão perguntou a Ruby, que tratava de seus ferimentos.

– É claro que eu ia. – ela limpou o corte no lábio dele – Por que a pergunta?

– Fiquei pensando nisso enquanto estava no calabouço. Pensei que talvez você se casasse com Peter e me esquecesse.

– Bobo! – Ela riu – Eu jamais me esqueceria, você é meu primeiro e único amor.

Gancho sorriu e a puxou para seu colo, abraçando-a ternamente e beijando sua bochecha.

– Senti sua falta... – murmurou no ouvido da Princesa e ela ia dizer o mesmo quando a porta se abriu.

– Mas que estão fazendo? – Vovó arregalou os olhos ao vê-los abraçados e Ruby sentada no colo do Capitão.

– Nada – Ruby se livrou dos braços de Gancho, levantando-se envergonhada – Estamos apenas conversando.

A avó olhou ameaçadora para Killian:

– É melhor você não levá-la para o mau caminho, rapaz, ou vou dar um jeito em você – ela ameaçou com o dedo apontado para ele.

– Estávamos apenas conversando – Killian revirou os olhos – E, além disso, somos quase casados.

– Não importa! Minha neta é uma moça comportada, não quero que ela fique mal falada no reino caso engravide antes do casamento...

– Vovó! – Ruby exclamou envergonhada – Nós não fizemos nada...

– Eu sei, eu sei. Mas não gosto que fiquem sozinhos. É melhor o Capitão dormir em outro quarto.

– Era só o que me faltava – o Capitão reclamou – Sempre dormimos juntos... Eu não vou fazer nada com a Ruby, a não ser que ela queira – o Capitão sorriu meio cafajeste e a avó indignou-se.

– Ora, mas que tarado! Vamos, saia logo! Você vai dormir bem longe dela – a avó começou a empurrar Killian para a porta.

– Vovó... – Ruby ia protestar, mas a avó pôs o Capitão para fora.

– Vai me agradecer por isso depois – Ela disse a Ruby e então saiu para o corredor, fechando a porta atrás de si.

Ruby revirou os olhos e sorriu. Bem, pelo menos agora eles estavam juntos e ninguém iria separá-los. Houve uma batida na porta e Tinker Bell entrou acompanhada de Will. Ruby deu um leve sorriso ao perceber que estavam de mãos dadas e sorrindo como crianças.

– Oi! – Tink cumprimentou meio tímida – Pensei em passar para ver como você estava, mas não quero incomodar.

– Imagina, Tink, você me ajudou tanto hoje! – ela abraçou a fada – Tenho muito que agradecer.

– Você tá bem? – Will perguntou – Quero dizer, depois de tudo o que você passou...

– Estou bem – ela assentiu – Não é fácil ver seu próprio pai ser deposto, mas eu posso lidar com isso. Ele só teve o que mereceu. E vocês dois? Estão juntos? – ela foi logo perguntando e Tink enrubesceu.

– Estamos – Will confirmou e abriu um sorriso – Agora é pra valer! Essa aqui é a mulher... fada da minha vida!

Tink riu e o ferreiro a abraçou de lado, deixando-a ainda mais envergonhada.

– Fico feliz por vocês – a princesa sorriu.

– Onde está o Capitão? – Tink finalmente notou a ausência de Killian.

– Ah, a Vovó o colocou para fora. Ela acha que vamos fazer coisas...imorais...

Will riu.

– Eu espero isso de qualquer um, menos de você. Quero dizer, você é tão inocente! E é por isso que deve ficar com um pé atrás com meu irmão, você sabe como ele é safado.

Foi a vez de Ruby enrubescer e Tink ralhou com Will por ficar dizendo essas coisas. A fada mudou o rumo da conversa quando começou a admirar as coisas que Ruby tinha no quarto.

– Seu quarto é maravilhoso! – a fadinha se sentou na cama, aproveitando o conforto e maciez do colchão – Nunca tivemos colchões tão macios no Jolly Roger. Uau! Aquela é sua coroa? – Tink foi até onde a coroa de Ruby repousava e ficou admirando.

– Por que você não usa? – Will também se aproximou para admirar.

– Eu nunca gostei de usar. Sei lá, nunca quis me sentir superior a ninguém e uma coroa às vezes faz você se sentir poderoso. Enfim... Sabe, vocês deviam passar a noite aqui, eu me arranjo em outro lugar.

– Ah não, não precisa – Tink falou, agora admirando as finas joias de Ruby – Sua mãe mandou preparar um quarto para nós.

– Aqueles pobres coitados tiraram a barriga da miséria – Will riu – Sua mãe e suas avós são tão boas! Elas mandaram preparar um banquete para nós. Sem falar que estão nos proporcionando uma noite de conforto.

– Vocês todos cuidaram de mim nesse tempo em que estive no Jolly, nada mais justo do que eu retribuir tudo o que fizeram por mim. – Ruby explicou.

– Nós é que temos que agradecer por você ser esta ótima pessoa – Tink segurou as mãos da amiga e elas sorriram uma para a outra – Bem, melhor irmos dormir.

Eles se despediram de Ruby e ela também se preparou para dormir. Ela sabia que não conseguiria pegar no sono, não depois de tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo. Mas ela precisava descansar, então tomou um banho, vestiu uma camisola comprida e se aninhou entre as cobertas em sua enorme e confortável cama de casal. Killian conseguia acalmá-la quando ela estava abalada emocionalmente, mas agora ele não estava ali. A avó passou pelo quarto de Ruby e trancou a porta para garantir que ela não fugiria para vê-lo e a Princesa apenas suspirou e fechou os olhos, tentando dormir a todo custo.

Tudo se aquietara e parecia que agora todos repousavam tranquilamente. A única iluminação no quarto da princesa vinha de um castiçal e ela se remexia na cama sem conseguir dormir. Tentou de tudo, até contou carneirinhos, mas o sono não vinha e ela não conseguia parar de pensar em tudo o que acontecera. Uns minutos mais tarde, ela ouviu um barulho na fechadura da porta e se assustou. Alguém tentava abrir a porta e ela temia que fosse seu pai.

