Love Bites escrita por SilenceMaker


Capítulo 3
So do I


Notas iniciais do capítulo

Oh, well... Eu realmente não gostei desse capítulo =.=
Quero dizer, sim, é o último e deveria ser o mais caprichado, mas não consegui ficar feliz com ele... De qualquer forma, essa história só foi escrita para passar o tempo mesmo, sem trabalhar muito os personagens nem nada, então não estou realmente preocupada '-'
Perdão por erros e blah-blah-blah



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"Hoje definitivamente não é o meu dia", pensou Ren fervendo de raiva.

Ele estava em casa, indo do quarto para a cozinha. Em sua mente estavam as memórias memoravelmente ruins da tarde. Nem mesmo seu presente de aniversário (fones de ouvido maravilhosos e uma coleção de CDs de sua banda favorita) conseguiu acalmá-lo — aliás, fazia uma semana desde que recebera o presente.

Naquela manhã, porque estava farto de ficar só em casa e porque seu tornozelo estava bem melhor, ele resolveu sair de casa. Não sabia para onde ir, então decidiu andar alternativamente e ver onde iria parar.

Após uns quinze minutos, Ren já havia passado pelo centro e estava em uma área um pouco menos luxuosa. Com as mãos nos bolsos, andou reto por muitos becos, até que uns sons lhe chamaram a atenção. Sons desagradavelmente inconfundíveis, aliás: o som de pele contra pele. Parou de andar e voltou alguns passos, espiando o beco. Se fosse algum conhecido, podia chantageá-lo(a), não é? Uma oportunidade dessas de ridicularizar alguém é imperdível.

Ignorando a vontade de vomitar, estreitou os olhos para ver melhor. Certo, aquele cara ele não conhecia; era grande demais e musculoso demais para que pudesse ter encontrado alguma vez. Talvez a garota então? Esperou os dois mudarem de posição para ver o rosto dela, o que não levou nem um minuto.

Assim que ela virou a cabeça, Ren desejou não ter parado de andar. O rosto da garota estava contorcido de forma estranha, o que fazia a cena ser muito mais nojenta como um todo — sem contar que eles estavam no meio da cidade, no meio do dia e a céu aberto. Os olhos de Ren se arregalaram.

"Será que Kin e Kenjiro terminaram?", pensou ele com uma ponta de esperança. "Quero dizer, ela está transando com um cara em um beco! Kenjiro não admitiria ser traído dessa maneira, não é? Não é?" Sem conseguir evitar o trejeito de repulsa, Ren continuou seu caminho o mais rápido possível.

Mas não foi isso que fez seu dia virar uma desgraça. O verdadeiro problema aconteceu logo depois do almoço, enquanto voltava para casa. Tal foi sua surpresa quando viu seu amado Kenjiro e Kin de braços dados na frente de um café.

— Eles não terminaram — murmurou Ren para si mesmo com descrença. — Então… Então por quê…?

Após mais um momento sem reação, seus olhos se estreitaram de ódio.

Aquela vadia… Como ela ousa fazer algo assim com ele? E olhe a expressão do Kenjiro! É claro que não sabe de nada. Kin-san está o enganando…

E foi com essa última frase grudada na cabeça que ele voltou para casa.

No momento — 15h30 de um sábado —, Ren estava na cozinha de seu flat, com um livro de culinária em mãos. Havia decidido fazer o que fazia de pior para ver se distraía seus pensamentos. Na verdade era o quinto livro que abria, por ter jogado todos os outros pela janela para aliviar a raiva recém-acordada. Felizmente seu pai havia lhe comprado uma coleção tão grande de livros, na esperança de que Ren finalmente aprendesse a cozinhar, que podia quase abrir uma biblioteca só com eles.

Ia tentar fazer batatas com cheiro verde, que era a receita mais fácil que achara.

Sem se importar em sujar as roupas novas — as mesmas que usara para sair —, ele pegou o primeiro ingrediente. Sua roupa nova não era nada mais que uma calça esverdeada folgada com cordinhas meio justas na altura dos joelhos e uma blusa preta.

