How To Love escrita por julia f


Capítulo 6
Numb


Notas iniciais do capítulo

Olhem quem está de volta!!!!! Eu tinha pensado em parar de escrever a fic, mas algumas ideias surgiram e eu consegui escrever esse capítulo.



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Saltei da cama e na graça magnífica de meus pés dormentes, tropecei e caí ao lado da cabeceira. Eu sentia muita dor, mas minha consciência percebia que meu celular tocava no outro lado do quarto. Assim que me levantei, pude notar a presença de uma menina loira deitada em minha cama. Franzi as sobrancelhas, procurando alguma lembrança da noite passada em minha mente. Nada. Eu não me lembrava de absolutamente nada. Caminhei até o outro lado da cama, ainda olhando seu corpo, coberto apenas pela lingerie.

Alô? – atendi o celular, sem nem mesmo ver quem me perturbava.

– Justin?

Não, é a sua avó. – revirei os olhos.

Então cara, sabe aquela grana que eu te emprestei anteontem?

Hum? – falei pedindo que prosseguisse.

Eu vou precisar dela. – ri sarcástico.

Seria uma pena se eu já tivesse gasto.

Se vira cara. É urgente, eu preciso dessa grana pra dois dias.

E você quer que eu tire de onde? Você acha que eu ejaculo dinheiro?

Não sei de onde você vai tirar, mas se eu não entregar essa merda em dois dias, não sou só eu quem vai se foder, mas você também.

E por que eu me foderia? Quem está devendo é você, quem vai se foder é você.

Eu me fodo na mão dos caras, você na minha.

E você pensa que eu tenho medo de você? – joguei-me na cama fazendo com que a menina acordasse assustada. – Raio de sol, quem é você?

Justin, eu só estou avisando que se você não me devolver esse dinheiro, já era pra nós dois. Então trate de me entregar o mais rápido possível. – continuei com o celular no ouvido, admirando os “tus” que me livraram da voz insuportavelmente chata de Jaden.

Virei o rosto para a menina que me encarava sonolenta.

– Quem é você? – perguntei novamente, puxando o lençol que cobria suas pernas.

– Como assim quem sou eu? Eu achei que você lembraria depois da noite que tivemos ontem.

– Infelizmente eu não me lembro, agora será que você pode me dizer o seu nome e o que ainda faz deitada na minha cama? – levantei-me, pegando suas roupas espalhadas pelo chão, jogando-as em seu rosto.

– Será que você pode ser mais delicado?

– Não, eu não posso. Se veste e vai embora.

A menina se levantou e colocou as mãos na cintura. Meus olhos estavam indecisos entre suas coxas e peitos, mas pararam em sua boca.

–Eu não tenho como voltar, estou sem dinheiro e carro. – ela vestia a calça calmamente, me dando a privilegiada visão de sua bunda avantajada.

– E você realmente acha que eu me importo?

Ela apenas se sentou na cama e calçou seus sapatos, ignorando-me completamente.

– Escuta, eu não sei se você também, mas eu acho que...

– Escuta você! Eu não dou a mínima pro que você acha ou deixa de achar. – aproximei nossos rostos, segurando firme em seu pulso – Pega as suas coisas e vai embora da minha casa.

Ela revirou os olhos, me deixando ainda mais irritado. Sorriu e pegou sua bolsa, que estava jogada ao lado da cama. Aproximou-se, passando a mão em meu ombro, logo descendo para meu peito.

– Você foi incrível. – sorri e assenti, mostrando que já sabia disso. Eu sempre era incrível. – Não vai dizer o mesmo?

Eu não diria nem se me lembrasse de algo que aconteceu.

Selei nossos lábios rapidamente antes de virar de costas e caminhar até o banheiro.

– Espero não te encontrar quando sair do banho. Você não vai querer me ver irritado. – falei sem me dar o trabalho de olhá-la. Ouvi o barulho da porta sendo fechada e ri fraco, entrando no banheiro.

Liguei o chuveiro e deixei que a água quente molhasse meu corpo, ainda coberto pela cueca boxer.


Tirei as chaves do claviculário, procurando minha mãe pela sala. Eu não me importava se ela estaria ou não ciente de que eu havia saído, já que ela também não se importava com minha ausência, então simplesmente abri a porta de casa, indo até o carro, parado na frente de minha casa. Sentei-me, automaticamente ligando o som. Corri os olhos pela rua, vazia e silenciosa, do jeito eu gostava.

