O Tempo Dirá escrita por Bibelo


Capítulo 25
Livro


Notas iniciais do capítulo

Gente do meu coração :3

Olha só quem está com inspiração hoje ueheuheuheue
E estou mais feliz ainda pois recebi uma recomendação em uma fic antiga minha: Felicidade e Angustia. Ai eu to delirando euheuehueheu lol
Enfim, espero que gostem.
As coisas vão esquentar e muito nos proximos.
Ficou longo, mas a inspiração veio assim né, é bom não reclamarmos heueeheheu
enfim,

Boa Leitura!



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Capítulo 25 - Livro


Aquela brisa inebriante batia no rosto de Rachel com delicadeza. De sua sacada, observava a cidade, ou melhor, o parque de Gotham, coberto totalmente pelo branco, fofo e gélido, trazendo uma beleza única ao lugar.

Com uma xícara de chá nas mãos, quente e adocicada, Rachel se perdia em pensamentos que nunca pensou ter tão rapidamente. Dali um mês faria seus tenebrosos dezesseis anos. Os malditos dezesseis anos.

O ano em que a profecia dela, uma híbrida entre humano e demônio, de libertar seu pai, viria a acontecer e não conseguia pensar em um modo de impedir aquela catástrofe mundial. Como impedir seu pai de renascer na Terra se nem mesmo os monges com anos de estudos e sabedoria conseguiram?

Agora ela estava ali, preocupada, sonolenta, com grossas olheiras cobrindo seus olhos violetas, e uma xícara de chá intocada. Ainda com seu grosso e amarrotado moletom, com o qual dormia, contestava a ideia de ficar em casa naquele dia. Entretanto, se o fizesse, teria de dar explicações concisas e concretas à Garfield. Seria um real tormento.

Divagando em seus pensamentos mais tenebrosos, seu despertador tocou anunciando o horário que deveria acordar. Havia passado a noite em claro pensando na profecia. Claramente aquilo a estava afetando tanto no psicológico quanto no físico.

Tomando um gole de seu chá, agora morno, entrou em seu apartamento fechando a sacada. Deixou a xícara na mesa e entrou no banheiro para tomar uma quente e relaxante ducha. Não demorou para sair e se arrumar com suas costumeiras roupas e, de antemão, uma maquiagem para tapar as olheiras grossas e pesadas.

Saindo de casa as pressas, Rachel se dispôs de seus fones de ouvido e suas músicas calmantes. Sem elas, talvez, naquele momento, não criasse forças para ir até a escola, tão qual é seu conflito interno. Por isso, sempre tinha consigo suas músicas consoladoras.

Não se tardou à chegar na escola. Indo até sua sala de aula, meia hora antes do horário, debruçando-se sobre a mesa pregou os olhos, o sono lhe bateu naquele momento. Não negaria aquela necessidade. Assim, se afundou em seus sonhos tenebrosos.

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Na mansão dos Wayne, Richard acordava preguiçosamente esfregando os olhos relutantes a se abrirem. Sentindo algo mais pesado em cima de seu peito, encarou a pequena figura a seu lado dormindo serena e tranquila, numa respiração calma. Ambos, totalmente desnudos, estavam confortáveis debaixo de um fino lençol. Nada mais justo depois de uma noite como a deles.

Com o olhar terno, Richard passou seus dedos pelos seus cabelos, mecha por mecha, brincando com os fios semi encaracolados da alienígena. Possuía uma grande admiração pela garota, era linda, perfeita, forte, guerreira e amorosa. Nada lhe fazia sorrir mais do que ela, e nada o faria.

Resmungando um pouco, devido as carícias vindas de seu amante, Kory abriu os olhos preguiçosos levando-os até o garoto prodígio que a fitava de modo doce. Ela sorriu:

–Bom dia. - sibilou a Anders se aconchegando mais ainda no peitoral no rapaz.

–Bom dia. - respondeu com a voz rouca e provocante de sempre, ou talvez fosse só sono.

–Eu não quero ir à escola hoje. E você? - perguntou Kory torcendo para o rapaz também não querer ir. Ele sorriu.

–Nem um pouco. Ainda mais com uma deusa do meu lado. - elogiou Richard beijando o topo da cabeça da rosada. Kory sorriu com gosto fechando novamente os olhos.

–Você é um doce. - murmurou ela antes de bocejar e se ajeitar juntando mais ainda seus corpos. O rapaz entrelaçou seu braço ao redor de sua cintura.