Abriu a geladeira e pegou um maço de cheiro verde da gaveta próxima ao chão, ao lado da que escondia bolos. Colocou a tábua sobre a pia e alcançou uma faca na gaveta. "A lâmina está cega", pensou Ren, olhando-a bem. "Acho que eu lembro como se afia, vou tentar."

Abrindo outra gaveta, pegou uma pedra de amolar negra do fundinho. Enquanto afiava a faca grande de cozinha, seus pensamentos vagaram pela perspectiva do corpo mutilado de Kin exposto em uma praça. Antes que percebesse, ainda absorto nas imagens paradisíacas de uma profanção pública de um cadáver oxigenado, já acabara de afiar a faca e passou a cortar os "tubinhos" verdes. Mas seu pensamento não parava. Seu subconsciente acrescentava mais lenha à fogueira e fazia o desprezo do garoto aumentar. Ren cerrou os dentes para não começar a gritar xingamentos.

Odiava aquilo… Odiava aquela garota… Odiava o fato de que Kenjiro gostava dela…

E por isso não posso fazer nada.

Kenjiro gosta dela…

Tenho que me controlar.

Kenjiro gosta dela…

Mas ela o traiu.

Kenjiro gosta dela…

Eu…

Kenjiro gosta dela…

E nesse exato momento eu não consigo me importar menos com isso.










It checks on you and kicks you down

Ren sentia um ódio incontrolável.

It chills you up and spits you out

Ele queria vê-la ensanguentada.

It messes with your sanity…

Queria vê-la com olhos vidrados.

…by twisting all your thoughts around

Queria vê-la morta, aos seus pés.

Esquecendo o fato de que estava em sua própria cozinha cortando cebolinhas e não num açougue, sua raiva foi descontada no pobre vegetal. Seu braço movia a faca enorme com força, batendo com um barulho alto através da cebolinha e parando na tábua de madeira. Uma vez, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito e na nona não pôde continuar, pois a faca fincou-se na tábua.

Ofegante, Ren, com as pupilas dilatadas de raiva e um pouco trêmulo, lentamente olhou para o estrago que fizera com os movimentos impensados. Os danos na cebolinha eram incalculáveis — ela estava completamente destroçada — e a tábua também não estava nas melhores condições: cheia de marcas das batidas da faca e certamente agora com uma fenda no meio.

Ren fechou os olhos, respirando fundo e tentando acalmar a respiração trêmula.

Acalme-se… Não seja idiota. Acal… Ei, esse som é de passos?

Seus olhos se abriram imediatamente.

Definitivamente: passos.

Sem tirar a mão de cima do cabo de metal da faca, virou a cabeça e espiou pela janela da cozinha, tentando ver quem estava passando pela frente do conjunto de flats.

— Oh — disse Ren ao ver tal pessoa. Quase no mesmo momento, seus lábios se curvaram num sorriso malicioso. — Oh, oh, oh! Mas que oportuno!

Não precisou pensar muito. Seu corpo formigava só de pensar… só de pensar naquilo… Ah, ele precisava ir atrás!

Agora com um olhar perigosamente suave, puxou gentilmente a faca recém-afiada da tábua, tirando os frangalhos de cebolinha no pano de prato. Levantou-a com cuidado, examinando a lâmina e seu sorriso alargou-se satisfatoriamente. Sem muita pressa, foi até a porta de entrada e trocou seu chinelo de pano por tênis, saindo silenciosamente de casa logo depois.

"Kin-san", pensou. "Eu tenho muita sorte por você passar por aqui justo agora, e sozinha ainda por cima."



* * * * *



Definitivamente, Ren podia ser uma das pessoas mais sortudas do mundo. Além da oportunidade perfeita, Kin se encaminhava para uma rua praticamente vazia — lá só morava duas famílias, e ambas haviam viajado.

Tomando cuidado para não fazer nenhum ruído, ele andou mais rápido para alcançar a garota loira, que virava a esquina. Não se deu ao trabalho de esconder a faca que carregava, levando-a rente ao corpo na mão esquerda.

