Bella And The Writers Block. escrita por ReLane_Cullen


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

N/A: Então, demorei mais cheguei! Como vocês estão? Eu estou bem :) Como de costume o capítulo não foi betado e são 02:37 da manhã, então poderá/haverá erros e eu peço, encarecidamente, que vocês desconsiderem. Com relação as minhas outras fics, novos capítulos estão sendo providenciados, JGF sendo o próximo. Beijos e até mais!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/320267/chapter/5

Capítulo 5

Até aquele momento eu não tinha percebido a quantidade de caixas que se amontoavam naquele quarto. Mais alguns meses e eu seria a estrela de um dos episódios daquela série do Discovery Home & Health. A maioria das tralhas, como minha mãe carinhosamente chamava as minhas coisas, resumiam-se em cadernos, papéis e resquícios da minha infância/adolescência que eu precisava ter por perto. O que foi? Qualquer adulto saudável e equilibrado precisa ter ao menos um objeto que o traga conforto e paz. (E daí que eu tinha vários? Continuava sendo completamente normal!)

"Dia da faxina?" Anthony apareceu atrás de mim, com os braços cruzados. Uma vez na vida eu desejava que ele fosse de carne osso e que pudesse arrastar todas aquelas caixas para fora do quarto.

"Dia de mudança." Respondi, enquanto lacrava mais uma caixa.

"Nós vamos nos mudar?!" Ele perguntou surpreso.

"Não." Larguei a caixa e olhei para o meu pseudo-amigo imaginário (não consegui achar nada menos patético que definisse a nossa relação. O fato de eu ter uma relação com ele por si só era patético). Suspirei pesadamente, enquanto procurava a melhor maneira de dar aquela notícia. "O Edward vai morar aqui."

"O quê?!" Aquelas orbes douradas ficaram escuras e ele apertou a ponte do nariz, sinal que ele já havia passado do estágio de aceitavelmente irritado. "Como assim aquele...aquele energúmeno vai morar aqui?"

"Eu não acho que ele esteja sendo controlado por suas paixões ou demônios."

"Ahn?"

"Você nunca leu um dicionário na vida não?" Parecia que ele não lia nada além dos meus pensamentos.

"Não fuja do assunto." Anthony avisou. "Eu quero saber como isso aconteceu."

"O Edward precisa de um lugar para ficar, até que ele possa encontrar o próprio canto. E já que essa casa é bem espaçosa, eu decidi bancar a boa samaritana." Na verdade os acontecimentos daquela tarde ainda estavam confusos na minha cabeça. Todavia, contar aquela história ajudava a melhorar a opinião que as pessoas tinham a meu respeito. Era um marketing pessoal da sua vida pessoal, se é que isso não soa redundantemente redundante.

"E por que ele vai ficar com esse quarto?" Anthony se aproximou, num claro gesto de intimidação

"Porque ele é maior que os outros." Argumentei. Na minha casa tinha quatro quartos: um grande, que era o meu. Um médio, que seria do Edward e outros 2 menores.

Em horas como essa eu ficava imaginando como um casal com três filhos faria a divisão dos quartos. O quarto maior iria pro filho preferido? Ou iria pro mais velho? Ou eles participariam de algum tipo de duelo mortal para ver quem ia ficar com o aposento?

Então...

Voltando para o que Anthony estava me falando...

"E fica bem ao lado do seu quarto." Ele observou, inteligentemente.

"Isso nem passou pela minha cabeça." Ao menos não pela parte consciente, o inconsciente já era outra coisa. "Olha só, com essa nova adição ao nosso domicílio, você sabe que terá de se comportar. Nada de aparecer do nada, nem fazer comentários desagradáveis..."

"Essa é sua maneira nada sutil de dizer que é para eu sumir da sua vida?" Ele me encarou de braços cruzados.

"O quê! Não é nada disso...a campainha. Eu preciso..." O som estridente vindo da porta de entrada interrompeu meu pedido de desculpas.