–Te amo. - falou ele enquanto a menina mergulhava no mundo dos sonhos sem sequer ouvir as palavras do moreno, mas ela não precisava ouvir. Ela já sabia.

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–Rae? - chamou Tara agachada ao lado da carteira da empata. Num resmungo irritado, Rachel levantou sua cabeça.

–Tara? - proferiu a garota esfregando seus olhos semiabertos.

–Está se sentindo bem? - perguntou a garota visivelmente preocupada. Assentindo, Rachel sentou-se na carteira.

–Onde está a Kory? - comentou ela.

–Não chegou ainda, mas como ela estava na casa do Grayson não acho que venha hoje. - afirmou na cara de pau sorrindo sapeca.

Rachel deu de ombros bocejando.

–E o professor?

–Atolou o carro na rua. - riu divertida a garota ao relatar a aula vaga naquele momento. A azulada não deixou de rir de forma gostosa.

–Um descanso. - disse por fim.

–Vamos lá fora? Aqui está uma bafo que só. - zombou Tara puxando a garota pelo pulso e levando-a até o corredor.

Chegando lá, sentaram-se na mureta que separava o corredor do jardim, agora, coberto de neve.

–Acho que nunca conversamos a sós, não é mesmo? - explicitou a Markov recebendo um aceno de Rachel: - Então, me pergunte qualquer coisa. Seja ela o que for. - admitiu encarando e esperando pela pergunta.

Rachel pensou, e pensou bem, antes de deixar aquela pergunta escapar de sua boca, sem dó ou piedade:

–Você e o Garfield já transaram?

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–Eu estava pensando... - começou Garfield abraçando o próprio corpo pelo frio: - ...Por que você quis que eu te ajudasse a limpar a rua hoje, a essa hora, e ainda por cima nevando? - grunhiu o rapaz com uma pá de neve a seu lado, intocada até aquele momento.

–Porque sim, seu duende. - respondeu Cyborg de seu jeito amargo: - agora anda porque daqui a pouco os carros começam a sair. - afirmou o homem de metal tirando um bom punhado de neve do chão.

–Nem o sol saiu direito. - resmungou o rapaz em tom bem baixo pegando a pá e tirando a neve do caminho.

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–Co-Como? - gaguejou Tara enquanto seu rosto assumia a cor vermelha.

–Não disse que eu poderia perguntar qualquer coisa? - repetiu Rachel com seu rosto impassível.

–Sim, mas...mas... - falou Tara: - ...não pensei que fosse ser tão direta. - firmou ela evitando encarar os olhos violeta da garota.

–Se não quiser respon-

–Sim. - foi somente isso que saiu da boca dela, e foi a ultima coisa que saiu daquela conversa antes do silêncio.

Rachel estava abismada e, antes que percebesse, já se sentia com o ciúmes rasgando seu corpo.

–Olha... - começou Tara: -...Ele foi meu primeiro amor e, como queríamos firmar, pensamos que essa fosse a melhor maneira. Por favor não fique brava comigo, logo agora que estamos nos dando bem. - pediu a loira suplicante.

Rachel suspirou se virando e fitando os olhos azuis da garota:

–Não me importo. - disse: - Foi somente curiosidade. - afirmou ela sorrindo forçado. Não admitiria, mas a vontade de chorar era grande demais e, na frente dela, não permitira que saíssem.

–Vocês nunca? - perguntou Tara insistindo um pouco na pergunta. Rachel negou: - Não confia nele? - continuou ela.

–Confiar eu confio, mas não acho que seja hora para isso. - mentiu Rachel. Ela não queria o fazer pelo simples motivo de sua falta de controle de suas emoções. Não sabia qual seria a reação de seu corpo com algo tão avançado. Tinha medo de machucá-lo, ou, até mesmo, matá-lo.

–Horas, então você acredita que possa... Sabe, engravidar? - comentou Tara fazendo Rachel se assustar com isso. Na verdade, ela nunca pensara nessa possibilidade.

Havia ouvido de vários monges de Azarath que ela era infértil, mas, em contra partida, ouvia também o contrário. Até aquele dia ela não tinha certeza sobre sua capacidade de procriar, mas sabia bem que, o que quer que fosse nascer dela, seria uma besta.

–Nunca passou pela minha cabeça. O único motivo para eu não fazer com ele é o fato de não querer. Confiar nele? Confio. - encerrou a conversa desviando o olhar para a neve no jardim que caia preguiçosamente.