Anthony não ficara com raiva dela, como Ruby pensou que fosse acontecer. Mais cedo, quando eles se encontraram nos corredores, seu pai apenas murmurou um “sinto muito” e se afastou parecendo muito envergonhado. Ela não o vira mais depois disso. Agora achava que talvez ele tentasse abrir a porta para conversar com ela. Ela se levantou e pegou a primeira coisa que viu pela frente, pronta para se defender caso seu pai tentasse atacá-la. Insano como ele estava, ela não duvidava de que ele pudesse machucá-la. Ruby foi para perto da porta e a mesma se abriu com um rangido. Ela viu uma sombra adentrar pelo quarto e tentou atacar a pessoa, mas uma mão a segurou antes que ela pudesse fazer qualquer coisa.

– Sou eu!

– Killian! – ela respirou aliviada – Pensei que fosse meu pai...

– Ah e por isso você tenta me atacar com o atiçador da lareira? – ele resmungou.

– Desculpe. – ela colocou o atiçador a um canto – O que está fazendo aqui? Se a Vovó descobrir...

– Ela me trancou no quarto, mas deve ter esquecido que sou um pirata – ele sorriu maroto e ergueu a mão mostrando o grampo que usara para arrombar a porta – Eu não ia suportar ficar sem você por mais um dia.

Ruby sorriu e se aproximou para abraçá-lo, mas parou no meio do caminho e o olhou de cima a baixo.

– O que está vestindo? – ela perguntou e não conseguiu conter o riso. O Capitão usava uma túnica de algodão que chegava até seus pés. Era estranho vê-lo vestido assim, já que ele sempre usava roupas pretas de couro.

– Sua avó me obrigou a trocar de roupa – ele falou risonho – Eu não queria usar uma camisola, mas você sabe como ela é. E por que está usando uma roupa tão comprida? – ele ergueu uma sobrancelha, observando a enorme camisola que ela usava.

– O que esperava que eu usasse? Vem, vamos dormir... – Ruby o levou até a cama e o Capitão não deixou de comentar o quanto o quarto dela era luxuoso.

– Eu vou entender se você quiser morar aqui – ele falou – Até seria uma boa ideia, já que você tem tudo...

– Eu não gosto desse lugar e morar aqui com você... nunca me passou pela cabeça – ela disse sem rodeios – Sabe, eu convenci minha mãe a te dar um navio...

– É sério? – o Capitão se animou – Não acredito! É um daqueles navios do seu pai?

– É. Não têm o mesmo valor sentimental que o Jolly Roger, mas são bem maiores e...

O Capitão a sufocou num abraço.

– Não acredito! Você é a melhor noiva do mundo – disse Killian e a beijou na boca – Podemos fazer uma viagem pelo mundo, só nós dois... Quero que nossa lua-de-mel seja inesquecível! Podemos fazer uma cerimônia simples, do jeito que você quiser. Mas tem que ser essa semana.

Ela sorriu apaixonada e surpresa ao mesmo tempo.

– Essa semana? Está falando sério?

– É claro, meu amor. – ele acariciava o rosto dela – Eu quero fazer de você minha mulher e agora precisamos de um tempo sozinhos. Talvez devêssemos dar um tempo de tudo, esquecer tudo o que aconteceu...

Eles fizeram planos e conversaram baixinho para que ninguém escutasse. Ruby acabou por adormecer nos braços de Killian e ele a observou por uns minutos, admirando o quanto ela era linda e cheia de vida. Por fim o Capitão também adormeceu e sonhou que eles eram muito felizes em sua nova vida de casados.

Eles acordaram cedo na manhã seguinte, logo que o sol nasceu e os saudou para mais um dia.

– Bom dia! – Ruby murmurou ainda sonolenta. Ela levou alguns segundos até se dar conta de que estava em seu quarto no castelo. Ao seu lado, Killian sorria abobado.

– Bom dia! E então, vamos mesmo fazer isso? – os olhos dele brilharam.

– Claro! Mal posso esperar!

Killian e Ruby queriam se casar o quanto antes, por isso combinaram que a cerimônia seria naquele mesmo dia, ao entardecer. A Princesa não queria nada muito luxuoso, então apenas bastava que eles convidassem seus amigos mais próximos e organizassem uma pequena cerimônia de casamento.

Killian voltou ao seu quarto antes que a Vovó descobrisse que ele não passara a noite lá e Ruby aproveitou para trocar de roupa. Ela vestiu um de seus vestidos mais simples e nem se preocupou em usar um espartilho. Em seguida saiu para o corredor e desceu as escadas que levavam ao andar de baixo. A Princesa encontrou Killian saindo do quarto e o Capitão já usava suas roupas de sempre.

– Pelo visto você voltou a ser uma princesa - ele sorriu olhando-a apaixonado.

– Enquanto estivermos aqui serei uma princesa - ela respondeu, dando o braço a Killian– Mas eu já me considero uma pirata fora da lei.

Killian riu e eles caminharam de braços dados. Ainda estava muito cedo, de forma que o café da manhã só seria servido dali a meia hora, então eles resolveram passear pelo castelo. Ruby estava empolgada e queria mostrar tudo ao Capitão. Eles conversavam animadamente e riam feito bobos.

– Sabe, eu estive pensando - disse Killian quando eles chegaram ao pátio do castelo - Se sua irmã não tomar o posto de Rainha, o que acontece?

– Bem, o reino precisa de um monarca, então alguém precisa fazer esse papel. Se Mary não voltar, suponho que meu tio deve ficar com o trono.

– Mas você poderia ser uma Rainha, não?

– Poderia, mas... eu não tenho o perfil de Rainha.

– É claro que tem - eles atravessaram a ponte levadiça - Você é inteligente, honesta, misericordiosa, justiceira... daria uma boa Rainha.

– Acha mesmo? - ela sorriu e Killian fez um movimento assentindo - Bem, eu nunca pensei em ser Rainha, mesmo quando ainda estava prometida a me casar com Peter. Eu não sei, só acho que essa não é a vida que eu quero...

– Eu entenderia se você quisesse ficar aqui - Killian parou e Ruby também parou e olhou para ele - Estaríamos protegidos, você nunca ia passar por necessidade, nunca ia correr riscos... Talvez... talvez seja o certo a se fazer... ficar aqui...

A Princesa entendeu que Killian faria qualquer coisa por ela. Ela sabia que ele aceitaria morar no castelo se ela quisesse, mesmo ele amando navios e o mar. Mas ela não tinha certeza se queria isso. Aquela era a vida mais luxuosa e segura que ela poderia ter, mas também era a mais tediosa e previsível.

– Killian... - ela começou a dizer.

