Como Irritar Um Capitão Pirata escrita por Mrs Jones


Capítulo 31
Capítulo 27 - Killian e o pé de feijão


Notas iniciais do capítulo

Demorei mas cheguei rsrs Eu fui pra Paraty - RJ e só cheguei na segunda e fui escrevendo o capítulo aos poucos, por isso demorei tanto. Mas até que valeu a pena porque o capítulo ficou com mais de 10.000. Eu merecia um descanso né gente kkkk Estou mais preta que carvão e digo a vocês, se tiverem a oportunidade de ir à Paraty vcs vão adorar. Foi a minha terceira viagem para lá e minha imaginação correu solta imaginando o Jolly Roger atracando na praia e Killian Jones vindo com sua tripulação kkkk eu sei que sou meio louca, mas uma escritora sempre imagina essas coisas. Tenho que agradecer a querida Reet por mais uma recomendação. Obrigada!
Pra esse capítulo me inspirei no episódio Talahasse (usei algumas falas dele) em que a Emma e o Hook escalam o feijão. E me inspirei também no filme Jack O Caçador de Gigantes (ótimo filme, por sinal). Enfim, espero que gostem e comentem (minhas leitoras sumiram, onde estão elas?) Beijinhos



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Capítulo 27 – Killian e o pé de feijão

O Capitão reuniu sua tripulação para discutirem o que era melhor para todos. Agora que haviam adotado um regime democrático no navio, todos tinham direito de opinar e votar. Fizeram uma reunião ali mesmo no convés e todos se acomodaram como puderam. Ruby assumiu o lugar do Capitão enquanto Killian tomava a palavra para explicar a situação. Contou da conversa que tivera com a Fada Azul e explicou que a única maneira de fugirem para outro mundo, seria através de feijões.

– Feijões? – Will franziu a testa

– Sim, feijões – respondeu o Capitão – Feijões mágicos que podem nos transportar para outros mundos.

– Certo, e onde é que encontramos esses feijões? – perguntou John.

– Num pé de feijão, é claro – Killian disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo – E esse pé de feijão não fica muito longe daqui, segundo a Fada Azul. Tudo o que temos que fazer é navegar por umas horas, adentrar pela floresta e escalar um pé de feijão.

– O que quer dizer com escalar um pé de feijão? – Will estava cada vez mais confuso. O Capitão balançou a cabeça, impaciente com a burrice do irmão.

– Eu quero dizer, realmente escalar um pé de feijão, do mesmo jeito que se escala uma árvore. Mas esse pé de feijão é enorme e sobe até as nuvens. E nas nuvens há um castelo de gigantes. E os gigantes são os seres que cultivam os feijões. – ele explicou calmamente.

Todos ficaram meio confusos, boquiabertos e até surpresos. O Capitão não estaria mesmo pensando em subir por um pé de feijão e se meter com gigantes apenas para conseguir um feijão mágico, estaria?

– E então, o que acham? – ele abriu os braços e sorriu, esperando que alguém concordasse que aquilo era o melhor a ser feito. Os marujos e moças se entreolharam, mas ninguém se atreveu a falar

– Ah vamos lá, estou dando a vocês a chance de opinarem...

– Bem – Jack se levantou – Para mim parece um tanto arriscado, mas se é o melhor para nós...

– E quem seria a pessoa a escalar o feijão? – John questionou.

– Eu irei sozinho se ninguém mais quiser. Entendo que é uma situação de risco e não estou obrigando ninguém a fazer parte disso. – disse o Capitão.

– Eu vou! – Ruby bradou de onde estava, enquanto virava o leme suavemente.

– Não vai não. Você vai ficar aqui em segurança.

– Mas é claro que eu vou. – ela rebateu – Você não manda em mim, eu tenho livre arbítrio.

O Capitão suspirou e revirou os olhos. Como ele odiava quando Ruby vinha com aquele seu discurso. Antes que os dois começassem a brigar, Smee – ainda adoentado – levantou um braço trêmulo e perguntou:

– Poderíamos ir para qualquer outro mundo que quiséssemos?

– Mas é claro. – o Capitão disse animadamente – Há dezenas de mundos por aí, pelo o que sei. Oz, Agrabah, o País das Maravilhas...

– Bem, entre enfrentar os corsários e enfrentar os gigantes, eu prefiro os corsários – falou Thomas.

– Eu concordo – disse Joe.

– Vocês não sabem como os corsários são – Liza tomou a palavra – São sanguinários e estão em maior número. Vocês viram o que fizeram com aquele navio. Quase me mataram.

– Então o que me diz, querida? – o Capitão perguntou.

– Vamos atrás dos gigantes!

– Ah, eu meio que concordo com ela, mas... gigantes... como é que vamos roubar feijões de criaturas que têm cem vezes o nosso tamanho? – perguntou Jack ajeitando seu tapa-olho.

– Ora, e quem falou em roubar, meu caro irmão? – Killian caminhou entre os marujos – Tudo o que temos que fazer é convencê-los a nos dar os feijões. Ou podemos dar algo a eles em troca.

– Certo. E o que poderia interessar a gigantes? – indagou Ellanor.

– Ora, nós diga você já que é uma charlatã aproveitadora – Beto resmungou antes que pudesse se conter. Ellanor ficou vermelha de raiva e se levantou para encarar o garoto.

– Seu moleque atrevido! Como se atreve a falar comigo dessa maneira? – ela gritou para ele.

– Ele bem que está certo – John interveio para defender Beto – Sabe do que mais? Devíamos entregar essa bruxa para os gigantes, assim ficávamos livres dela logo.

– Ora, mas que audácia! – ela arregalou os olhos – Smeezinho, você não vai me defender?

– Eu não! – Smee falou com a voz rouca – Eles bem que estão certos...

– Grrr! Bando de ingratos! Eu vou amaldiçoar todos vocês. – e ela saiu em direção ao porão, batendo os pés.

– Não se preocupem – Smee riu – Ela não vai fazer nada.

– Certo. Acho que devíamos fazer uma votação – o Capitão voltou a falar – Quem acha que devemos ir atrás dos feijões?

A maioria levantou a mão, de forma que ficou decidido que iriam escalar aquele pé de feijão. Killian ficou bastante satisfeito e voltou ao seu lugar ao leme, onde Ruby o abordou com dezenas de perguntas.

– E então, o que gigantes gostam de comer?

– Ah de tudo um pouco, sabe. Mas o que eles gostam mesmo é de princesas metidas a aventureiras e sabidas.

– Ora! – ela deu um tapa no braço do Capitão e ele apenas riu.

– Estou falando sério, é o prato preferido deles. Ainda mais se essas princesas forem atrevidas e excepcionalmente lindas.

– Ah eu gostei do “excepcionalmente linda”, mas não sou atrevida...

– Ah não, você é apenas um pouco intrometida e nervosinha. Mas até que eu gosto disso.

Ela riu e perguntou se o Capitão já vira gigantes antes.

– Ah mas é claro. Sabe, um dia eu estava caminhando por aí sozinho. Os marujos tinham ido beber numa taberna e todos eles caíram de tão bêbados, mas eu quis explorar a floresta. Acabei encontrando uma montanha e resolvi subir nela para apreciar a paisagem. Mas qual não foi meu susto ao me dar conta de que não era uma montanha? Era um gigante que estava deitado ali. Ele dormia tão profundamente que nem notou minha presença. Então eu roubei uns tesouros que ele trazia com ele e tratei de voltar correndo para o navio. Até hoje ele deve estar dando falta das moedas de ouro que roubei.

Ruby apenas sorriu sem saber se aquela história era verdade ou invenção.

– Eles não são muito amigáveis, não é? – ela perguntou.

– Claro que não. Tudo o que eles querem é quebrar todos os seus ossinhos e fazer de você o prato principal – Se o Capitão tinha intenção de assustar Ruby, não conseguiu. A moça sabia que Killian iria dizer tudo o que pudesse para fazê-la desistir da ideia maluca de ir com eles na escalada do pé de feijão.

– Como você descreveria um gigante?

– Ahn bem, eles têm cem vezes o nosso tamanho, são bem corpulentos e não gostam muito de humanos. Também cheiram muito mal. Você não vai gostar nada deles.

– Só está dizendo isso para me impedir de ir com você.

– Talvez. Mas quando estiver em perigo com os gigantes perseguindo você, não espere que eu vá salvá-la.

