Encima do muro que divide minha casa da sua, quinta feira, dez de janeiro de dois mil e treze

Dear Miranda;

Eu sei que você está morta. Posso sentir isso em todos os meus ossos e no modo como eles se movem. Ando como se uma parte de mim tivesse morrido junto com você, e de certa forma, foi isso que aconteceu. A parte que sabia se expressar as pessoas acabou de ser enterrada naquele caixão contigo. Você provavelmente riria de mim por ser tão dramática, mas não posso encontrar outro jeito de me expressar.

Ontem, quando eu estava me vestindo para o seu enterro, minha mãe entrou no quarto e me abraçou. Se lembra de como eu costumava reclamar que ela não era capaz de me entender? Ainda é verdade, mas não posso evitar desabafar com ela, se eu fechar os olhos com força suficiente, posso imaginar que é você ali comigo. Você sabia que sempre foi a unica pessoa que realmente me entendeu? Me sinto como uma radio pirata e só você sabia me sintonizar. Na verdade, só você sabe me sintonizar. Já disse que sei que você morreu, mas uma parte sua ainda vive dentro de mim. Sempre vai viver. Que se dane o que é saudável para minha mente. E quanto ao meu coração? Só você podia ouvir os gritos dele. E agora não tenho mais você.

Sabe, depois que jogaram terra por cima de você, eu não pude deixar de imaginar se fosse eu ali no seu lugar, por um misero segundo, isso foi o que eu desejei, então minha mente voltou a funcionar. Ninguém mais entenderia esse lapso de sanidade, somente você, por isso vim te escrever. Eu sei que você vai ler Miranda, porque se não fizer isso, sou capaz de ir aí no além te chutar por ser uma vadia sem coração comigo. Como você pôde morrer? E tudo aquilo que nós tínhamos planejado? E Londres, Miranda? O que eu deveria fazer numa cidade tão grande, sem você para incendia-la comigo? Então, ao invés de chorar, como ambas sabemos que é o que eu faria, ok ok, que eu estou fazendo, eu pensei em viver por nós duas. Vou realizar os seus sonhos e os meus nem que para isso eu tenha que fazer divisão celular. Você sabe, reprodução assexuada e essas coisas. OI MIRANDA, OLHA PRA MIM, EU SOU UMA AMEBA. Você não riria disso, ou provavelmente riria da minha estupidez. Quem eu quero enganar? Não sou uma ameba, sou uma batata. Me ame Miranda.

De verdade.

De onde quer que você esteja.

Me ame.

Por que eu ainda te amo daqui.

E de todo o meu coração.

Com amor;

Sempre sua;

Rosaleen.

Ps. Eu vou queimar a carta, então as cinzas se perderão no vento. É o nosso trato, aprenda a ler o vento enquanto eu aprendo a viver sem você.