November Rain escrita por Smile


Capítulo 8
E o destino sempre nos prega peças.


Notas iniciais do capítulo

Nada a declarar sobre a demora... >



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Será que eu ouvi certo? Não, claro que eu ouvi errado, foi isso, isso foi minha imaginação, tenho certeza. Ali do lado da cama havia alguns comprimidos para dormir, tomei alguns e bebi um copo de água e me deitei novamente, queria ter certeza de que isso era um sonho, apenas imaginação, nada mais que isso, não queria alimentar falsas esperanças quando, claramente eu já estava colocando em minha cabeça que eu estava gostando dele, mas junto com essa ideia a possibilidade dele não aceitar esse amor por sermos homens. Fitei o teto por alguns segundos e depois adormeci.

*

- Onde estou?

Era um lugar apagado, todo preto e branco, onde tudo estava morto, sem nenhum sinal de vida, apenas eu.

- Que lugar é esse?

Ninguém me ouvia, nenhum sinal de que alguém estava ali comigo. Eu corria de um lado para o outro procurando alguém ou algo com quem me comunicar, perguntar que lugar era aquele, mas não havia ninguém.
 

Eu estava assustado corria feito um louco, até que ao longe eu vi uma figura feminina. Uma pessoa! Finalmente, não era apenas eu nesse mundo sozinho. Corri até ela, mas quando eu cheguei fiquei mais assustado ainda, era minha mãe, ou o que restou dela, parada feito uma estátua olhando para o abismo que estava logo à frente.

Essa era a única lembrança que eu tinha de seu rosto, todo deformado pelo acidente de carro que matou toda minha família. Comecei a chorar, não queria relembrar nada. Ouvi uma voz ao longe, chamando meu nome, não sabia de que direção vinha, talvez do lado de fora...

*

- Onodera, acorde! – Takano me sacudia um pouco, parecia estar meio irritado.

- Já to acordado, calma.

- Já é de noite sabia? Lembra que amanhã é sexta? Tem prova! Precisamos estudar. Além disso, perdi o dia de trabalho por sua causa.

- Não pedi pra ficar aqui comigo.

- É assim que me retribui? Sou praticamente sua babá agora.

- Tá. Obrigado por cuidar de mim Takano – Disse fazendo uma voz fininha – Feliz? – Eu ri

- Preferia que fosse normal, mas tá bom. Agora levante – Ele me puxou pela mão, assim me levantando. Senti uma onda de energia pelo meu corpo por alguns segundos.

- Que horas são?

- Quase 22h. Dormimos demais, nem dormirei a noite hoje.

- O QUE? JURA?!

- Não precisa gritar idiota. É, são 22h mesmo, quer ver?

- Não precisa. Mas a escola não está fechada?

- É... Tem esse pequeno detalhe.

- Pequeno?! ESTAMOS TRANCADOS AQUI! DESDE QUANDO ESSE É UM PEQUENO DETALHE?!

- PARE DE GRITAR!

- Eu paro, calma. Mas como vamos sair daqui?

- Digamos que não vamos sair daqui hoje. NÃO GRITE!

- QUÊ?! TEMOS QUE SAIR DAQUI, QUERO MINHA CASA!

- Minha casa, você quis dizer. E eu disse para não gritar. Falar com você é igual falar com uma criança de dois anos. Dá pra parar de ficar histérico? Temos o celular.

- Mas eu não tenho celular.

- Eu tenho idiota – Disse pegando meu celular e abrindo-o – É, temos um pequeno problema.

- Ai meu Deus, o que é?

- Tá sem bateria.

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA, COMO VAMOS SAIR DAQUI AGORA?!

- PARA DE SER ESCANDALOSO! Tem o telefone da escola.

- Ufa. Vamos até lá então. Onde ele fica?

- Na sala do diretor... Que está trancada. Que azar.

- VAMOS MORRER AQUI! SOCORRO! AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA.

- Dá pra parar com isso. Temos a janela.

- Sério que vai pular do 3º andar? Posso ter entrado essa semana, mas deu pra perceber que só as salas têm janelas grandes os suficientes para uma pessoa passar, e elas são no 3º andar.

- Tem razão.