– Ah, mas você iria, não iria? Ou ia me deixar para morrer?

– É claro que eu iria, mas por favor, não me faça precisar ir salvá-la mais uma vez...

– Ora! Pensei que se importasse comigo.

– Você sabe que me importo, meu amor, mas estou implorando, fique em segurança no navio.

– Ah não, eu quero ir... – ela choramingou.

– Mas que raios você quer ir fazer num pé de feijão?

– Eu quero ir atrás das aventuras. Ah, por favor, Killian. Eu nunca escalei um pé de feijão e também nunca vi gigantes e nunca vi castelos construídos nas nuvens. Eu vou estar perfeitamente segura com vocês.

O Capitão sabia que era uma péssima ideia, mas Ruby estava tão radiante com a ideia de escalar um pé de feijão que ele não teve coragem de impedir que ela fosse. Ele apenas continuou tentando fazê-la desistir.

– Você lembra o que aconteceu na Ilha das Tarântulas – ele disse encarando-a com aqueles olhos perfeitamente azuis – Implorou pra que eu permitisse que você fosse e depois acabou por se arrepender e quis voltar.

– Ah, mas aquilo foi outra história! – ela exclamou – E, além disso, foi lá que aconteceu nosso primeiro beijo de amor e se não fosse assim, talvez você nunca tivesse admitido que me ama.

O Capitão riu até não poder mais.

– Você acha mesmo? Pois naquela altura eu já estava mais do que apaixonado por você...

Alguém pigarreou atrás deles. Era Will.

– Desculpe interromper o momento romântico, mas será que alguém tem notícias da Tink?

– Legal de sua parte se preocupar com ela. – o Capitão falou – Pensei que se importasse mais com a Liza.

– Liza e eu terminamos – o rapaz informou – E para o seu governo, eu me preocupo demais com a Tink.

– Ah, mas é claro. Se preocupa tanto que fez a coitada sofrer e olhe agora, ela foi atrás da morte.

– Killian! – Ruby ralhou.

– Está bem – Will suspirou – Reconheço que tenho uma parcela de culpa. Mas é que eu estava encantado pela Liza e... bom, eu acho que sempre vi a Tink como uma menina.

– Ela não é uma menina e você já devia saber – Ruby tomou as dores da amiga e resolveu falar umas poucas e boas para Will – Ela te adora e você era como um herói pra ela, mas você é muito burro, Will.

– Olha, até que enfim alguém concordou comigo – o Capitão riu satisfeito por Ruby ter reconhecido o quanto seu irmão era um imbecil.

– Eu sei, eu sei... Demorou, mas eu finalmente percebi. Ela gosta mesmo de mim, mas sou tão burro que a magoei e agora ela foi embora. Pode até estar morta...

– Não diga isso! – Ruby se arrepiou toda – Se você não fosse meu cunhado, eu já teria esbofeteado sua cara. Isso não se faz com uma dama!

Killian se dobrou ao meio de tanto rir e Will fez cara de indignação.

– Mas até você está contra mim agora?

– Estou sim, porque sei bem o quanto Tinker Bell sofreu por sua causa. Ela passou noites inteiras chorando e até se convenceu de que não era boa o bastante para você. Ela largou a Terra do Nunca por você, Will.

– Eu não fazia ideia... Céus, o que eu fiz?

– Receio que agora não há mais o que fazer – o Capitão se intrometeu – Ela nunca vai te perdoar.

– Ah cale a boca! – Will foi se sentar nuns caixotes e ficou lá, cabisbaixo.

– Ah como o amor é complicado! – o Capitão suspirou – Ainda bem que eu só me apaixonei uma vez...

Ruby riu e em seguida resolveu botar o Capitão contra a parede.

– Agora, Capitão, eu quero saber o resto.

Killian ficou preocupado. Agora que Ruby estava habituada a chamá-lo pelo nome, ele sabia que ela só o chamava de Capitão quando a coisa era séria.

– Que resto? – ele se fez de desentendido.

– O resto da sua conversa com a Fada Azul. Sei muito bem que ela não esteve aqui só para falar de feijões. Conte-me o resto.

Droga, porque ela tinha que ser tão esperta? Killian bem tentou enrolar, mas não tinha jeito.

– Mas que resto? Nós apenas conversamos sobre feijões. A Fada Azul ia passando então perguntei se ela não podia nos ajudar com os corsários, aí ela me contou a história do pé de feijão. Apenas isso.

Ruby estreitou os olhos:

– Killian Robert Jones, é melhor me contar tudo ou eu chamo a Fada aqui e faço ela me contar.

– Está bem, está bem! Ela veio aqui para falar do meu pai...

Will ficou interessado na conversa e se aproximou.

– E o que ela disse? – o rapaz perguntou.

– Bem, a situação é complicada – o Capitão coçou a cabeça, nervoso – Ela encontrou nosso pai, mas ele foi feito prisioneiro por um tal de Rumpletilssim.

– Rumple o quê? – perguntaram Will e Ruby juntos.

– Rumpletilssim! – o Capitão pronunciou errado mais uma vez – O Senhor das Trevas. A fada acha que nosso pai pode ter feito algum acordo com esse Senhor das Trevas e acabou virando prisioneiro. O caso é que ela não pode libertá-lo e talvez o único jeito de ajudá-lo seja fazendo outro acordo com esse Rumple sei lá das quantas...

– Ai, ai, ai... – Will murmurou botando as mãos na cabeça – Mas será que pobre só tem desgraça? Não basta estarmos sendo perseguidos por corsários e Tinker Bell correndo risco de morte, agora ainda me aparece esta.

– Will, uma coisa de cada vez. Primeiro vamos resolver a questão dos feijões mágicos, depois pensamos no papai.

– E esse tal de Rumple... como era mesmo? – Will ergueu as sobrancelhas, tentando se lembrar.

– Rumpletilissim – disse o Capitão.

– Você tinha dito outra coisa.

– Ora, tanto faz...

– Esse tal de Rumple é tão poderoso assim?

– Bem, suponho que se ele é o Senhor das Trevas, provavelmente deve ser mais forte do que todas as bruxas e fadas juntas. – Killian falou pensativo

– Ai, ai, ai... – Willian pôs as mãos na cabeça – estamos perdidos. Se implorarmos por misericórdia, será que ele nos poupa a vida?

– Ele não vai nos matar, idiota – O Capitão revirou os olhos – Vamos apenas fazer um acordo em troca de ele libertar nosso pai.

– Que seja! Agora me diga uma coisa, como é que você pretende encontrá-lo? Suponho que se ele é o Senhor das Trevas, não deve andar por aí se exibindo, não é?

– Bem, ainda não pensei nisso. Já disse, Will, uma coisa de cada vez – o Capitão falou irritado.

– Acalmem-se, rapazes – Ruby tentou tranqüilizá-los. – Vocês não sabem que coisa ruim é atraída pelo nome? Basta dizer o nome desse Rumple alguma coisa e ele certamente deve aparecer na nossa frente.

– Ah, mas então não vai adiantar de nada porque nem sabemos pronunciar esse maldito nome direito – Will voltou a se sentar, desanimado.

– Quando a Fada voltar aqui eu pergunto a ela. – disse o Capitão, já meio impaciente - E acho que por enquanto você devia se preocupar com a pobre Bell. Além de tudo, ela já decepcionou a Fada Azul e está por um triz de deixar de ser fada.

– Como é que é? – Will arregalou os olhos e se levantou encarando o irmão. – Como assim? Você não quer dizer...

– Que ela vai perder as asas caso perder a única chance que ainda tem.

– Não podem fazer isso com ela. A Tink é um amor... Ela não fez mal a ninguém...

Só serviu para deixar Will mais arrasado do que já estava. Ruby bem tentou animá-lo um pouco, mas não adiantou. Ele ficou lá com o olhar perdido e não falou mais nada. Ouviu-se um vozerio vindo do andar de baixo. Ao que parece, Ellanor estava irritada com alguém que andara lhe dizendo umas verdades. O Capitão podia apostar que era Beto, ou John. Quando a barulheira ficou mais alta, Killian teve que abandonar o leme e ir ver o que estava acontecendo.

– Você está mesmo gostando disso, não é? – Will perguntou a Ruby, que agora segurava o leme.

– Ah é algo que eu nunca tinha feito, comandar um navio...

– Você está indo bem. Realmente se tornou uma deles.