–Que bom então. - falou Tara: - Mudando de assunto, que livro era aquele que você sempre lia? - perguntou a garota chamando a atenção de Rachel.

–Ele conta a história de duas almas que lutam incansavelmente em busca de seu verdadeiro eu, digamos assim. - falou a empata: - uma luta sem fim. - encerrou ela enquanto Tara sorria: - gosta de ler?

–Gosto sim. - afirmou: - Não é uma coisa que eu viva sem, mas num silêncio na minha casa eu gosto de pegar em um livro e ler. - comentou por fim.

Aquilo foi a ultima coisa que conversaram naquele momento. E aquela pergunta de Rachel foi o suficiente para silenciar as Markov pelo resto do dia.

Saindo da escola, Rachel topa com um carro parado de frente ao portão. Encostado em seu capô, Garfield esperava pela empata com um radiante e singelo sorriso. Ela o encarou, sem saber como reagir com ele depois de saber de seu caso com Tara.

Simplesmente deu um sorriso falso e chegou perto do Logan. Ele a puxou pela cintura beijando-a.

–Por que não veio pra escola? - perguntou Rachel preocupada. Ele sorriu.

–Um amigo meu me pediu ajuda para limpar a rua. Ao que parece, ele havia prometido pros vizinhos que o faria ontem a noite e acabou esquecendo. Sobrou pra mim. - falou ele rindo: - tive de levantar cedo já fazendo trabalho braçal. - zombou ele tirando um rolar de olhos da azulada.

–Entendo.

–Entre. - falou ele entrando em seu carro enquanto a Roth dava o contorno. Abriu a porta do passageiro sentando-se na beirada retirando as botas de inverno colocando-as em cima de um papelão, o qual ela deixava sempre ali desde que começara a nevar, para não sujar o carro. Dando partida, Garfield a levou para casa.

–Onde está a Kory? Não vi ela saindo com você. - mencionou ele olhando para frente.

–Não foi pra escola. - respondeu Rachel encarando a paisagem.

–E o Richard? - insistiu Garfield tirando um longo suspiro da garota.

–Muito menos. - cuspiu ela. O rapaz rolou os olhos esboçando um sorriso sapeca.

–Já entendi. - afirmou ele ficando em silêncio o resto do caminho até a casa da Roth.

A garota abriu a porta do carro colocando suas botas de inverno novamente e, virando para dar tchau para seu namorado, acabou cedendo:

–Entre um pouco. Te farei um chá. - comentou Rachel com um sorriso de canto saindo do carro sem ouvir sequer a resposta de Garfield.

Estacionando melhor em frente ao prédio, o Logan desce do carro pegando na mão da empata a guiando até as escadas. Subiram até seu apartamento. Não havia nada de diferente nele, a não ser uma cópia da chave da casa a qual Garfield continha.

Sentando-se de forma folgada no sofá, o rapaz começa a falar:

–Sabe, essa aqui virou praticamente minha segunda casa. - começou ele encarando a garota que se encontrava agachada pegando uns dois livros que se mantinham no chão: - Eu vivo mais aqui do que na minha. - zombou ele a fim de provocar a garota, mas nada: - Rae?

Ela o encarou evitando que ele percebesse sua pequena luta interna:

–Desculpe. - disse: - estou meio avoada, somente isso. - encerrou ela deixando os livros na mesinha de centro: - Vou fazer um chá, tem preferência? - falou ela a fim de esvair a tensão criada. Garfield espremeu os olhos antes de suspirar.

–Bem, acho que camomila está bom. - afirmou ele visivelmente emburrado. Ela não evitou o riso curvando seu corpo até a rosto de Garfield colocando suas mãos em seu rosto alvo.

–Desculpe, hoje não estou muito bem. - comentou ela encarando vitreamente os olhos esmeraldinos de seus amante. Ele riu pegando em uma de suas mãos fechando os olhos.

–Não tem problema, minha princesinha. - admitiu: - Só fiquei surpreso. Vai lá fazer o chá para nós. - encerrou ele dando-lhe um rápido beijo antes dela caminhar até a cozinha.

–Não demore. - gritou Garfield a fazendo rir. Entrando na cozinha, pegou a pequena caixinha contendo as ervas necessárias para fazer o chá.

Separou as duas xícaras em cima da pia, a qual estava vazia, pegou a chaleira enchendo-a de água para ferver. Enquanto esperava, pegava o resto das coisas como açúcar, bolachas e outras coisas que Garfield costumava comer junto de uma xícara de chá.

