O Tempo Dirá escrita por Bibelo


Capítulo 37
Ossos do Ofício


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que demorei, mas esse capítulo foi grande e complicado de desenvolver. Eu tinha tanta coisa para contar a vocês, sem poder deixar faltar nada que dificultou a escrita desse imenso final.

Antes de tudo quero agradecer à: xXNinahxNickXx e Love Bellington pelas recomendações que recebi em Abril. Acho que não tenho como expressar em palavras o quão feliz vocês me deixaram ao me permitir receber homenagens lindas como elas.

Sei que demorei mais do que deveria, mas lhes entrego 10.000 palavras para um final nada clichê de guerra.

TODOS os capítulos anteriores estão sendo reescritos. Do primeiro ao terceiro já consegui reescrever. Todos os capítulos serão reformulados antes de postar o Epílogo, mas isso é uma coisa rápida de se fazer.

Vou começar a agradecer agora, porque se for agradecer só no Epílogo será um capítulo só de agradecimentos. Portanto, quero agradecer por todos que leram até aqui. Pelo carinho que entregaram à minha história, comentando, favoritando, acompanhando, recomendando e me mandando M.P.'s sobre a fanfic. Eu estou maravilhada pela chance quee me deram com essa fanfic que, admitam ou não, foi um grande sucesso na categoria; e nada mais justo do que agradecer aqueles responsáveis por esse feito.

Muito obrigada mesmo por tudo.

Espero vocês nos comentários para longas e dolorosas despedidas antecipadas.

CAPA NOVA EM HOMENAGEM AO PENÚLTIMO CAPÍTULO!

Boa leitura!



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Capítulo 37 - Ossos do ofício

[...]

— Que tremor foi esse? — perguntou Jason segurando firme no encosto da cadeira onde Tim estava sentado.

— Não sei. — respondeu aturdido: — Preciso de uma câmera funcionando. — resmungando para sim passou o olhar por várias imagens que apareciam consecutivamente em sua tela: — Vamos, pelo menos uma tem de estar funcionando.

— Tente chamar o Bruce. — falou Jason aproximando-se do monitor: — Talvez ele esteja lá.

— Lá aonde, Jason? — indagou irritado.

— E como é que eu vou saber??? — cuspiu Jason em parafusos: — Mas esse terremoto não foi nem um pouco convidativo.

— Tsc, então você sabe falar palavras difíceis. — murmurou Timothy para si mesmo buscando alguma imagem interessante.

— Pare, ali! — apontou Jason para uma das imagens de vista superior para uma das ruas próximas a avenida: — O que é isso?

A imagem mostrava de forma distorcida um imenso animal morto atravessado na rua. Não se podia dizer ao certo o tamanho dele, mas lembrava vagamente um dinossauro, e isso não é nem um pouco interessante nas circunstâncias.

— Acha que foi ele? — indagou Jason mais calmo.

— Não. Mas acredito ele seja um dos presentes daqueles alienígenas. — comentou Tim: — Vou olhar a avenida, algo me diz que o Dick está por lá.

De todas as cinco câmeras espalhadas pela avenida somente uma funcionou. Um pouco torta e com a imagem obstruída por um imenso pedaço de concreto, a visão se tornava quase impossível.

— Droga. Nada! — ralhou irritado Jason passando a mão pelos cabelos:

— Chama logo a droga do Bruce. Tem algo muito errado!

— Já entendi, vou chamar. — deixando as imagens de lado, Timothy colocou no monitor comandos para a chamada de áudio com Batman. Não demorou para serem respondidos, mas no caso fora Babs quem se pronunciou.

— Fale. — disse ela um pouco atordoada.

— O que está acontecendo ai, Batgirl? — perguntou Tim.

— O Robin explodiu alguns explosivos abrindo uma vala imensa que se estende por quase toda a avenida principal. — explicou ela com a voz trêmula.

— Por que ele fez isso? — continuou Tim.

— As vezes precisamos fazer o que é certo, ainda que errado. — respondeu ela.

— Isso não faz sentido. — resmungou Jason irritado.

— Ainda não, mas fará!

***

Uma grossa camada de terra cobriu toda a área ao redor daquela imensa cratera. Todos se afastaram o quanto puderam do desmoronamento em massa às seus pés. A vala criada percorreu todo o subterrâneo da avenida, conseguindo rasgar boa parte do bairro.

Kory tossia agoniada por não conseguir ver nada. Mesmo lá de cima, fora da camada grossa de terra, não conseguia distinguir o que era vivo, e o que era somente o vento sacudindo tudo.

Ficou parada acima do buraco criado por Dick aguardando uma brecha para mergulhar naquela imensidão alaranjada.

— Dick! — chamou ela uma primeira vez ao perceber o breve afinamento naquela tempestade colorida: — Dick!!

Nada, nem mesmo aquela voz odiosa saiu de dentro da cratera. Aquele silêncio era torturante.

Kory acabou adentrando de vez na imensidão opaca. A incerteza a destruía. Pousou ao lado da vala ainda instável, encarou o arredor na esperança vã de encontrá-lo.

— Kory! — chamou Garfield aparecendo a seu lado.

— Gar...? — resmungou a garota um pouco decepcionada: — Quando você desceu?

— Na mesma hora que você, claro. — respondeu o rapaz sério: — Como se eu não fosse vir atrás dele. Mas não consegui chegar. — disse abalado: — Mas não se preocupe, ele aparecerá. Aquele idiota não tem a minha permissão para morrer.

Kory sorriu sem muita emoção: — Eu sei. Só estou angustiada.

— Entendo. — sibilou tossindo na sequência, aquela quantidade imensa e fina de terra irritava sua garganta.

— Eu vou descer lá! — avisou Kory: — Saia daqui, fará mal à você. — pediu ela avançando até a vala.

— Como assim descer? Espera! — Gar a segurou pelo pulso. Kory virou-se irritada com o impedimento: — Eu sei que esta nervosa, mas não faça loucuras.

— Tentar saber se meu namorado está vivo não é nenhuma loucura, Garfield. — rosnou Kory transtornada.

— Ele está certo, não há a necessidade de descer até lá. — aquela voz odiosa ressoou pela vala fazendo ambos retesarem-se.

— Mentira... — comentou descrente Kory de costas para a vala.

— Você! — cuspiu Garfield puxando Kory instintivamente para trás de si: — Como sobreviveu?

— Não deveria ser essa a sua pergunta. — respondeu Slade sendo erguido por uma imensa pedra. Junto dele, Tara se concentrava em controlá-la para fora da vala.

— Onde está o Dick? — perguntou Kory num sussurro quase inaudível.

— Um pergunta interessante, mas creio não ter a resposta. —disse por fim pisando no chão firme: — Com aquelas feridas eu não teria tantas esperanças.

— Cale a boca! — bradou Kory ameaçando avançar sobre ele, mas novamente Garfield a impede: — Me solte, de que lado você está, Gar?

— Se controle, ok! — Urrou ele irritado assustando a tamaraniana. Gar suspirou puxando-a para perto: — Desculpe, só não aja impulsivamente, ele quer que você faça as escolhas erradas. — explicou o rapaz.

Levou seu olhar até Tara que prontamente o desviou, envergonhada.

— Ele está vivo, certo? — perguntou Garfield à Tara. Ela ficou tensa, mas não respondeu.

— Ainda não terminei minha luta com ele, meu rapaz. — comentou Slade aproximando-se passo ante passo: — Então sim, ele se salvou na queda.

Kory sentiu-se mais leve naquele momento, mesmo podendo ser uma mentira daquele homem ordinário.

— E o que você ganha contando isso para nós? — indagou Garfield atento.

— Tempo. — respondeu sem rodeios: — Mas pelo visto meu assunto não é com vocês no momento, não é mesmo,j velho amigo? — ironizou Slade soltando uma leve risada ao final da frase.

Os dois ficaram sem entender o que se passava ali até verem Damian passar correndo por entre eles com uma katana em mãos. Investiu contra Slade chocando sua lâmina com a dele.

— A quanto tempo não lutamos, não é? — comentou sem muita emoção criando distância entre eles.

— Cala a boca, seu merda! — cuspiu Damian: — Saiam daqui! Anders, Logan, agora!

— O certo é, o QUE você está fazendo aqui, nanico? — trovejou embasbacado Garfield.

— Não é hora para isso, vamos até o outro lado, talvez possamos saber algo do Dick. — falou Kory puxando-o pelo braço.

Meio sem escolha Garfield a seguiu deixando o Wayne para trás.

— Vamos acertar as contas, Wilson. — bradou Damian tomado pelo ódio.