– Lá vamos nós. – suspirei, girando a chave e acelerando o carro.

Eu não tinha um rumo, estava apenas fugindo daqueles que podiam me decepcionar, como sempre faziam.

Pisava fundo no acelerador após abrir a janela e deixar o vento bagunçar meus cabelos e deformar meu rosto. Deixei as alamedas sombreadas de Startford e enveredei por St. Thomas e St. Marys. O carro combinava com a estrada, sentia-me protegido naquele esconderijo. Claro que eu sabia que aquela mansidão aparente se devia aos ansiolíticos que eu deixara derreter na língua durante o banho, mas momentos como esse eram tão raros que eu havia aprendido a aproveitá-los.

Depois que Melanie me deixou, uma espécie de depressão dominou meu coração, penetrando-se como uma formiga embaixo de um armário, me devorando até me esvaziar de qualquer emoção ou vontade. Todos ao meu redor pareciam ter se virado contra mim. Meus pais se separaram e todos aqueles que se diziam meus amigos, se afastaram ou esqueceram que eu ainda existia. Nas primeiras semanas, o medo da depressão me mantivera acordado, me obrigando a lutar contra a mágoa. Mas o medo também me abandonara, e junto a ele se foi toda a minha salubridade. Sem a mínima vontade de retomar o controle da minha vida, voltei a me relacionar com as pessoas. Pessoas diferentes, é claro. Pessoas que eu costumava julgar e odiar. O tipo de pessoa que eu me tornei. Com eles, descobri maneiras de esquecer – mesmo que por algumas horas – os problemas que me rodeavam.

De tanto me anestesiar com remédios, tudo havia se tornado impreciso. Sentia-me à deriva, passando o dia inteiro em becos escuros, emparedado em uma armadura química, derrubado pelo sono artificial, tenso e irritado, tomado pela vontade de descontar toda a raiva em qualquer um que aparecesse em minha frente, fugindo da realidade com outra dose de antidepressivos, drogas, bebidas ou sexo.

Logo meses e anos haviam se enfileirado sem que eu me desse conta. Eu havia me afastado de todos aqueles que me julgavam e sempre diziam a mesma frase, que as drogas não me levariam a lugar algum. Eu estava cansado de ouvir bobagens e previsões sobre o meu futuro. A realidade não mentia, meu sofrimento continuava intenso. Meu coração estava congelado, imune de qualquer resquício de sentimentos.


Quando me dei conta, já estava na altura de Toronto. Senti o celular vibrar no bolso de minha jaqueta. Peguei-o encarei o nome de minha mãe na tela. Arqueei as sobrancelhas e atendi, encaixando o objeto entre meu ombro esquerdo e minha orelha.

Fale. – disse grosso, como sempre.

Onde você está?

De acordo com minha certidão de nascimento, hoje mesmo eu completo dezoito anos, e isso significa que eu não lhe devo mais explicações. A propósito, parabéns para mim. – dei um sorriso irônico, mesmo sabendo que ela não o veria.

Pensei que passaria seu aniversário perto da sua família e seus amigos.

– Perto de quem?

Perto de mim, do seu pai, seus irmãos, da Melanie, Ryan, John e seus outros amigos, que você faz questão de ignorar.

– Não sabia que meu pai estava em Stratford, e não vem com essa porque eu não ignoro ninguém. Não é minha culpa se eles não gostam do novo Justin, que por acaso, é bem mais interessante que o antigo.

Justin, só me diz que você não vai passar essa data com aqueles seus amigos estranhos. – ri, negando com a cabeça.

Com uma mão, peguei o maço de cigarros jogado no banco do passageiro, e retirei um cigarro de lá, colocando-o na boca e acendendo-o com o isqueiro que encontrei no bolso de minha jaqueta.

– Eu ainda não sei o que vou fazer, mas posso garantir que não vou passar meu aniversário de dezoito anos dentro de casa, olhando para a cara de decepção dos meus pais.

Tudo bem, espero que ao menos volte pra casa pra que eu possa te dar um beijo. – revirei os olhos, cansado daquilo tudo – parabéns, meu filho.

– Obrigado.

Eu amo você. – engoli seco, sussurrando mais um “obrigado” após soltar um anel de fumaça.