– Eu só quero o melhor para você.

– Eu sei, e o melhor que a gente pode fazer é ter um navio.

– Você gostava mais do Jolly Roger do que daqui? - o Capitão perguntou, mesmo já sabendo a resposta. Ela assentiu:

– Os momentos que eu passei no seu navio são indescritíveis. É claro, eu poderia ter morrido uma porção de vezes, mas você sempre estava lá para me salvar. É isso que eu quero para mim, eu escolho os riscos e as aventuras...

Killian sorriu e a puxou para um abraço.

– Você é a princesa mais diferente que eu conheço, sabia?

– Quer dizer que você conhece outras princesas? - ela perguntou meio enciumada.

– É claro, não se esqueça de que eu sou um pirata e conheço dezenas de outros reinos. Mas de todas as princesas, você é a mais linda que eu já conheci.

Ela riu envergonhada e eles caminharam até a floresta. Havia um rio que cortava o reino e desaguava no mar. Ruby se lembrou de quando ela e Mary brincavam por ali. Relembrar os velhos tempos a deixava triste, pois ela se lembrava de como seu pai era bom para elas. Ela ainda o amava, apesar de tudo.

– Você está bem? - o Capitão perguntou, sentando-se a uma pedra.

– Estou... Só estava revivendo os momentos que eu passei aqui - ela sorriu - Eu e Mary costumávamos brincar na floresta. Ela sempre me empurrava no rio e então brigávamos e papai vinha nos separar... - ela riu - Era uma época boa.

– Sente falta de sua infância?

– Sinto. Sabe, eu era feliz e não sabia. - ela se sentou ao lado do Capitão e ele passou um braço por trás dela, puxando-a mais para junto dele.

– Eu também sinto, apesar de tudo o que eu passei. Sabe, eu fico pensando que você devia ser daquelas garotinhas atrevidas e mandonas... - Killian riu e Ruby bateu nele.

– Eu era boba e inocente, isso sim - ela se levantou - E essa inocência eu perdi depois que conheci você.

Killian riu e Ruby foi entrando por um caminho entre arbustos, dizendo que queria lhe mostrar algo. O sol penetrava por entre os galhos das árvores, de forma que a floresta estava parcialmente nas sombras. O Capitão se distraiu observando algo e Ruby foi na frente. Ela queria mostrar a ele uma árvore oca que ela usava como esconderijo, mas se perdeu no meio do caminho...

Killian ouviu a princesa gritar e correu até ela, assustado.

– Ruby! - ela estava parada e exibia uma expressão assustada e chocada - O que... Pelo amor das fadas!

O Capitão olhou na direção em que a princesa olhava e não pode deixar de chocar-se também. Anthony estava pendurado pelo pescoço a uma corda amarrada numa das árvores. Ele pendia completamente inerte e pálido com seus olhos meio abertos. Ruby virou-se de costas, abalada, e o Capitão aproximou-se do cadáver de Anthony.

– Que covarde! - murmurou.

– Melhor voltarmos - Ruby disse com a voz abafada - Temos que avisar os outros...

O Capitão assentiu e eles voltaram pelo mesmo caminho. Não conversaram. Ruby evitou encarar as pessoas que passavam por eles. Ela não sabia como sua mãe iria reagir quando soubesse. Anita fora traída, mas será que no fundo ela ainda amava Anthony? E Juliet? Como uma mãe reagiria à morte do filho? Ruby parou à porta de entrada do castelo e Killian percebeu o quanto ela estava confusa e abalada.

– Não sei se consigo fazer isso - ela murmurou.

– Talvez eu devesse contar a elas...

– Está bem.

Eles andaram pelo corredor principal. Empregados andavam de um lado para o outro e alguns cumprimentaram Ruby e Killian quando eles passaram. Os dois foram se aproximando da sala de jantar e Ruby escutou Juliet gargalhar.

– Por que não vai para o seu quarto enquanto eu digo a elas? - o Capitão sugeriu, como que para poupá-la.

– Não... quero ir com você.

Ela pegou na mão dele e juntos eles entraram na sala. Vovó, Juliet e Anita estavam sentadas à mesa, conversando e rindo. Elas pararam de conversar quando notaram a presença do casal.

– Já não era sem tempo! - exclamou Anita animada e tomando um gole de chá - Onde é que se meteram? Procurei vocês por toda parte... - ela notou que eles não estavam com uma cara muito boa - O que foi? Que caras são essas?

– Aconteceu... uma coisa... - disse Ruby. Killian sabia que ela não conseguiria continuar e ficou pensando na melhor forma de dar aquela notícia.

– O que foi? Digam, estou ficando assustada...

– É que... - começou o Capitão - Bem, é que... Anthony...

– Que aconteceu com meu filho? - Juliet se levantou e pôs uma das mãos no peito.

– Bem, ele...

– Diga-me! Diga-me, o que aconteceu com meu filho?

– Está morto... - Ruby balbuciou encarando o chão. Juliet se apoiou na cadeira e Vovó correu a ampará-la.

– Não, não, não é possível... - Juliet murmurava.

– Como? Onde? - foi tudo o que Anita conseguiu dizer.

– Na floresta - falou Killian.

Anita saiu apressada e Ruby murmurou que ia para o quarto. Juliet chorava escandalosamente e Vovó tentava consolá-la.

Ruby se recusava a acreditar. Por mais que ela estivesse com raiva do pai, por mais que ela dissesse a si mesma que o odiava, no fundo ela ainda se importava com ele. Mas ele foi covarde demais, preferiu se matar a enfrentar a ira das pessoas.

Em seu quarto, a princesa olhou pela janela a movimentação lá embaixo. Guardas iam em direção à floresta e as pessoas tentavam entender o que acontecia. Ela sentiu seus olhos ficarem marejados, Não, ela não devia chorar devia? Depois de tudo o que ele lhe fizera ? Talvez ele não merecesse suas lágrimas.

–Você está bem? - o Capitão entrou no quarto e fechou a porta.

–Sim - ela murmurou. Era óbvio que ela não estava bem.

–Ruby...

–O quê? - ela evitou olhá-lo. Lágrimas já se formavam em seus olhos e ela fazia força para segurar a dor que estava sentindo.

–Eu sei que não está nada bem. Ele era seu pai apesar de tudo.