— Convenhamos Damian, não fui eu quem distraiu o Grayson na nossa luta. — provocou: — Talvez o acerto de contas seja consigo mesmo, não?

— Já mandei você calar a merda da sua boca! — trovejou apontando-lhe a lâmina prateada e avançando com ódio embalando seus olhos ardentes em fúria.

***

Lucky tossia sem parar engasgada pelo ar empoeirado da rua. Wally alisava suas costas enquanto prestava atenção em qualquer movimento no chão, ainda que parte daquela grossa camada ainda impedisse a visão nítida.

— Eu vou descer até lá! — avisou Victor caminhando até as escadas ainda um tanto intactas.

— Irei com você. — anunciou Karen: — Desçam assim que ela melhorar. — ordenou a mulher recebendo um aceno de confirmação do herói.

Victor e Karen saíram do prédio deixando os dois sozinhos na visão preferenciada do desastre.

— Pode descer... — disse Lucky com a voz arrastada pelo ataque alérgico que estava sofrendo.

— Claro que não. — respondeu ele acariciando seu rosto: — Só estou surpreso de saber que você tem rinite. — comentou amenizando um pouco o clima.

Ela riu:

— Não é nada importante para se contar à um namorado. — respondeu ela entrecortada.

— Talvez. — ponderou Wally: — Quer que te leve ao apartamento do Victor? — propôs ele preocupado.

Lucky negou virando-se de frente para o rapaz.

— Estou melhor, mas eu quero que você desça e ajude seus amigos, ok? — pediu em tom suplicante.

— Já dei minha resposta. — disse irredutível.

— São seus amigos.— falou ela. Ele não respondeu: — Você não presta. — cuspiu ela retornando com a crise de tosse. Wally sorriu abraçando-a.

— Eu sei.

***

Slade desviou da katana de Damian dando-lhe um chute no abdômen conseguindo afastá-lo alguns metros. Ele pousou no chão com dificuldades ofegando.

Levantou-se e atacou com a mesma truculência do começo. Investiu pela esquerda colidindo sua lâmina na de Slade, impulsionou-se para cima acertando com sua perna direita o ombro do homem. Esse soltou a katana de suas mãos dando uma brecha ao rapaz.

Damian cortou o ar à frente de Slade o deixando na defensiva. Desviou prontamente de todos os ataques do rapaz, o que só aumentava seu ódio. Num giro em arco, Wilson socou-lhe a costela retirando o ar do rapaz em instantes.

Na sequência, um soco na boca do estômago o fez recuar aturdido. Slade tomou posse da katana de Damian investindo contra o rapaz. Em seu punho, antes de conseguir aproximar-se do Wayne, uma corda negra com um Batrang piscante enroscou-se fortemente puxando o braço com brusquidão para trás.

Com um aperto do botão o aparelho explodiu destruindo a armadura alaranjada do braço direto de Slade.

Aparecendo por entre a poeira já quase dispersa, Batman acertou-lhe um chute bem defendido em sua lateral. Mudou de posição usando de sua outra perna para uma investida central. Também houve defesa, mas um pouco lenta.

— É uma honra lutar com o morcego depois de tanto ouvir falar de sua fama, meu caro. — provocou Slade: — Quem sabe não será mais interessante uma luta com você do que os mirins. — De súbito, Wilson retira de suas costas uma segunda Katana a segurando com a mão não machucada.

Batman entrou em posição de batalha.

— AAAAH!! — Damian investiu por trás com a katana parcialmente queimada pela explosão. Slade se virou para defender o ataque sendo surpreendido por Batgirl do alto desferindo-lhe um chute na base da cabeça rachando consideravelmente sua máscara.

Grunhindo medonhamente, Slade afastou-se do grupo os encarando com frivolidade. Sua boa vontade estava se extraviando. Respirou fundo concentrando-se em seus três inimigos circundados perante ele.

O som de um disparo o surpreendeu. Pulou para o lado conseguindo desviar do canhão sônico de Cyborg vindo traiçoeiramente.

— Já deu, Slade. — bradou Cyborg irritado: — Não pode contra todos nós.

Ele irritou-se com a ousadia do rapaz de metal, mas ele estava certo. Slade se encontrava em desvantagem sem seu exército alienígena como apoio. Entretanto, a pior carta ainda existia no campo de batalha, a qual traria sua vitória e a recompensa tão almejada.

— Talvez eu não possa. — comentou colocando a mão em sua máscara: — Mas planejo deixar essa luta gravada na história. — anunciou retirando a máscara de metal revelando sua face à todos: — Será um prazer matá-los.

A lançou no chão limpando o sangue que escorrida por seus lábios.

Bruce apertou os olhos ao reconhecer o homem por detrás da máscara.

— Seu porco imundo. — ralhou Damian possesso: — Vou te mandar para o inferno antes mesmo do que você imagina.

Slade riu:

— Veremos.

***

Slade havia começado sua batalha em grande desvantagem. Na luta, dois super heróis de renome, dois emergentes e um assassino. A situação não se encontrava nada satisfatória para o Wilson; e muito menos para Tara.

Estava encurralada por Kory e Garfield, ambos aflitos e sem uma gota de paciência para papo furado. Se desse um passo em falso com certeza seria decapitada pela tamaraniana furiosa.

— Onde está o Dick? — bradou Kory.

— Não sei. — respondeu Tara temerosa. Kory rosnou avançando dois passos; Tara recuou dois.

— Não vou perguntar de novo, sua traidora! — trovejou incandescendo seus olhos ardentes em fúria: — Me responda!! Onde está o meu namorado?

— Eu já respondi. — cuspiu Tara ligeiramente assustada: — FIQUEM LONGE DE MIM! — gritou rachando o chão entre os dois no meio.

Kory voou sobre a fenda em direção à garota. Garfield apareceu por detrás transformado em uma águia. Assim que a alcançou, transformou-se em um leopardo mordendo-lhe o ombro.

Tara urrou de dor. O sangue se espalhou, descendo por seu braço inutilizado pela feroz e mortal ferida.

Kory pousou na frente da garota a segurando pelo pescoço.

— Onde.está.o.Dick? — perguntou entre dentes.

Tara começou a chorar desesperadamente.

— Eu juro que não sei. Não o vi. — respondeu assustada: — Eu... não quero morrer, Kory...

A tamaraniana ficou calada fitando a amiga suplicando-lhe a vida. Garfield desviou o olhar da cena, mesmo querendo intervir na decisão de Kory.

— Só te poupo se me disser o porquê. — falou soltando a garota que caiu sem forças ao chão.

Soluçou três vezes consecutivamente antes de responder.

— Ele me ajudou. — falou Tara entrecortada: — Eu não tinha controle de meus poderes, e ele me ajudou com treino diferenciado. — explicou.

— E desde quando tem de pagar com serviços contra a lei? — indagou Garfield desconfiado.

— Nunca foi a minha intenção... — bradou ela: — Mas, no final das contas não tive como sair dessa.

— Sempre tem como sair. — Kory aproximou-se séria: — Não saiu porque não quis.

— Porque não consigo. — corrigiu Tara. Ela calou-se concentrando-se em não perder a consciência pela dor latejante de seu braço esquerdo.

Garfield aproximou-se leva agachando-se um pouco distante. Suspirou fundo encarando-a nos olhos:

— Não sozinha. — afirmou ele esboçando um sorriso caloroso para Tara: — Mude de lado. Aqui haverão mais pessoas para te acolher do que ele. Não fique presa. — propôs solidário recebendo um olhar pouco convidativo de Kory, mas, pouco a pouco, a tamaraniana concordava com ele.

— Aceite a proposta. — disse a mulher apertando os olhos dolorosamente: — Por favor!

Tara sentiu seu coração vacilar algumas batidas. O fundo de sua garganta começou a arder, e aquilo que seria somente lágrimas tornou-se uma maré desesperadora.

Garfield e Kory sorriram para a amiga que soluçava alto enquanto respondia diversos "Sim" e "Sinto muito" a cada resfolegada que conseguia.

Agora, eram dois contra treze. Naquele instante, as chances da mesa virar se tornaram mais claras, mesmo que para isso ainda se alastrassem incontáveis minutos de trovoadas — lembrando vagamente rachaduras no céu — como grotescos urros saindo do portal.

Ali estava o verdadeiro problema; trunfo de Slade, perdição da humanidade.

***

— AHHHH! — Damian trovejou investindo contra Slade vorazmente passando a lâmina da katana pela armadura metálica do Exterminador. Desviando com dificuldade, socou a katana a retirando de seu caminho.

Afastou-se alguns metros do garotinho investindo contra Batgirl que avançava pela esquerda. Ela não possuía armas de corte, e sim o uso das mãos limpas.