Só mais uns passos…

Kin sentiu uma mão leve cutucando-a no ombro. Virou-se bruscamente, sobressaltando-se quando viu Ren com uma expressão estranha, encarando-a.

— Posso ajudá-lo em alguma coisa? — perguntou ela de mau gosto. Ela realmente não gostava daquele garoto…

— Na verdade, pode sim — respondeu Ren com um sorriso que para qualquer um seria afável, mas que mandou arrepios pelo corpo inteiro da loira.

"Qual… Qual o problema com os olhos dele?", pensou Kin um pouco assustada, mas sem demonstrar no rosto. "Parecem… turvos."

— E então? — falou ela impacientemente, apesar do pensamento inseguro. — O que quer?

— Dar adeus.

Kin olhou-o como se fosse louco, mas antes que resolvesse dizer qualquer coisa, Ren segurou mais firme a faca de cozinha e levantou-a. Os olhos dela se arregalaram e sua boca se abriu, como se fosse gritar.

Um grito mudo, afinal, pois ele nunca chegou a existir.

Ren olhou com prazer a expressão dela se contorcer momentaneamente, antes que ela tombasse no chão, mole, no segundo seguinte. A garganta cortada da garota derramava sangue rapidamente, espalhando-se gradativamente pelo chão e sujando seu belo rosto.

O sorriso de Ren se alargou mais ainda.

E ele teve uma ideia. Ignorando o sangue na lâmina afiada da faca, colocou-a em uma das cordinhas de sua calça. Segurou o corpo — agora cadáver — de Kin pelos cabelos agora carmesins e úmidos, puxando-a até uma casa desocupada (mais ou menos desocupada, na verdade; era para alugar, mas no momento não havia ninguém nela).

Feliz com o rastro de sangue que deixava pelo caminho, Ren depositou-a dentro de uma das caçambas de lixo do jardim, fechando bem de volta para que nunca parecesse ter sido aberta.

Gostaria de ver se alguém descobriria que havia sido ele, e não algum outro adolescente que morava no mesmo conjunto de flats.

Voltou quase cantarolando para casa, em uma velocidade nem tão rápida e nem tão devagar.

Ao subir novamente as escadas e entrar em casa, Ren deixou os sapatos na sala e foi só de meias para a cozinha. Talvez fosse uma boa tentar achar uma receita que utilizasse cebolinhas em pó, já que seria uma pena desperdiçar tudo aquilo.



* * * * *



Fazia um dia desde que Ren cortara a garganta de Kin. Não ouvira alvoroço algum até então, o que indicava que poucas pessoas — se é que sequer havia alguma — haviam descoberto o cadáver da loura na caçamba de lixo. Ele chegou até a dançar um pouco quando acordou naquele dia, ao lembrar-se que o empecilho chamado Kin-san havia sido evaporado da face da Terra.

À noite resolveu tentar, mais uma vez, seguir o livro de receitas e fazer uma comida que prestasse. Agora que estava calmo, sabia que não ia estragar nenhum ingrediente e tudo foi perfeitamente bem. Quando acabou de colocar os brownies no forno (desistira de fazer as batatas com cheiro verde) a campainha da sua casa tocou. Estranhando um pouco, Ren foi até a porta e abriu só uma fresta para ver quem era.

A face de Kenjiro pôde ser vista, de olhos vermelhos.

Imediatamente Ren escancarou a porta, permitindo passagem ao rapaz. Ao invés de entrar, Kenjiro abraçou o mais baixo com força, soluçando na camisa cinzenta do mesmo.

Ah, então ele descobriu o que houve com a Kin-san.

Ren, embora surpreso por uns momentos, logo se recuperou e abraçou Kenjiro de volta. Não perguntou nada, o que poderia ser lido como sensibilidade à situação — mas que nem chegava perto disso, na realidade. Ren fechou a porta de casa com a ponta dos dedos para evitar que outras pessoas os vissem, mas não saiu do lugar.