Anthony estava exagerando e sendo o perfeito dramático, assim como eu o tinha criado. Eu não queria me livrar dele, eu só não queria ser flagrada pelo Edward em um momento de calorosa interação entre eu e uma criatura imaginária.

Vocês já imaginaram a cena?

Eu nem gostava de pensar nesse cenário.

Mas um cenário que eu gostaria de imaginar inúmeras vezes era Edward Cullen usando uma calça preta e uma camiseta branca de gola em V, parado à minha porta com um sorriso estonteante.

Certo, talvez ficasse melhor sem a parte da camisa.

E da calça.

"Hey, cadê a sua mudança?" Perguntei, quando finalmente lembrei como articular os meus pensamentos (ao menos os apropriados).

"Está a caminho. Pensei em vir mais cedo e te dar uma ajuda."

"Não era preciso." Sorri nervosa.

"Mas não é justo te deixar com todo o trabalho. Ainda mais quando eu sou o causador dele."

E com aquele argumento super convincente, levei-o diretamente para o quarto (apressadinha, não), onde, felizmente, Anthony não me aguardava.

"Esse é o meu quarto?" Ele parou à porta surpreso. "Eu esperava uma coisa mais modesta..."

"Se você preferir, "

"Não foi uma reclamação, apenas uma observação." Edward entrou no quarto e ficou observando o número de caixas e objetos que ainda precisavam ser guardados. "O que era aqui?"

"Meu quarto de bagunças." Respondi. "Estou encaixotando tudo e vou deixar em outro quarto."

"Você não precisava fazer isso."

"Não é nada. Você só me deu um motivo para fazer arrumação que eu estava protelando há meses."

"Você nunca pensou em tirar as coisas desse quarto." Anthony sussurrou atrás de mim e tive que manter um controle descomunal para não respondê-lo ali mesmo.

"Qual é o quarto?" Edward perguntou. "Que eu começo a levar essas caixas pra lá."

"É a terceira porta à esquerda."

"Isso pesado." Ele reclamou quando levantou a primeira caixa. No entanto, eu só tinha olhos para os seus bíceps flexionados, delineados naquela camiseta branca. "Como você pretendia tirar isso daqui?"

"Força do pensamento." Respondi de súbito. "Eu sou um Cavaleiro Jedi...ou seria Amazona?" Edward dignificou com uma risada minha lamentável tentativa de ser engraçada e saiu dali carregando a caixa para o quarto que eu tinha falado.

"Você realmente vai ficar me ignorando?" Oh, claro! Por um momento eu tinha esquecido que Anthony havia voltado.

"O que tínhamos combinado?" Cruzei meus braços. Agora seria a minha vez de intimidá-lo.

"Eu não combinei nada com você, você falou e eu apenas fiquei calado." Ele observou e sorriu, como se a retórica dele fosse a mais brilhante já composta desde a Grécia Antiga.

"Tony, por favor!" Implorei. Será que ele não conseguia entender o porquê de eu fazer tudo aquilo?

"Nunca mais use esse apelido ridículo." Ele falou num tom de ameaça.

"Mais caixas?" Edward perguntou e eu apontei para as que estavam no canto do aposento. "Só um segundo." Ele pediu, assim que Madness começou a tocar no recinto. Ele tirou o celular do bolso e atendeu a ligação.

"Muse?! O toque dele é uma música do Muse?" Anthony logo fez uma careta.

"O meu também é."

"Você é uma garota." Ele apontou o óbvio. "Mas também, o que esperar de um cara que têm um celular que rivaliza com uma TV de 50''? " Talvez, só talvez, o celular dele fosse ligeiramente grande. Mas o cara era editor, e precisava de aplicativos e processadores rápidos e outros termos técnicos que eu desconhecia. "Você sabe o que se diz sobre caras e celulares grandes, não sabe?" Anthony completou sugestivo.

"Ao menos o dele não é imaginário." Touché, Bella.

"O que você falou?" Edward perguntou ao desligar o telefone.

"Acho que..." Pensa rápido Bella, pensa rápido. "Vou guardar esse ursinho no armário." Sorri forçado, agradecendo ao meu ursinho Freddy por ter aparecido quase que magicamente no meu campo de visão.