–Ele não se contentou em destruir apenas a vida dos outros. - disse com a voz meio embargada. Lágrimas escorriam por seu rosto e ela as enxugou com brusquidão, como se fosse errado chorar numa hora dessas - Precisava destruir a própria vida também

O Capitão não disse mais nada, apenas a abraçou e ela chorou como criança. Killian entendia o que ela estava sentindo. Nos últimos meses Ruby passara por tanta coisa, ele não sabia como ela se manteve tão forte nesse tempo todo. Qualquer pessoa normal teria pirado.

Ela não soube por quanto tempo chorou. Killian se manteve a seu lado o tempo todo. É claro, ele não lamentava a morte de Anthony, mas não desejava nada de ruim a ele também. Houve uma batida na porta e Vovó entrou. Ela viu o estado em que Ruby estava e trocou um olhar com o Capitão.

–Estão preparando o enterro - disse sem emoção - Sua mãe quer que ele tenha uma despedida digna, apesar de tudo.

O enterro seria na manhã seguinte. Ruby imaginava como seria a reação das pessoas, ela não se surpreenderia se o túmulo de seu pai aparecesse destruído. Ele não fora um bom Rei e as pessoas iam sempre se lembrar disso.

–Mary sabe? - a princesa perguntou. Seus olhos estavam muito vermelhos e inchados. Ela estava com a cabeça no colo do Capitão e Vovó não disse nada sobre isso.

–Eu mandei um bilhete. Talvez ela venha. De qualquer modo, acho melhor vocês ficarem aqui por um tempo.

A avó saiu e Killian acariciou os cabelos de Ruby.

–Ela tem razão sabe? Devíamos ficar por um tempo, umas duas semanas. Pelo menos até que tudo se conserte.

–Por mim tudo bem - a princesa murmurou - De todo jeito teremos que adiar o casamento

Killian suspirou.

–Até isso ele conseguiu estragar. – ele deitou a cabeça dela na cama e se levantou - Vou buscar alguma coisa para você comer.

O Capitão saiu e Ruby ficou se sentindo sozinha. Ela era tão apegada a ele que não suportava sua ausência. Ela sorriu apaixonada, nunca pensou que fosse sentir algo tão forte por alguém como Killian. Ela se pegava pensando em como acabara se apaixonando por um pirata. Ruby já conhecera dezenas de homens charmosos, sedutores e atraentes, mas foi Killian o primeiro a conquistar seu coração. Alguém bateu à porta.

–Entre! - Ruby falou sem emoção.

–Oi! - disse uma Ariel sorridente. Mabel entrou depois e fechou a porta.

–Oi! - Ruby se animou e levantou da cama para abraçá-las.

–Soubemos o que aconteceu - falou Mabel - Eu sinto muito por seu pai.

–Não sinta! - a princesa retrucou sinistramente - Ele morreu como covarde. No fim é assim que todos irão se lembrar dele.

–Não diga isso. - Ariel falou - Ele é seu pai. Bem, era... Não significa que ele não se importava com você. Só que era burro demais para perceber que tinha uma família maravilhosa.

Elas ficaram por ali consolando Ruby. Gancho voltou trazendo uma garrafa de rum (que ninguém sabia onde ele tinha arrumado) e ficou feliz de ver as sereias.

–Bebam, meninas. - ele disse depois de tomar um gole direto da garrafa - Esse é o melhor jeito de esquecer os problemas.

É, Killian tinha razão, era o melhor jeito de esquecer os problemas...

***

–O Capitão disse que é melhor ficarmos aqui por um tempo - Tink disse à Will.

Os dois tinham se sentado na areia branco-amarelada da praia e Will observava os três navios atracados ali perto. Um deles era o navio dos corsários, os outros dois pareciam estar fora de uso. Tink estava com a cabeça recostada ao ombro do marujo.

–Nada como um pouco de conforto para variar - Will passou um braço pela cinturinha de Tink– Não sei você, mas eu já estava ficando louco naquele navio.

–Eu ficava meio enjoada, mas pelo menos posso esticar as asas quando quero. Você gosta mesmo de mim, não é? - ela perguntou subitamente e o marujo a encarou.

–Eu te amo, sua boba - ele disse e a fadinha riu - É claro, eu era meio mulherengo, mas tudo mudou quando eu te conheci. Eu só não sabia que ia demorar tanto tempo para eu perceber que o que eu sinto por você é diferente do que eu sentia pelas outras.

–Você amava a Liza?

–No começo eu achei que sim, mas depois comecei a entender que ela era só um rostinho bonito. Tudo o que eu sentia por ela era atração. E sentia o mesmo pelas outras.

Tink respirou aliviada, ela temia que tudo aquilo fosse um sonho seu e quando ela acordasse Will estivesse com Elizabeth. O marujo podia afirmar que o que ele sentia por Tink era algo muito forte. Por alguma razão, ele não admirava só o que ela era por fora, mas também o quanto ela era bonita por dentro.

–Eu deixei a Terra do Nunca por você - ela disse e Will ficou surpreso. Ele já sabia disso, mas ouvir da boca de Tink era outra coisa.

–Pensei que quisesse conhecer o mundo e por isso deixou a Terra do Nunca.

–E eu queria. Meu sonho sempre foi conhecer outros mundos, voar livremente por aí - os olhos da fada brilhavam - Mas eu não tinha coragem de fugir sozinha e também não tinha coragem de trair Pan. Eu meio que gostava dele, mas Peter nunca me enxergou como uma mulher.

–Eu também não te enxergava como uma mulher...

–Will! - a fada indignou-se e depois suspirou - Ah suponho que você deva me achar muito criança...

–Eu sempre te vi como uma menina, mas isso foi mudando com o tempo - o rapaz explicou. Ele acariciou o rosto de Tinker Bell, perdendo-se no brilho de seus olhos esverdeados - Quando eu te conheci você era praticamente uma criança, não conhecia nada do mundo, estava sempre fazendo o que os outros lhe diziam. Era tão curiosa e brincalhona! Bem, ainda é, mas hoje eu vejo o quanto você está diferente. Não sei como explicar. Você... você simplesmente se tornou uma das mulheres mais fortes e corajosas que eu conheço. Lembra quando você cismou de vir conosco e simplesmente ficou grudada aos meus cabelos? Eu sabia que você devia ser durona, sabe o que quer... E agora eu sei exatamente o que quero: que você seja minha mulher.