Bastou apenas poucos segundos para que os soluços de Kenjiro parassem. Ren levou uma das mãos para os cabelos castanho-avermelhados do rapaz, afagando-os carinhosamente e vagarosamente. Por alguns minutos a expressão dele permaneceu sensibilizada, até que por algum motivo a máscara caiu de repente e ele não pôde evitar abrir um sorriso triunfante.

Eu venci, Kin-san.










............................................................










Aquela baboseira sem sentido começou havia quase dois anos. Dois anos que se arrastaram como correntes pesadas. E Kenjiro estava farto daquilo.

Kin era nojenta. Ela era manipuladora e maldosa, e Kenjiro não gostava disso. Ele sentia falta do amigável e carinhoso — mesmo que um tanto estrito — amigo, Ren. Mas não havia o que fazer, foi por sua culpa que eles pararam de conversar, afinal. Porém Kenjiro não culpava a loira de todo, já que ela apenas sugerira; foi ele que aceitou a ideia e por isso estava deprimido. Para começo de conversa, eles não viraram namorados por pura vontade própria de Kenjiro. Não, na verdade foi mais chantagem do que qualquer coisa.












Ah, primeiro ano do ensino médio, a época em que os adolescentes viram adultos e passam a ter mais responsabilidades. Para Kenjiro, aquele foi o ano fatídico que ele gostaria de apagar ou manchar de tinta para que ninguém mais visse. E a história toda começou quando Kin foi pedir uma caneta emprestada para Kenjiro.

Demorou um mês para ela lembrar de devolver a caneta, durante o qual o rapaz ficava apressando-a sempre que podia.

Quando foi entregar o objeto fino para o rapaz, depois das aulas quando não tinha quase ninguém na turma, ela sorriu de lado e disse objetivamente, baixinho para que ninguém mais ouvisse:

— Você é apaixonado por um garoto, eu sei.

Kenjiro congelou em meio ao gesto de segurar a caneta. Deu uma risada hesitante para esconder o nervosismo.

— O que está dizendo? — perguntou. — Eu não…

— Não tente me enganar — interrompeu Kin, ainda mantendo o sorriso. — É aquele garoto ali, não é? Qual era o nome dele mesmo…? Ah, sim, Ren-kun.

O sorriso evaporou imediatamente do rosto de Kenjiro.

— Ora, eu sou bem perceptiva — disse ela, soltando a caneta na mão do outro e se apoiando na carteira. — E, exatamente porque sou perceptiva, sei que ele não retribui os seus sentimentos.

O sorriso da loira alargou ao ver o rapaz estreitando os olhos.

— Duvida de mim? Então por que não pergunta para ele? Diga que agora sou sua namorada e que não quero que se falem mais, e veja a reação dele. Vai se desapontar, mas vá lá falar com ele.

— Não preciso — respondeu Kenjiro, devolvendo com perfeição o sorriso sarcástico da garota. — Está perdendo seu tempo. Nunca pensei que ele retribuiria, de qualquer forma.

Kin abriu a boca para dizer algo a mais, mas foi interrompida:

— Kenjiro, o que está fazendo? Se demorar muito vai ficar tarde e a revistaria vai fechar.

A expressão agressiva no rosto de Kenjiro não conseguiu mais ser sustentada, sendo substituída como mágica por um sorriso gentil.

— Sim, vamos — ele respondeu.

Ren deu um aceno de cabeça para Kin como despedida e deixou a sala de aula com o amigo.

Por algumas semanas o rapaz de cabelos castanhos ficou ansioso. Ficava coçando o pesçoco a cada minuto — um tipo de tique nervoso —, o que começou a deixar Ren irritado.

— O que deu em você? — perguntou em uma segunda-feira, no caminho para a escola, quando viu o outro passando a mão pelo pescoço pela quinta vez em trinta segundos. — Aconteceu alguma coisa?

— Aconteceu…? Ah, não, está tudo bem. — Embora tenha se atrapalhado com a resposta, sorriu.

— Sei… — Olhou-o desconfiado. — Mas se precisar de alguma coisa, desabafar com alguém, pode contar comigo, ok?

Kenjiro lutou contra a vontade de abraçar Ren por ele ser tão fofo — não que um dia admitiria isso em voz alta — e simplesmente assentiu.