Batgirl abaixou-se no momento em que Slade investiu com a espada, chutou seu abdômen o afastando três passos; por trás, Karen armou um chute alto vindo da esquerda. Slade pulou para o lado oposto colindo sua espada com a de Damian.

Não teve muito tempo para pensar antes de desviar do canhão sônico de Cyborg. Afastou-se dos jovens recebendo um chute certeiro na costela esquerda por Batman. Cambaleou uma, duas vezes, erguendo a katana defendendo-se do golpe superior do pequeno espadachim.

— Estão dificultando muito pro meu lado, não acham? — comentou Slade forçando sua lâmina para cima tirando o pequeno assassino de sua cabeça.

— Não há moleza na área que você escolheu. — zombou Karen posicionando suas duas armas ao lado do corpo.

— Nem na de vocês. — Ele esticou as mãos largando a katana e tomando posse de suas armas de fogo.

Atirou propositalmente entre Karen e Cyborg atingindo a perna esquerda de Kory que avançava enfurecida para o centro da luta. Ignorando a ferida, segurou uma das armas de fogo socando o rosto do homem que fora lançado alguns metros longe.

Atrás de si, uma imensa parede de terra foi feita o engolindo dentro da escuridão; alguns segundos depois fora lançado novamente ao chão desnorteado.

Tara pousou em sua frente irritadiça.

— Então mudou de lado, minha cara? — ralhou Slade ficando de pé novamente: — Imaginei que fosse me trair nessa altura do campeonato. Sempre é bom estar do lado aparentemente vencedor.

— Todos podem mudar de lado. — disse Batman aproximando-se: — Só precisamos lhes dar uma chance de escolher certo.

— Até ela perceber seu erro e retornar ao meu lado. — comentou Wilson aproximando-se deles: — Admitam, vocês não confiam nela. Nem eu confio, mas diferente dos heróis eu não a julgo, minha cara Tara.

— Não tente confundi-la. — cuspiu Garfield entrando na frente de Tara: — Você já perdeu.

— Certeza? — perguntou o homem sarcástico. Ficaram quietos analisando a situação.

— Temos sim! — gritou Kory lançando-lhe uma rajada radioativa. Slade desviou dela.

— Sinto lhe informar, mas ainda não perdi. — disse o homem: — Melhor dizendo, onde está a amiga de vocês?

Kory estremeceu. Olhou abruptamente para Garfield na esperança de receber alguma resposta.

— Eu sei onde ela está, mas isso não é da sua conta. Certo? — cuspiu o Logan amenizando um pouco do pânico da amiga.

— Foi exatamente por isso que não deixou sua amiga pular na cratera atrás do namorado. — concluiu Slade: — Típico.

— Acho que já esta na hora de terminarmos essa conversa. — disse Batgirl sem rodeios: — Está tentando nos enrolar.

Batman olhou para a ruiva, logo na sequência ambos avançaram por lados opostos atacando simultaneamente. Slade defendeu — com prioridade — o golpe de Batman, por isso levou um forte chute nas costelas dado por Batgirl.

Afastou os dois armando os punhos, já que perdera suas armas durante a luta. Dançou os olhos rapidamente pela área avançando contra Damian que o atacou velozmente.

Socou a katana do garoto mirando um chute alto ao lado afastando Batgirl que recuou dois passos.

Slade ameaçou avançar, mas na sequência somente viu o mundo dar várias voltas até cair no chão desnorteado.

— Nunca perca de vista o homem mais rápido do mundo. — enfatizou o rapaz desaparecendo na sequência.

Raios rosa apareceram ao redor do homem quebrando o chão abaixo de si refazendo a cratera a partir daquele ponto. Ele não caiu, mas escapou por pouco.

— Na na! — exclamou Lucky gesticulando com o indicador: — Quem mandou você desviar.

Mais rajadas o acertaram quebrando parte de sua armadura já rachada. Na sequência, vários Batrangs o acertaram em cheio o levando para frente do tiro de canhão de Cyborg.

Slade encostou os joelhos no chão, exausto.

— Já chega disso. — advertiu Batman aproximando-se: — Retire aquele monstro da cidade. — ordenou o homem morcego.

— Isso não está ao meu alcance, meu caro Batman. Ele está aqui porque quer, e só sairá quando a gema aparecer.

— Estou sabendo disso. — Slade levou o olhar para o lado recebendo um soco certeiro que o fez, por incrível que pareça, ser lançado longe acertando um dos carros destruídos da rua.

Kory mordeu o lábio nervosa, para depois suspirar aliviada.

Dick estava bem à sua frente. Um grande vortex negro atrás de si planava a quase um metro do chão — por onde passou Rachel segundos depois.

— Dick!!! — gritou ela avançando até ele.

Ele não a olhou, mantinha os olhos em Slade que se levantava com dificuldades.

— Força demais para alguém quase morto. — comentou Wilson: — Estou até surpreso com sua recuperação milagrosa.

— É bom ficar, ela só vai durar quinze minutos! — avisou o rapaz apertando os dedos da mão direita que brilharam em um fogo negro aterrorizante.

Kory estacou:

— Dick?

Ele sorriu socando o ar em direção à Slade lançando nele uma rajada de fogo grande o bastante para cortar ao meio metade to prédio atrás dele.

— PUTA QUE PARIU! — Exclamou Wally horrorizado.

— Dick, o que significa isso? — perguntou Garfield sem entender nada.

— Robin? — Batgirl se prontificou com o olhar preocupado. Ela a olhou, sorriu e depois se voltou ao Gar.

— Eu estou morrendo, meu amigo. — respondeu o rapaz sereno: — Só tenho mais quinze minutos antes que a hemorragia me mate.

Garfield desceu o olhar até o abdômen. Uma grande mancha de sangue se fazia presente. Não dava para ver a ferida, mas ao que tudo indicava era mortal.

— Mas a Rae... — começou Kory, como se fosse dizer dos poderes de cura da garota.

— Ela não pode ajudar na situação que se encontra. Se ela me curasse perderia o controle. — interrompeu Dick virando-se à empata. Ela aquiesce fechando os olhos e começando uma conjuração.

— O que ela está fazendo? — perguntou Lucky.

— Você verá! — Disse Richard se virando para encarar o homem a sua frente que somente assistia.

Para que ter pressa? Quanto mais enrolassem mais próximo Slade estaria da vitória.

— Rachel, ao meu sinal você vai. Entendeu? — ele não esperou a resposta avançando com força máxima chegando lá monstruosamente em alguns milésimos de segundo acertando-o novamente com o mesmo braço.

Slade cuspiu sangue arrastando-se pelo chão com a força do impacto. Levantou-se ligeiramente segurando o braço do rapaz que já estava à sua frente.

— AGORA!

Um portal se abriu, branco, belo, puro. Rachel desapareceu por ele levando um pouco da esperança do mundo consigo, e criando um mortal desespero no antigo homem mascarado.

— Para onde ela foi? — perguntou Slade curioso, mas sem parecer preocupado, ainda que estivesse um pouco.

— Vai saber. — deu de ombros o rapaz sorrindo macabro.

— Não importa onde ela esteja, a maldição ainda está funcionando. Não aja como se tudo se resolvesse de forma simples. — explicou o homem: — A ingenuidade mata.

— Por isso que eu pensei em tudo. Ou melhor, nós dois. — Dick afastou-se de Slade parando ao lado de Batman e os titãs.

— Para onde ela foi? — Garfield parecia transtornado, mas era plausível.

— Azarath. — respondeu o amigo: — Ela sabe o que está fazendo, não se preocupe.

— Algum plano? — perguntou Batman ao seu lado. Dick afirmou.

— Eu consegui um símbolo que me dá um poder parecido com o de Rachel. — falou ele amostrando seu braço inteiramente negro: — Chamas do inferno. Nada apaga elas, além de também me dar uma força sobre humana. Ainda mais, Rachel fez uma conjuração que me permite usar cem por cento dos meus músculos.

— Isso é perigoso demais. — alertou Batgirl: — Sabe o que acontece depois?

—Os músculos atrofiam, e nunca mais se mexem novamente. — respondeu Slade ao longe: — Irônico, pois fazendo isso não poderá mais ser o parceiro do Batman.

— Não seria, mesmo sem usar isso. — respondeu Dick serenamente: — Meu manto já pertence a outro, pois minha vida já está perto do fim.

— Típico de heróis, morrer pelo mundo todo, por aqueles que sequer sabem que existem.