– E você também não se tornou?

– É, mas não é como a vida que eu imaginei pra mim, sabe? Eu sempre sonhei em fazer algo de que me orgulhasse.

– Você pode se orgulhar disso. Eu quero dizer, não deve pensar em roubar ou passar as pessoas para trás, como seu irmão já andou fazendo, mas acho que pode se orgulhar por fazer parte dessa família. Eu me orgulho.

Will sorriu:

– Sabe que eu vejo vocês dois juntos e imagino logo umas quinze crianças correndo por este navio?

– Quinze? Não exagere, Will. – Ruby riu.

– Eu ia gostar de ter uns sobrinhos, se é que vocês pensam em ter filhos...

A moça sorriu meio envergonhada.

– Bem, não pensamos nisso ainda. Mas tenho quase certeza de que o Killian vai querer pelo menos um filho.

– Até mais de um se você quiser – O Capitão veio caminhando na direção deles. Trazia o papagaio que Ruby ganhara de Smee empoleirado no ombro - Esse seu bichinho de estimação andou causando problemas. Parece que alguém andou ensinando a ele a ser sincero e agora ele está dizendo umas verdades por aí. É melhor cuidar dele, Ellanor ameaçou transformá-lo em estátua se ele continuar a insultando.

O papagaio pulou para o braço de Ruby e ficou a olhando com um ar de inocência.

– Que foi que você andou aprontando ein? – ela perguntou como se ele fosse uma criança.

– Nada! – ele disse com sua voz cantada – Sou apenas um papagaio sincero!

– Oh e muito inteligente também! – Will se surpreendeu – Os outros papagaios não são assim, não é? Pensei que eles dissessem apenas palavras e frases decoradas.

– Num mundo cercado por magia, era de se esperar que até os papagaios fossem espertos. – Killian explicou voltando ao seu lugar ao leme.

– Agradeço o elogio. Sou mesmo muito inteligente e sincero. – disse o papagaio.

– E muito convencido também – o Capitão murmurou.

– Cale a boca, pirata. Você não passa de um metido e ganancioso. Parece mais um urubu com essas roupas pretas... – o papagaio resmungou.

– Ei, não fale assim dele – Ruby defendeu o Capitão.

– Foi ele quem começou, esse %$&¨%#@#$%#¨- o papagaio disse um palavrão e Ruby ralhou com ele. O Capitão riu e disse que o papagaio acabara aprendendo palavrões com os piratas.

– Ele precisa de um nome – sugeriu Will – Que tal... Billy?

– Billy? Ele não é uma pessoa, Will. Boca Suja combina mais – falou Killian.

– Nada disso, o nome dele vai ser Ernest – e Ruby deu por encerrado.

– Ernest? – Will e Killian franziram a testa.

– Ernest era o nome do meu cavalo preferido. – a moça explicou – O coitadinho morreu e depois disso eu nunca mais tive nenhum animal de estimação.

– Ernest? – o papagaio guinchou – Que nome mais bobo. Que seja Sir Ernest I.

E assim ficou. Ernest, ou Sir Ernest I, voou para um dos mastros e lá ficou. Ele cantarolava canções de piratas e o Capitão já não suportava aquela voz rouca. Talvez ele devesse ter deixado Ellanor transformar o pássaro em pedra.

Iam se aproximando do pé de feijão. Killian supôs que a Fada Azul tivesse encantado sua bússola, porque ela agora apontava na direção que deveriam seguir. Já no começo da tarde, eles avistaram uma praia deserta, onde atracaram.

– Ruby, meu amor, cuide de tudo durante minha ausência – O Capitão disse a Ruby e ela pôs as mãos na cintura.

– Do que está falando? Eu vou com você!

– Ah não. Você não entendeu. Eu não estou dando a você o direito de escolha...

– Eu vou!

– Não vai!

– Vou sim!

– Não, não!

– Sim, sim!

– Você sabe que é perigoso.

– Sei me defender.

– A escalada vai ser demorada e cansativa.

– Vou ter muito tempo para descansar depois que estivermos de volta.

– Eu já lhe disse que gigantes não são amigáveis.

– Pois então faço eles gostarem de mim.

– Eles vão matar você antes. Depois vão te assar num enorme forno.

Ruby pensou por uns instantes e o Capitão sorriu vitorioso, achando que ela provavelmente desistira de ir com eles.

– Eu vou assim mesmo! – ela rebateu.

– Não!

– Sim!

– Ruby, minha querida, preste atenção: eles são criaturas hostis – O Capitão a pegou pelos ombros e a olhou no fundo dos olhos – São nossos inimigos e quem sabe quantos deles deve haver lá em cima? O melhor é você ficar aqui em segurança.

– Mas, Killian... eu vou ficar bem. Will me ensinou a lutar e, além disso, eu sou ágil e esperta. E não quero me separar de você – ela fez biquinho e o Capitão não conseguiu resistir.

– Está bem, está bem...

Ela sorriu e o beijou no rosto.

– Mas se caso você se arrepender – o Capitão advertiu – nós não vamos voltar...

Will se ofereceu a acompanhá-los e Beto também quis ir, embora Mabel protestasse dizendo que ele ia morrer. Depois Jack resolveu se juntar a eles e foi assim que os três irmãos Jones, pela primeira vez, foram juntos atrás de aventuras. Armados com espadas e portando cordas e uns poucos suprimentos, eles foram de bote até a praia.

– Daqui temos que caminhar até o pé de feijão – disse o Capitão, ajudando Ruby a descer do bote. – Ainda há tempo de desistir...

Os outros quatro se entreolharam, mas ninguém desistiu. Eles então adentraram na floresta e passaram a caminhar em silêncio.

– E então, como vamos convencê-los a nos dar o feijão? – Jack perguntou depois de um tempo.

– Vamos dizer a eles que é por uma causa nobre. – Killian respondeu – Talvez eles se apiedem de nós e resolvam nos ajudar.

– Mas se os gigantes são mesmo tão terríveis como dizem, eles vão logo tentar nos matar, não? – Beto falou o que pensava – Nem vamos ter chance de conversar com eles.

– Bem, em todo caso, ainda podemos roubar os feijões – disse o Capitão – É de se esperar que haja uma plantação cheia deles. Podemos distrair os gigantes, enquanto um de nós rouba os feijões.

– Acho que é uma péssima ideia, mas é você quem sabe – Ruby falou.

– Ei, porque deixou ela vir? – Jack indicou Ruby com a cabeça

– Ah você sabe como ela é. Sempre dá um jeitinho de me convencer – riu Killian.

– Não acha que eu ia perder isso, não é? – Ruby disse a Jack – E, além disso, posso ser uma mulher, mas sou tão corajosa quanto vocês.

– Eu gosto de você, sabia? – disse Beto – Tem uma mente aberta, ao contrário do Capitão.

– Ei, o que quis dizer com isso? – O Capitão virou-se para Beto, mas Will interrompeu:

– Uau! Aquilo é o pé de feijão?

Realmente era o pé de feijão. Um tronco verde, espesso e nodoso que subia até as nuvens. Eles se apressaram a chegar até ele e quando se aproximaram, viram que era muito maior do que aparentava ser.

– Nunca pensei que veria algo assim – comentou Jack, pasmo com o tamanho do pé de feijão. Eles olharam para cima, tentando ver onde o pé terminava, mas era impossível saber, já que as nuvens escondiam o resto.

– E então, o que estamos esperando? – Will perguntou depois que eles ficaram um tempo observando o pé de feijão.

– Eu não sei – disse o Capitão – Vamos indo, então.

Eles se preparam para subir, quando uma voz feminina veio de trás deles.

– Não estão pensando em subir aí, estão?

Viraram-se para olhar e se depararam com uma mulher usando armadura. Devia ser uma guerreira, já que ela se postava como uma. Will ficou a admirando porque ela era muito bonita. Tinha uma pele queimada de sol, cabelos negros e olhos castanhos. Seus olhos eram meio repuxados e seus cabelos eram bem lisos e compridos. Ela amarrou o cabelo num rabo e agora os encarava como que esperando que explicassem o que queriam com o pé de feijão.

– Desculpe, mas... quem é você? – Killian perguntou.

– Meu nome é Mulan e estou atrás de uma terrível besta chamada Yaoguai. Vocês não o viram por aí, viram?

– Yao o quê? – Will indagou.

– Yaoguai – ela repetiu.