Naquele mesmo dia ele fez o que julgava ser a maior burrada de toda a sua vida, depois de descobrir que fazia um tempo que Kin havia preparado o terreno para esse momento, espalhando para os quatro ventos a mentira de que os dois estavam namorando. Era tão ultrajantemente convincente que até mesmo Ren acreditou.

Estavam voltando da escola para casa quando Kenjiro decidiu respirar fundo e dizer de uma só vez, sabendo muito bem que se arrependeria depois:

— Kin quer que eu pare de falar com você. Ela disse que não aguenta ter que dividir a atenção.

Pronto, aí estava a bomba.

Kenjiro não sabia que reação estava esperando, mas queria ver ao menos um pouco de ciúmes por parte do amigo. Ren parou de andar e ficou parado por uns momentos, o que aumentou a expectativa do mais alto, mas seu desapontamento foi muito grande quando Ren virou-se com um ar completamente neutro e lhe jogou uma resposta indiferente.

Se lhe pedissem para repetir as palavras exatas que recebera como resposta, Kenjiro ficaria em silêncio; tudo que se lembrava é que sentiu como se a bomba tivesse ricocheteado e explodido em cima de si. Então, o que podia fazer agora? Apenas sorriu e fingiu estar feliz, para logo depois se despedir e tomar outro caminho para casa, deixando Ren sozinho na calçada.

No dia seguinte, tanto sua felicidade quanto sua virgindade foram tiradas por Kin.

Uma semana depois do começo do "namoro", Kenjiro descobriu que a loira era uma prostituta. Mesmo assim, não sentiu nada mais que aversão. E mesmo assim, conviveu com essa bobeira toda por um bom tempo.

Quando sentiu que já bastava de fingir que Ren não existia — coisa que não conseguia fazer direito —, tentou pedir-lhe desculpas mudas desesperadas, mas não conseguia saber se o outro o havia perdoado ou não.

De qualquer forma, muito tempo depois, já no segundo ano do ensino médio, Kenjiro começou a pensar em jeitos de se aproximar novamente de Ren. Só que tinha de ser um jeito que Kin não percebesse, claro. A primeira ideia que lhe veio a cabeça foi pedir algo emprestado a ele durante as aulas, mas foi descartada imediatamente por ser idiota demais. Ficou uns bons dias sem chegar a uma conclusão boa o suficiente (céus, ele havia cogitado até mesmo raptá-lo), até que finalmente a ideia mais óbvia lhe veio: o aniversário dele!

Mas o problema seria ir até a casa de Ren…

Ele já sabia que ele não morava mais com o pai, já que desde que esse ano letivo começara, ele tomava uma rua diferente para voltar para casa. Então, já que era uma época do ano em que o trabalho de prostituição de Kin estava em alta e os dois quase não passavam mais tempo juntos, Kenjiro tomou seu tempo para literalmente perseguir Ren por onde quer que ele fosse. Em duas semanas descobriu seu novo endereço, a hora que saía de casa, a hora que chegava em casa, o que fazia de tarde, até mesmo que horas acordava nos fins de semana e os restaurantes que mais ia.

Kenjiro estava satisfeito com seus resultados (não era a primeira vez que stalkeava Ren, de qualquer maneira), mas como contaria para ele que encontrara seu endereço? Demorou mais algumas horas, mas por fim conseguiu arranjar uma desculpa plausível. Ah, e falando em desculpas, precisava arranjar outra para explicar como entraria na casa de Ren — afinal, havia feito secretamente uma cópia da chave da porta da frente, apesar de saber que a porta dos fundos ficava sempre destrancada.

Dois dias antes do aniversário, enquanto comprava os CDs, Kenjiro lembrou-se nostálgico do primeiro presente que dera ao outro: um chaveiro grande e dourado com um cachorro de pelúcia branco pendurado. Deu risadas disfarçadas ao lembrar que, quando Ren perdeu o chaveiro, só para ver seu sorriso, após procurar por quase duas horas o presente a beira do rio, Kenjiro teve que comprar outro igualzinho para devolver. Gastou mais dinheiro, mas valeu a pena.

