Jessica Chloe - Vitoriosa escrita por MidnightDreamer


Capítulo 28
Praia




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— Acorda, Jessica! - Missi pula em cima da minha cama. - Vamos pra praia?

O balançar dela na minha cama faz que eu solte um grunhido estranho. Ela começou a sacudir meus ombros e finalmente percebo que Missi não vai desistir até que eu me levante ou caia da cama. Sento-me.

— O quê... - Levanto minha cabeça meio sonolenta. - A gente não foi para a praia ontem, assim que a gente chegou?

—Sim, mas eu nem levei meu biquíni. Além do mais, você nem aproveitou. Anda, está muito ensolarado hoje!

— Como assim, no meio do inverno?

Olho para a janela. Realmente o dia está lindo e um pouquinho mais ensolarado que os últimos dia... Dá mesmo uma vontade de ir para a praia, mesmo que só para olhar o mar, até por que como lá em Seattle sempre é frio, então não dá para aproveitar muito. Olho para Missi, que está com um semblante de súplica, e sorrio para ela.

— Obrigada! - Ela me abraça e sai correndo. - Vai se vestir!

Levanto-me lentamente, olhando para a mala que não tive coragem de desfazer - sim, a preguiça foi maior - e retiro o biquíni verde escuro que combina com meus olhos, de acordo com a vendedora. Claro que isso é mentira, mas ainda sim achei ele muito bonitinho. Visto-o e... Droga, esqueci de trazer um protetor solar! Do jeito que eu sou branca, vou virar um camarão!

— Missi! - Saio correndo pelo apartamento. - Você tem protetor solar?

— Sim. - Diz ela, balançando-o em sua mão. Deus, Missi é linda! Ela consegue ser chique até em um vestidinho simples, pronta para ir para a praia. - Ei, Sica! Esqueceu que a parede é de vidro? Você tá só de biquíni, e tem outros prédios que conseguem nos ver!

— Ai meu Deus! - Corro, me escondendo na cozinha. - Eu esqueci!

— Vai ter que aprender... - Ela sorri, mas seu rosto se fecha um pouco, enquanto me analisa. - Que biquíni bonitinho!

— Obrigada. - Sorrio.

— Isso não foi um elogio. - Ela olha para mim séria.

— Como assim? - Eu pergunto, espantada. O que ela queria dizer com isso?

Minha amiga se aproxima de mim e põe as mãos no quadril. Ela balança a cabeça em negação.

— Ai ai, Sica... Esse biquíni é bonitinho, mas você não quer ser bonitinha... Você quer ser gostosa.

— Mas que diabos você tá falando? - Fico realmente surpresa, cruzando meus braços.

— Qual é, Jessica? Você não tem mais treze anos! - Ela olha para mim novamente. - Você tem 18!

— Na verdade, eu já fiz dezenove. - Eu a corrijo, mas isso só a faz mais convencida.  — Mas ainda assim...

— Nem mas nem meio mas! Esse biquíni é enorme, parece uma burca! - Ela fala, exagerando o máximo que consegue. - Anda, eu tenho um biquíni que dá certinho em você.

Ela sai me arrastando até seu quarto. Ela vai até a sua gaveta - que está devidamente organizada - e pega a menor peça de roupa, se é que eu posso chamar assim, que eu já vi na vida!

— Isso é minúsculo, Melissa! - Exclamo. - Minha bunda vai ficar toda de fora!

— É um "semi" fio-dental. - Ela explica, esticando a parte que, pelo tamanho minúsculo, deve ser a de trás. Que ridículo! - E é um dos mais discretos.

— Sério? - Olho para ela, incrédula. - Eu não vou vestir isso. É praticamente estar pelada!

— Ah, vai vestir sim! - Ela me arrasta para seu enorme banheiro.

Eu expulso ela de lá e tranco a porta. Não acredito nisso, eu vestindo um biquíni minúsculo! Eu detesto roupas assim! Depois que me visto, olho para o espelho que cobre a parede. Bem, até que não está tão mal como eu pensava.

— Pronto. - Saio do banheiro. - E aí, chata?

— Agora sim! - Ela sorri. - A diferença é enorme! Está muito mais bonita agora.