"Está bem." Edward me olhou estranho, provavelmente cogitando se mudança realmente tinha sido uma boa idéia. Ele levou mais algumas caixas para o outro quarto, o que significava alguns minutos com minha própria dose de Metanfetamina. Sério, procure no Google os efeitos dessa droga e me diga se o Anthony não se encaixa neles?

"Satisfeito? Agora ele acha que eu sou uma criança presa no corpo de uma mulher de 25 anos." Reclamei com ele. Se não fosse por ele, eu não teria tido a necessidade de trazer o Freddy à tona.

"Mas isso está na sua biografia."

"Eu não tenho uma." Respondi irritada.

"Ainda. Será lançada ano que vem. " Anthony me deu um sorriso maquiavélico. "Será que Tanya gostaria de ser minha editora?"

"Por que eu não ouvi meu pai e me tornei uma advogada ou perita criminal?" Suspirei. Meu pai queria que eu seguisse os passos dele, de uma maneira bem mais segura, claro. Porém obedecer àquilo nunca tinha passado pela minha cabeça, até aquele momento.

"Porque se fosse assim você estaria conversando com mortos agora."

"Nada diferente de você, caso não cale a boca em cinco minutos." Ameacei.

"Precisamos ir à editora." Edward entrou num rompante no quarto, me assustando no processo.

"Por qual motivo?" Perguntei sobressaltada.

"Ainda não sei." Ele respondeu, passando a mão por seus cabelos.

"Ok, mas tem que ser agora?" Perguntei fazendo uma careta.

"Creio que sim." Ele assentiu.

"E a sua mudança?"

"Ah, droga! E agora? O Marcus vai me matar se eu disser que não posso ir por causa da minha mudança." Um fato sobre Marcus Volturi: Se for um dia útil, sua vida deve estar totalmente voltada para a empresa. E nada, absolutamente nada, pode atrapalhar você de me servir completamente.

Bem, essas foram as palavras do Edward. Mas acho que o que o Marcus queria dizer, é que eles não deveriam marcar coisas pessoais para dias e/ou horários de trabalho.

"Então fala que a culpa é minha. Diz que eu estou no meio de um surto criativo e me tranquei no quarto e você não consegue me tirar de lá." Sugeri.

"Isso vai me dar algumas horas." Ele analisou por um momento.

"Acabamos de arrumar as coisas depois da reunião."

"Valeu, Bella." Ele sorriu e se retirou para fazer a ligação.

Quanto a mim, eu fiquei ali no quarto, parada, tentando achar palavras que pudessem traduzir aquele sorriso, ou ao menos descrevê-lo. Mas a verdade é que eu já devia estar habituada. Eu já devia estar habituada à leve ruga que forma em seus olhos quando ele sorri; ou com a quantidade de dentes que ele consegue mostrar quando ele realmente está feliz; ou como ele consegue sorrir com a boca e com os olhos ao mesmo tempo...

A verdade é que eu já tinha visto aquele sorriso congelado em uma foto, por tantas vezes, que eu não deveria me sentir daquela maneira. Ele não deveria possuir aquele efeito sobre mim.

Mas ele possuía.

"Boas notícias! Marcus remarcou para amanhã. Pelo visto eles precisam de você no seu melhor estado." Ele anunciou animado e eu sorri aliviada. Mas isso durou pouco.

"Por que isso me cheira à encrenca?" Afinal, se eles me queriam no melhor dos humores, isso queria dizer que eles iram me pedir alguma coisa. E se eles iriam me pedir alguma coisa, com certeza não seria algo que eu fosse gostar de fazer.

"De qualquer forma, eu vou precisar de qualquer coisa que você tenha escrito desde a última vez." Edward avisou enquanto olhava alguma coisa em seu celular.

"Agora?" Perguntei com uma voz esganiçada. Como falar pra ele que eu não tinha escrito nada de novo desde o nosso último encontro, quer dizer, sessão.