Apoiando suas duas mãos no gélido aço da pia, Rachel fechou os olhos refletindo um pouco em relação ao que escutara de Tara. De fato, não era algo que ela deveria ter raiva ou ciúmes. Na verdade, sempre soube que o rapaz dormira com várias garotas no passado, por isso, ter feio o mesmo com Tara não seria surpresa.

Entretanto, saber disso pela boca da ex de seu namorado definitivamente machucava, rasgava e estraçalhava seu coração. Num suspiro pesado, Rachel proferi suas habituais palavras tranquilizadoras:

–Azarath Metrion Zinthos - começou ela: - Relaxe Rachel, não é nada de mais. - continuou ela resfolegando de forma rápida e inquietante.

A chaleira começou a apitar chamando a atenção da garota que sorriu para sim mesma. "Não deixe essas bobeiras te afligirem, Rachel. Seja firme." Refletiu ela desligando o fogo.

Pegou os sachês de ervas colocando cerca de dois em cada xícara, por ambos gostarem do chá forte, e serviu a água escaldante dentro de cada xícara. Num súbito momento ela parou encarando a xícara semi cheia.

Estava tendo um péssimo pressentimento. Antes que percebesse já havia derrubado a chaleira no chão.

Garfield se exaltou levantando-se:

–Rae? - chamou ele sem obter resposta: - Rae, tudo bem? - insistiu o rapaz já preocupado.

Rachel colocou uma das mãos na boca ao ouvir a voz que nunca pensou ser capaz de escuta-la novamente em sua mente: papai.

–Rachel. - grunhiu a grossa e estrondosa voz em seus tímpanos. De tão aguda e estridente a mesma tapou os ouvidos e gemeu de dor: - A profecia se aproxima, e você, filha do pecado de uma humana, abrirá as portas para mim. - vociferou ele: - Mesmo que resista, que diga não haver humano nesse mundo hediondo capaz de te derrotar, ainda sim, pecará e matará a todos. - falou ele de forma autoritária.

Rachel bateu as costas com tudo na geladeira fazendo um alto barulho o que fez Garfield correr até a cozinha. Encontrou a garota no chão, agarrando a cabeça com força enquanto a chaleira rolava no chão com a água escaldante espalhada por todo ele.

–RAE? - gritou o rapaz se aproximando dela colocando uma de suas mãos em seu ombro. O rapaz se assusta. A garota tremia desolada, um enorme medo assumia seu corpo que nem mesmo o rapaz conseguia tranquilizá-la com o simples toque: - Rae... - sussurrou o rapaz pegando na mão da garota a forçando a encará-lo.

Grossas e espessas lágrimas desciam pelo rosto da empata, uma face de dor se formava o fazendo prender a respiração. Havia prometido a si mesmo não deixá-la chorar novamente, como havia falhado feio.

Segurou-a pegando em suas costas e seus joelhos a erguendo no ar. Rachel automaticamente agarrou o pescoço do rapaz com força soluçando alto e medrosamente. Ele a levou até sua cama depositando-a ali de modo delicado. Ela chorava muito fazendo o coraçãozinho do rapaz se apertar em agonia.

–Rae, o que foi? - chamou o rapaz: - Me diz, por favor. - insistiu ele acariciando seu rosto pálido. Ela encara-o se levantando e puxando-o para um abraço.

O susto foi tremendo, mas se servisse a ela de consolo ele até dançaria. Ali, abraçados, Rachel se lembrou daqueles sonhos e de tudo o que passou até aquele momento. Tantas lutas até chegar àquele estado depravado.

Tinha medo de perdê-lo. Medo de matá-lo com suas próprias mãos caso seu pai a ordenasse, pior ainda seria se ela o soltasse, a condenação do mundo seria certa e ela, mais do que nunca, faria de tudo para impedir, nem que tenha que morrer para isso.

Apertando o abraço, ela subiu até o ouvido do rapaz:

–Gar...field. - sussurrou ela pausadamente o fazendo se arrepiar. Ela tinha de dizer tudo o que sentia e aquele seria o momento. Mas, para onde foi sua coragem a cima de tudo? : - Fica comigo hoje? - pediu ela aterrando, logo em seguida, seu rosto no ombro do rapaz.

Sorrindo de modo terno, Garfield acaricia a pequenina cabeça de sua amante aquiescendo duas vezes. Assim, eles se mantiveram abraçados até a garota adormecer em seus braços.