— Não. — grunhiu Dick: — Morro por quem amo. Estou determinado somente a salvar uma dúzia de pessoas; eles são o meu mundo. Se o resto do seu mundo for envolvido sairá lucrando, mas pra mim de nada vale salvar sete bilhões de pessoas se não pude salvar ao menos essas doze.

Batman ficou calado, mas soltou um pequeno sorriso bem visto pelo garoto prodígio.

— Monótono! Se está fazendo um discurso de despedidas, sugiro que reformule suas palavras. —propôs Slade arrogantemente segurando seu braço esquerdo lesionado.

— Não pensei numa despedida, mas seria demais ir buscar o meu depoimento na gaveta do meu quarto? Ficou tão bonito. — zombou o rapaz.

— O passarinho, melhor mudarmos a tática. — propôs Victor: — Não sei quanto tempo a Rachel vai demorar, mas algo me diz que o relógio está girando mais rápido do que deveria.

— Ou seja, não tenho mais tanto tempo assim. — murmurou o rapaz virando-se para Kory por puro instinto. Não queria ter de olhá-la e ver alguma tristeza em seu olhar, mas não pode se conter.

Não sabia se eram lágrimas ainda se preparando para o pior, mas a aflição em seu rosto não o ajudou a pensar com lucidez.

— Dick! — gritou Garfield aflito.

— Vamos somente atacar, temos que criar tempo à Rachel! — Richard se virou novamente usando de seus poderes novos: — Titãs Atacar!

***

— Obrigado por me salvar naquela hora, Rae. — agradeceu Dick deitado no chão de porcelana de um dos prédios comerciais da redondeza.

— Estaria morto se não tivesse teletransportado você pra cá. — disse ela ríspida enquanto usava de seus poderes para parar a hemorragia.

Dick grunhiu de dor tossindo um pouco pela agonia.

— Está muito ruim? — perguntou ele, mesmo sabendo que a lâmina havia atravessado seu corpo.

— Não pegou a coluna, teve sorte. — respondeu ela séria: — Mas atingiu diretamente seu Estômago, está partido em dois. — seu comentário o fez estremecer.

— Então vou morrer. — ele comentou para si mesmo, mas a confirmação de Rachel veio na sequência.

— Não posso curá-lo totalmente, se usar mais do que isso você irá viver, mas eu irei sucumbir. — disse ela parando com o encantamento de cura.

— E consequentemente morrerei também. —Dick tentou sentar, mas a fisgada em seu abdômen for arrasadora.

Ele fechou os olhos por quase um minuto respirando com pequenos intervalos tentando controlar aquela dor que não passava de maneira alguma.

— É uma.... dor... terrível.... — comentou entrecortado.

— A hemorragia interna que está doendo. — respondeu ela pegando nos ombros do rapaz o fazendo deitar em seu colo enquanto se contorcia de dor: — Desculpe não poder fazer muito mais do que isso.

— Não se preocupe.

— Você ainda deve durar uma meia hora. — ponderou a empata.

— É o suficiente para eu matá-lo. — cuspiu o rapaz levantando-se vagarosamente usando Rachel como apoio.

Ele conseguiu sentar, com certa dificuldade, encostando sua testa no ombro da amiga na sequência; totalmente esgotado.

— Eu posso tirei seus sentidos de dor, vai ajudá-lo à voltar pra batalha. — disse a garota receosa.

Não queria fazer isso, mas aquele momento era crítico.

— Aceito isso, e, talvez, você pudesse aumentar meu poder? — perguntou esperançoso. Do jeito que estava morreria em segundos, e se bobeasse pelo próprio Damian.

— Posso fazer com que use cem por cento dos seus músculos. Isso lhe dará uma força sobre humana. Mas caso não morra com essa hemorragia seus músculos atrofiarão e perderá o direito de andar, sentar ou até mesmo usar os braços para qualquer coisa que não seja coçar os olhos. — ralhou a garota na esperança dele recusar a sugestão dela, mas assim que viu o olhar determinado de seu amigo se deu por vencida.

— Não importa.— Disse o rapaz com a voz baixa.

— Então se prepare. — Ela fez a conjuração da dor, dos músculos, colocando símbolos em seu braço direito.

Ele sentia a dor desaparecendo e uma leveza descomunal vinda de seus braços e pernas. Mas, na sequência, uma queimação no mesmo braço que se tornava cada vez mais negro.

— RAE? — chamou ele desesperado.

— Calma, estou te dando um poder a mais. — respondeu ela segurando seu braço: — Não fique feliz por isso, se seu corpo aceitar o parasita será condenado eternamente à terceira dimensão.

— Não concordei com isso. — zombou ele rindo. Rachel fez uma cara de espanto: — Brincadeira.

Ela rosnou: — Não me surpreende.

— Agora temos de cuidar do seu problema. — diz Dick: — Como quebrar essa maldita profecia.

— Não tem como. — respondeu desanimada: — Já procurei.

— Já consultou alguém? Não há ninguém aonde você morava que te ajudaria a achar um jeito de vencer essa maldição?

Rachel queria dizer que sim, havia uma pessoa que a ajudaria, mas para que dar falsas esperanças à uma coisa que provavelmente não teria jeito? Ela iria sucumbir mais cedo ou mais tarde. A única coisa pela qual ela torcia era para que não acontecesse na frente do Garfield.

Portanto ela resolveu ignorar a hipótese dele.

— Rachel!!!!

— Não tem como! — gritou ela se levantando: — Se tivesse eu poderia ter tido uma vida normal, como uma adolescente normal, tá! Mas não tem, nunca houve nada.

— Não estou dizendo uma cura, e sim uma ajuda. Nem que seja uma capsula de contenção para te prender pelas próximas duas horas até a maldição. Algo que impeça Trigon de fazer qualquer coisa. — disse Dick também se levantando: — ESTOU FALANDO DE UM JEITO DE IMPEDIR QUE VOCÊ SE APROXIME DELE SEM TER UMA PLANO DE FUGA!

Ela calou-se. Richard respirou algumas vezes, cansado.

— Vá para Azarath, procure alguém, e se não achar nada fique por lá! — ordenou o rapaz: — Fui claro, Ravena?

Ela assustou-se com a ordem, mas aceitou. Ela merecia no final das contas.

— Venha para o campo comigo. Depois de fazer contato visual com Slade, saia.

— Prá que isso?

— Se chama jogar sujo, entende?

***

Rachel entrou em Azarath por seu portal, não tão perfeito como costumava fazer, mas o suficiente para enviá-la de corpo e alma à terra do monges.

Contudo, assim que entrou na dimensão da cidade, vários monges a barraram com símbolos e artefatos mágicos.

Ela tentou explicar a situação, mas assim que começou a falar da profecia fora cortada por encantamentos de banimento, exorcismos e todos os tipos de magias possíveis para espantá-la.

— Esperem, preciso falar com o Darion. Por favor! — implorou a garota avançando para a cidade.

Assim que tocou nos muros de Azarath uma maciça bola de energia passou por seu corpo a lançando alguns metros longe. Caiu ao chão exasperada:

— Seres da terceira dimensão não tem permissão de entrar, ou sequer tocar nos templos. — proferiu um dos monges: — Desapareça, monstro hediondo.

— Por favor, preciso do Darion. — implorou Rachel desolada. E fez o que nunca pensou que um dia faria, começou a gritar o nome do seu amigo em alto tom, com angustia, lágrimas e o que mais conseguia expelir de sua garganta seca.

Sua cabeça latejava, e algo lhe dizia que perderia o cotrole. No mais tardar dali uma hora. Seu desespero começou a aumentar quando se passaram quase dez minutos e nada dele aparecer. Por alguns instantes ela pensou que ele também tivesse aprendido a detestá-la.

— DARION! — gritou em prantos Rachel já quase sem forças: — ... por favor... Por-... — ela se entregou ao desespero segurando seus braços com força sem saber o que fazer a seguir.

— Vá embora! Não perturbe o Monge Darion com ladainhas. — grunhiu um dos monges, noviço para ser mais específico.

Rachel pensou nisso, pensou em se levantar, voltar à Terra e aceitar seu destino condenando toda a Humanidade. Contudo, como iria encarar seus amigos? Richard, Kory, Garfield... Não era sua vida em jogo e sim a deles. O que é a vida de uma Híbrida, afinal?

Ela se levantou, avançou dez passos e segurou firme nas muretas de Azarath. Novamente a rajada de energia passou por seu corpo a lançando longe, desta vez mais do que cinco metros apenas.

Levantou-se cambaleante caminhando até o muro novamente. Chegou perto o bastante para ser atingida por pedras de crianças — futuros monges —, e depois o suficiente para conseguir tocar na proteção Divina.

