"Ele se levantou e ficou de frente para mim, com os olhos temerosos."

Capítulo 19: Bilhetes

–Pedi à Alice que fizesse um vestido perfeito para a noite de ontem, mas pedi tarde demais, pois ela já havia acabado a coleção que mostraria na festa. Todos aqueles vestidos que você fez são para a nova coleção. Exceto um. E o vestido não é perfeito. Você não sabe como aquela coisa é feia! – ele riu e Alice lhe lançou um pedaço de pão na cara. – Aquilo simplesmente é ridículo, Isabella, mas em você... – ele balançou a cabeça, dispersando um pensamento. – Quando dançamos ontem eu tive certeza de uma coisa e sei que não posso pedir outra hora, ou adiar mais. Simplesmente não posso.

–Você está enrolando e dando voltas demais, Edward – cantarolou a baixinha, avisando.

Com os olhos arregalados de incredulidade, vi-o se abaixar até colocar os dois joelhos no chão. Alice deu um suspiro resignado e entendi seus pensamentos reprimidos: aquela calça iria dar trabalho demais para quem lavasse depois. Talvez ficasse manchada até. Mas Edward voltou a captar minha concentração assim que empurrou delicadamente meu queixo para cima, obrigando-me a fechar a boca com um sorriso torto e convencido.

–Bella, eu não quero passar meu aniversário de vinte e um anos sozinho.

Pisquei, tentando entender aquelas palavras. Elas eram impossíveis. Edward estava me pedindo a companhia para passar o aniversário? Era isso? Com tantas modelos sem mais nada para fazer, ele vinha pedir a MINHA companhia? Eu estava sonhando ou isso era um pesadelo, no qual eu acordava quando ele começava a rir de mim?

Eu não sabia se aquilo era de coração. Edward estava ciente de que a sua família sempre me achara uma boa pessoa. Só restavam duas opções: ou ele acatara às vontades de Alice ou ele estava enganando todos ali para brincar comigo.

Ver Irina passar pela porta, adentrando, fez com eu uma boa resposta me passasse pela cabeça.

–Garanto que Irina será a melhor companhia para você, Cullen! Afinal, ela conseguiu te deixar bêbado ontem apenas em dois minutos! O tempo que eu fiquei no quarto! – levantei-me e comecei a sair.

Fui impedida por uma mão forte em meu braço. Todos os modelos me olhavam com choque, umas garotas até como se eu fosse retardada, e eu não estava nem aí.

–Isabella não faça isso comigo! – pediu.

–E o que seria? – me virei para ele e encontrei seus olhos marejados, mas não consegui sentir pena. Quando queria, ele sabia mentir muito bem. – Recusar um pedido de acompanhante no seu aniversário? Sinto muito, Edward, mas eu não acho que ser acompanhante por algumas horas vá me fazer bem depois. Por três motivos.

–Que são? – ele soluçou um pouco, silenciosamente, derramando uma lágrima.

–Um: não gosto de você para me contentar em satisfazer sua curiosidade sobre meus lábios ou meu corpo. Dois: não me importo o suficiente com você para deixar que eu me iluda por algo que não é. E por fim: não quero passar um dia com você e depois fingir que não te conheço, como vem sendo desde que eu entrei na Colcci.

Por incrível que pareça, ele soltou meu braço e buscou o celular nos bolsos. Eu fui direto à porta, para olhar de lá e murmurar para Alice, que me olhava chocada, um pedido. Ela conseguiria saber, ela amava tentar ler os lábios das pessoas e nunca falhava.

–Desculpe-me por ter estragado o almoço de vocês – foi o que falei antes de sair dali.

Olhei no estacionamento e xinguei baixo minha falta de sorte. Voltei e arrumei minhas coisas. Eu estava disposta a deixar tudo ali. A baixinha nunca deixava um vestido seu para trás e ela era minha amiga o suficiente para mandar minhas coisas de volta.

Uma porta foi fechada com brutalidade do outro lado do corredor e uma música começou a fluir alto demais. Claro que percebi o toque, de primeira eu sabia que música era. Deixei que as lágrimas viessem enquanto eu escutava Moments do quarto a frente. Esqueci-me completamente de onde estava enquanto cantava a letra.

–Bella? – chamou Alice, abrindo a porta e vindo me abraçar. – Ah, Bella, eu sinto muito! Meu irmão não se expressou bem e fez besteira de novo!

–Não importa, Alice. – solucei, e tentei afastar as lágrimas.

–Claro que importa, Bella – ela repreendeu-me suavemente. – Você é minha amiga, não posso deixar que ele a machuque assim.

