16 de Julho de 2012, querido diário...

Eu realmente não consigo entender a diversão que meus pais vêem em alugar uma casa de praia para uma temporada de no máximo duas semanas longe da cidade. Ou melhor, eu não sei qual é o intuito que eles têm de chamar a minha família toda - Sim diário, a família Buscapé -  e realmente se afogarem em álcool as férias todas. Não que se afogar em álcool seja algo ruim, mas é que eles têm uma ideia fixa na cabeça de "nem a Gabi nema geração dela podem beber". É, okay. De boa. Essa é a parte que eu finjo nunca ter colocado  nem vodcka, nem whisky, nem cerveja, nem cachaça, nem martine, nem...

- Gabriela. - Fechei o notebook quase instantaneamente enquanto via minha tia abrindo a porta. A única coisa que consegui pensar foi em uma nota mental de roubar a chave dos quartos no molho de chaves entregue pelo caseiro a meu pai.

- Oi tia Jane. - Falei quase que obrigando minha boca a emitir algum som.

Eram sete horas e uns quebrados, ou seja, todas as pessoas do universo já pareciam estar acordadas no litoral, o que eu considerava no mínimo bizarro. E era exatamente por isso que eu sabia o que já vinha por ai.

- Porque você ainda não trocou o pijama pelo biquíne e a saída de banho, já esta todo mundo pronto e você aqui dentro desse quarto, agarrada com esse computador. Acaso você não sabe que temos que aproveitar....

Jane continuou falando mas as únicas coisas que eu conseguia escutar eram pequenos guinchos por conta de sua voz estridente e de seu tom variavelmente agudo que por vezes eram ouvidos enquanto falava. Balancei a cabeça positivamente sem enteder muito que ela falava ainda.

- Vou desligar... Já vou, eu acerto o caminho da praia. Podem ir.

Abri novamente o notebook e baixei a cabeça para a tela

Querido diário, a loira de farmácia da família está nos dias que acha que é dona da minha vida, então por isso não estou nem um pouco afim de confronta-lá e também estou com muito sono para isso. Mais tarde volto, já é certo.

                                 xoxo.

Desliguei novamente o notebook sabendo que todos os meus "escritos" estavam totalmente seguros por senha. Eu havia começado a usa-ló para descarregar tudo que eu pensava  da vida, meus sentimentos e emoções a uns dois anos atrás, se minhas contas não me enganam. Por isso nunca fiz questão de um exemplar mais novo. Aquele era mediador do meu eu comigo mesmo... O que pode soar estranho, mas de fato, sou estranha. Aquilo  certamente não seria diferente. Eu me vestia da maneira mais lenta o possível, desde que me entendia por gente odiava praia... Não, não era a praia... Era o sol. Eu era branca demais para me expor sem ficar "vermelhinha", e eu odiava isso. Enquanto metade da minha família desfilava uma quase morenice, eu, justamente EU caí na outra metade branquela da herança genética.