Ela nunca achou que essas proteções verdadeiramente funcionassem contra a terceira dimensão, mas acabou descobrindo do pior jeito que funcionam, e que não precisa somente ver para se descobrir isso.

— Dari...on... — murmurou cansada aterrando os joelhos no chão arenoso de Azarath.

— Que união é essa, Monge Da Lai? — Rachel estremeceu ao ouvir sua voz. Levantou o olhar podendo ver bem nitidamente Darion se aproximando com vestimenta branca, típica dos monges de Azarath.

— Um ser da terceira dimensão tentando adentrar na cidade. — respondeu solene ao homem que aparentemente dispunha de algum poder dentro do Mosteiro.

— Terceira dimensão? — indagou ele surpreso dando mais alguns passos até os muros. Parou, fitando um tanto surpreso a figura errante a sua frente: — Rachel?

— Darion... — as lágrimas desceram livremente por seu rosto sujo e deformado pela besta.

— O que... — Ele não continuou, pois logo se lembrou da data e da infame profecia. Fechou os olhos por um breve momento antes de ordenar a todos que voltassem a seus afazeres.

A contra gosto partiram, enquanto isso ele estendeu sua mão à Rachel. Ela se levantou e começou a falar sem pausa, vírgulas ou qualquer coisa que pudesse dar um melhor entendimento a tudo. Explicou até mesmo sua relação com Garfield, as ameaças, as descobertas sobre seus limites — ainda que envergonhada nessa parte —, sobre Azar estar em sua mente, e quase todas suas emoções estarem mortas. Tudo o que pode em um curto período de tempo foi dito.

Por incrível que pareça ele ouviu tudo, absorveu e ponderou cada palavra proferida pela amiga.

— Não há nenhum meio deu me livrar da maldição? — perguntou ela por fim segurando as mãos do monge em um gesto de respeito. Ele não respondeu de imediato, somente se aproximou dela depositando um beijo em seu chakra.

— O que pretende fazer? — ele perguntou enfim cruzando os braços pensativo.

— Qualquer coisa para salvar quem eu amo.

Darion levantou o olhar aos céus por uns momentos, por mais que a ideia fosse algo de última estância, naquele momento lhe pareceu viável.

— Posso ser um monge, minha amiga, mas isso não significa que todas as minhas ideias são boas. — Rachel aquiesceu.

— Não importa. Só me de uma luz.

Darion desviou o olhar dos dela antes de começar a falar:

— Bem, você tem como se livrar da Maldição, mas para isso tem de lembrar que sacrifícios terão de ser feitos para salvar o mundo dos humanos. Você compreende isso? — perguntou Darion seriamente. Ela aquiesceu.

— Sim, eu sei disso. Farei qualquer coisa. — disse ela desesperada.

— Fale com as Apóstolas. — propôs. Rachel ficou muda e sem reação alguma.

— Mas elas...

— Elas não ajudam humanos, nem Azarathianos como nós. Elas são acrescentes do mundo místico, mas talvez tenham a resposta para o que procura. Não custa tentar. — disse Darion sabendo bem do perfil das mulheres sábias.

— E ajudariam alguém como eu? — comentou descrente.

— Não. Não te ajudarão. — respondeu por fim suspirando pesado: — Mas ajudarão a humanidade. — emendou aproximando-se dela: — Diferente do que você pensa, as Apóstolas prezam o equilíbrio Universal. Qualquer coisa que quebre isso está ligado diretamente ao conselho delas; onde podem decidir a vida e a morte de cada indivíduo.

— Então, elas tem o poder necessário para me ajudar. — concluiu Rachel com uma pontada gigantesca de esperança: — Como eu as encontro?

Ele negou:

— Não tem como encontrá-las. Elas vem à você. — ele olhou para os lados duas vezes antes de pegar um pedaço de pergaminho e escrever algumas palavras conjurais: — Recite essas palavras, e depois aguarde.

— Quanto tempo?

— O tempo delas. — ele meneou a cabeça ao ver o choque desperto na face da garota, já medonha, contorcendo sua feição em algo bruto.

— Eu não tenho o tempo delas! — exasperou-se: — Preciso delas para agora. Daqui a dois minutos, ou talvez agora mesmo posso acabar sucumbindo ao poder de Trigon. Não tenho tempo!

— Elas sabem disso. Mas farão você esperar o que for necessário. Não tem discussão.

Rachel ficou quieta. Ele lhe estendeu o pergaminho. Havia um certo ar de preocupação nos movimentos dele, mas nada além do que um grande carinho escondido por túnicas branca podiam ser amostrados.

Ela pegou o papel apertando-o firmemente.

— Você havia me dito sobre um sacrifício. — afirmou a empata recebendo uma confirmação do monge: — Quais os tipos de sacrifícios que elas pedem?

— Elas se alimentam de lembranças, sentimentos, vida. — Respondeu: — Elas escolherão qualquer coisa sua e roubarão para elas. Mas dependerá do tamanho do seu pedido. E muitas vezes elas não são justas.

— Como assim?

— Se for pedir para ter o amor de seu prometido, e elas lhe concederem o pedido, podem roubar o amor que sentia por essa pessoa e a fazer se esquecer dele. Passará o seu amor platônico para o rapaz. — sua explicação foi dura, o que deu a entender que aquelas mulheres eram algo como ultima opção, pois de lá não sairiam coisas boas.

— Mas eu não sou igual seus clientes usuais. — lembrou Rachel: — O que elas poderiam roubar de mim?

— Se seguirmos a linha de raciocínio, roubariam sua humanidade e você perderia o controle, assim elas te baniriam na terceira dimensão e a Terra ficaria segura. —Rachel engoliu em seco. Então, a morte era a única saída?: — Mas como eu disse, mesmo elas não sendo justas, há momentos em que agem como devem.

— Entendi. — murmurou Rachel já assustada bem antes de sequer trocar duas palavras com as Apóstolas: — Elas tem alguma ligação com o divino?

Darion inspirou fundo:

— Não. Nenhuma ligação. — respondeu direto: — Elas se auto intitulam apóstolas, mas se consideram deusas acima de tudo. — emendou cruzando os braços.

— Então não se parecem em nada com... Anjos? — ponderou Rachel ficando nervosa com a futura conversa.

Não deveria estar perdendo tempo com conversas sem sentido, afinal não tinha tempo para isso, mas sua curiosidade lhe falou mais alto.

— Nunca viu nenhuma delas? — perguntou ele um tanto quanto surpreso. Ela negou: — Bem, lembra que havia uma área do templo a qual era proibida a entrada de pessoas sem permissão de Azar? — Rachel aquiesceu: — Um dia, quando mais nova você entrou nessa Ala fugindo de monges que queriam usá-la como experimento. Lá, você viu alguns desenhos peculiares...

— Eu me lembro, eram demônios horrorosos. — descreveu ela temerosa ao lembrar-se das imagens.

— Não, eram as Apóstolas.

***

Darion a deixou sozinha do lado de fora da cidade após a conversa e conselhos. Rachel inspirou fundo abrindo o pergaminho e recitando as palavras de força maior:

"Veio até nós, em uma suplica minguante, no tenebroso destino que sempre vos carrega. Dar-lhe-ei vosso desejo. Mas antes conheça nossa fundamentação:

dare nemo potest quod non habet, neque plus quam habet!"

Rachel terminou a leitura levando os olhos aos céus que faiscavam em cores diversas. O show durou pouco, pois logo depois disso o céu se enegreceu novamente e as cores se dispersaram pelas nuvens como raios em uma tempestade.

Ninguém pode dar o que não possui, nem mais do que possui!... Super irônico, pensou Rachel segurando com força o pergaminho de Darion.

— Por favor, me atendam!

***

Mais um golpe desferido por Dick conseguiu inutilizar totalmente os movimentos do Wilson, que nem sequer conseguia mais distinguir o que eram pessoas de vultos criados por sua mente confusa.

Já havia se passado tempo demais, estourando seu limite físico e psicológico, e até aquele momento Rachel não se fizera presente.

Slade estava no chão, derrotado enfim. Porém, se o problema fosse somente ele, poderiam todos ir para casa e torcer para não serem responsáveis financeiramente pela destruição quase total de Gotham City.

Contudo, o real confronto sequer tinha começado. Richard já se sentia um pouco tonto, e torcia para Rachel aparecer logo com um resultado antes que caísse morto aos pés dos Titãs.

Piscou uma, duas vezes enquanto imaginava se Slade iria ficar novamente de pé e tentar mais uma luta contra eles.

Ele sequer se mexeu, simplesmente ficou imóvel enquanto aguardava a tão sonhada hora de sua vitória. Pois como dito antes, quando mais tempo se passar, mais perto ele estará da vitória.