– Não, não vimos nada – o Capitão disse, louco para se livrar de Mulan. – Sabe, você devia fazer seu caminho e ir procurar esse Yaoguai, enquanto nós tratamos de nossos assuntos.

Ela suspirou:

– Ele sumiu de novo. Há dias que estou na trilha dele. Mas isso não importa agora. Vocês não vão subir aí, ou vão? – ela apontou o pé de feijão.

– Há assuntos que temos que tratar lá em cima – o Capitão sorriu falsamente e virou-se para começar a escalar.

– Eu não faria isso se fosse vocês. – ela advertiu.

– Sei, sei – o Capitão impacientou-se – Provavelmente irá nos alertar sobre os gigantes sanguinários lá em cima, mas sabemos muito bem no que estamos nos metendo. Então sim, iremos subir.

– Vejo que são piratas – ela disse calmamente e isso irritou o Capitão ainda mais – Então provavelmente estão atrás de duas coisas: riqueza ou... escapatória. Mas eu lhes digo, não vale a pena subir até lá apenas por causa do tesouro.

– Você disse tesouro? – o Capitão interessou-se.

– Ah sim. Então vocês não sabem? Gigantes são donos de tesouros magníficos.

– Não estamos atrás dos tesouros – informou Will.

– Então estão atrás dos feijões. – Mulan disse – Suspeitei desde o princípio. As pessoas só vêm até aqui quando querem enriquecer ou quando querem escapar para outro mundo.

– Sim, sim, a conversa está muito boa, mas temos que ir – O Capitão apressava.

– Pelo visto vocês não sabem...

– Sabemos o quê? – o Capitão ergueu a sobrancelha.

– Os gigantes cultivavam feijões, mas usavam para saquear os reinos, ao invés de usar para o bem. Recentemente aconteceu uma guerra entre humanos e gigantes e os humanos venceram. Os feijões foram destruídos depois do massacre, já que os gigantes não poderiam ter a magia, ninguém mais poderia ter.

– E por que alguém não sobe lá e planta mais? – Ruby perguntou. - Porque um gigante sobreviveu, o mais forte e mais terrível de todos. Mas, já que vocês são corajosos o bastante para subir, então deviam plantar mais...

Os outros quatro ficaram desapontados, mas o Capitão estava desconfiado. Eles não conheciam essa Mulan, como poderiam saber se ela dizia a verdade? Talvez contasse essa mesma história a todos que se arriscavam a subir no pé de feijão.

– É realmente uma história encantadora, mas nós viemos aqui com o objetivo de escalar o feijão e é isso que vamos fazer – o Capitão disse arrogantemente e virou-se para o pé de feijão – Prontos?

– Bem, pelo menos eu avisei. – Mulan se afastou e foi sentar-se a uma pedra.

Porém, quando o Capitão segurou numa das raízes que pendia do pé de feijão, a coisa se voltou contra ele. As raízes e folhas criaram vida, atirando o Capitão para longe. Ele caiu com um baque.

– Killian! – Ruby correu a ajudá-lo – Você está bem?

– Estou – ele se levantou ajudado pela princesa – Mas que droga é essa?

Mulan ria do Capitão e ele voltou-se para olhá-la.

– Eu me esqueci de mencionar que o gigante pôs um feitiço no feijão para repelir intrusos. – Mulan falou ainda rindo e Beto praguejou:

– Droga! Como é que vamos subir?

– Não acredito que viemos aqui para nada – Jack reclamou.

– Você que é tão esperta – o Capitão se dirigiu a Mulan – nos diga como subir no feijão.

– Usando um contrafeitiço! – disse outra voz feminina.

– Ah, mas hoje o dia está propício a escalada, não é? Parece que todo mundo resolveu subir no feijão...

– O mundo não gira em torno de você, Capitão – disse a recém chegada – Há outras pessoas com assuntos a serem resolvidos lá em cima.

– Perdão, mas nos conhecemos? – Killian encarou a mulher que vinha caminhando até eles.

– Não, mas eu conheço você. É o Capitão Killian Jones. – Era uma mulher bonita e bem atraente. Tinha uns cabelos loiros escorridos que caíam sobre os ombros e olhos azuis que pareciam o mar revolto. O sorriso dela era perfeito, seus dentes eram branquíssimos e seus lábios eram carnudos e chamativos. Ruby ficou enciumada ao perceber que a mulher não hipnotizou apenas os outros rapazes, mas também o Capitão. – Sua fama tem rondado os sete mares, Capitão, e mesmo aqui na Floresta Encantada, tem se ouvido falar de um corajoso pirata, capaz de enfrentar o céu e a terra para conseguir o que quer.

– Ah então já ouviu falar de mim – Killian piscou insistentemente, como que tentando se livrar de uma hipnose – Mas não sei quem é você.

– Permita que eu me apresente de maneira apropriada, sou Sírdis, a rainha dos elfos. – ela fez uma reverência.

– Rainha, é? Devo me ajoelhar a seus pés? – disse o Capitão, ainda meio abobado com a beleza da mulher.

– Isso não é necessário – ela riu e afastou uma mecha de cabelo, deixando à mostra uma orelha pontiaguda.

– Pensei que elfos fossem criaturas minúsculas e invisíveis – disse Will, meio tímido.

– E somos. Mas podemos nos tornas visíveis e maiores quando quisermos.

– Você disse algo sobre um contrafeitiço? – o Capitão perguntou antes que Will abordasse a mulher com outras perguntas.

– Disse. Eu ia subir no pé de feijão, mas me parece que vocês também vão. E há algo lá em cima que eu preciso recuperar. Se eu der a vocês o contrafeitiço, trarão para mim o que preciso?

– Então nos dá o contrafeitiço e em troca apenas temos que trazer essa coisa de que você precisa? – Killian indagou e Sírdis assentiu – É, parece justo.

– Os gigantes saquearam nosso reino. – a elfa explicou – Temos nos escondido em outros lugares desde então, mas eles roubaram algo muito precioso.

– E que coisa preciosa é essa? – os olhos do Capitão brilharam

– A minha coroa. Ela é feita de ouro puro e foi fabricada por duendes.

– Perdão, mas... como é que os gigantes encontraram seu reino? Pensei que vocês vivessem em palácios subterrâneos. – falou Will.

– E vivemos. Eles usaram cogumelos de encolhimento. Mas isso não importa agora. Tudo o que eu quero agora é minha coroa, então se estiverem dispostos a trazê-la de volta...

O Capitão concordou em ajudar a elfa, até porque, não havia outro jeito de eles subirem. Sírdis então usou um encantamento nas espadas que eles carregavam, um feitiço forte o bastante para impedir que o feijão os atirasse para longe. Eles se prepararam e Ruby acenou para Mulan e Sírdis. Killian foi o primeiro a subir no feijão, apoiando os pés nas raízes nodosas e emaranhadas e segurando-se nos sulcos do tronco. Depois Ruby subiu, já que o Capitão não queria que ela ficasse muito atrás. Depois vieram Beto e Jack e por último Will.

A escalada exigia esforço físico e paciência. O pé de feijão era seco e áspero, o que ajudava um pouco. Mas eles deviam prestar atenção, pois um passo em falso seria o suficiente para que despencassem.

– Usem as pernas como solavanco – disse o Capitão, um pouco acima de todos – Se tentarem puxar o corpo usando apenas os braços, irão se cansar mais depressa.

Killian mantinha um olho em Ruby, que vinha logo atrás dele. Ela estava indo bem, mas já estava começando a se arrepender. Quando soubera do pé de feijão, achara que a coisa crescia em linha reta, mas agora que haviam subido uma parte significativa, descobriram que em alguns pontos o tronco fazia curvas.

– Vamos descansar um pouco – sugeriu o Capitão.

Nesse ponto o tronco se dividia em duas ramificações: uma subia serpenteando, e a outra se retorcia formando um banco. Eles se acomodaram como puderam e comeram parte dos suprimentos que haviam levado.

– Eu já mencionei que tenho medo de altura? – Beto disse subitamente e todos olharam para ele.

– E o que raios você veio fazer num pé de feijão? – Will questionou.

– Vencer o medo, oras. – o outro respondeu simplesmente – Além do mais, eu queria impressionar minha garota, mostrando como sou corajoso.