"Agora eu vou precisar ir até a editora." Ele avisou e eu suspirei. Ótimo, isso me daria algumas horas para escrever alguma coisa. "Eu não sei sobre o que isso se trata, então temos de estar preparados."

"Certo. Vou ver o que posso fazer."

"Quando eu chegar, pode deixar que eu arrumo as minhas coisas."

"Sem pressa." Sorri. "Nessa casa nós gostamos de procrastinar."

"Nós?" Ele enrugou o cenho. Merda! Até quando ele não estava por perto, Anthony ferrava com a minha vida.

"Eu não te contei que essa casa foi construída em cima de um cemitério indígena, não?" Não havia coisa mais segura (e ridícula) que a história do cemitério indígena. Sério, não tem erro.

"Bella, deixa essa história para o seu próximo livro."

"Ao menos eu tentei."

"Até mais tarde." E com um beijo no meu rosto, ele se despediu de mim.

E eu fiquei feito uma idiota, parada, olhando para o nada. A boa notícia era que eu não tinha colocado a mão onde ele tinha me beijado, porque isso só acontece nos filmes.

"Beijos no rosto? Em menos de um mês? Isso é socialmente aceitável?" Anthony resmungou ao meu lado e eu apenas revirei os olhos.

"Agora nós podemos aproveitar que ele foi embora e trabalhar no livro." Avisei, enquanto saía do quarto em direção ao meu escritório no térreo.

"Agora eu sou o outro nessa relação?" Ele parou no topo da escada e me fitou.

"Anthony." Implorei.

"Eu estou me sentindo usado, rejeitado, abandonado, um verdadeiro lixo." Deus! Ele era um homem ou uma versão minha na TPM?

"Você sabe que o movimento Emo acabou há uns cinco anos?"

"Foi quando você me idealizou, então relativamente..." Ele meneou a cabeça. Certo, talvez a culpa inicial de ele ser um pé no saco seja minha. Mas vamos ser honestos, qualquer escritor sabe que em certas horas os personagens ganham vida própria e fazem/dizem coisas que você nunca mandaria que eles fizessem/dissessem. O problema no meu caso que era que ele tinha, literalmente (ok, talvez não tão literalmente assim) ,ganhado vida, o que me isentava de culpa sobre qualquer coisa que ele fizesse.

"Menos conversa e mais ação!"

E agora ali estava eu, cinco horas depois de Edward ter ido à editora, analisando o trabalho das minhas mãos, virtualmente falando. E tem coisa mais virtual do que você esperar seu personagem imaginário ler a cena que você escreveu?

"Eu amei que ela tenha dito sim, mas esse ele realmente tem que ficar na barraca?" Ele perguntou fazendo uma careta, que deixava claro todo seu desgosto pela cena em questão.

"É para a proteção dela." Expliquei.

"Eu sou a proteção dela." Convencido, não?

"Só que você é gelado e o Jack é quente."

"Se você permitisse, eu poderia esquentá-la rapidinho." O sorriso dele deixava claro suas segundas intenções.

"Você não deveria ser um virgem de 107 anos?"

"Exatamente, Bella! 107 anos!" Ele levantou as mãos, frustrado. "Você faz idéia do que é viver por 90 anos com esses hormônios adolescentes em ebulição?"

"Você sabe que eu não posso colocar esse tipo de cenas nos livros."

"Você está precisando ler umas fanfictions" Lá vinha ele com essas histórias de novo.

"Eu já li." Confessei. Ao contrário do que meu querido personagem pensava, eu não era tão alheia às reações dos fãs ao que eu escrevia.

"O quê? Quando?" Ele perguntou, surpreso.

"Não, interessa." Sacudi a cabeça. "Eu percebi que algumas pessoas têm sérios problemas gramaticais e psicológicos, mas muitos textos se salvam."

"E?" Ele fez um gesto para que eu prosseguisse.

"E uma coisa são garotinha de 14 anos escrevendo sobre sexo, outra coisa sou eu, uma mulher de 25 anos que pode ser acusada de aliciar menores por escrever cenas inapropriadas para a faixa etária do grupo." Anthony pareceu ficar convencido com o meu argumento, já que ele tinha retomado a sua leitura.