***

Rachel já entrava em parafusos.

Mesmo que só houvesse recitado à menos de dois minutos a espera estava destruindo-a.

E se não viessem? E se não ajudassem? E se penalizassem a raça humana pelos erros do Wilson? Perguntas sem respostas rondavam a cabeça turva da garota ansiosa.

Darion havia lhe dito também para meditar algumas palavras de auto controle enquanto aguardasse, pois a espera poderia acelerar a maldição. Portanto, enquanto andava de um lado para o outro recitava mentalmente as palavras acolhedoras.

Claro que andar em círculos não ajudava nem um pouco a se controlar devidamente, mas de algum modo lhe dava um conforto ao coração enquanto dava voltas em um mesmo lugar.

Com certeza teria ouvindo um "vai fazer um buraco no chão?" se estivesse com Garfield a seu lado. O pensamento a fez parar de andar.

E se não conseguisse salvá-lo uma segunda vez?

Essa pergunta foi a gota:

— Não sei se estão ouvindo, mas por favor! — pediu Rachel olhando as nuvens passarem lentamente: — Ajudem ele. Não deixem que ele morra.

O Silêncio se estendeu por mais um tempo. Ainda que tenha feito seu pedido em voz alta, e deixado algumas lágrimas escaparem por sua face, ninguém apareceu.

Mas Rachel desapareceu em um piscar de olhos.

(...)

Ela não percebeu nada, nem conseguiu entender como fora parar em um campo astral; tão lindo e colorido como a aurora boreal poderia ser, se vista bem de perto.

Era uma imagem quase divinal, se não fosse por cinco figuras de roupas negras, cobertas por um grosso capuz de veludo avermelhado. Dava-se para ver claramente mãos esquias e sobressalentes, manchadas pela idade e pecados, pendentes ao lado do corpo passando a barra da manga.

Seus rostos estavam cobertos, mas a imagem macabra assombrou até o ultimo pelo do corpo de Rachel. Aquilo seria assustador.

— Senhoras, eu...

Uma mão a interrompeu, levando-se em ordem para que se calasse. Rachel o fez, ainda que a contragosto. Todo aquele ritual lhe tomaria muito tempo do qual não dispunha.

As cores a estavam confundindo tanto que por breves momentos se perdeu imaginando pôneis pulando de uma mancha colorida a outra, com sua crina brilhante deixando rastros pelo caminho. Se sentiu estranha ao perceber que pensou em pôneis... Não podia pensar em pôneis, ela precisava de ajuda, e agora!

— Por favor, não tenho tempo!

Elas a olharam, e foi nesse momento que Rachel desejou chorar mais do que nunca. Principalmente de medo.

Não era a melhor imagem a ser vista, pois causaria pesadelos até ao adulto mais sensato que as visse. Seus olhos eram grandes buracos negros envoltos por uma pele apodrecida do passar dos anos; sua pele de cor amarelada e manchada; seus lábios eram inexistentes, podendo-se ver claramente toda a arcada dentária de mandíbula à mandíbula, como um sorriso eterno em seus rostos velhos.

Já em contra partida, seus cabelos eram brilhosos e alternavam-se de cor com o passar tempo. Rachel sentiu vontade de vomitar.

— Sabemos o porque veio, e temos a sua resposta e melhor solução. — Respondeu uma delas aproximando-se: — Mas o preço a se pagar será alto, pequena Híbrida.

— Qualquer coisa. — relembrou a garota tentando não olhar diretamente nas mulheres.

— Nunca diga qualquer coisa, pois podemos lhe tirar bem mais do que imagina. — afirmou uma das irmãs mais atrás.

Ninguém pode dar o que não possui, nem mais do que possui! — repetiu Rachel: — Está na conjura—

— O máximo que podemos lhe tirar é a vida. — cortou uma delas em uma voz grossa e rasante: — Portanto, todo o resto é nosso por direito. — emendou salientando a posse.

— Se quisermos lhe retirar todas as suas memórias, a transformando em uma marionete poderíamos. Estaria dentro dos acordos das Apóstolas. — mais uma voz ressoou.

— Então o que querem de mim? — perguntou ela já preocupada.

— Queremos que nós dê trinta anos de sua vida. — pediu uma das Apóstolas. Rachel retesou a espinha: — Serão trinta anos que você perderá, morrendo bem mais cedo do que imaginou.

— Só isso?

— O tempo é traiçoeiro, trinta anos é tempo demais. — disse uma delas: — Volte e condene a humanidade, ao menos sua alma humana será resguardada na terceira dimensão protegida por seus irmãos e irmãs.

— NÃO! — Gritou ela já irritada: — Não me importo, sejam trinta, cinquenta, mil anos de minha vida. Te dou tudo, mas por favor ajudem-me a salvar quem eu preciso, e para isso preciso de Trigon longe!

As Apóstolas ficaram quietas. Se entreolharam — estranhamente, claro —, para depois aparecer em frente à elas um pergaminho grande, velho e de má qualidade.

— Esse é o poder que precisa para salvar o mundo humano. Te mandaremos a Terra e lá você recitará o que está escrito aqui. — ordenou uma das mulheres se aproximando dela o bastante para encará-la "olho no olho".

Rachel segurou instintivamente a respiração. A mulher abriu a boca, de onde vários vermes saíram descendo por seu pescoço esguio. Rachel ficou verde instantaneamente.

Ela pegou uma das pestes a transformando em um punhal. Segurou firmemente o pulso de Rachel desenhando um símbolo em sua pele. Ardeu, doeu, queimou como brasa. O sangue escorreu formando uma corrente que ia de seu pulso ao fundo infinito das cores boreais.

— Você nos pertence até pagar a dívida. — disse a mulher afastando-se: — logo após seu desejo se realizar, será feito o nosso pagamento.

— Preciso saber de algo mais?

— O processo será respondido à você quando chegar à Terra, mas avisamos que você não poderá voltar do jeito que veio.

Rachel apertou os olhos:

— Como?

— Também gostamos de nos divertir. — todas elas riram, esganiçadas e maldosas. Algo estava errado naquilo tudo.

— Preciso ir. Deve ter se passado quase uma hora. Não tenho mais tempo.

Elas pararam de rir:

— Não ficou aqui nem por dez segundos, minha cara.

Rachel não conseguiu responder, pois na sequência sua vista se escureceu, e a sensação de estar caindo tomou posse de seu corpo.

***

Não tinha mais batalhas em Gotham.

Slade estava derrotado; esgotado. Os titãs se encontravam no mesmo estado exaustivo por estarem desde o início em campo de batalha.

Tudo estava em puro caos. Se a cidade realmente pudesse ser reerguida, levaria ao menos alguns anos até tudo voltar ao seu lugar de origem.

Trigon estava beirando a loucura. O tempo parecia alucinógeno de tão lerdo a passar, tanto para ele quanto para os heróis.

Tara estava sentada em um amontoado de pedras com Victor examinando seu braço machucado. Garfield sentiu-se mal ao ver o estrago que fizera. Pensou em ir se desculpar, mas não estava com muita cabeça para isso.

Rachel ainda não havia retornado de sua jornada, e Richard estava quieto demais pro seu gosto. Um pouco indeciso foi ver o estado de seu amigo semi-morto.

Ele estava apoiado no resto de um automóvel, que outrora talvez fosse amarelo vivo. Garfield apoiou sua mão no ombro desnudo do rapaz.

Dick levantou o olhar. Sem vida, opaco. Se antes duvidava de sua morte, agora tinha certeza. Aqueles não eram olhos de pessoas vividas, ou que carregassem qualquer esperança; aqueles olhos conheciam a morte.

— Ela vai voltar. — respondeu o Grayson antes mesmo de ouvir a pergunta.

— Não era isso que eu ia perguntar. — afirmou cruzando os braços: — Mas obrigado pela informação. — arfou pesado. Estava bem mais esgotado do que imaginou: — Quero saber como está.

— Eu? — Richard riu da pergunta: — Morrendo.

Garfield inspirou fundo. Não queria essa resposta:

— Como pode ter tanta certeza? — sabia que estava sendo indelicado, mas era difícil de acreditar que alguém de pé bem a sua frente, com aparência normal, pudesse vir a desfalecer de uma hora para outra.

— Sua namorada me examinou. — disse sereno. Pelo menos naquele momento responderia todas e quaisquer questões sem rusga: — E de qualquer forma perfurou meu estômago. No mínimo uma infecção de grau dois está nadando por meu corpo.

Garfield arrepiou-se:

— Já entendi. — ficaram calados depois disso.

