Debaixo da cama, domingo, treze de janeiro de dois mil e treze

My Sweet Miranda;
 

Eu estou escondida. Sim, talvez debaixo da cama não seja o melhor esconderijo, mas certamente é o mais inesperado. Digo, inesperado por ser a sua cama. Já perdi a conta de quantas vezes nós duas fugíamos para cá quando eramos crianças, você se lembra? Naquele dia em que eu perdi meu carrinho favorito, ou quando nós acabamos quebrando a janela da sala. Esse lugar sempre foi meu refugio quando eu fazia alguma coisa errada.

Você deve estar se perguntando no que foi que eu errei, mas não sei se ainda estou pronta para admitir isso a você. Oh, você estaria tão chateada agora, provavelmente comentando sobre como alguém deveria dizer algumas 'verdades' a minha mãe e ensina-la alguma sutileza.

A minha semana tem sido extremamente tediosa, te vejo em todos os lugares que olho. Ontem, no parque eu comprei dois sorvetes, um de morango e um de baunilha. Não tomei o seu, deixei que ele derretesse. Não fiz de proposito, quando eu vi, já tinha dois sorvetes na minha mão e sorria pro espaço vazio aonde você deveria estar.

Quando voltei para casa, estava pior do que nunca. Me lembrei daquela piada que tanto queria te contar mas nunca conseguia traze-la de volta a minha mente, fiquei pior ainda quando me dei conta de que você nunca a ouviria da minha boca, ou da de ninguém. 

Mamãe me chamou para sair, alguma coisa sobre eu estar vivendo como um zumbi. Eu não quis, é claro. Qual o ponto de fazer coisas com a minha mãe se não poderei reclamar da chatice delas pra você depois? Claro que eu não disse isso a ela, foi alguma coisa mais ou menos assim:

"-Roseleen, se arrume, nós vamos sair.

-Não quero.

-Agora. Você não pode se arrastar por aí como um zumbi para sempre.

-Eu não quero sair mãe, me deixe sozinha.

-Querida, a Miranda quem morreu, não você." 

Você sabe, eu não tive como reagir a isso. Não preciso das pessoas constantemente me lembrando da sua morte, tenho minha própria dor para fazer isso. Eu não fui com ela afinal, na verdade, acho que não lidei com isso tudo de uma forma madura. Eu simplesmente fugi.

Na verdade, depois de escrever isso, sinto que eu deveria escrever meu próprio livro: 'Como reagir infantilmente a verdade, um guia para idiotas'. Aposto que seria um sucesso. 

Eu peguei um dos seus casacos, espero que você não se importe. Sua mãe já tinha começado a encaixotar as suas coisas, provavelmente para doa-las, mas eu passei a ultima hora arrumando tudo de volta no seu lugar. Mesmo que você não vá voltar, o seu santuário deve permanecer intacto.

Batatinha, sei que eu não deveria dizer isso, mas eu achei o seu diário, estou em duvida entre ler ou não. Se não quiser que eu leia, mande um raio. 

Com amor; 

Rosaleen.