Ainda atordoado, o rapaz entrou na cozinha a fim de arrumar aquela bagunça feita pela pequena crise de Rachel. Agachou-se ao chão pegando a chaleira.

–O que aconteceu, Rae?

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–Jovem mestre. - chamou Alfred ao ver Richard descendo pelas escadas: - Boa tarde. - disse o mordomo se curvando.

–Boa tarde, Alfred. - falou o rapaz se espreguiçando: - Pode pedir para colocarem um prato a mais na mesa, temos uma convidada. - afirmou Richard andando até a sala.

–Como quiser, Jovem Mestre. - assim, o mordomo se foi até a cozinha enquanto Richard se dispunha no sofá.

Kory havia se levantado um pouco depois do Grayson. Estava se banhando em seu banheiro com um sorriso mais do que gratificante no rosto. Estava feliz, realmente feliz. Não havia lhe caído a fixa de que teriam voltado, muito menos que estivesse tudo em paz entre os dois; não havia caído a fixa até aquele momento.

Esfregando o rosto com suas mãos, Kory cantarolava e rodopiava debaixo do chuveiro em pura extasia. Se sentia bem, única novamente. Cessando o banho, a garota pegou uma das toalhas se enrolando nela e saindo do box torcendo suas longas madeixas ruivas.

Num suspiro latente, Kory parou de frente ao espelho levemente embaçado pelo vapor que se instalava no banheiro. De fato, aquele noite fora boa, mas ao pensar em dar uma boa explicação a seu irmão caçula não a tranquilizava nem um pouco.

Ryan era totalmente contra o namoro entre ela e Richard e, por esse motivo, admitir para ele que passara a noite na casa do rapaz seria cutucar na ferida ainda recente. Passou a mão pelos cabelos molhados a fim de extraviar toda a tensão que seu corpo continha naquele momento.

–Vamos lá! - falou ela para si mesma enrolando uma toalha em seus cabelos e colocando sua roupa de frio. Escovando os cabelos, saiu do recindo entrando novamente no quarto de Richard. Deixando a escova em sua cômoda, saiu dele descendo as escadas.

O cheio da comida empesteava todo o local atiçando-a. Não tinha tomado café, ao invés disso, preferiu ficar junto de Dick no quarto. Andou até a sala onde o rapaz estava sentado mudando incessantemente de canal. Um sorriso brotou no rosto da tamaraniana caminhando até ele e abraçando-o por trás.

Este sorriu segurando seus braços:

–Demorou em. - zombou Richard beijando sua mão a fazendo se arrepiar com o toque úmido em sua pele.

–Estava muito relaxante. - falou ela: - Me acompanhe na próxima. - atiçou o fazendo rir zombeteiro.

–Iria amar! - Assim ele se levanta entrelaçando seus dedos aos dela: - Vamos almoçar? - pediu recebendo um aceno positivo da garota.

Os dois foram até a Sala de Jantar para poderem, assim, almoçar, mesmo sendo mais de duas da tarde.

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Garfield vasculhava as coisas de Rachel com um enorme tédio; desde alguns potes até seus livros. Sua estante era gigante repleta deles, alguns de aparência velha, já outros totalmente carcomidos pelo tempo e que se desfaziam com o simples toque.

Olhando alguns títulos incrustados nos livros, o rapaz achou um bem peculiar. Com sua capa em vermelho vivo, continha como título a simples frase: Linha do Tempo, escrita em dourado sobressaltada da capa.

Era tentador, só de ver aquele livro se destacando de todos os outros atiçava o metamorfo a pegá-lo e vasculhar as folhas. Mas o que encontrou nelas foi tão estranho quando pensou que poderia ser, ou melhor, ele sequer pensou nessa possibilidade.

Era como um diário, uma narração de uma garotinha sofrida de um modo tão abrupto que até mesmo abusos foram descritos em suas páginas. Suas mãos tremiam ao ler aquelas linhas tortuosas, não conseguia expressar um motivo sequer para sua inquietude, mas ela estava ali, o assolando até achar um nome que reconheceu e o fez segurar sua respiração.