No final das contas não tinham mais nada a dizer, só torcer para ver a amiga chegar com uma solução para o problema principal, fosse o que fosse.

— Passarinho! — Victor chamou acenando: — Vem aqui, quero examiná-lo.

Os dois se entreolharam para seguirem até onde o grupo estava. Àquela altura Batman já não estava mais tão sereno quanto geralmente se mostrava, sequer estava presente entre eles. Somente Batgirl e Damian se mantinham sentados ao lado de Wally e Lucky.

— Não precisa me examinar. — avisou sem rodeios: — Sabe disso.

Victor aquiesceu segurando em seu braço fino. Abaixou o olhar à ferida pulsante. Não vazava sangue ou pus — o que deveria acontecer —, mas as manchas arroxeadas estavam cada vez mais presentes em seu corpo.

Kory resolveu se aproximar dele:

— Dick, precisamos conversar. — pediu suplicante. Ele a evitou desde que voltara com Rachel à avenida. Talvez fosse ela a melhor escolha devido as circunstâncias.

— Agora?

—Si-

Um estrondo nos céus chamou a atenção dos titãs. Olharam para cima vendo uma fenda abrindo passagem entre as nuvens negras da noite; no fundo, cores diversas formando uma imensa aurora boreal se fez presente.

Era uma visão linda.

Da fenda desceu uma figura tão rápida que mal foi vista aos olhos dos heróis. Slade sorriu vitorioso.

— Como eu disse, ela iria se perder não importava o lugar. — cuspiu Wilson.

Rachel se levantou. Um sorriso se abriu, amarelo e macabro. Sua capa assumiu a cor vermelha, seus cabelos se alongaram o bastante para tocarem sua cintura.

A figura era assustadora.

— Rae? — chamou Garfield temeroso em se aproximar.

Ela levou o olhar até ele. Quatro olhos vermelhos alucinógenos. Entreabriu os lábios urrando uma língua estranha. Na sequência avançou contra eles.

Os titãs desviaram bem a tempo de fugirem do golpe feroz da colega de equipe. Ela dançou os olhos pelos lados voando em direção à Dick e Batgirl.

Do lado oposto, Kory levantou voo avançando contra a amiga insana. Seus socos colidiram criando uma pressão esmagadora. As duas foram lançadas para trás, mas sem lesões.

Kory torceu o lábio pegando impulso e chutando-lhe a costela. Rachel grunhiu:

— Kory! — Dick estava inconformado. Ela estava mesmo lutando a sério contra Rachel?

Ela o ignorou segurando os cabelos da amiga a lançando ao chão áspero. Rachel levantou as pernas dando uma cambalhota para trás ficando em pé novamente.

Kory pousou ao chão ficando em posição de batalha.

"— Amigas brigando, que coisa mais linda — comentou uma das apóstolas vendo a briga da dimensão paralela. "

Mais um soco, desta vez conseguindo arremessar Kory contra um dos escombros mais altos da Avenida.

" — Não acham melhor trazermos ela de volta? — propôs uma delas apoiada em um cajado de madeira"

Rachel juntou um pouco de seus poderes lançando-os, acumulado, contra a amiga. Ela não desviou recebendo um golpe bruto da Híbrida.

" — Você acha? Eu estou me divertindo. — as Apóstolas riram.

Se viraram uma para as outras. — Muito bem, desfaça o encantamento."

Rachel ficou por cima de Kory armando um soco. Um estalo em sua mente e sua visão novamente tomou cores. Assustou-se ao ver a amiga com a face irritadiça debaixo de si.

Afastou-se horrorizada. Kory sorriu sentando-se:

— Achei que não ia voltar logo ao normal. — comentou a tamaraniana risonha.

— Eu...? — Rachel se sentia tonta. Afinal, como fora parar ali, em cima de Kory? Até dois segundos atrás estava com as Apóstolas.

— Perdeu um pouco do controle, mas nada demais. Te distrai um pouco. — comentou levantando-se. Espanou sua saia aproximando-se: — Não se preocupe, ok?

Rachel arfou. Então aquele era o "Não voltara como veio" das Apóstolas. Desejou poder voltar lá e socá-las uma a uma, mas o tempo estava justo.

Se levantou encarando o portal em pura desordem. Suspirou fundo lembrando-se, passo à passo, das instruções da magia proibida. Pegou o pergaminho de seu cinto o apertando firme contra o peito. Inflou os pulmões com uma ultima tragada de ar fresco e avançou contra a fera.

Parou bem embaixo esticando os braços — sem soltar o pergaminho — deixando as marcas da maldição rasgarem sua pele e reaparecerem com voracidade. Doeu, como algo rasgando-lhe a pele com a lâmina ardente em brasa.

Slade esboçou um sorriso dos mais sombrios que pode. Se levantou, como se as forças lhe retornassem, esticando as mãos aos céus em agradecimento.

— Finalmente. — exclamou levando o olhar ao pequeno prodígio. Ele levou um tempo até perceber o que estava acontecendo. Dick avançou alguns passos um pouco cambaleante:

— RACHEL! — tentou chamá-la por entre o forte barulho do vento que circundava-a. Nenhuma palavra saiu dos lábios da empata, nenhum som ou ruído; só o barulho de algo se quebrando.

Uma luz forte eclodiu do portal passando por ele imensos membros avermelhados, tendo em sua extremidades cascos semelhantes à um imenso equino; de tamanho assombroso, Trigon ergueu-se apontando ao céu seus chifres finos e bifurcados, quatro grandes olhos em um vermelho rubro; em seus lábios, presas salientes e aparência animalesca saltavam para fora.

Ele urrou, como se dissesse ao mundo que havia chego para dominar. Abaixou o olhar até sua filha, enfraquecida; ajoelhada ao chão quase sem forças, as quais foram sugadas pelo portal conjurado. Amostrou um sorriso macabro, como se houvesse a intenção de devorá-la ali mesmo, sem delongas ou formalidades.

Rachel levantou o olhar, encarando as orbes sanguinolentas de seu odioso pai.

— Estou livre, gema. — avisou com certo escárnio na voz, retumbando pelos arredores.

Os pelos de Kory eriçaram-se, temendo com força o ser. Mesmo ela sendo uma alienígena de uma das raças mais fortes na arte da guerra, sabia que não poderia contra aquele monstro descomunal.

— Momentaneamente. — sibilou a empata levantando-se com dificuldades abrindo o antigo pergaminho:

["Corrompendo o tempo, destruindo o espaço;

Mão aquela que cria e refaz, recriando o certo e modelando o errado;

Com desejo de justiça e sede de sangue, Oh! Sacerdotisas do presente e passado;

Conjuradas por mim, monja de Azarath, em um pedido egoísta, de punho humano e mente hostil;

Entregar-lhes-ei um monstro infernal, reduzido a cinzas e recriado de um sujo e pecaminoso cantil;

Tomem para si tal odioso ser, levando consigo frutos que semearão o mal em seu nome;

Refaça a verdade, e prolifere a paz;

Use-me como recipiente de tua posse. Modele o universo;

ORDENO-VOS: Exilem o mal desse mundo. Destruam a desumanidade."]

As palavras citadas pela bel moça eram em língua desconhecida para todos ali presentes. Como ranhuras em um disco, sua voz saiu rasgando seus ouvidos, e perturbando a recente e curta felicidade daqueles que se consideravam vencedores do agora.

Um símbolo apareceu aos pés de Trigon. Das linhas desenhadas por grandes feixes de luz saíram correntes brilhantes e grossas enrolando-se no monstro que urrava.

As correntes queimavam sua pecaminosa carne, introduzindo agonizante ardor em todo seu corpo. Dos céus, rasgando o azul da noite, um gigante ser encapuzado apareceu — como um ceifeiro da morte — ; seu rosto era deformado em um carcomido tecido, trajado de vestimentas negras da morte.

Em suas mãos, fio se ligavam ao fundo vermelho atrás de si, como linhas da vida; uma marionete ambulante. Trigon agonizou, temendo o pior. Cuspia em alto tom que era o soberano dos seres humanos, e que seria o novo dono daquela terra profana.

Palavras ao vento, levadas junto das esperanças mortas dos olhos uma vez existentes no rosto morto daquele ser. Colossal e medonho, esticou suas mãos cálidas, contendo somente ossos e juntas mal delineadas; segurou Trigon com firmeza o puxando para dentro do imenso rasgo no céu.

As correntes passaram por Rachel tocando sua pele adoecida. Ela urrou sendo levitada bem ao todo dos céus, tendo seu corpo dividido em dois; um deles lançado ao chão, quase imóvel, enquanto o outro — de aparência tenebrosa — era levado junto à terceira dimensão para o banimento requisitado.