Volto-me para o espelho gigante do banheiro, e devo dizer que, apesar de um pouco desconfortável, o biquíni fica realmente bom em mim. Só espero que mamãe nunca descubra que usei algo tão pequeno assim na minha vida!

— Obrigada. - Sorrio e a abraço. - Mas eu ainda não entendi... Por quê você quis que eu vestisse esse?

— Para ficar mais bonita!? - Ela fala, arqueando uma sobrancelha. - Ai, Sica... Anda, precisamos ir antes que o sol suma de novo!

Ela sai em direção a sala. Pego um vestido simples e o visto, logo pegando minha bolsa e meus chinelos. Vejo Missi chamando um táxi para Coney Island. Soube que é um local muito bonito, com uns parques bem legais.

Descemos para o saguão. Assim que o táxi chegou, fomos direto para a praia.

Surf Ave, por favor. - Ela fala. É incrível como ela sabe os locais, ruas e avenidas da cidade, mesmo nunca tendo morado aqui. Ela deve ter passado os últimos meses estudando todos os mapas e pontos turísticos daqui.

Depois de uns quarenta minutos - demos sorte, caso você esteja pensando que foi muito tempo - chegamos a um lindo parque de diversões, e ao lado dele a praia, bem diferente de Cooper's Beach. E bem mais perto também.

— Que lindo... - Falo, e Missi sorri.  — Você já veio aqui alguma vez, Missi?

— Sim, quando eu tinha uns dez anos. Uma antiga empregada nossa me trouxe aqui junto com meu irmão. Apesar de eu ter querido vir com meus pais, foi legal.

— Ah... - Sorrio para ela. Ela está extremamente magoada com os pais; dava pra perceber isso no seu rosto.

— Bem, a gente vai pra praia, não é? - Ela sorri, tentando disfarçar a tristeza.

— Sim. - Puxo-a pelo braço e passamos bem em frente ao parque. Tem muita gente por lá, acho que devem estar comemorando alguma coisa, sei lá. Várias crianças com seus pais e muitos, mais muitos casais. Tá, eu estou me sentindo muito solitária. Andamos para uma parte um pouco mais vazia da areia.

— O que foi, Sica? - Missi percebe.

— Nada, é que... tantos casais no parque me fazem lembrar de um cara.

Ela se volta para mim, uma cara de animação estava em seu rosto.

— Um cara? Que cara?

— Ah, era um namorado meu... Quer dizer, ex-namorado. — Suspiro lentamente. —  O nome dele é Hector.

— Hector? É um nome bonito. - Ela sorri.  — Por que você nunca me falou dele? Pensei que nós fôssemos amigas!

— Se você o visse ia esquecer o nome na hora.  — Confesso, sem deixar meu sorriso idiota me interromper.  — Não falei dele porque nada deu certo pra gente, e eu realmente quero esquecê-lo o mais rápido possível. Estou tentando fazer isso há um bom tempo.

— Pelo visto, sem sucesso... Por que vocês não estão juntos? - Ela fala, colocando uma toalha na areia assim que conseguimos um bom local na praia.

— Ele terminou comigo. Ah, é uma longa história... - Falo sentando-me na toalha que coloquei ao lado da dela.

Explico tudo para Missi, como a gente tinha se conhecido e tudo de ruim que aconteceu nas nossas vidas e todo o apoio que um deu para o outro. Ela quase chora, sério.

— Isso é... É a história de amor mais linda que eu já ouvi! E o melhor é que ela é de verdade! - Ela quase surta na praia.

Encaro o mar, tentando esconder minha tristeza.

— Pena que terminou assim.

— É, tem razão. - Ela sorri para mim em consideração. - Mas do jeito que você o descreveu, com certeza ele continua apaixonado por você. Como alguém que te amou tanto assim pôde te deixar tão rapidamente? Isso é tão estranho...

— Você... você acha? - Olho para ela. Não queria demonstrar que isso me dava um pouco de esperança, mas logo tudo o que aconteceu depois de nosso término. - Mas ele disse que estava com outra garota, e ele estava feliz. Ele fez questão de esfregar isso na minha cara.

Ela fica em silêncio por mais alguns minutos, e antes que eu pudesse mudar de assunto, ela comenta:

— Acho que ele estava tentando se passar por... forte.