–Ah, Will... - Tink suspirou apaixonada. Seus olhos estavam marejados e ela se emocionara com tudo o que o marujo tinha dito sobre ela. A fada se agarrou a ele e Will aproveitar para soltar os cabelos loiros que ela teimava em prender num coque. Os fios eram meio encaracolados nas pontas e caíram sobre os ombros da garota-fada.

–Você é linda! Não sei por que se esconde tanto.

–Eu não me escondo, só... só não consigo reconhecer que sou bonita...

–Bem, você é. - ele colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha dela - Para mim é a mais linda de todas. - Tink sorriu envergonhada - Quero protegê-la, Tink. Tenho medo de perder você. E sabe, você foi muito imprudente ao ir atrás da Rainha Má.

–Eu sei, mas eu queria ser útil. E a Rainha não é tão má quanto parece, ela só tem um coração partido.

Tink contou a Will tudo o que acontecera quando ela fora atrás da Rainha. Disse que salvou a mulher de despencar da sacada e acabou conquistando a confiança dela. Regina dissera a Tinker Bell que odiava Mary Margaret por ela ter sido culpada pela morte de seu grande amor, Daniel. Desde que perdera Daniel, a Rainha estava com um enorme vazio no coração, um vazio que ela não pudera preencher.

–Eu queria ser útil pelo menos uma vez na vida. Resolvi ajudar Regina a encontrar um novo amor, mas para isso precisava de Pó de Fada. Roubei da Fada Azul e com certeza ela vai me castigar por isso, ela me aconselhou a não ajudar Regina e eu simplesmente não dei ouvidos a ela.

–Que aconteceu?

–Uma noite, Regina e eu fomos a um bar. Usei o Pó de Fada e ele mostrou a pessoa certa para Regina: um homem com tatuagem de leão. Mas o que Regina tem de ruim ela tem de covarde. Ela simplesmente deixou o amor de sua vida escapar por medo do que poderia acontecer caso ela fosse falar com ele. Então resolvi procurar por vocês e o Pó me mostrou onde estava o navio. Encontrei Ariel e Mabel pelo caminho e elas me contaram o que tinha acontecido. Voei o mais rápido que pude, mas já era tarde demais, o navio já estava todo destruído. Então voei até aqui e a louca da Ruby estava descendo pela torre.

Will riu:

–Depois vocês se aventuraram pelo subterrâneo do castelo e um marujo apaixonado acabou se declarando pra você na frente de todo mundo.

–Sabe, por um momento eu pensei que aquilo fosse um sonho - ela sorriu - Sempre quis que me dissesse que me amava.

–Posso dizer quantas vezes quiser. Te amo minha fada - ele a beijou na testa - minha linda - beijou o narizinho da fada - minha princesa - as bochechas - minha mulher! - e por fim a boca. Tink sentiu a língua de Will pedindo passagem e eles se beijaram com urgência.

–Também te amo - ela disse sorridente quando eles se separaram - Mais do que tudo no mundo. Você foi a coragem que eu precisava para abandonar a Terra do Nunca, por você eu larguei tudo. Você me salvou, Will, porque se eu estivesse lá, eu estaria infeliz.

O rapaz sorriu ternamente.

–Que bom que eu servi pra alguma coisa - ele acariciou a bochecha dela - Acredita em destino? Era pra ser assim, embora eu tenha te magoado tanto.

–Está tudo bem agora, podemos ser felizes, Will.

–Eu sei, foi por isso que fiz uma coisa pra você - ele remexeu nos bolsos da calça e tirou um pequeno anel feito de latão, o nome de Will estava gravado por dentro– Espero que caiba no seu dedo. Sabe, não é muito, eu queria poder te dar muito mais do que isso.

–É lindo! - ela experimentou em todos os dedos até que o anel encaixou perfeitamente em seu anelar esquerdo - Quando foi que fez isso?

–De madrugada, depois que você dormiu. Precisei convencer o ferreiro local a me emprestar suas ferramentas, mas fora isso, não me deu trabalho algum fazer esse anel para você.

–Ah, Will... obrigada! - ela ficou admirando o anel que brilhava contra a luz do sol e Will sorriu ao perceber que ela não entendera o significado daquilo.

–E então, qual é sua resposta? - ele perguntou

–Que resposta? Do que está falando? - ela ficou confusa e Will riu

–Não estou acostumado com essas coisas, mas vamos lá. Sua mão, por favor.

Tink ergueu sua pequena mão esquerda e Will a segurou. A fada o olhava intrigada e divertida ao mesmo tempo.

–Querida e doce senhorita Bell, será que a senhorita gostaria de se casar comigo?

Tinker Bell ficou boquiaberta e ainda mais confusa:

–Eu...casar...você quer...Céus, está mesmo me pedindo em casamento? Ah Will... sim, eu aceito!

O marujo riu da reação da fada e então beijou sua mão:

–Prometo fazer de você a mulher mais feliz do mundo.

Eles se abraçaram e Tink estava prestes a chorar quando ouviram uma voz conhecida:

–Tinker Bell! - a Fada Azul flutuava ali perto e sua cara não estava nada boa. Tinker Bell decididamente estava com problemas.

–Fada Azul, eu...

–Não, não diga nada. Pelo visto você já tomou suas decisões. Traiu minha confiança! Fugiu da Terra do Nunca e ainda roubou meu Pó de Fada.

–Eu só fiz isso porque queria ter uma vida, quis ajudar as pessoas ao invés de ficar presa na Terra do Nunca com Pan - Tink esclareceu.

–Você vai ter seu momento, Tinker Bell. Mas ainda é iniciante, ainda tem muito o que aprender. Venha, temos que voltar, Pan está à sua espera. - Azul ergueu a mão para Tink.

–Não - Tink se afastou - Não, eu não vou! Quero ficar com Will!

A Fada Azul olhou de Tink para o rapaz sentado na areia.

–Que significa isso, Tinker Bell?

–Will me ama e me pediu em casamento. Eu aceitei. Vou ficar com ele.

–Você ficou louca! - a expressão da Fada Azul era pura surpresa e indignação - Fadas não se apaixonam, Tinker Bell.

–Bem, então eu sou diferente.

–Eu já lhe dei chances demais - a outra balançou a cabeça - você as desperdiçou. Mas agora precisa se decidir. Quer ficar com seu amor? Então vai ficar como humana.

–O que quer dizer? - Will se levantou assustado.

–Fadas não devem se apaixonar, mas já que aconteceu, Tinker Bell não tem mais direito de ser fada.