"Ele precisa abraçá-la? E ainda deitar sem camisa?" A revolta na voz dele era tão genuína que chegava a ser prazerosa. "O que você falou sobre aliciar garotinhas indefesas?"

"Se você ficar me enchendo o saco eu vou te mostrar uma foto do Jacob sem camisa." Ameacei.

"Por que você teria uma foto dessas?" Anthony me olhou assustado.

"Ele me enviou." Confessei. Certo, o visual não era ruim. Mas que tipo de pessoa manda fotos sem camisa randomicamente e ainda por cima por email? Quem ainda usa email para assuntos pessoais hoje em dia? Obviamente, Jacob Black e o meu pai, mas isso não vem ao caso agora.

"Como foi na editora?" Perguntei, quando Edward já estava devidamente acomodado no sofá.

"Eu não quero falar sobre isso." Ele resmungou. Realmente, ele parecia cansado.

"Tão ruim assim?" Sentei-me no sofá, em cima das minhas pernas, e coloquei a almofada no meu colo.

"A Tanya..."

"Então realmente foi ruim. Ah, desculpa!" Só depois de ter começado a falar, eu percebi a besteira que eu tinha feito. Eles eram colegas de trabalho. Quer dizer, dane-se a ética! Sem contar na possibilidade deles serem amigos (ou mais que isso).

"Tudo bem, ela não é o que eu chamaria de amiga." Ele sorriu, como se estivesse adivinhando meus pensamentos. "Eu preciso tomar um banho." Espera, aquilo era alguma mensagem subliminar em forma de convite? Mas antes que eu pudesse pensar em alguma coisa, ele se levantou do sofá e se alongou, como se quisesse que a coluna vertebral voltasse para o lugar. Mas tudo o que ele conseguiu foi fazer com que a calça descesse um pouco, e mostrasse o cós da boxer que ele usava, corroborando a minha idéia de que ele estava me dando dicas subliminares para me juntar a ele no banheiro.

"Se você estiver com fome, tem umas quesadillas de frango dentro do forno."

"Você cozinhou?" Ele parou sua sessão de alongamento e me encarou.

"E ainda escrevi. O arquivo está na mesa do escritório."

"Com tanta eficiência eu posso ficar mal acostumado e resolver ficar por aqui." Ele sorriu e piscou pra mim, antes de ir em direção ao banheiro.

"Aí você oferece a mão, e a pessoa quer o pé, o pescoço, a perna e aquela parte do corpo que você sabe muito bem qual." Enquanto Edward subia as escadas, Anthony tomava seu lugar no sofá.

"Anh?" Perguntei, visivelmente distraída.

"Eu não tenho e você tem..." Ele arqueou as sobrancelhas, sugestivo, mas eu não estava a fim de entrar no seu jogo.

"Cérebro." Respondi. O que não deixava de ser uma verdade.

"Ele gosta de você." Ele apontou, meio contrariado.

"E eu gosto do John Green, mas a vida não é perfeita." Arremessei a almofada na direção do Anthony e me levantei do sofá. "Eu vou dormir." Como Anthony desapareceu ao ser atingido por minha almofada, acabei falando sozinha. A verdade é que não era tão diferente da realidade.

"Hum, Bella?" Eu já estava prestes a entrar no meu quarto, quando Edward me chamou. Um Edward molhado e apenas de toalha! Desde quando a minha vida tinha virado uma daquelas comédias românticas de Hollywood?

"Oi." Tentei focar no olhar dele ao invés das gotinhas que escorriam pelo seu tórax e estômago, direto para a área escondida pela toalha.

"Amanhã eu terei que ir mais cedo para a editora, mas você pode chegar lá umas 11 horas. Ou se quiser ir comigo, tanto faz."

"Acho que vou aproveitar a carona." Sorri. Horas extras com o Edward! Se era para eu passar por aquele suplício, que eu tirasse algum benefício.