— Forte? Como assim?

— Ele devia estar se remoendo por dentro, mas não queria demonstrar isso. — Missi coça a cabeça. — Acho que foi a maneira que ele achou de fazer isso, te deixar com... ciúmes.

— Ciúmes, eu? Ah, tá!

Ela deixa um risinho escapar.

— Com certeza, mas eu estou vendo que você está ficando chateada com essa conversa. - Ela fala. - Anda, vem dar um mergulho.

Ela se levanta e tira seu vestido, para logo depois sair correndo em direção ao mar. Deus, ela praticamente me deixou sozinha! Bem, faço o mesmo, apesar de ser bastante constrangedor ficar com esse biquíni minúsculo aqui na praia. Sorte minha que não está mais tão lotada.

Infelizmente Missi passou perto de uns garotos que estavam sentados. Deus, eu não quero passar por eles... mas faço isso. Eles ficam olhando para mim como águias olham para ratos indefesos. Caramba, isso é muito estranho.

— Ô lá em casa... - Um deles, moreno de olhos escuros fala quando eu passo. - Com uma gostosa dessas, quem precisa de pornô?

Não, eu não admito que eles falem assim de mim.

— Você não tem mais o que fazer não, filho da mãe? - Arranjo coragem para falar isso.

Ele se levanta, para meu desespero.

— Você sabe com quem está falando?

— Com um idiota! - Respondo, olhando discretamente para meus lados. Céus, cadê a Missi?

Ele segura meu pulso com muita força. Meu Deus, eu preciso sair dessa situação...

— Olha aqui, vadia...

Não deixo ele terminar de falar, já estou dando um golpe de caratê nele para quebrar seu braço. Obrigadameses de treinamento marcial pelos quais mamãe me obrigou a passar!

— Ai, sua puta! - Ele geme como um bebê quando eu o solto. - Você fodeu meu braço!

— Fique feliz por eu não ter chutado seus ovos. Se é que você tem. - Falo, saindo correndo e jogando areia nos olhos deles todos com meus pés.

Percebi que Missi estava olhando para mim com dúvida, a alguns metros de distância. Ela começa a correr em minha direção, e quando me aproximo dela, surto.

— Por que você saiu correndo feito uma louca, Melissa? —  Dou um empurrão nela, que parecia inerte.  —  Aqueles idiotas ficaram me infernizando ali. Eu tive que quebrar o braço de um deles.

— Você fez o quê? - Ela olha para mim atordoada. - Vamos embora, antes que eles façam alguma coisa! Anda, vamos pegar as nossas coisas!

Saímos correndo e vimos que eles não estavam mais lá, mas infelizmente nossas bolsas também não. Não, não, por favor não...

— Eles levaram nossas coisas! - Missi exclama, pegando seu vestido, que junto com o meu eram as únicas coisas que eles haviam deixado.

— Caramba... Não acredito! - Pego o meu.

— Ainda bem que nós não trouxemos nosso celulares. - Ela respira aliviada por ter me alertado sobre trombadinhas que furtam celulares pela orla de Long Island. - Mas como é que a gente vai voltar para casa? Estamos sem nenhum tostão.

Olho para ela com uma cara de pânico ainda maior. Como a gente vai voltar? Estamos a vários, mas vários quilômetros de Upper East Side. Decidimos que vamos pedir ajuda a algum policial por perto.

— Não vai adiantar... Eles já devem ter pego um metrô para bem longe daqui. - Ela fala, enquanto procuramos um policial pelo parque em frente à praia.

— Pelo menos eles podem dar uma carona pra gente. - Falo.

— Deus me livre chegar na Quinta Avenida de viatura!

— Pelo menos não é na delegacia. - Falo, com uma enorme arrogância. Como ela podia pensar nisso dada a situação?

Continuamos andando à procura de algum segurança ou policial. Assim que avistamos um, contudo, escutamos alguém atrás de nós nos chamar:

— Jessica? Melissa?

Viro para ver quem é, e Missi faz o mesmo.

— Jack! - Missi grita, sorridente, indo em direção ao jornalista. Ele estava de jeans e blusa, o que é estranho para se usar na praia. - O que faz aqui?

