“Os dias passavam arrastados na terra onde a areia domina toda a paisagem. Passavam lentamente, como que testando os nervos e corações dos habitantes daquele reino.

Lugar tranquilo para se morar nos tempos de hoje, mas que há alguns anos seria um verdadeiro inferno para os nascidos em Alabasta.

Pois todos, mesmos os mais simples e humildes, ainda guardavam vivos na memória os dias tenebrosos do governo de Crocodile.

Não, ninguém esqueceria, tão cedo.

Memórias dolorosas, da agonia e do sofrimento de toda uma nação ante o demônio encarnado e enviando para atormentar a vida das pessoas daquele lugar.

Intriga, revolta, guerra, morte. Essas eram as palavras mais usadas naqueles dias onde o sol parecia ainda mais quente que em outras épocas.

E os céus, os deuses, seja quem fosse, pareciam ter voltado seus olhos pra direção contrária aos seus filhos de Alabasta. E eles sofriam a tirania e a dor causada pela descrença de uma chuva que parecia nunca mais cair.

E mesmo que um pobre infeliz cavasse a procura de água, dizendo a todos para terem fé, até ele foi tragado pelas areias demoníacas enviadas para castigar aqueles que eram fieis ao Rei, ao reino e as pessoas.

Muita dor ainda viria para aqueles cidadãos já renegados de qualquer ajuda.

Ela tardou, porém chegou. Da forma mais imprevisível possível, nas mãos, na força e na coragem de um grupo de piratas que ninguém daria nada por eles.

Num grupo que chegou desacreditado. Mas que, confiando na nova integrante do bando, foi levado a usar tudo o que tinham, toda a força que possuíam, para rechaçar os invasores que tiravam do povo a chance de viver e encontrar a felicidade.

Foram tempos difíceis e tortuosos, mas com a ajuda de um certo Chapéu de Palha, aquilo que causava dor e humilhação aos habitantes do Reino de Alabasta foi extirpado e mandado para o lugar que merece.

E como que por um milagre, veio a chuva. A água que traria vida nova ao reino era o sinal do recomeço para todos os que viveram aqueles tempos difíceis...”

— Acha que o texto está ficando bom, Kohza? – Perguntou Vivi, parecendo preocupada.

— Acho que o que você começou a escrever está bom, mas percebo que você não escreveu tudo o que gostaria, ainda.

Ele estava certo, Vivi ainda não havia encontrado as palavras adequadas para descrever tudo o que se passou no Dia da Libertação e Despedida. Porque ainda doía dentro dela a partida dos seus amigos, mesmo que não admitisse isso na frente das pessoas que tanto se preocupavam com ela.

Ambos estavam sentados na varanda, em frente ao quarto da princesa. Viam como tudo estava diferente agora. A paz parecia um presente precioso, que todos ali davam mais valor que a própria vida.

Ela pegou novamente a pena com a mão direita, enquanto a esquerda era segurada bem firme, próximo ao coração de Kohza.

“... e com ela novas e melhores lembranças foram semeadas no coração das pessoas de Alabasta.

Basta olhar bem para o X, o ponto principal da mudança, onde doces memórias residem e neles o sinal de amizade eterna ainda vigora.”

— Não consigo mais escrever – e deixou a pena cair sobre o papel.

— Não precisa escrever mais nada, Vivi. Não há palavras que possam exprimir o que se passa no fundo do coração de alguém. – Kohza dizia enquanto acariciava a mão de Vivi.

— Eles não precisam disso, sei bem. Mas é uma data especial, não queria que passasse sem registro.

— O seu sentimento chegará a eles, pode estar certa. É o povo que precisa das suas palavras, eles só precisam da sua amizade.

***

Longe dali, Luffy observa o mar sentado na cabeça de proa do Sunny. Sorriu ao lembrar-se de tudo o que aconteceu na sua rota até ali. Lembrou-se da amiga que deixaram para trás e riu sozinho, sabendo que talvez ela estivesse pensando neles também.