–Vou perder minhas asas? - a fadinha perguntou tristemente.

–Sim. A não ser que volte comigo para a Terra do Nunca. A escolha é totalmente sua.

–Tink– Will pegou na mão da fada - Não posso pedir que fique comigo. Vá!

Tinker Bell nem precisou pensar, pois ela já se decidira:

–Eu escolho Will!

–Está certa disso? - perguntou Azul

–Sim, eu escolho o amor...

***

–Sabia o que ia acontecer, não sabia? - Killian perguntou a Ellanor. Ele e Ruby decidiram fazer uma visitinha à bruxa, pois concordaram que ela devia ter previsto tudo o que ia acontecer. Smee cochilava, ainda meio adoentado, e Ellanor usava um enorme roupão felpudo. Ela não gostou muito de ser incomodada, mas mesmo assim os recebeu em seu quarto.

–É claro - ela respondeu indiferente - sou vidente, já não disse?

–E por isso não quis nos proteger, os corsários deviam nos encontrar - falou Ruby. A princesa já não chorava, mas seus olhos ainda estavam avermelhados.

–Sabia tudo desde o início? - perguntou o Capitão - Sabia sobre Liza, Charlotte, a morte de Anthony... você sabia tudo?

–Não sou capaz de ver o futuro com clareza. Às vezes as coisas vem em sonhos, ou mesmo vislumbres - a bruxa explicou - Eu sabia que haveria um traidor, uma morte e uma mulher do passado, mas não pude ver com clareza. Sabia o que eu iria passar, sabia sobre a forca e a fogueira e sabia como tudo ia terminar. Por um momento até pensei que a morte que eu previra fosse a minha, mas agora já sabemos de quem se tratava. Sabia que era necessário que tudo isso acontecesse, por isso pedi o coração de Killian em troca de protegê-los dos corsários. Sabia que o Capitão jamais faria essa troca.

–Por que não nos disse o que ia acontecer? Poderíamos ter mudado o futuro, não? Meu pai estaria vivo, nada disso teria acontecido - Ruby revoltou-se.

–O futuro seria alterado. Vocês não deviam saber demais, é perigoso saber demais sobre o próprio futuro. E já parou para pensar que poderia ser pior?

–Pior do que isso? Não imagino como poderia ser pior...

–Pensem como quiserem - Ellanor deu de ombros - Agora se me dão licença...

–Consegue ver o que acontece depois? - Killian não pode evitar de perguntar. Ele queria, ele precisava saber o futuro - Pode ver o que virá para mim e Ruby?

–Ninguém deve saber demais sobre o futuro, Capitão - Ella advertiu.

–Eu preciso saber!

–Está bem! - a bruxa suspirou - Não vou cobrar nada por isso, já que salvaram minha vida. Me deem suas mãos.

Com uma mão Ellanor segurou a única mão de Killian e com a outra uma das mãos de Ruby. A bruxa fechou os olhos e por alguns segundos ela foi capaz de ver vislumbres do futuro do casal. Ela reabriu os olhos e piscou algumas vezes.

–E então? - Killian estava impaciente e curioso.

–Eu vi um momento de grande felicidade para vocês– ela sorriu -, algo que irá encher seus corações de alegria.

–O casamento? - Ruby sorriu.

–Melhor do que isso. Vi que vocês estavam numa praia e pareciam realmente felizes.

–O que mais você viu?

Ellanor suspirou e pegou nas mãos de Ruby:

–Haverá um momento de grande tristeza para você, minha querida. Não a morte de seu pai, mas algo que a devastará por dentro. - Ruby estremeceu e Ellanor largou as mãos dela - Também vi duas sombras: um homem e uma mulher. Os dois estão conectados à Killian.

–Meu pai? - o Capitão perguntou, mesmo sabendo que Ellanor não saberia responder.

–Talvez. Não pude ver seu rosto.

–E a mulher? - Havia um certo tom de ciúmes na voz de Ruby, ela queria muito saber que mulher era essa que estava conectada ao Capitão.

–Alguém que vocês encontrarão em breve. Por ora, devo dizer que estão fora de perigo. Vocês decididamente terão um tempo de paz...

***

Mary subiu à torre e Ruby cochilava com a cabeça no colo do Capitão. Killian estivera lendo uma história para ela e isso de certa forma a acalmou. Agora o Capitão apenas acariciava seus longos cabelos, desejando que pelo menos nos sonhos ela pudesse descansar em paz.

–Oi! - Mary cumprimentou o Capitão, fechando a porta atrás de si.

–Oi!

–Como ela está?

–Abalada. Ela passou por muita coisa. Mas vai ficar bem.

–Ela é mais forte do que parece. - Mary se sentou na cama.

–É - Killian concordou - Mas e você? Está bem?

–É, vou indo. Regina ainda está por aí querendo me matar, mas fora isso eu estou bem.

–Vai mesmo assumir o trono?

Mary suspirou:

–Eu bem que queria, mas não posso. Colocaria as pessoas em risco. Ruby seria uma Rainha melhor do que eu.

–Vocês duas seriam grandes rainhas. Mas Ruby não quer isso.

–Entendo - Mary sorriu - Minha irmã nunca gostou de pertencer à realeza. Nós sempre fomos aventureiras. Acho que nascemos na família errada.

Killian riu e Ruby remexeu um pouco.

–Killian...-murmurou sonolenta.

–Estou aqui, amor. E Mary também.

Ruby piscou algumas vezes e viu a irmã sorrindo para ela. A princesa se sentou ainda meio sonolenta.

–Oi. Quando foi que chegou? - perguntou a Mary.

–Há mais ou menos uma hora. Mamãe disse que você estava aqui então vim ver como estava.

–Estou bem... você viu...o corpo?

Mary assentiu.

–Nem parece o Anthony que eu conhecia - disse tristemente - No fim ele preferiu abraçar a morte...

Ficaram em silêncio por um tempo, cada um com seus pensamentos. Alguém bateu à porta e Mary se levantou para abrir.

–Entrem!

–Meu irmão está aqui? - Will perguntou e então viu Killian– Preciso falar com você.

–Já volto! - disse Killian a Ruby.

O Capitão saiu e Tinker Bell entrou. Estava meio chorosa e parecia realmente triste.

–Que aconteceu, Tink?

–A Fada Azul tirou minhas asas - disse e foi se deitar ao lado de Ruby– Eu escolhi ficar com Will e ela me castigou.