Will riu e os outros apenas balançaram a cabeça. Eles recomeçaram a escalada e agora a coisa ficara mais complicada. O tronco se inclinava ligeiramente e era preciso muito cuidado para não escorregar. Por precaução, o Capitão fez com que eles se amarrassem nas cordas. Assim, caso um deles escorregasse e caísse, seria sustentado pelos outros.

– Cuidado agora – avisou o Capitão – Esse pedaço está bem encurvado. Vamos precisar de muita calma.

Tudo correu bem. Embora alguns trechos fossem de grande dificuldade, eles conseguiram subir sem que ninguém escorregasse ou caísse. Passaram por dentro de nuvens que se acumulavam em volta do feijão. Subiram mais um pouco. Ruby já estava morta de cansaço, seus braços doíam e mesmo amarrada ao Capitão, ela temia cair. Havia uma enorme nuvem acima de suas cabeças e uma abertura circular por onde eles passaram, ainda escalando o feijão. Mas ali o pé terminava e eles viram a enorme nuvem que sustentava a morada dos gigantes.

O Capitão testou o chão antes de soltar o corpo e então ajudou Ruby. Era estranho caminhar numa nuvem, mas a sensação que eles tinham era de maciez e leveza. Os outros três desceram do feijão, e maravilhados, olharam para baixo onde avistaram a floresta, a praia de onde tinham vindo, o Jolly Roger e Sírdis com seus cabelos brilhando ao sol.

– Uau! Isso é magnífico – falou Beto – Nunca na minha vida eu teria pensado em caminhar sobre nuvens.

Mais à frente estava o castelo, imponente e assustador. Os raios de sol incidiam diretamente sobre eles, ofuscando um pouco a visão. Não havia nem sinal de gigantes e o Capitão até achou que talvez todos eles estivessem mortos. Nos fundos do castelo, eles puderam ver, havia uma plantação de feijões, mas parecia estar morta. Havia por ali outras árvores frutíferas e todas elas pareciam saudáveis e bem cuidadas se comparadas à plantação de feijões.

– Parece que Mulan estava certa – o Capitão murmurou tragicamente olhando a plantação. Os pequenos pés de feijão estavam secos e escurecidos. Sem dúvida, os feijões haviam sido destruídos.

– Não acredito que subimos até aqui para nada – resmungou Willian.

– Ah, mas só essa vista maravilhosa já valeu à pena – rebateu Jack.

– Talvez o gigante ainda tenha alguns feijões. – Killian pensou alto – Gananciosos como eles parecem ser, duvido que teriam coragem de desperdiçar feijões mágicos.

– E então, qual é o plano? – perguntou Ruby – Entramos escondidos ou damos um jeito de distraí-lo?

– Bem, as coisas estão calmas demais – Will observou – Eu imaginei que o gigante a essa altura já teria nos encontrado.

– Talvez esteja dormindo – falou o Capitão – Escutem, vamos fazer o seguinte: Jack e Will vão dar uma olhada na plantação. Roubem algumas mudas de feijão, talvez elas possam ser replantadas. Enquanto isso, Ruby e eu vamos entrar no castelo e procurar pela coroa e pelos feijões. E Beto fica de vigia.

– Por que eu tenho que vigiar? – Beto reclamou.

– Porque estou mandando – Killian retrucou – Vamos logo, antes que o gigante note nossa presença.

Jack e Will se esgueiraram até a plantação de feijões, enquanto Ruby e Killian se esgueiraram até a porta da frente e Beto se escondeu atrás de uma árvore, resmungando que ele sempre ficava com as tarefas chatas.

– Está trancada? – Ruby indicou a porta e Killian girou a maçaneta.

A porta rangeu quando o Capitão a empurrou e por alguns segundos, eles esperaram que o gigante aparecesse e tentasse matá-los.

– Vamos! – o Capitão sussurrou para a moça, ao mesmo tempo em que entrava no hall do enorme castelo. Eles deixaram a porta aberta, para o caso de precisarem fugir rapidamente.

Acabaram num corredor escuro e que cheirava a mofo. Pelo visto, ninguém fazia a limpeza há tempos. As janelas estavam todas fechadas e eles tiveram de usar os sentidos para se orientar. Ruby acabou tropeçando em algo e a coisa desabou no meio do corredor, fazendo um barulho ensurdecedor.

– Ruby! – o Capitão ralhou depois que o silêncio restabeleceu.

– Desculpe... é uma armadura – ela sussurrou para ele – Como eu ia saber que ela estava aí?

– Tudo bem – ele sussurrou de volta e pegou na mão dela para guiá-la – Vamos andando.

Com aquela barulheira toda, o gigante ainda não dera as caras. Ou ele era muito surdo, ou estava morto. Já no fim do corredor, foram dar num enorme salão e os olhos do Capitão se arregalaram tanto que se assemelhavam a enormes diamantes.

– Pelo amor das fadas... – ele balbuciou abismado.

Havia tanto ouro ali que seria o suficiente para que ele nunca mais precisasse ser pirata. Havia um baú de pirata cheio de moedas de ouro e prata e o Capitão tratou de ir enchendo os bolsos. A própria Ruby estava maravilhada com aquilo, mas seu único objetivo era encontrar a coroa e os feijões.

– Quanto será que dá pra levar lá para baixo? – o Capitão perguntou mais para si mesmo, enquanto roubava tudo o que podia.

– Killian! Não viemos aqui para isso – a Princesa repreendeu.

– Eu sei, princesa, mas não custa nada confiscar umas coisinhas...

– Confiscar? Você não quer dizer roubar?

– Ora, tanto faz!

– Como vamos encontrar a coroa nessa bagunça? – a moça perguntou sem saber por onde começar

– Procurando – o pirata respondeu simplesmente.

Eles começaram a revirar todo o tesouro do gigante e o Capitão furtava tudo o que podia, escondendo jóias e moedas na bolsa que carregava a tiracolo. Entre pilhas de moedas e joias, eles encontraram um cálice de ouro puro. Em menos de um segundo o Capitão “confiscou” o cálice enquanto Ruby admirava um lustre feito de prata e diamantes.

– O gigante já não deveria ter aparecido? – ela notou

– Ah deve estar no meio de um cochilo. – o Capitão encontrou uma tiara de prata - Nem vai notar que estivemos aqui – Ele colocou a tiara em sua bolsa – Gigantes são meio burros.

Nem bem o Capitão terminou de falar e ouviram um barulho de metal reverberando. Ele e Ruby ficaram muito quietos e se esconderam atrás de uma enorme estátua. Certamente o gigante acordara e sentira o cheiro deles. Ruby tremia e o Capitão apenas ficou bem atento ao que viria depois, mas novamente só havia silêncio.

– Deve ter sido o vento – ele falou.

– Vem vindo alguém – Ruby sussurrou.

Ouviram passos no corredor e vozes que sussurravam, então Will botou a cara para dentro do salão, espiando.

– Ah são vocês... – a princesa respirou aliviada.

– Pelo amor das fadas – Will e Jack exclamaram.

– Veja só esse ouro – disse Jack – Podemos levar um bocado lá pra baixo?

– Gente, não viemos aqui para isso – Ruby revirou os olhos, ao que Will e Jack puseram se a colecionar coisas, que escondiam em suas bolsas.

– Acha mesmo que vou perder a oportunidade? – Will olhou para ela – Se alguma vez na vida você já tivesse sido pobre, entenderia.

– É, mas dinheiro não é tudo na vida...

– Vocês encontraram a coroa? – perguntou Jack – Nós apanhamos umas mudas de feijão, mas parecem estar bem mortas.

– Eu bem que estou procurando a coroa, mas o Killian só sabe roubar coisas – ela fez cara feia para o Capitão – Não é, Capitão?

– Ahn é... bem... eu não estava roubando, só peguei umas coisinhas de meu interesse.

– De qualquer modo, é melhor sermos rápidos – advertiu Will – o gigante pode aparecer a qualquer momento.

– Olhem! Tem muito mais ouro – Jack apontou para a sala ao lado, que eles não tinham notado ainda.

Havia muito mais pilhas de ouro e joias e artefatos. O Capitão se arrependeu por não ter trago um saco para poder carregar tudo o que quisesse. Ruby apenas revirou os olhos e continuou a procurar pela coroa. Jack e Will enchiam suas bolsas e de repente Will encontrou algo.

– Olhem isso, deve ser bem valioso – ele disse e mostrou aos outros três um relicário em formato oval. Era de ouro e havia pequenos rubis encravados em volta dele. Ruby subitamente reconheceu aquilo.