As nuvens imperavam no céu de Seattle, o que me animou um pouco mais ao sair de casa. Embora eu não andasse por aí com uma blusa do tipo: I 3 Sun, eu sabia que o Astro Rei tinha sua beleza e suas utilidades. No entanto, nada se comparava à beleza de um céu cinzento, repleto de nuvens fofinhas.

Em dias nublados tudo ficava melhor.

As cores pareciam mais vivas, exibindo sua luz própria. Nada daquela confusão caleidoscópica dos dias de sol, daquela agitação ou daquela alegria esfuziante que muitas vezes tornava-se irritante no verão. Tudo era mais limpo e claro em dias nublados. Como uma tela pronta para ser pintada.

Apesar do pequeno engarrafamento, conseguimos chegar à editora em um tempo relativamente curto. No instante em que Edward parou o carro no estacionamento, meu estômago deu uma reviravolta. O nervosismo e a fome causavam uma sensação que eu nem sabia descrever.

Sorri e sai do carro, eu deixaria para surtar e sofrer quando eu ficasse a par das notícias.

"Oi, Sophie." Edward e eu cumprimentamos a recepcionista que ficava no hall de entrada.

"Olá, Bella. Edward." Ela sorriu polidamente e voltou aos seus afazeres.

Entramos em seu escritório e Edward logo depositou sua maleta numa das poltronas, abriu-a e tirou meu manuscrito dali de dentro. Ele já ia começar com a pior parte?

"Já que você vai ficar lendo isso, eu vou atrás de café." Eu não ia suportar ficar ali parada, enquanto ele lia o que eu escrevia ao mesmo tempo em que eu tentasse ler nele as reações que a leitura do meu texto causava. "Quer alguma coisa?"

"Chá."

"Chá?!" Que tipo de pessoa tomava chá pela manhã?!

"Hábitos ingleses." Ele sorriu e eu segui para a o andar superior, onde ficava uma espécie de praça de alimentação de todo o edifício.

"Que tipo de pessoa troca o aroma, a intensidade e a energia de um café por uma coisa tão sem graça quanto um chá?" Murmurei, enquanto andava em direção à cafeteria.

"Eu disse que ele era mulherzinha" Anthony prontamente apareceu ao meu lado. "Falando em mulherzinha, alerta de vadia na área." Ele avisou e eu virei minha cabeça para ver de quem se tratava. Ah, não! Ela não!

"Às vezes eu acho que você é gay."

"Falou a mulher que me faz brilhar feito purpurina no sol."

"Beeella, que surpresa." A voz estridente da Tanya podia ser mais eficiente que meu despertador pela manhã.

"Olá, Tanya." Coloquei meu melhor sorriso no rosto.

"Como você está?"

"Bem. E você?"

"Ótima. Feliz que o Eddie decidiu voltar para casa." Ela respondeu animada.

"Eddie?" Perguntei confusa. Era o nome do cachorro dela?

"O Edward, seu novo editor." Ela explicou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Como aquela criatura abominável tinha a audácia de chamar o epítome da perfeição humana de...Eddie? Quer dizer, Edward não era um nome tão comum assim nos nossos dias, mas ninguém podia negar que aquele nome (e o dono) tinham um ar misterioso de início de século e uma sensualidade tão inerente, que chamá-lo de Eddie deveria ser contra a lei. "Eu o conheci anos atrás, e nós meio que tivemos um lance. Mas você sabe como é difícil manter um relacionamento à distância. Mas agora eu sinto que é a nossa vez, sabe? Nós somos perfeitos um para o outro."

"Que bom!" Eu não sabia qual era a pior parte: a voz dela, saber que eles tinham tido um lance ou ter que ouvir informações que eu não havia pedido.

"Ele já chegou?" Mordi o lábio enquanto pensava em qual resposta dar.

"Eu acho que não." Sorri sem graça. Embora eu não tivesse desviado o olhar, eu sabia que Anthony estava me encarando com um olhar de reprovação.

"Quando ele chegar você me avisa?" Ela sorriu e bateu os cílios, numa tentativa falha de parecer uma Princesa da Disney.