Desliguei o celular, jogando-o de volta no banco. Dezoito anos. Eu estava completando dezoito anos.

Continuei acelerando o carro, aproveitando o primeiro retorno que apareceu para voltar para Stratford. Eu não passaria meu aniversário dentro de casa, mas também não estava nada a fim de passá-lo fora do estado sozinho. Durante o caminho, liguei para Daniel e Bruce, que já haviam arranjado convites para a festa que aconteceria em uma boate de London. Agradeci a Deus por já estar na lista e não ter que irritar minha cabeça.


– E aí? – bati na mão de Daniel assim que cheguei a sua casa.

– Parabéns cara, juízo. – rimos juntos assim que ele me puxou para um abraço.

– Valeu. Então... E essa festa de hoje? Quem vai?

– Os meninos e umas garotas que eles chamaram. – sorri maroto, entrando em sua casa – Fiquei sabendo que você pegou a Kris.

– Quem? – o olhei e me joguei no sofá, cheio de pacotes de biscoitos e maços de cigarro.

– A Kris. – dei de ombros, sem saber quem era – Qual é, vai dizer que não lembra?

Neguei com a cabeça, rindo logo depois. Sentia meus olhos pesarem e as pernas doerem, mas nada me perturbava mais que os flashes de minha infância martelando minha cabeça. Esfreguei as pálpebras com força, sentindo uma dor cruciante em minha nuca.

– Quer beber alguma coisa? – Daniel perguntou, aparecendo na minha frente com uma garrafa e dois copos.

Assenti e peguei um deles, deixando que me servisse com seja lá o que fosse aquela droga.

– Então, como se sente sabendo que já tem permissão para dirigir em quase todo o mundo e beber sem precisar de um cara maior de idade ao seu lado? – revirei os olhos.

Era realmente um porre não poder fazer coisas como essas sem estar acompanhado de um maior de idade. Os caras me zoavam e me excluíam de quase tudo por eu ser o único entre eles que ainda não tinha 18 anos, mas agora, oficialmente, eu era parte deles.

– Nunca me senti tão bem.

Daniel riu e ergueu seu copo, batendo-o no meu.

– Um brinde a maioridade... e ao seu dia. – piscou um olho e eu sorri.

– Um brinde. – virei o copo, engolindo quase todo o líquido que estava nele.

Bruce e Jaden foram para lá, e mais tarde passamos em minha casa para que eu trocasse de roupa e nós fossemos para a festa.

Assim que abri a porta, encontrei meus pais sentados no sofá com Melanie, e meus irmãos brincando no tapete. Senti todos os olhares pairarem em mim e nos meninos, mas não liguei. Escancarei a porta, dando passagem para Jaden, Bruce e Daniel passarem, fechando-a em seguida.

– Posso saber qual é o motivo da reunião? – perguntei abrindo os braços e pegando Jazzy no colo. Beijei seu rosto e coloquei-a de volta no tapete, passando a mão pelos cabelos de Jaxon.

– Parabéns, moleque. - meu pai se levantou, puxando-me para um abraço apertado, me retirando no chão.

– Moleque não... – puxei a blusa para baixo. Jeremy riu e bateu em meu ombro.

Sua expressão não era das mais confortáveis, ele parecia incomodado com algo, e eu sabia exatamente com o que.

– Parabéns, meu amor. – minha mãe passou um braço por minha cintura, abraçando-me de lado.

Eu não era fã de abraços, mas não recusaria um de minha mãe após tantos anos sem senti-lo. Passei um braço por seu pescoço, dando um beijo em sua testa.

Melanie me olhava mordendo os lábios, apreensiva, ainda sentada no sofá. Ela sibilou um “parabéns” sem deixar nenhum som escapar, e eu sorri balançando a cabeça.

– Eu vou subir e me trocar pra sair. – falei olhando para os meninos que estavam escorados no corrimão da escada, olhando tudo aquilo como se eu fosse de outro planeta.

– Vai pra onde? – Pattie perguntou voltando a agarrar meu braço.

– Dezoito anos. – falei calmamente, o maxilar travado. Ela assentiu e meu pai se aproximou.

– Você tem dezoito anos, mas ainda mora debaixo do teto da sua mãe, não se esqueça disso. – falou ríspido, arrancando uma risada falha de mim.

– Moro porque ainda não tenho dinheiro pra me mudar. – dei um tapa leve em suas costas e me virei, subindo as escadas acompanhado dos meninos.