– Isso era meu. – ela disse emocionada e Will entregou a jóia a ela. Ela abriu o relicário e havia as fotos de seus pais, pintadas a mão. Ela se lembrava bem de quando ganhara aquilo. Fora seu presente de aniversário de quinze anos – Eu pensei que tivesse perdido...

O Capitão ajudou-a a colocar o colar e depois disso Ruby imaginou que os gigantes poderiam ter roubado mais coisas que pertenceram a seus pais ou a ela mesma.

– Ah parece que você se convenceu a levar umas coisinhas – o Capitão riu quando ela começou a fuçar por entre os tesouros à procura de algo que lhe pertencesse. Ela não disse nada e dali a pouco Jack avistou a coroa.

– Lá em cima. – ele apontou para uma enorme pilha encostada à parede.

– E agora como vamos pegar? – Will se desesperou. Caso voltassem sem a coroa, ele nem queria imaginar o que a elfa Sírdis faria com eles.

O Capitão pôs se a pensar. O salão era iluminado por tochas na parede e elas estavam começando a se extinguir. Eles não queriam nem pensar no gigante. Já passava da hora do almoço e ele provavelmente devia estar desfrutando de sua sesta. Mas se por um acaso ele aparecesse antes que eles tivessem a coroa...

– Esperem aí, como vamos saber se é essa a coroa? – perguntou Jack – Pode haver dezenas de outras coroas por aqui.

– Essa é a única feita de ouro puro, idiota. – retrucou Will.

– O jeito vai ser derrubar tudo isso – Killian por fim disse.

– Ficou louco? Imagine a barulheira que vai dar. Logo o gigante vai vir atrás de nós. Me dêem um impulso e talvez eu consiga puxar a coroa – disse Will.

Assim eles fizeram. Will subiu nos ombros de Jack, mas não conseguiu alcançar a coroa.

– Eu consigo – ele esticava os braços – Basta me esticar um pouqui... opa! – ele desequilibrou e caiu em cima da pilha de moedas, colares, pedras preciosas e objetos, que desmoronou e fez um barulhão daqueles. A coroa acabou por sumir no meio daquele monte de coisas e eles se desesperaram quando o gigante acordou e soltou um berro que estremeceu o castelo inteiro.

– Estamos perdidos – Jack murmurou. Ao que o Capitão gritou que se apressassem a procurar pela coroa.

– Vamos, não podemos descer sem ela. Prometemos a Sírdis que levaríamos a coroa – ele gritou.

Eles atiravam coisas para todo lado e estavam fazendo uma bagunça. O chão começou a tremer quando o gigante veio correndo pelos corredores e até as tochas se apagaram, deixando-os numa sala semi-escura. Por sorte a luz que penetrava pelas janelas era suficiente para que eles enxergassem.

– Depressa! – berrou Jack.

– Encontrei! – Ruby ergueu a coroa e então eles correram para a porta, mas era tarde demais...

– QUEM ESTÁ AÍ? – o gigante berrou sem conseguir vê-los. Tinham se escondido por trás de uma cortina vermelha e rezavam para não serem encontrados – QUEM ESTÁ AÍ? EU VOU ENCONTRÁ-LOS, SEUS PATIFES...

O gigante começou a fungar, tentando localizá-los pelo cheiro, enquanto os quatro se espremiam por trás da cortina. O Capitão pôs a mão sobre sua espada, pronto para o que viesse, e o gigante veio caminhando pela sala e derrubando tudo no caminho.

– RATOS MALDITOS. VOU ENCONTRÁ-LOS. SEUS LADRÕES MISERÁVEIS...

Ruby espiou por um buraco na cortina. O gigante era mesmo enorme, umas cem vezes o tamanho deles, e tão alto que ela não conseguiu ver seu rosto. E que pés enormes ele tinha! E uma barriga também enorme. A princesa ficou arrepiada ao pensar que poderia acabar indo parar no estômago do gigante.

– ESTOU SENTINDO O CHEIRO. CHEIRO DE MEDO! – ele gargalhou – VAMOS, APAREÇAM. DE QUALQUER MODO IREI ENCONTRÁ-LOS...

– Corram quando eu disser – o Capitão sussurrou para os outros três.

– Correr para onde? Estamos perdidos. – Jack soluçou.

– Ele vai nos matar antes de podermos chegar ao feijão – falou Will.

– OUÇO VOZES! EU SABIA! – o gigante veio correndo até onde eles estavam e rasgou a cortina, revelando os quatro humanos que se encolhiam contra a parede – SEUS RATOS IMUNDOS.

– Corram! – o Capitão berrou e eles correram para a saída, mas o gigante foi mais rápido e agarrou Ruby com sua imensa mão gorda.– Ruby!

– Me larga! Me larga! – ela esperneava e o gigante ria apertando-a.

O Capitão puxou sua espada e golpeou a perna do gigante, mas o grandalhão apenas o chutou e o Capitão caiu contra uma pilha de tesouros, espalhando ainda mais coisas pelo chão.

– KILLIAN! –berraram Jack, Ruby e Will juntos.

– Me larga! – Ruby tentava se desvencilhar do gigante – Por favor, eu não lhe fiz mal.

– VOCÊS HUMANOS SÃO TODOS UNS HIPÓCRITAS. MALDITOS! AGORA EU VOU FAZER UMA BELA REFEIÇÃO – ele falou com seu vozeirão e riu.

Will e Jack estavam atordoados sem saber o que fazer. Killian desapareceu em meio à montanha de ouro e joias na qual caíra e Ruby já estava quase desmaiando de tanto que o gigante a apertava. O gigante se abaixou e agarrou Will com a outra mão. Ele começou a gritar como uma mulherzinha e sobrou para Jack a tarefa de salvá-los.

– Me deixe descer! Me solte! – esperneava Ruby.

– Por favor, por favor, não me mata não... – Will implorava quase aos prantos.

– CALEM-SE! – o gigante encarou os dois humanos e por um momento avaliou se valeria a pena assá-los – MAS QUE MAGRICELOS VOCÊS SÃO. QUASE NÃO VALE A PENA COZINHÁ-LOS.

– Isso, isso... eu sou muito magro, não vai querer me comer – disse Will.

– Eu tenho problemas de saúde e você vai adoecer se me comer – falou Ruby.

– É verdade, ela sofre de espirrose aguda, uma doença que causa muitos espirros – Will inventou e Ruby começou a espirrar de mentira.

– AH, QUANTA BESTEIRA! VOU ASSÁ-LOS SIM. OU DEVO FRITÁ-LOS NA MANTEIGA? HAHA, É ISSO QUE VOU FAZER. HOJE O JANTAR VAI SER PIRATA NA MANTEIGA! – e ele ria estrondosamente.

O gigante não aparentava ser mau. Ele até que tinha um rosto bondoso. Seus olhos e cabelos eram de um castanho escuro e ele tinha uma barba bem grande. Parecia um homem que crescera demais. Era meio gordinho e Ruby e Will não queriam pensar que ele só engordara assim por se alimentar de humanos.

O gigante foi levando os dois em direção a cozinha, e só então notou que os outros dois haviam sumido. Jack se aproveitara da distração do gigante e correu para a saída do castelo, enquanto Killian estava desmaiado no meio dos tesouros.

– ONDE ESTÃO OS OUTROS DOIS? AH NÃO IMPORTA! DEPOIS QUE EU COZINHAR VOCÊS, COMO OS OUTROS DOIS DE SOBREMESA!

Ele foi caminhando pomposamente até a cozinha – e quando fazia isso o chão vibrava tanto que eles tinham a impressão de que a nuvem não ia agüentar o peso – e os depositou sobre uma enorme mesa de madeira.

– ACONSELHO A NÃO TENTAREM PULAR DAÍ. A QUEDA SERIA DESASTROSA – ele advertiu e Will e Ruby olharam para baixo constatando que era alto demais.

– Will, o que vamos fazer? – ela perguntou amedrontada.

– Eu não sei... – ele a abraçou meio de lado – Só espero que Jack e Killian apareçam logo para nos salvar.

O gigante assobiava enquanto procurava algo nos enormes armários de madeira da cozinha. Eles viram um enorme espeto pendurado na parede e um enorme forno que fumegava. Talvez ele já tivesse feito uma refeição e não estivesse assim com tanta fome.