Aquele nome estava escrito em vermelho rubro, tão escuro e falhado que era difícil de lê-lo, mas ele o fez, e fez ainda mais. Continuou aquela leitura fúnebre, e constatou naquele instante algumas coisas, somando dois mais dois, digamos assim. O livro descrevia uma parte boba e insignificante da vida daquela garota, mas para ele não era uma garota qualquer. Era sua garota:

"Estou assustada. Estava junto dos monges de Azarath naquele momento. Hoje é meu aniversário, ma ninguém se importa com ele, ninguém mesmo. Todos estão me evitando hoje, não recebi sequer um parabéns, nem mesmo de minha mãe, que raramente a vejo. Agora estou aqui, cercada por vários monges me falando coisas horrendas. Sei que sou filha de um demônio muito mal, mas não precisavam cuspir em mim, não mesmo. Odeio quando eles me maltratam assim.

Se não é desse modo são com palavras, ofensas que doem tanto, mas tanto. Eu tento ao máximo controlar todas as minhas emoções, mas a dor que eu sinto é tão grande que nem mesmo consigo deixar de chorar.

Eu quero a minha mãe, queria poder abraçá-la, beijá-la e ter um pouquinho de seu carinho, mas não posso chegar perto dela. Acho que ela me odeia.

Ah, estou fazendo oito anos hoje. Feliz aniversário para mim. Parabéns Rachel."

As mãos do rapaz tremiam. Aquele nome estava li, zombando de sua cara enquanto dançava seus olhos pelas palavras. Avançou várias páginas até chegar perto do final, com outra narração, desta vez suas pernas bambearam:

''Agora é definitivo, terei de abandonar Azarath. Não queria fazer isso, mas é necessário uma vez que eu tenha de assumir o papel de uma humana com um único princípio: concluir a profecia. Não nego que tenho medo de tudo isso, e mais medo ainda em pensar no que acontecerá ao mundo humano se eu o fizer.

Terei de viver como humana, criar memórias falsas sobre mim, fingir que morei em algum lugar por toda a minha vida, e explicar todos os porquês de eu morar sozinha. Antes de deixar aquela dimensão, os monges me pararam a fim de abençoar minha jornada, mas, creio eu, que benção nenhuma cai sobre um demônio como eu.

Me disseram para usar meu mesmo nome e, com meus poderes, atuar como salvadora. Cômico, eu ser uma salvadora que destruirá tudo e a todos; mas eu o fiz. Utilizando minha própria identidade eu, Rachel Roth, filha da humana Arella e o demônio interdimensional Trigon, seguirei meu caminho.

Um caminho de fogo."

Garfield definitivamente não estava bem. Nem um pouco bem. Aquilo havia lhe acertado como um soco, agressivo e rápido, que demora a sarar. Passando com rapidez as páginas, parou na ultima coisa que ela escreveu, ou melhor, citou:

''Acho que me perdi totalmente de minha função. Não sei mais o porque de estar aqui na Terra. Nem mesmo o motivo de eu ter de abrir o portal e libertar meu pai. Fiz amigos, grandes amigos; Os Titãs. Pessoas incríveis, cada qual com sua própria personalidade e identidade. É com eles que me sinto normal, não como Rachel - filha de Trigon - e sim como Ravena, uma titã.

E agora, mais do que nunca, eu não poderei cumprir a profecia. Me apaixonei perdida e loucamente por um humano. Não posso deixar esse mundo morrer, pois ele morrerá junto. Nem que eu me sacrifique para isso eu garantirei que ele continuará vivo, com aquele olhar provocante e penetrante e, ainda por cima, com aquela voz que me amolece (risos).

Ele não sabe que penso isso dele, mas como estou contando para você sei que não irá me trair e mostrar isso para ele. Portanto vou simplesmente dizer o nome do homem com o qual meu coração palpita como seu fosse uma grave arritmia, o homem pelo qual no dia de meu aniversário, morrerei por sua vida: Garfield Logan.

Essa é minha ultima anotação, tenho exatos 45 dias para meu aniversário de 16 anos, e os farei nunca acontecer.

Até o outro lado.

Rachel Roth."

Fechando o livro com força, Garfield teve sua visão turva, o que o fez se apoiar imediatamente na estante antes que desse de encontro com o chão. Colocou uma de suas mãos sobre a boca tentando impedir que sua ânsia lhe fizesse expelir todo que havia em seu estômago.

Engolindo aquele amargo e viscoso gosto, Garfield sibilou com a voz fraca:

–Você é a Ravena?

~To be Continued~


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Eu sei que um intervalo muito curto entre a postagem de um capítulo e outro é ruim, mas vamos aproveitar um pouco a minha imaginação fértil nesse mês!

Agradeço a quem leu e, quando chegarmos a 200 COMENTÁRIOS vai ter um extra muito importante, se preparem ^^

Obrigada por lerem
beijos e mordidas



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