Entramos em meu quarto e eu fui direto procurar o que vestir.

– Seu quarto fede a sexo. – Jaden falou arrancando risadas de Bruce, que era um completo imbecil. 21 anos e uma mentalidade de 12.

– É a rotina. – falei, pegando uma camiseta branca e uma calça preta.

Entrei no banheiro e vesti a roupa, coloquei a mesma jaqueta e o tênis que já estava usando antes. Assim que saí, me deparei com Jaden e Daniel vasculhando meu notebook. Bruce estava deitado na cama, fumando.

– Que merda vocês estão fazendo? – me aproximei, fechando a tela.

– Vendo seus emails. Jaden não está nada feliz em saber que você já fodeu com a ex dele. – Bruce falou rindo, e Jaden se levantou, segurando a gola de minha camiseta.

– Me diz que isso não foi enquanto nós estávamos juntos ou eu acabo com você agora mesmo. – dei dois passos para trás, sendo impedido de continuar graças à parede. Neguei com a cabeça, olhando em seus olhos vermelhos e enrijecidos.

– Não foi, relaxa cara. – soltei-me e ajeitei a jaqueta.

– Sem palhaçada que hoje é dia de comemorar. – Daniel falou se levantando da cadeira e me entregando o boné que eu havia deixado sob a bancada.

Assenti e abri novamente a porta do quarto. Eles saíram, mas logo senti alguém me puxar de volta para dentro do quarto.

– Quem é aquela menina lá embaixo? – Daniel perguntou baixo.

– Não é pro seu bico cara, sai fo...

– Eu já peguei, desencana. É a Melanie? – me cortou.

Assenti, lembrando-me da festa de Julie.

– A própria, mas tira o olho. – Melanie não tinha nada a ver com Daniel, apesar de ele ser um cara legal.

Ele riu e balançou a cabeça, saindo do quarto. Saí também, fechando a porta atrás de mim.

– Chama ela. – ele descia a escada ao meu lado, enquanto Jaden e Bruce conversavam baixo na nossa frente.

– O nome da Melanie não está na lista e eu não quero esquentar a cabeça pra colocar ela pra dentro.

– Eu faço questão de esquentar minha cabeça por ela.

– Facilita, Daniel. – cuspi as palavras com o rosto próximo ao dele, que riu.

Coloquei o boné na cabeça assim que cheguei na sala. Despedi-me levantando uma das mãos, com o famoso “Ave, César”.

Saímos de minha casa e eu entrei em meu carro acompanhado de Daniel. Bruce e Jaden foram em seus respectivos carros. Durante o caminho Daniel encheu a pouca paciência que eu tinha falando de Melanie. Eu até pensei em chutá-lo pra fora do carro, mas ele era meu melhor amigo e eu só queria curtir.

– É aqui? – perguntei parando em frente a uma boate iluminada por um letreiro colorido.

– Acho que sim, Jaden parou ali. – apontou em direção ao carro de Jaden, estacionado na esquina do quarteirão.

Andei mais um pouco com o carro, procurando uma vaga. Assim que encontrei, estacionei e nós fomos caminhando até a entrada.

– Justin. – falei para um dos seguranças parados na porta – Justin Deeps.

Ele me olhou com os olhos entreabertos, como se estivesse me reconhecendo de algum lugar. Lambi os lábios e virei o boné para trás.

– Daniel Persaud. – ele disse e o segurança nos deu passagem, ainda me encarando. – Conhece? – Daniel perguntou me olhando confuso, mas logo se distraiu olhando para as mulheres que haviam passado na nossa frente, assim como eu.

– Não sei e não dou à mínima. – dei de ombros e sorri quando uma menina se aproximou. – Minha nossa... – olhei para Daniel que estava boquiaberto.

– Justin? – ela falou retirando o boné de minha cabeça e colocando na sua.

Eu a conhecia, assim como várias outras pessoas que estavam ali. Era difícil eu estar em alguma festa e não conhecer alguém, já que sempre estava frequentando lugares como esse.

– Emma, Emma... – murmurei passando um braço por sua cintura, a trazendo para mais perto e colando nossos lábios com pressa.

Após um tempo eu já sentia a bebida fazer efeito e não me importava com mais nada. Aquela era a minha noite, e nada nem ninguém iria estragá-la.


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