"Claro." Assenti e ela se afastou dali. Quando voltei a posição anterior, assim como eu tinha previsto, Anthony me desprezava com seu olhar. "O que foi?" Cruzei os braços e revirei os olhos.

"Estou vendo se o seu nariz não está crescendo." Resolvi não dar uma resposta àquele comentário infantil.

Enquanto eu tomava meu desjejum na cafeteria, peguei minha agenda e comecei a rabiscar algumas coisas, que no final as defini como regras de convivência. Eu e Edward não tínhamos conversado os pormenores do nosso acordo, mas de uma coisa eu tinha certeza: eu não ia querer entrar na minha casa e vê-lo transando com a Tanya na minha sala de estar.

Ou em qualquer outro cômodo.

Na verdade, em qualquer cenário as imagens me davam arrepios.

"Eu preciso falar com você." Edward e eu anunciamos juntos, no momento em que entrei em seu escritório.

"Damas primeiro." Ele ofereceu.

"Eu esqueci de te entregar isso." Entreguei um copo com o chá que ele tinha pedido antes e minha lista de regras de convivência.

"Regras de convivência?" Ele arqueou uma sobrancelha "1-Acumular louças é aceitável, desde que não passe do limite da pia. 2- Roupas não são opcionais, então lave suas roupas ou será preso por atentado ao pudor." Ele sorriu. Ok, talvez não atentado ao pudor, mas com certeza seria um atentado à minha sanidade "Regra número 7- Nada de garotas em casa. Essa não tem como cumprir." Ele falou decidido. É, minha felicidade durou pouco.

"Como assim?"

"Você mora lá, então essa regra não tem como cumprir." Ele explicou.

"Você entendeu, nada de levar garotas para casa na tentativa de produzir uma sinfonia noturna."

"Deixa eu ver se eu entendi: eu não posso levar nenhuma garota para casa para praticar sinfonias noturnas, mas se a garota já reside na casa isso não pode ser considerado como uma violação da Regra, certo?" Ah, meu Deus! Aquele olhar, aquele sorriso...

"Sobre o que você queria falar mesmo?" Mudei de assunto, porque do contrário eu não responderia por mim.

"O livro." Ele apontou para o manuscrito que estava na mesa. "Eu gostei bastante do que você escreveu."

"Que bom." Sorri lisonjeada e aliviada, ao mesmo tempo.

"Você já tem alguma idéia para a batalha?"

"Tenho algo em mente, só ainda não tive tempo de esquematizar tudo e transferir pro papel." Eu também tinha algumas idéias para discutir com ele, mas fazer ali parecia ser tão estranho. Eu já estava acostumada as nossas discussões na minha sala de estar.

"Ótimo." Ele se levantou da cadeira e me entregou o manuscrito. "E eu fiz algumas anotações do que precisa ser mudado, acrescentado ou retirado. O que não foi muita coisa."

Enquanto eu scaneava as páginas rapidamente, percebi que Edward tinha dado a volta na mesa e parado bem do meu lado. Mas bem do meu lado mesmo. Continuei a examinar o arquivo, quando letras garrafais e pontos de exclamação chamaram minha atenção.

"Paixão?" Franzi um cenho. Por um momento eu imaginei se não teria sido o Anthony, e não o Edward que tinha escrito aquilo ali. Era a mesma cena que o primeiro vivia implicando. Aquilo era coincidência demais.

"Eu acho que falta um pouco de paixão nessa cena." Ele explicou o óbvio. "Ele está pedindo a garota em casamento."

"A cena precisa de amor, não de paixão." Defendi meu ponto de vista.

"E por que não se pode ter os dois?" Ele sussurrou, ainda mais perto.

"Eu não tenho idéia de como..hum... de como reescrever essa cena." Admiti. Eu já tinha tentado, mas sem nenhum sucesso.

Edward sorriu seu sorriso torto e se aproximou ainda mais de mim, quase fundindo nossos corpos.

"Talvez eu possa te ajudar. Hoje. Quando chegarmos a casa." Ele sussurrou ao pé do meu ouvido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Bella And The Writers Block." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.