– Hum, Senhor Gigante?... – Ruby chamou.

– É ANTON! – ele respondeu, agora afiando uma faca.

– Senhor Anton, o senhor não vai nos comer, não é? Não quando há tantas frutas no seu quintal. Não seria melhor recorrer a algo mais saudável?

O gigante se virou para olhá-la. Talvez estivesse impressionado demais com o jeito que ela falava, escolhendo bem as palavras, de forma que acabou por falar:

– EU PODERIA DIZER QUE VOCÊ É UMA PRINCESA, SE NÃO SE VESTISSE COMO PIRATAS...

– Eu sou uma princesa, mas fui viver com os piratas, o que é uma longa história.

– E DESDE QUANDO PRINCESAS ABANDONAM SUAS VIDAS PARA VIVER COM PIRATAS? A NÃO SER QUE ELAS SE APAIXONEM POR UM PIRATA, ACREDITO QUE ESTARIAM BEM SATISFEITAS POR VIVER EM UM LUXUOSO CASTELO, AO INVÉS DE IR MORAR NUM NAVIO...

– Bem, se elas não tiverem uma escolha, como eu não tive, então acabam tendo que aprender a viver num navio pirata.

Will se sentou, pois pelo visto Ruby ainda ia contar sua história inteira, desde o momento do seqüestro até o momento em que admitiu que amava Killian. Mas então o marujo entendeu o que ela estava fazendo, queria atrasar o gigante, assim Beto, Jack e Killian teriam tempo de ir salvá-los.

– PARECE UMA HISTÓRIA INTERESSANTE. PODERIA ME CONTAR ENQUANTO ESPERO O FORNO ESQUENTAR?

– Bem, se é pra morrer dessa maneira, pelo menos morrerei contando minha história – ela disse dramaticamente e então começou a contar. – Tudo começou quando eu e minha irmã Mary Margaret passeávamos de carruagem pela floresta...

Will começou a arquitetar um plano enquanto o gigante se distraía picando legumes e hortaliças. A mesa era muito alta, mas se ele conseguisse descer por uma corda... As cordas tinham ficado com Killian e na bolsa de Will só havia as coisas que ele tinha roubado, um resto de comida e uma garrafa de rum. Se era para morrer, então era melhor que ele morresse de barriga cheia. Ele começou a comer e beber enquanto ainda avaliava a situação.

– ... e aquele Capitão era tão insensível, desonesto, mandão, malvado... – Ruby ia contando a história.

Anton apanhou um pouco de farinha, que misturou com ovos, leite e sal. Ele preparava uma massa e Will ficou pensando para que seria aquilo. Anton percebeu que Will estava olhando e riu:

– ESTÁ VENDO ISSO? VOU FAZER UM PÃO FRESQUINHO. QUE BELEZA! PIRATA NA MANTEIGA E PÃO.

Will arrepiou-se todo.

– ... e naquele dia ele me fez esfregar o chão como se eu fosse uma empregada...

Ruby não parava de falar. Ela contava a história em detalhes, inclusive descrevendo a roupa que usavam no momento do ocorrido e os sentimentos e expressões do Capitão e dela própria.

– ... eu fiquei com tanta raiva, mas o Capitão apenas se divertia ao me ver daquele jeito. Ele me fez esfregar o convés inteiro e ainda não se deu por satisfeito...

Onde estavam aqueles três que não apareciam logo? Talvez Killian estivesse morto, depois do chute que levou, mas Jack conseguira escapar e certamente pedira ajuda a Beto. Will só esperava que eles fossem rápidos e bolassem um bom plano. Matar o gigante seria difícil, mas talvez conseguissem apenas desmaiá-lo.

– E VOCÊ O MOLHOU TODO? – o gigante riu quando Ruby contou que molhara o Capitão – GOSTEI DE VOCÊ, GAROTA. É MUITO CORAJOSA.

– Ele ficou furioso comigo – ela contou – Me arrastou até o porão dizendo: “Eu lhe dei a chance de trabalhar na cozinha e você a desperdiçou. Poupei sua vida e é assim que agradece? Pois hoje você vai dormir no porão!”

Will riu sozinho ao ver como ela imitava o Capitão. Até o sotaque de Killian ela fazia igual. O gigante também ria e o som de sua gargalhada era semelhante ao de um trovão.

– Eu implorava para que ele não me deixasse naquele lugar frio, escuro e assustador, mas ele era tão sádico e insensível... Me acorrentou lá e disse: “Espero que isso lhe sirva de lição, Princesa. Eu lhe disse que não devia brincar comigo.” E saiu andando todo empertigado e metido – ela imitou a maneira que o Capitão andava e Will caiu na gargalhada.

Ruby continuou contando a história e fazendo o gigante rir. Anton sovava a massa de pão, mas tinha que parar de vez em quando para rir. Will não sabia o que fazer, quando Killian, Jack e Beto entraram na cozinha, pé ante pé.

– Graças aos céus – Will suspirou aliviado.

Os três esconderam debaixo da mesa e o Capitão ergueu uma sobrancelha ao ver que Ruby contava a história do seqüestro e o imitava.

– Olha, Capitão – Beto riu baixinho – Ela te imita igualzinho...

– Ela vai me pagar por isso depois – ele murmurou sério, mas tinha que admitir que Ruby o imitava muito bem. – Will, pegue a corda.

O Capitão tentava atirar a corda para Will, mas a mesa era muito alta e a corda não chegava até lá em cima. Eles deviam ser discretos, para que o gigante não notasse que estavam ali.

– ... uma das panelas começou a pegar fogo – Ruby dizia – e eu e o cozinheiro quase morremos sufocados com a fumaça espessa que tomou conta da cozinha. Felizmente o fogo foi logo apagado, mas eu não me livrei do sermão do Capitão: “Você é um desastre, uma catástrofe. Não sei onde eu estava com a cabeça quando te pus para trabalhar na cozinha. Imagine o estrago que poderia ter causado no meu navio...”

– Eu não falo assim – murmurou o Capitão. – E não ando assim. Ah mas essa espertinha vai se ver comigo depois...

– Ora, mas está igualzinho, Capitão – riu Jack – Ela imita seu sotaque direitinho.

Killian riu e mais uma vez tentou jogar a corda para Will. Dessa vez Will conseguiu apanhar a ponta da corda e a amarrou num saleiro gigante, que ele supôs que agüentaria seu peso. Mas quando já ia descer, o gigante interrompeu Ruby e Will teve que parar o que estava fazendo.

– A MASSA ESTÁ PRONTA. EU MUDEI DE IDEIA. VOCÊ É QUE VAI SER FRITA NA MANTEIGA – ele apontou para Ruby - E VOCÊ – ele apontou para Will, que engoliu em seco – VAI SER ASSADO JUNTO COM O PÃO.

– Não, por favor! Sou muito jovem para morrer! – Will guinchou. O gigante riu:

– NÃO SE PREOCUPE, EU MATO VOCÊ ANTES PARA NÃO SOFRER NO CALOR DO FORNO.

Will observou aterrorizado enquanto o gigante pegava o espeto na parede. Ruby arregalou os olhos e tentou ajudar Will:

– Ei, mas eu ainda não terminei a história.

– NÃO IMPORTA. VOCÊ PODE ME CONTAR O RESTO ENQUANTO SEU AMIGO ESTIVER ASSANDO. – riu Anton.

– Mas...

Killian, Jack e Beto paralisaram sem saber o que fazer, enquanto Will estava prestes a sujar as calças de tanto medo. O gigante levantou o espeto e foi na direção de Will, que gritou como uma mulherzinha em perigo. O rapaz fechou os olhos e esperou pela morte, mas o que aconteceu em seguida surpreendeu a todos. O gigante jogou a cabeça para trás e gargalhou alto. Sua risada soou tão alta que o castelo inteiro tremeu como se tivesse sido pego por um furacão. Will e Ruby quase caíram da mesa e Killian, Beto e Jack caíram uns em cima dos outros.

– DEVIA TER VISTO SUA CARA – o gigante ainda ria e enxugava as lágrimas que escorriam por seu rosto. – GRITOU COMO UMA MOCINHA – e gargalhou de novo, sem conseguir se conter.

– Mas que raios está acontecendo aqui? – o Capitão estava intrigado.

Anton teve que se sentar para conseguir se recuperar e Will estava tão atordoado que nem teve a ideia de fugir.