–Ah Tink... sinto muito.

–Está tudo bem. Olha, vamos nos casar - ela mostrou às irmãs Blanchard o anel que Will lhe dera. Era visível o quanto a fada estava feliz por isso.

–Alguém falou em casamento? - Mabel entrou no quarto.

–Tink e Will irão se casar - Mary anunciou.

–Verdade? Ah bem que podemos fazer um casamento triplo, o que acham? - Mabel estava animada.

–Quadruplo– Ellanor apareceu acompanhada de Ariel. - Smee e eu também vamos nos casar.

–Oi Mary! - Ariel se aproximou para abraçar Mary Margaret. Elas eram boas amigas e não tiveram muito tempo para conversar na última vez que se viram. - Parece que todas irão se casar. Menos eu...

–E eu - Mary suspirou.

–Como assim? - Ruby a olhou - E o James?

–Ah... James vai se casar com Abigail. Já até marcaram o casamento. Não há nada que eu possa fazer.

–Como não? - Ellanor se acomodou na cama de Ruby– Vá até lá e diga que o ama.

–Mas eu disse que não o amava... o pai dele me obrigou a isso. E tudo porque o reino dele tem um acordo com o reino do Rei Midas. O pobre James vai se casar com alguém que não ama.

–O amor sempre vence - Ellanor afirmou - Se o amor de vocês é verdadeiro, então vocês ficarão juntos.

Mary sorriu sentindo uma pontinha de esperança crescendo dentro dela. Ruby estava melhor agora que as amigas tinham vindo consolá-la. O Capitão pedira a elas que tentassem animar a princesa e foi exatamente o que fizeram. Começaram a rir como adolescentes bobas e Mabel contava piadas. Ruby riu algumas vezes e até se esqueceu de seus problemas. Depois elas começaram a fazer planos para o casamento e a conversa acabou gerando briga. Ruby queria se casar num jardim florido, enquanto que Ellanor fazia questão de se casar numa floresta. Mabel disse que deviam se casar na praia, enquanto que Tinker Bell queria que a cerimônia acontecesse numa montanha. Depois veio a escolha do vestido. Mabel disse que todas deviam se casar de branco, como manda a tradição. Ellanor, sendo bruxa, queria se casar de preto. Ruby não era do tipo de gente que segue tradições, e já que não se tratava de uma cerimônia formal, queria se casar de vermelho, sua cor favorita. Já Tinker Bell gostaria de se casar de verde.

–Não vai dar certo - Ellanor disse rabugenta - Acho melhor cada uma se casar do jeito que quiser.

–Temos que entrar num acordo, meninas - falou Tink.

–Devíamos consultar nossos noivos - Mabel sugeriu - Eles também têm o direito de opinar.

–Homens não sabem nada - Ellanor bufou - Se dependesse de Smee, ele só pensaria na comida e esqueceria o resto.

As garotas riram e todas foram dormir porque já estava tarde. Quando o Capitão voltou, Ruby esperava por ele.

–O que Will queria?

–Estávamos falando sobre o casamento - o Capitão preparava-se para trocar de roupa. - Pelo menos uma vez na vida meu irmão concordou comigo. Queremos que seja uma data especial para vocês.

Ruby sorriu.

–Vovó sabe que está aqui?

–Sabe. Eu disse a ela que você precisa de mim neste momento, então ela me deixou ficar desde que a porta não ficasse trancada.

Eles se deitaram abraçados e Ruby teve dificuldade para dormir. Milhões de pensamentos passavam por sua cabeça e ela ainda ficara preocupada depois que Ellanor dissera que haveria um momento de grande tristeza em sua vida. Ruby só podia imaginar que ela perderia alguém muito amado.

–Que foi? - o Capitão notou a preocupação da princesa - Aposto que está pensando no que Ellanor disse.

Ruby assentiu:

–Estou com medo...

–Não tenha medo, vou sempre estar aqui com você. - ele acariciou sua bochecha macia - Vou lhe contar uma história.

E assim o Capitão começou a contar mais uma de suas histórias. Ruby nunca sabia se elas eram verdadeiras, já que Killian sempre exagerava em suas narrações, mas ela acabou dormindo depois de um tempo, enquanto o Capitão lhe contava a história de como foi salvo por Smee.

–Vou sempre estar aqui pra você, minha princesa - o Capitão sussurrou quando ela dormiu

***

O castelo amanheceu cheirando à morte e tristeza. Havia algo de ruim e fúnebre no ar morno daquele dia de outono e Ruby teria ficado o dia todo na cama não fosse o enterro. Ela se vestiu de preto e saiu para os fundos do castelo, onde enterravam os mortos. Havia um extenso jardim florido e coalhado de árvores e umas lápides meio velhas e empoeiradas. A princesa e o Capitão andaram de mãos dadas e pararam sob a sombra de um grande carvalho.

–Nunca gostei de cravos - disse Ruby. O ar cheirava a cravos e havia vários deles por ali, enfeitando o local. Ruby fez força para não espirrar e o Capitão a abraçou meio de lado.

Tinker Bell e Will vieram caminhando. A pequena fada trocara o vestido verde por um preto e soltara os longos cabelos. Ela até ficara bonita assim e Will parecia achar o mesmo, pois não desgrudava os olhos dela. Depois vieram Ellanor e Smee, acompanhados de Mary, Ariel, Mabel e Beto. Juliet era amparada por Vovó e Anita. A probre senhora já nem tinha lágrimas, já que passara o dia anterior chorando. Ruby viu outras pessoas conhecidas, alguns nobres, e reis e rainhas de reinos vizinhos. Embora Anthony tivesse sido um crápula, as pessoas acharam que deviam ir ao enterro.

Guardas vestidos em fardas vieram trazendo o caixão. Ruby não queria ter que ver aquilo, mas eles depositaram o caixão bem perto de onde ela e o Capitão estavam. Anthony era um corpo frio e pálido que descansava em meio a flores. Até parecia que estava dormindo. A princesa sentiu os olhos marejados, mas não chorou. As pessoas se aproximaram para ver o corpo e a princesa se afastou.

–Eu sinto muito - o Capitão sussurrou para ela.

–Não sinta... ele escolheu isso...