— Matérias para o jornal. - Ele sorri para nós duas. - E vocês?

— Procurando algum policial. - Respondendo em uníssono.

— Por quê? O que houve?

— Bem, alguns caras ficaram "enchendo o saco" da Sica, se é que você me entende, e ela acabou quebrando o braço de um deles. Para se vingarem, eles roubaram nossas coisas, incluindo nosso dinheiro, e agora nós não temos como voltar para casa.

Ele parecia estar num misto de susto, raiva e conformação. Olho para onde o policial estava, mas ele já havia sumido das nossas vistas.

— Você quer fazer um boletim, Jessica?  — Ele pergunta com calma.  — Posso levá-las para a delegacia mais próxima.

— Na verdade, não. Só quero ir para casa e descansar... Hoje não está sendo um dia bom.

— Bem, eu já terminei por hoje. Vou levá-las para casa, então.

— Oh, muito obrigada, Jack! Você é nosso herói. - Missi fala. Nossa, ela está tão... atirada.

Ele agradece meio sem jeito e nos leva para seu carro. É bem simples, comparado com a Ferrari que a Missi deixou em Seattle, talvez por que ele não ganhe tanto dinheiro assim como jornalista, mas pelo menos ele está sendo prestativo. Entramos no carro, eu atrás e Missi no banco do passageiro.

— Obrigada mesmo. - Falo. - Não ia aguentar ficar mais nem um segundo na praia.

— Não há de quê, Sica. - Ele fala, depois suspira. - Isso que aconteceu com você infelizmente não é raro por essas bandas. Muitas garotas são assediadas, principalmente nas praias. Eu já fiz matérias sobre isso.

— Nossa, deve ser horrível saber que isso acontece e não poder fazer nada. - Missi fala, com uma voz anasalada. Não sei se isso é um sinal de seu resfriado ou de sua tentativa de flerte com ele.

— É... Eu já falei com alguns delegados para aumentar o número de policiais nas vistorias daqui, mas nada. Eles não escutam o povo, só os riquinhos mimados dessa cidade.

Missi esconde o rosto, e ele parece ter percebido que falou um pouco demais. Ele deve ter se lembrado de onde moramos, e somente milionários podem morar naquele prédio. Eu sei que ela sabe que Jack não falou isso por mal, mas ainda assim fica um pouco constrangida. Ele pede desculpas, quase que num sussurro. Que peninha dela!

— Bem, obrigada por fazer isso, de qualquer maneira. - Repito, e ele sorri.

Continuamos nosso trajeto e depois de uns quarenta minutos chegamos em casa. Ele se oferece para subir com a gente. Pedimos uma chave reserva e logo estamos em casa. Eles se sentam no sofá.

— Eu vou tomar um banho. - Aviso para Missi.

Entro em meu quarto e decido tirar urgente aquele biquíni. Definitivamente ele não traz sorte. Entro na banheira e tomo um banho demorado, mas tão gostoso... Saio totalmente relaxada e pronta para esquecer o que aconteceu. Visto uma roupa e vou ao encontro dos dois.

Antes que eu entrasse na sala, sou surpreendida pela cena: Missi e Jack praticamente engolindo um a cabeça do outro. Eles estão tão colados um no outro, tão envolvidos no beijo, que até dá pena em entrar na sala para estragar aquilo tudo.

— Caham. - Pigarreio e eles se fastam.  — Desculpa por interromper.

— Ah, bem, acho que está na minha hora. - Ele fala totalmente sem jeito. - A gente se fala depois?

Ele entrega um cartãozinho para ela. Provavelmente nele está o número dele.

— Com certeza. - Missi fala, totalmente absorta.

Ele sorri para ela e depois para mim, e vai embora. Quando ele fecha a porta, dou um gritinho.

— Ah, que fofo!  — Aproximo-me dela, sorrindo.

— Para, Sica!  — Ela se encolhe, mas minha amiga está muito feliz para conseguir esconder.

Dou um abraço nela. Que fofinho, esse tempo todo dando em cima dele deu certo, pelo visto! Ficamos abraçadas assim por um bom tempo.

— Anda, vamos almoçar!  — Ela interrompe o abraço e sorri para mim.

Sorrio e a sigo.


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