–E como ele está?

–Despedaçado. Ah, Bella! Ele se expressou terrivelmente péssimo!

–Bem que eu deveria me lembrar de que ele não está acostumado em ouvir um não.

–Boba! – ela riu um pouco. – Edward escuta nãos todos os dias! Ou escutava.

–Sério? – fiz uma careta, achando graça. – Uau, essa é novidade. Qual motivação lhe faz receber constantes nãos?

–Você. – ela olhou em meus olhos calmamente. – Todas as vezes que eu chego em casa ele vem todo alegre perguntar se você falou de um namorado. Escuta um não bem grande – ela riu e eu acompanhei-a. – Depois ele pergunta se você falou dele, ou cogitou alguma coisa, igualzinho a um menino de nove anos que começa a gostar de uma menina. Ele escuta outro não. Mas ele não desiste – ela continuou rindo, mas eu apenas sorri. – Bem, vou ver como ele está, se eu conseguir fazê-lo abrir a porta.

Depois de me dar um beijo na testa, ela saltitou pelo quarto, fechando a porta ao sair. A música não tocava mais e eu queria que começasse a tocar a minha favorita do Cameron, mas meu celular estava fora de cogitação. Respirei fundo e comecei a cantar:

Auuuuu whoaaaah

Auuuuu whoaaaah

Hey, I see you standing all alone

I've seen it before,

You wonder what your heart is beating for

You let the worry shows in your face

But you wonder why can't seems to make

Anybody want you, not at all

Em meio à minha cantoria, vi um papelzinho no chão e estranhei.

"Já que você não quer cartas, vou falar por bilhetes. Duvido que vai ter coragem de não ler todos eles. ;* E.C"

Ri baixinho daquilo e continuei cantando até chegar o próximo.

You lock yourself up

Don't trust a single soul

Believe what you want

But it's all you'll ever know

"Você viu o anterior? Estou enumerando para que você não se perca. ;) "

Virei o papelzinho e estava um número 2 bem no centro. Peguei o anterior e vi o seu número. Ok, senhor Edward, vamos ver até onde isso vai! Continuei cantando.

So don't give up

You've been runnin' around circles and you're looking for love

But nothing makes you feel like you're doing enough

whoaaaaah,

"Que tal abrir a porta? Assim eu não preciso gastar o papel do hotel, Bella."

Ri alto e joguei os papeizinhos na cama, enquanto continuava arrumando minhas coisas e cantando. Sempre cantando.

You don't know what it means

And everybody thinks you're the one walking out

I've been singing hallelujah but it does nothing to you

whoaaaah,

You're such a mystery

"Sua voz é linda, Bella. Qual é a música? Deixe-me ouvir também!"

Atrás desse tinha um papel extra que eu marquei com o lápis de olho, por não ter outra coisa para escrever, o nome da música e passei pela porta, parando de cantar.

"Bella, agora que estava ficando interessante, você resolve parar de cantar? Como vou saber que você está próxima da porta desse jeito! :( "

Ferre-se! - pensei, sorrindo e voltando a me sentar na cama. Logo, minha música recomeçou, mas do lado de fora, na voz do cantor original.

"Dane-se! A letra é linda, espero que seja essa música, Bells. Canta para mim de novo?"

Na-na-não! Balancei a cabeça rindo.

"Ok, se você quer assim, então vou falar o que eu quero. Eu quero passar o meu aniversário com você. Eu sei que isso eu já disse. Opa, vou parar por aqui antes que vire uma carta!"

Ri dele, mas fiquei apenas ouvindo a música e deixando que ela resgatasse.

"Mas não quero passar só o meu aniversário acompanhado, boba! Você não me deixou terminar isso! Ok, não quero passar o meu aniversário desacompanhado. Nem o da sua irmã. É o próximo, não é? Em seis dias? Me responde, por favor!"

Nem morta que eu iria gastar meu lápis de olho respondendo ele, ao invés disso, cantei um pedacinho junto com a música.

You lock yourself up

Don't trust a single soul

"Acertei, não é? Se eu acertar, vai cantando! Trato feito?"

Cantei novamente depois de ler.

But it's all you'll ever know

So don't give up

"Não sabe o quanto estou feliz por isso! Bem, continuando, quero passar esse aniversário com você também. O da sua irmã. Qual é o próximo? Não sei, mas não quero passar desacompanhado."

Revirei os olhos e tomei a cabeça nos travesseiros. Ele era tão bobo às vezes!

"Você não quer isso? É por isso que não está cantando? Ah, Bella, abre a porta!"

