O céu rugia e a terra estremecia. As nuvens tampavam qualquer resquício de luz solar, tudo parecia sombra abaixo de sombra. O cheiro no ar... Anunciava algo grandioso, não dizia se era bom ou ruim, apenas que as decisões ali tomadas afetariam os próximos séculos.

            No castelo, todos os guardas se organizavam no pátio, sob as ordens e gritos de Mason e Mikayla. Em uma barraca Lanny vendia seus equipamentos favoritos; espadas, clavas, machados, lanças e facões (os facões estavam em alta aquele ano, e por isso era o mais comprado). Boomer em seu trono refletia sobre qual seria seu próximo passo, agora que chegara diante da caverna do dragão e sua barra de vida estava pela metade.

            — Jogando PSP em um momento como esse? — diz Mikayla com as mãos na cintura.

            Boomer deu um salto, o videogame voando pelo ar e desaparecendo na confusão do salão. Com a mão no coração ele se vira para Mikayla.

            — O grito realmente foi necessário? — diz Boomer os olhos saltando.

            — Qual é o seu problema? — diz Mikayla dando uma cutucada no peito real de Boomer. — Estamos nos preparando para uma batalha que decidirá nosso destino e você fica jogando?

            — Estou jogando porque, caso eu morra hoje, eu não gostaria de deixar coisas pendentes. — diz Boomer como se isso fosse melhor explicação do mundo.

            — Boomer todos tem que ajudar — diz Mikayla. — Até mesmo o Sirocco está empenhado nisso.

            — Olha, eu não sei como eu posso ser útil em uma situação como essa.

            — Sei lá, ajuda o Lanny a entregar os equipamentos para os guardas.

            — Em primeiro lugar, ele está vendendo o armamento, por quê? — diz Boomer retoricamente tirando uma coroa de algum lugar atrás dele. — Porque essa coroa sobrevive de impostos, e segundo, da última vez que nos aproximamos da barraca do Lanny, Brady quase perdeu a cabeça...

            No centro do pátio Mason anuncia:

            — Em formação se aproximem todos.

            Boomer e Mikayla vão para o lado de Mason.

            Boomer encarou os guardas a sua frente, notou que as camareiras e empregadas também estavam armadas e presentes, até mesmo o velho segurava um cajado na mão com uma expressão nada amistosa. E por mais que todos estivessem ali reunidos, Boomer sabia que aquela quantidade de pessoas, não se igualava nem na metade das forças inimigas.

            — Isso não chega nem perto de ser suficiente. — diz Boomer no ouvido de Mason.

            — Mais é tudo o que temos. — diz Mason preocupado. — Por favor Boomer, tente transmitir segurança aos seus súditos.

            Nesse momento as trombetas soam.

            — Código 742! — grita um dos guardas no portão.

            — Oh meu Deus! Código 742! — diz Boomer correndo de um lado para o outro em pânico, tentando encontrar algum lugar para se esconder. — Protejam O REI!!!

            Boomer se esconde debaixo das pernas de Mason, e fica tremendo. Mikayla aproxima o rosto do rei, sem graça.

            — Boomer, código 742 significa: aliados se aproximando.

            Boomer se recompõe envergonhado.

            — Uh! É claro — diz. — Aonde é que estava escrito isso mesmo?

            — Página 2131 do grande livro. — diz Mikayla categoricamente.

            — Hum, que pena, só tive tempo de ler até a página 2130... — diz Boomer fingindo decepção.

            Os portões então se abrem lentamente. Da escuridão surge um exercito, composto por fadas sujas, flads e maremotos. A ajuda havia chegado.

            — Ha! O mascarado acertou em cheio. — diz Mason dando um muro no ar com alegria.

            — Mais onde está o Sirocco? — diz Mikayla.

            — Aqui. — diz Sirocco atrás dela com sua voz grossa.

            Em um movimento automático Mikayla, gira o corpo agilmente e acerta a parte cega do facão entre as pernas de Sirocco, cujos olhos rolavam enquanto se dobrava e caia no chão.

            Mikayla, Boomer e Mason o ajudam a se levantar.

            — Oh céus! Você está bem? — diz Mikayla com a mão em seu ombro.

            — Digamos que nunca mais vou conseguir fazer a voz grossa, que definitivamente não foi uma boa ideia. — diz Sirocco com a voz esganiçada.

            Depois de Sirocco se recuperar Mason pergunta:

            — Como conseguiu o apoio de tantas pessoas?

            — É como você conseguiu? — diz Lanny entrando na conversa. — Pois agora graças a você, herói e rei podem morrer juntos heroicamente.

            — Seu otimismo me espanta. — diz Boomer para Lanny.

            — Nunca se sabe o que se pode acontecer em uma escaramuça não é? — diz Lanny dando de ombros e lançando aos dois um olhar maldoso.

            — Bem — diz Sirocco. — disse a eles que já estava mais do que na hora de eles fazerem alguma coisa para salvar a ilha, em nome do nobre rei e do valente herói...

            — E eles caíram nessa idiotice? — diz Lanny cético.

            — Na verdade não, depois que eu disse isso eles me deram uma surra — diz Sirocco se endireitando. — Mais depois de apanhar, disse a eles, que se vencêssemos, eles não seriam lembrados como homens maltrapilhos, fadas encardidas ou flads feiosos, eles seriam lembrados como heróis (quase tão bons quanto eu), eles entrariam para a história.

            Depois de dizer isso Sirocco sussurra no ouvido de Boomer:

            — Prometi isso, e uma festa de arromba quando tudo isso acabar.

            — Agiu bem. — diz Mason dando uma palmada nas costas de Sirocco.

            Mikayla puxa Sirocco para um canto.

            — Por que ainda está vestido como Sirocco? — diz curiosa.

            — Achei que não seria bom abandonar o uniforme até que tudo isso terminasse, sabe, uma saída triunfal para o Sirocco. — diz Sirocco, Mikayla o encara obrigando-o a falar toda a verdade. — Tá legal, eu não to conseguindo tirar a roupa, acho que a S-super-cola acabou se espalhando pela armadura.

            Neste momento uma trombeta soa, todos olham preocupados uns para os outros.

            — Desculpem — anuncia Boomer, tirando algo do bolso. — Isso foi o toque do meu celular: Alo? Rebecca? Oi como é que...

            Mason pega o celular e joga para longe.

            — Ei... — diz Boomer.

            Neste momento todas as trombetas soam. Todos se organizam e se aproximam do portão. Os rostos sérios. Todos sabiam o que aquilo indicava.

            Um raio cai, o vento uiva, o Lanny chora e os inimigos se aproximam do portão.