- Que tal arrombar a porta?

- Não dá, são de aço.

Depois de todas as opções possíveis...

- É, estamos trancados aqui mesmo.

- Que legal, não é? Vamos morrer de fome, de frio, de sono, de falta de cama, de falta de computador e televisão, vamos virar homens da caverna novamente além de tirar um zero bem redondo na prova.

- Larga de ser exagerado! Temos comida, só ir ao refeitório. Eu trouxe a matéria que vai cair na prova amanhã, eu ia estudar um pouco na escola hoje. E o resto são coisas desnecessárias, não vamos dormir.

- Vamos morrer de sono então?

- Cara, dormimos a tarde toda, eu não estou com sono.

- Bem, isso é verdade... – Meu estomago ronca – Ops, acho que estou com fome – Eu ri.

- Vamos para o refeitório, deve ter algo lá para comer. Não quero que desmaie novamente.

- Não irei, pelo menos eu acho.

- Espero que não mesmo.

Fomos ao refeitório em silêncio, lá havia algumas frutas e algumas coisas nas despensas, Takano rapidamente separou um pouco de arroz e algumas coisinhas que achou lá, pegou umas panelas e os temperos e começou a cozinhar. Depois de alguns minutos o refeitório ficou com um cheiro muito bom. Sentei-me em um banquinho que tinha ali e fiquei fazendo companhia a ele.

- Takano, você deveria ser o cozinheiro do refeitório sabia? Você cozinha bem melhor que elas. Hein, imagina você de cozinheiro – Eu ri imaginando a cena.

- Você está viajando isso sim. Todo homem que se preze deveria saber cozinhar pelo menos arroz.

- Eu não sei cozinhar arroz...

- Você ainda é uma criança.

- EI! Não sou criança nada, sou mais velho que você.

- E mais baixo, e mais magro e mais infantil... Quer que eu liste mais?

- Não! Mas não muda o fato de eu ser mais velho.

- Como se dois meses e alguns dias fizessem muita diferença.

- Claro que fazem!

- Não sei onde.

- Quando vai ficar pronto aí, estou quase morrendo de fome aqui.

- Calma, senhor come-tudo-o-que-vê-pela-frente, já vou servir – Disse ele colocando alguns pratos na mesa e colocando comida neles.

Comemos tudo rapidamente e ao terminar, revezamos ao lavar a louça suja. Já que estávamos presos ali àquela noite tivemos que nos virar e fizemos uma cama improvisada com alguns colchões da aula de Educação Física e alguns travesseiros que ficavam na biblioteca, apenas para termos onde deitar enquanto estudávamos. Sorte nossa que o sistema elétrico havia ficado ligado. Aquela prometia ser uma noite longa...
Nos ajeitamos nos colchões, e começamos a estudar. Revemos a matéria umas quatro vezes, refizemos os exercícios até que não havia mais nada para estudar, olhei no relógio da sala, ainda era 1h da manhã.

- Takano, o que você vai fazer agora?

- Não sei, talvez eu leia esse livro aqui...

- Olha, é igual o que eu to lendo! Pera... É o que eu estou lendo, me devolve!

- Vem pegar.

- Não é justo, me devolve! – Como estávamos deitados eu praticamente pulei em cima dele para pegar o livro, não percebi que nossos rostos ficaram tão perto...

- Onodera...

Eu já não me preocupava mais com o livro.

Ele já não se preocupava em fazer o livro manter distância de mim.

Tudo o que importava agora era o momento.

Nós dois juntos, fitando um ao outro com olhares inocentes. Olhares sem nenhuma maldade.

Takano colocou sua mão em meu rosto em um gesto de carinho e deslizou sua mão por ele. Sentamos-nos, sem desviar a troca de olhares que me deixara enrubescido.

Nossos lábios foram se aproximando aos poucos, como naqueles filmes e naqueles livros de romance que por fim o homem consegue beijar a mulher, e é aquele beijo mágico.

Então, por fim, selamos o beijo esperado, por mim pelo menos, mas sinto que por ele também. Eu estava tão feliz. Nada poderia estragar aquilo. O que seria uma noite chata na escola se tornou a melhor noite da minha vida.


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