Assoviei como se estivesse desprezando seu pedido. Era divertido jogar com ele.

"Tudo bem, eu paro de pedir isso, só para de me ignorar!"

Pude imaginar a carinha de Edward com aquele beicinho fofo dele perto da minha porta. Para mostrar que eu me importava, deitei no chão, deixando que meus cabelos passassem um pouco pelas frestas. Eu não me importava em sujar a roupa, o chão estava limpo mesmo.

"Seus cabelos são lindos, Isa. :) espero poder vê-los ao ser obrigado a tirá-los de seus olhos para te beijar."

Dei um soco na porta. Ah, para, né? Não inventa besteira, por favor!

"Continuando o que eu tinha em mente, quero passar o seu aniversário com você, deixa?"

Sim! sim! Por favor! Eu queria gritar, mas sabia que isso poderia ser fatal.

"Quero passar o natal ao seu lado. E o ano novo também! Bella, você está lendo? Eu quero passar o resto dos anos ao seu lado, entendeu? Isso não é brincadeira. Me responde!"

Assoviei novamente, segurando as lágrimas.

"Bella, para de fingir que me ignora. Você sempre soube o que queria. Vai dizer que não quer que eu seja feliz?"

–Eu quero sim! – falei, esquecendo-me de que estava na porta.

–Abre a porta?

–Só se for para ir para a minha casa.

–Eu te levo, só abre a porta?

–Não, esquece – retruquei e voltei a me deitar na cama.

–Por quê? – chamou ele batendo na porta, não respondi. – Bella, me diga por quê!

Assoviei a música novamente e ouvi seu grunhido. Logo um papelzinho passou pela porta.

"Você está me deixando infeliz! Só tem um jeito de eu ser feliz. Eu não te quero por um dia. Não te quero por algumas horas. Ah, Bella, deixe-me falar isso olhando em seus olhos! ;( "

Desenhei dois olhos atrás da folhinha, pintando com o lápis marrom, e devolvi.

–Rá-rá-rá, sem graça! – ele passou a folha novamente. Logo parou a música.

–Ei! – reclamei.

–Abra a porta e eu deixo você ouvir o restante.

Não abri a porta. Só sentei ali e continuei murmurando a música. Os papéis foram se acumulando ao meu lado, eu recolhia todos.

"Você é muito teimosa, Isabella!"

"E isso me encanta, sabia?"

"Você é tímida, brava, engraçada e infantil. Mas ainda me encanta."

"Você é única. Isso me faz te querer perto de mim."

"Eu estou cansado de você. Mas estou cansado de você se fechar tanto. Estou cansado de você me ignorar! Cansei de você não me olhar. Cansei, cansei!"

"Você não é querida, você é mais do que isso."

"Eu quero que você suma da minha vida como uma amiga. Eu não quero uma amiga como você, definitivamente."

"Eu te odeio tanto que chego a te amar demais!"

"Aquelas palavras ditas naquela maldita carta estavam incompletas. Você não me deixou ser feliz com ninguém porque não podia ser feliz com alguém que não fosse você."

"Caramba, Bells, meu último dia de vinte anos e você está me fazendo agir com quinze!"

–Nove! – corrigi um pouco alto, para ele perceber.

"Nove anos. Para ver como eu mudo com você. Porque você me faz ser infantil junto com você. você me faz querer voltar a ser criança. Me faz amar puramente como uma."

"Ontem eu tomei duas garrafas de vodca sozinho em menos de cinco minutos. Foi por isso que me viu bêbado. Me ouviu. Que seja. Você entendeu."

"Não gosto de loiras. Para mim, de loira já bastou a vaca da Juh."

–Ei! Vaca também não!

"Viu? Você defende ela!"

"Você é melhor do que ela! Você é melhor do que todas! Eu te quero muito e também quero ser forte e te deixar ser feliz. Mas eu sei que você só será feliz comigo. Negue isso e eu paro agora mesmo."

Eu não sabia o que fazer. Eu também sabia que só seria feliz com ele. Mas ele podia estar só brincando com a minha cara, não podia?

Um toc-toc na porta fez-me voltar à realidade da situação. Em minhas mãos, os papeis de Edward mostravam-me em como eu estava sendo tola ao rejeitá-lo. Parecia que eu podia ouvir a minha mãe agora mesmo: “Um dia ele vai cansar de te esperar, e vai seguir em frente. E você? Como vai ficar se ele não te querer mais?”. Eu sabia como ficaria. Arrasada. Morta. Como fiquei nesses anos todos.

–Oito anos, Edward! Oito! – reclamei, chorando.

–Cansou de mim?