Infelizmente a vida não foi tão obediente quanto ao plano atual. Quando tentou escapar de Kin para deixar um cartão de parabéns, no dia do aniversário, na mochila de Ren durante uma aula, foi pego pela loira e os dois começaram a discutir. As palavras que ela sussurrou no fim foram como puro veneno sendo introduzido em suas veias:

"— Você pode querer lhe dar os parabéns, mas acha que ele quer te ver? Após tanto tempo maldosamente ignorando-o, acha mesmo que ele vai querer falar com você?"

Mesmo assim, Kenjiro estava decidido a entregar aquela porcaria de presente, nem que fosse atrasado. Precisou esperar duas semanas inteiras para que Kin se distraísse por algumas horas com um cara super rico e importante que requisitava seus "serviços" e assim finalmente pudesse ir à casa de Ren.

Essa parte do plano correu bem — como estava com saudades do garoto dos belos olhos violetas — e ele voltou feliz para casa.

Mais uma semana se passou e, curiosamente, em um dia comum como todos os outros, Kin não ligou de noite como ela sempre costumava fazer. Estranhando, mas não achando ruim, Kenjiro deixou o celular de lado e foi dormir. Na manhã seguinte foi acordado às sete da manhã pela irmã mais velha de Kin — prostituta também — que ligava desesperadamente. Mal-humorado por ter sido acordado tão cedo em um domingo, Kenjiro perguntou qual era o problema.

Teve uma (agradável) surpresa ao ouvir que Kin havia desaparecido no dia anterior, ao ir se encontrar com um cliente no jardim de uma casa em uma rua sem ninguém. Pediu o endereço da tal casa e ficou ainda mais surpreso quando viu que era próxima do flat de Ren.

Ele saiu de casa no mesmo momento e foi até a tal rua deserta. Não foi difícil encontrar a trilha de sangue e, consequentemente, encontrar o corpo. Não sentiu felicidade nem tristeza quando reconheceu o cadáver loiro e coberto de líquido carmesim dentro da caçamba de lixo. A única coisa que lhe passou pela cabeça foi: "O lixeiro vai passar daqui a alguns minutos."

Com certa pressa, tirou Kin de lá de dentro e carregar a figura inerte da ex-namorada até um arbusto em uma rua bem longe, largando-a ali e saindo o mais rápido possível.

Então, agora era só ficar com os olhos inchados para parecer ter chorado e ir até a casa de Ren! Sim, e aí os dois conversariam novamente e tudo voltaria a ser como era antes! Era perfeito!

De noite, dando um tempo para não parecer muito suspeito, Kenjiro apareceu na porta de Ren. Estava com uma embalagem de colírio em mãos — sempre teve uma espécie de alergia a isso — e batucava com os dedos a própria coxa, nervoso. Por fim, com uma coragem que não sabia possuir, pingou mais um pouco de colírio nos olhos já inchados por ficar usando aquele líquido o dia inteiro antes de apertar a campainha.

Um segundo… Dois segundos… Três segundos… Quatro segundos… Cinco segundos… Seis…

A porta se abriu lentamente.

Os olhos de Ren se arregalaram de susto ao ver Kenjiro naquele estado, mas o permitiu entrar.

Kenjiro não sabia se havia sido mais feliz do que naquele momento, quando abraçou o garoto menor e afundou o rosto em seu peito. Para não atrair suspeitas, ele tentou soluçar um pouco e encenar um choro desesperado, mas não funcionou por muito tempo.

Meio nervoso pela quietude de Ren, receoso de sua pobre atuação ter sido descoberta, Kenjiro segurou a respiração. Quando sentiu um afago delicado nos cabelos, permitiu-se relaxar, inevitavelmente abrindo um sorriso enigmático — que não foi visto pelo outro —, e inalar mais do embriagante e delicioso cheiro natural de Ren. Ou melhor, do seu Ren.


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Notas finais do capítulo

Beleza! Finalmente acabei essa porcaria de último episódio!! XD
Reviews? kkkkkkkkkkkk



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