Eu não sei por que isso aconteceu, mas só sei que aconteceu, e foi bom. Eu me senti feliz, como nunca na vida havia me sentido assim. 

Quando nosso intenso beijo acabou, Vitor me olhou assustado. Eu não sabia oque dizer. Fiquei paralisada! Vasculhei minha mente a procura de algo que me ajudasse a quebrar aquele silencio perturbador, mas nada. Eu não sabia oque dizer, e me parece que ele também estava assustado. Continuamos em silencio. Os dois, paralisados, olhando para aquele teto branco, com os olhos arregalados. Eu não estava mais aguentando aquele silencio, então resolvi quebra-lo.

- O que foi isso? - perguntei assustada.

- Eu não sei - respondeu ele, se embolou um pouco com as palavras.

- O que você acha que devemos fazer agora? - queria uma resposta que me deixasse feliz.

- Esquecer? - ele respondeu minha pergunta co outra e eu odiava isso.

- Esquecer - concordei.

É claro que eu nunca mais iria esquecer aquilo. Aquele beijo, de alguma forma, mexeu comigo. Naquele beijo, senti uma coisa que nunca senti na minha vida inteira: amor.

Eu estava sentindo uma dor no peito, como se eu quisesse ficar com ele para sempre, mas não podia. É claro que eu não podia! Ele iria ser pai e iria se casar! Eu tinha que ir embora enquanto ainda havia tempo. 

Vitor acabou adormecendo olhando para o teto. Já ia amanhecer e eu ainda estava olhando para o teto branco, tentando descobrir oque acabara de acontecer. Resolvi ir embora. Eu sabia que ele iria ficar chateado de eu ir sem falar com ele, mas achei melhor assim.

Vesti minha roupa e dobrei a camiseta que ele havia me emprestado. Resolvi deixar uma carta para ele. Escrevi:

"Eu não sei se aquilo que aconteceu entre a gente significa alguma coisa pra você, mas pra mim, não foi nada. Vou tentar de todas as maneiras esquecer aquilo, pois ainda somos amigos, e entre amigos não acontecem coisas desse tipo. Me desculpe por sair sem avisar, mas estou precisando de um tempo só pra mim. Não se esqueça que agora você é um adulto, e tem que assumir suas responsabilidades. Tomei uma decisão esta noite e sei que vai ser o melhor para mim. Vou voltar a morar no Brasil e, talvez, não nos vejamos mais. Me desculpa se te fiz alguma coisa que te magoo, mas essa nunca foi minha intensão. Vou sentir muita sua falta e, pode acreditar, esta sendo muito difícil para mim partir, mas é a melhor coisa a se fazer. Continue sua vida, assuma seu filho, case-se com a Giovanna e seja feliz. Só te desejo felicidades. Eu te amo muito, amigo.

Um beijo, de sua eterna melhor amiga.

Julia."

Foi uma decisão difícil a se tomar, mas foi uma coisa boa. Vitor teria que se preocupar com sua família agora, e eu não queria atrapalha-lo. E além do mais, eu estava com saudades do Brasil. 

Fui para casa, caminhando. Cheguei, fiz minhas malas e liguei para minha mãe. Ela me disse para pegar o tanto de dinheiro que fosse necessário no cofre da família. Peguei alguns dólares para a passagem, para a condução e para a comida. Ela me disse para eu ir para a casa da minha avó, no Rio de Janeiro e eu concordei. Fui para meu quarto e fiz minhas malas. Ao todo, tinham seis malas. Desci as escadas com dificuldade. Deixei um bilhete para Rosa. Chamei um taxi e pedi que ele me levasse para o aeroporto. 

Foi tudo muito rápido e, talvez, eu nem soubesse oque estava fazendo. Mas eu sabia que seria a melhor coisa a se fazer. Em minha bolsa de colo, havia o álbum de fotos minhas e de Vitor. A cada pagina que eu passava, lágrimas quentes escorriam por meu rosto. Em meio de lagrimas, cheguei ao aeroporto em torno da hora do almoço. Comprei minha passagem e fui até uma lanchonete comer alguma coisa. Fiquei sentada em um banco esperando meu lanche ficar pronto. Via pessoas chegando e outras indo embora. Umas, choravam com a dor de uma partida, e outras, choravam com a emoção de uma chegada. Partir, as vezes, pode ser difícil, mas é como começar uma vida nova.