– EU NÃO VOU MATAR VOCÊS – Anton disse por fim – MAS DEVIAM VER SUAS CARAS. ESTÃO MAIS BRANCOS DO QUE FANTASMA.

Ele pegou Jack, Killian e Beto debaixo da mesa, antes que eles tivessem tempo de fazer qualquer coisa e os colocou sobre a mesa. Ruby correu para Killian e os dois se abraçaram.

– Você está bem? – ela perguntou chorosa e o Capitão assentiu e a abraçou com mais força.

– AH, ENTÃO ESSE AÍ É O CAPITÃO DA HISTÓRIA? BEM QUE ELE TEM CARA DE ARROGANTE MESMO...

– Eu já não estou entendendo mais nada – disse Beto.

– O que está acontecendo? – perguntou Jack

– SENTEM-SE. EU VOU PREPARAR O JANTAR! – disse Anton e todos ficaram abobados, sem entender nada. O gigante se voltou para o forno onde colocou a massa para assar.

– Mas que diabos está acontecendo? – perguntou o Capitão ainda agarrado a Ruby – Isso é algum tipo de brincadeira?

– JÁ DISSE QUE NÃO VOU MATAR VOCÊS. MAS QUE GENTE MAIS DESCONFIADA. VAMOS, VAMOS, SENTEM-SE.

– Explique-se, por favor – pediu o Capitão.

– EU IA MATAR VOCÊS, MAS MUDEI DE IDEIA QUANDO VI QUE ERAM PESSOAS BOAS. ESSA PRINCESA AQUI ESTAVA ME CONTANDO UMA HISTÓRIA...

– Ah sim, é que história é essa de me imitar? – Killian olhou sério para Ruby, mas no fundo tinha adorado a imitação que ela fizera dele.

– Ah eu só estava tentando sobreviver, caso não tenha notado – ela disse ao Capitão.

– ELA É BEM ESPERTINHA. É CLARO QUE EU SABIA QUE ESTAVA TENTANDO ME ENROLAR, PARA QUE OS OUTROS VIESSEM SALVÁ-LA. E ENTÃO RESOLVI PREGAR UMA PEÇA EM VOCÊS. ESSE COITADO AÍ GRITOU COMO UMA MOCINHA – ele apontou para Will e começou a rir, acompanhado dos outros.

– Eu sempre duvidei da sua sexualidade – comentou o Capitão e Will ficou muito vermelho e sem graça.

– Haha, muito engraçado – ele balbuciou.

– Pensei que gigantes não gostavam de humanos – falou Beto.

– MEUS IRMÃOS NÃO GOSTAVAM – explicou Anton – MAS EU SEMPRE FUI FASCINADO POR HUMANOS. ATÉ O DIA EM QUE RESOLVI IR LÁ EMBAIXO E ACABEI SENDO ENGANADO. OS HUMANOS MATARAM MINHA FAMÍLIA, EU FUI O ÚNICO QUE SOBROU. POR ISSO FIQUEI COM ÓDIO DOS HUMANOS POR UM TEMPO, MAS ISSO MUDOU DEPOIS QUE EU CONHECI ESSA MOCINHA AQUI.

Mais uma vez, Ruby salvara o dia.

Eles ficaram para jantar e Anton nem se zangou por eles terem roubado tanta coisa. Ele ficou feliz por ter companhia depois de tanto tempo e confirmou a história que Mulan contara mais cedo. Os feijões realmente haviam sido destruídos. Ele ainda tinha um feijão, mas também estava destruído, não funcionava mais para criar um portal.

– Por que destruíram os feijões? – o Capitão perguntou enquanto comiam.

– NÃO DESTRUÍMOS, OS HUMANOS DESTRUÍRAM – cada vez que Anton falava, era como um trovão – NOS MASSACRARAM E DESTRUÍRAM OS FEIJÕES. MAS OS VENCEDORES SEMPRE CONTAM A HISTÓRIA, NOS FAZEM PARECER VILÕES.

– Você ia nos assar num forno – disse o Capitão – como podemos saber que você não é um vilão?

– EU NÃO IA MATAR DE VERDADE. SÓ QUERIA ASSUSTAR PARA VOCÊS NUNCA MAIS APARECEREM AQUI. POR ISSO ESSE TEATRO TODO. GIGANTES SÃO VEGETARIANOS!

– E quanto a todo aquele ouro que você tem? – perguntou Will

– AH SIM, AQUILO É OBRA DE MEUS POBRES IRMÃOS FALECIDOS. ELES GOSTAVAM DE USAR OS FEIJÕES PARA SAQUEAR OS REINOS E FOI ASSIM QUE ESSE OURO TODO FICOU ACUMULADO AQUI.

Bem, isso explicava como o relicário de Ruby fora parar num castelo de gigante. Anton deixou que eles fossem embora depois que Ruby terminou de contar a história, ajudada por Killian. Deu a eles mais ouro do que podiam carregar. Eles levaram a coroa e as mudas de feijão. Sabiam que as mudas não serviriam de nada, pois também estavam mortas.

Eles fizeram o caminho de volta, depois de se despedirem de Anton. A descida pelo feijão foi mais complicada do que a subida, ainda mais por eles estarem carregando tanta coisa. Ruby queria que eles deixassem os tesouros para trás, mas piratas eram piratas. Pedir que deixassem o ouro era o mesmo que pedir que desistissem de viver.

Por fim eles chegaram embaixo, onde Mulan e Sírdis conversavam.

– Ainda está aqui... – o Capitão disse a Mulan.

– Eu precisava saber se vocês iam voltar em segurança – ela respondeu.

– Por quê? Se não voltássemos você ia subir até lá?

– Talvez - ela sorriu.

Sírdis ficou radiante ao recuperar sua coroa. Ela nem sabia como agradecer àqueles corajosos piratas.

– Talvez possa nos ajudar...

– Killian! – Ruby ralhou com ele. Sírdis já fora muito prestativa ao lhes dar o contrafeitiço para subir no feijão e agora o Capitão ainda queria pedir por mais?

– Peçam o que quiserem – Sírdis sorriu.

– Poderia reviver essas plantas? – o Capitão mostrou as mudas de feijão, mas Sírdis balançou a cabeça.

– Já estão mortas, não há nada que eu possa fazer. Mas há um lago aqui perto, o Lago Nostos, cuja água tem propriedades mágicas. Vai ter o poder de reviver as mudas.

Killian ficou radiante. Revivendo as mudas, eles poderiam plantar os feijões e aí teriam feijões suficientes para viajar entre mundos. Eles se despediram de Sírdis, que voltou ao seu reino, e de Mulan, que foi atrás do Yaoguai. Voltaram então à praia, para que os marujos soubessem que estavam bem. Na manhã seguinte Killian e Ruby iriam ao tal lago, para restaurar as mudas.

– Ainda bem que tudo deu certo – comentou Will, enquanto eles faziam o caminho até a praia.

– Ah é claro, e você quase se borrou de medo – debochou o Capitão.

– Você estaria na mesma situação se tivesse sido ameaçado com um espeto gigante – Will retrucou e todos riram.

– Você realmente grita como mocinha – riu Ruby.

– E eu não me esqueci de você, Princesa – disse o Capitão – Depois iremos conversar sobre a senhorita fazendo imitações...

– Bem que você gostou – ela sorriu.

– É, mas eu não falo daquele jeito. E nem ando daquele jeito...

Quando eles finalmente chegaram à praia, Killian estava comentando que aquela seria mais uma aventura que iria ser contada em seu diário. E ele não via a hora de viver outras aventuras, em outros mundos.

–... não vejo a hora de restaurar essas mudas e viajar para outros mundos. Eu gostaria de viajar para Oz primeiro... – ele ia dizendo.

– Que pena! – alguém falou – Eu não contaria com isso!

Tinham sido encontrados pelos corsários...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Não sou muito conhecedora de elfos, a não ser dos elfos domésticos de Harry Potter kkk então eu meio que fiz essa parte da Sírdis do meu jeito. Se acharem estranho por eu ter dado novas características aos elfos, é porque coloquei de um jeito que achei que ficaria legal. Sei que odeiam quando termino o capítulo com esse suspense, mas foi necessário kkkk e já dou uma prévia do que acontece no próximo: a Liza vai morrer. Muahahahah como eu sou maléfica. Enfim, espero que tenham gostado, comentem, digam o que precisa ser melhorado. Beijos e até mais.



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