A princesa enxugou os olhos com um lenço e viu uma mulher meio escondida entre as árvores. Ela usava um longo capuz na cabeça e observava tudo de longe. Ruby ficou imaginando quem seria aquela quando a mulher olhou para seu lado e se assustou. A jovem princesa ficou intrigada depois que a mulher saiu andando apressada e sumiu.

–Quem era aquela? - Killian perguntou. Eles não tinham visto o rosto da mulher.

–Não faço ideia.Pelo visto alguém que conhecia meu pai.

As pessoas ficaram ali por um tempo. Conversavam sobre assuntos aleatórios e vez ou outra Anthony virava assunto da conversa. Diziam que ele era um bom homem, mas fora corrompido pelo dinheiro. O cenário era um mar de flores e borrões pretos. O aroma era uma mistura de cravo e terra. Os sons eram uma música de vozes e pranto. Ruby quase podia sentir o gosto da morte. Quase podia tocar nela. Era como se ali houvesse uma presença invisível, algo que pairava sobre o corpo morto e as pessoas. A princesa não sabia como explicar, mas havia algo de muito estranho acontecendo por ali. Mas a morte era mesmo algo estranho, algo desconhecido. Para onde ele teria ido? Ruby não achava que seu pai merecia ir para o céu.

–Vamos dar uma volta - ela disse ao Capitão. Eles caminharam por entre as lápides, Ruby parecia gostar disso, embora fosse meio sinistro. Ela reconhecia as lápides de seus parentes mais próximos e resolveu depositar flores nos túmulos.

Depois de um tempo, resolveram que era hora de enterrar o corpo. Todos tinham mais o que fazer, não podiam simplesmente ficar por ali pajeando o corpo morto de Anthony. Vieram músicos portando violinos e uma enorme coroa de flores foi pendurada a uma árvore. Mary chorava a um canto, consolada por Ariel. Outras pessoas, as mais próximas de Anthony, lamentavam sua morte e enxugavam os olhos. Alguns homens cavavam uma cova.Juliet beijou a testa do filho morto e resolveu dizer umas palavras:

–Todos sabemos que Anthony cometeu muitos erros. Mas ele era humano, apesar de tudo. Ele é meu filho querido. Sempre vai ser. Não me orgulho do que ele fez, mas sou uma mãe... e toda mãe deve saber perdoar seus filhos. É por isso que eu o perdoo, Anthony Otavius II. Você sempre será um rei para mim. Descanse em paz, meu filho.

Algumas pessoas aplaudiram e os músicos começaram a tocar uma marcha fúnebre, enquanto o caixão era fechado. O Capitão apertou a mão de Ruby, pois sabia que ela não ia continuar forte por muito tempo. Ela não chorara mais, mas estava se segurando. Os guardas pegaram o caixão e ele foi descido até a cova recém cavada. As pessoas se aproximaram para atirar flores sobre o caixão. Ruby ficou parada ao lado do Capitão, apenas observando. Depois vieram as pás e a terra jogada por cima do caixão. Esse era o fim de todos: uma casa a sete palmos de profundidade, terra por todo lado e uma cama de flores como companhia. Ruby foi ficando triste conforme a música tocava mesclando-se ao som das pás levantando terra. Seus olhos derramaram água e ela não pode conter o choro. Mais uma vez, Killian foi seu consolo, o ombro que ela precisava para chorar. Ele a abraçou forte enquanto ela derramava suas lágrimas em seu casaco de couro.

Quando acabou, havia uma nova lápide:

Anthony Otavius II

Filho e pai amado.

Descanse em paz.

As pessoas caminharam de volta para o castelo, uma multidão vestida de preto. Mas Ruby ficou. E o Capitão ficou junto dela. A princesa caminhou até o túmulo do pai, Anthony fora enterrado bem debaixo de uma árvore. Ruby olhou para Killian, dizendo que ele podia retornar ao castelo. Ele entendeu que ela precisava desse momento.

–Você vai ficar bem sozinha? - perguntou preocupado

–Sim. Eu preciso disso...

Killian assentiu e fez seu caminho até o castelo. Ruby enxugou as lágrimas que cismavam em escorrer por seu rosto e apanhou duas rosas que cresciam no jardim: uma branca e uma vermelha. Ela furou o dedo no espinho de uma delas e ignorou o sangue que escorreu. Ajoelhou-se perto do túmulo, depositou as duas rosas sobre a terra e começou a falar com o pai, como se ele pudesse ouvi-la.

–Agora o senhor vai descansar sob a sombra dessa árvore - disse - É um lugar bonito. Vou visitá-lo sempre que puder. Sabe, pai... eu tive muita raiva do senhor e também medo... medo de que você me separasse de Killian, medo de que destruísse minha vida, medo de que destruísse o restinho de amor que eu ainda sinto por você... Eu poderia odiá-lo e até pensei que odiasse. Mas perder você me mostrou outra coisa. Eu ainda me importo e lamento que tenha acabado assim. Por mais que eu tente odiá-lo, não consigo. Eu nunca vou conseguir sentir raiva. O que o senhor me fez é quase imperdoável, mas eu o agradeço por isso. Eu conheci Killian, o amor da minha vida. Eu o amo e juntos construiremos nosso legado. Obrigada por me trazer a este mundo e obrigada por me fazer seguir em uma jornada em busca do amor. Eu o amo, papai. Eu o perdoo. Lembra todas as vezes em que me contou uma história? Lembra como eu ficava esperando por um beijo de boa noite? Lembra que eu tinha medo do escuro e o senhor se sentava ao meu lado até que eu dormisse? É, eu nunca vou me esquecer... Espero que o senhor vá para um lugar melhor. Durma em paz, papai...

***

Ruby retornou ao castelo e Killian esperava por ela. Ela nem precisou pedir que ele a abraçasse, pois o Capitão simplesmente a sufocou num abraço. Eles caminharam devagar pelos corredores frios do castelo. Nenhum dos dois disse nada, mas o Capitão apertou a mão de Ruby como se dissesse: Estou aqui para você. Ellanor veio andando apressada até eles.

–Capitão, eu vi uma coisa. - disse - Seu pai. Seu pai está vindo até você...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, eu tentei fazer essa parte do enterro soar meio poética rsrs Me inspirei em minhas próprias experiências com cemitérios e enterros para escrevê-la.
Leiam minha nova fic e façam uma autora feliz:
http://fanfiction.com.br/historia/479064/Ill_never_stop/
Vou tentar postar o próximo mais rápido possível. Beijos e até a próxima



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