Caída ao chão, sentido todo o poder de seu corpo se esvair. Como um ultimo suspiro de soberania, Trigon deixou uma marca na cidade. Algo que não esqueceriam tão facilmente.

O portal fechou-se, junto daquele que um dia usou e abusou daquele poder não pertencente a si.

Rachel gemeu dolorida. Seu pulso ardia, queimava e explodia em dor e agonia. Levou o olhar ao membro vendo ali a corrente de sangue ligando-a às Apóstolas daquele monstro mortal.

Sorriu fraco, pois que aquilo seria retirado de si cortaria profundamente seu íntimo. E agora sabia bem disso. Não se arrependeu, mas algo em seu interior esquentou, o fundo de sua garganta ardeu sentindo seus olhos embaçarem pelo sentimento que transbordava seu ser.

Liberdade.

Garfield correu até ela agachando-se à seu lado. Ela o olhou, se sentando e abraçando-o com todas as forças que tinha, sem medo de expor sentimentos um dia trancados à sete chaves.

— Ele se foi. — falou ela: — Se foi, se foi! — repetiu outra vez, e mais outra e outra, chorando e retumbando aos ouvidos do rapaz tamanha felicidade e ardor.

Ele a aconchegou em seus braços:

— Sim, foi embora.

Slade, inconformado com o acontecimento, afastou-se lentamente do grupo na intenção de recomeçar seu planos uma fez falhos; Virou-se para subir a rua novamente. Um calor em seu peito, como um morno toque se espalhou como raio por seus membros. Uma sensação transformada em uma dor alucinógena. O sangue escorria por seu peito, enquanto Damian segurava firmemente a arma de fogo descarregada apontada à Wilson.

Um sorriso ardiloso se forçou no rosto de Slade, que caiu ao chão debilitado; morto.

O barulho do tiro chamou a atenção de todos, e isso fez com que Batgirl e Dick sentissem um amargor em suas bocas. Matar. Aquilo ainda era surreal.

"— Rachel, criança. —" chamou uma das apóstolas em sua mente. A garota retesou-se: — " Viemos buscar o pagamento. Fique de pé!"

Com a ordem dada, Rachel afastou-se alguns passos do namorado encarando o céu. Aparecendo, sem show de luzes ou fissuras, as Apóstolas planavam aos céus escondidas em seus grossos tecidos de veludo.

— Peguem o pagamento. É todo de vocês. — respondeu fechando os olhos aguardando pela retirada de seus anos de vida.

— Certeza disso, minha jovem? — a pergunta assustou um pouco a empata, não mais podendo chamá-la assim.

— Como assim? — indagou sem entender.

— Híbridos tem tempo de vida diferente de seres humanos. Porém, você lembra-se de suas palavras na nossa dimensão? Tudo. — as palavras cortaram ao meio aquele sentimento acolhedor que sentira outrora.

Seu olhar tornou-se sem brilho, entendendo o rumo daquela conversa. Olhou de soslaio para Garfield, que se encontrava perdido naquela conversa em outro idioma.

— Rae? — chamou ele preocupado: — O que está acontecendo?

Não foi uma exigência, mas vinda dele era mais do que sua obrigação contar-lhe tudo.

— Estou pagando pelo pergaminho que consegui. — respondeu: — Mas o preço foi alto demais. — comentou abaixando o tom.

— O que quer dizer? — dessa fez foi Kory a indagar aproximando-se perigosamente das mulheres encapuzadas.

Rachel temeu por uma briga entre elas.

— Então, humana! — bradou uma das Apóstolas à Rachel: — Prepare-se.

Não pode opinar, negar ou reclamar. Pois fora puxada para frente delas de forma rápida e sem sentir o movimento ser feito. A moça colocou a mão em seu peito o perfurando.

Indolor. Nenhum sangue, dor, fraqueza ou semelhantes. Somente um imenso sentimento de paz. De dentro de seu peitoral, saiu uma pequena esfera azul, rodeada de pequenas na cor vermelha.

Sorriram:

— Obrigada pelo pagamento.

Do mesmo modo que apareceram, sumiram. Rachel tombou para trás caindo rápida e forte em direção ao chão.

Garfield e Kory se prepararam para levantar voo, mas Ryan a pegou no ar pousando com a moça pálida ao chão. Ele ofegava pelo cansaço, enquanto seu braço recomeçava a sangrar.

— Rae! — Ambos, Garfield e Kory se aproximaram dela. Na sequência os outros apareceram.

Dick ficou no lugar fitando o nada. Sequer teve coragem de encarar a garota ao chão, imóvel.

Rachel abriu as orbes, procurando um dos borrões que seus olhos reproduziam para começar a falar; se despedir.

— Gar... — murmurou fraca.

— Estou aqui. — avisou: — Mas tente não falar, está exausta.

Ela negou:

— Eu já tinha te dito que te amava? — perguntou ela chorosa. Ele sentiu-se mau, por um instante ele não quis ouvir que ela o amava. Ele sabia o que significava, e se recusava a ouvir.

— Não importa. Só não fale.

— Sempre tive tanto medo de mostrar o que sentia, demonstrar tudo o que quis. — falava entrecortada por longas e pausadas respirações: — Agora eu poderia fazer isso e muito mais... Só que acho que fiz escolhas erradas lá atrás.

Garfield permaneceu quieto. Ouvindo atentamente, mas ao mesmo tempo não querendo ouvir.

— Não me odeie, eu amo muito você. Muito mesmo. — com a voz embargada, começou um choro fino mordendo os lábios secos e trincados.

Garfield segurou o choro, mesmo querendo desabar copiosamente. Kory acariciou o rosto da amiga, como forma de encorajamento.

— Já deu. Descanse.

— Eternamente. — Não esperavam por suas palavras, sequer pelo sorriso que se formou ao rosto da garota; verdadeiro e puro.

Morrendo aos poucos, o sorriso abandonou suas feições, e uma mais serena se apoderou da garota.

— Rae? — chamou o rapaz sentindo o coração doer. Kory desceu a mão até a jugular. Retirou a mão desabando em um choro doloroso.

Não somente ela, como Lucky, mais distante, apoiando-se em Wally deixando lágrimas descerem por seu rosto.

Garfield estava sem reação. E encarava como se estivesse em um sono profundo, mas que acordaria no dia seguinte chamando manhosamente por seu nome; igual aquela noite.

As lágrimas começaram a aglomerar-se em seus olhos. A garganta ardeu, e grossas lágrimas ousaram descer por seu rosto. Um silencioso desabafo, doloroso e pesado.

Segurou sua mão fechando os olhos permitindo-se fraquejar. Ela o havia deixado, para sempre.

Batgirl comoveu-se com a cena, assistindo um pouco distante ao lado de Damian e Batman. O homem morcego não transpassou emoção alguma, mas uma compaixão poderia ser vista por quem conhecesse seus expressivos olhos negros.

Dick não teve coragem de se aproximar, mas não pode deixar de soltar uma solitária lágrima antes de sorrir:

— Me espere, não demoro, Rae.

Uma tosse forte o fez cuspir uma grande quantidade de sangue reabrindo a ferida da espada. Virou os olhos tombando os joelhos ao chão para na sequência cair no chão, molhando-se em sua própria poça de sangue.

— DICK!

Batgirfl correu até ele tentando chamá-lo de todos os modos. Mas ele não a ouvia mais. Kory aproximou-se dele entrando em um desespero agonizante.

Soltou um grito de lamuria, despencando em um abismo fundo e estreito. A morte deixou para trás a tristeza para os vivos, mas a paz para quem se foi.

E para todos os meios, a guerra se encerrou, com um lado vencedor no nome, mas perdedor em alma.

[...]

Fim do Capítulo 37 - Ossos do Ofício


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Notas finais do capítulo

Sei que matei dois principais heróis, mas não há guerra que se prese sem mortes. Desculpem por ter ficado um final meio "brochante", mas eu não tinha como finalizar de outro modo senão esse.

As apóstolas não existem, isso é invenção minha, sequer o ceifeiro que levou todo o ser demoníaco para a terceira dimensão, o Darion. Nenhum deles existiram de verdade nas HQ's ou coisas parecidas.

Novamente eu agradeço a paciência por uma fanfic tão longa {dois anos e meio} e cheia de Hiatus! Vocês são os melhores, e merecem todos os créditos por ajudarem-na a crescer.

Essa fanfic é a mais comentada de toda a categoria, e isso se dá a vocês! SÃO OS MELHORES, COGUMELOS LINDOS! AMO CADA UM DE VOCÊS!!!!

Até o epílogo que não se tardará a ser postado!

Beijos e mordidas