Capitulo 13 – Sobre Demônios

Enquanto me aproximava da casa de Kurt meu coração acelerava. A desastrosa batalha contra o líder de ginásio que deixei desacordado havia ficado para trás. Tudo o que eu via a minha frente era a minha missão e isso ia fazendo o meu semblante ficar um pouco mais sério.

Eu estava de carona com a Oficial Jane e aquilo poderia ser um pequeno problema. Ela já havia me visto gritar de forma escandalosa, já havia me visto por fogo no ginásio, certamente ver o meu sorriso aos poucos ir desaparecendo e me ver pedir para conversar a sós com uma pessoa desconhecida certamente seria um grande problema.

Tudo dependeria da reação que Kurt teria. Eu poderia ter de usar a força para com ele e certamente isso não seria nada legal de ser feito.

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A caminhada de uma hora foi feita em quase 10 minutos em cima da motocicleta da policia. Sem ruas ou estradas, apenas uma área de chão batido, a Oficial Jane parecia gostar de testar suas habilidades acelerando ao máximo. Para Kevin a velocidade estava sendo um incomodo, já que ele tinha que se agarrar a mulher com toda a força para manter-se na moto.

– No geral as motos da policia possuem assentos laterais para os passageiros, mas perdemos muita coisa no ataque. - Gritava Jane que continuava acelerando e as vezes ria de Kevin por ele nada dizer e apenas demonstrar que estava um pouco amedrontado.

Não demorou para que uma freada brusca acontecesse e Kevin pudesse ver a sua frente grandes muros com ar de antigos e bem desgastados. Ele podia ver que eram marcas de batalhas.

Kevin não precisava de grandes explicações para saber que aquelas eram as marcas dos ataques da Estilo de Poder. Haviam partes chamuscadas, partes rachadas, partes arranhadas. As marcas dos ataques eram realmente vistas por toda a extensão do muro que se perdia nas vistas.

As explicações que Kevin gostaria de ter seriam de porque o ginásio parecia intacto enquanto a cidade desapareceu em pó. Mas, talvez aquela pergunta não fosse tão importante para ser feita naquele momento. A Oficial Jane entrava por um portão, sem anuncio ou qualquer coisa aparente, levando consigo sua moto. Kevin precisou apertar o passo para poder acompanhá-la.

Por de trás dos grandes muros havia um pomar de tamanho significativo, que mais parecia uma floresta. Eram inúmeras arvores que repetiam-se por diversas vezes. Ao longe podiam ver uma modesta casa para o qual eles pareciam se dirigir.

– Como deve saber, Kurt é um construtor de pokebolas artesanais. Ele vive aqui há anos e raramente tem ajuda no seu trabalho, com exceção de sua sobrinha Danda. - A oficial Jane comentava com Kevin sobre Kurt.

Aquela era uma informação que mexia com a cabeça de Kevin. Pokebolas artesanais. As pokebolas pareciam possuir tanta tecnologia que parecia impossível que alguém as construísse de forma artesanal e não com diversos equipamentos tecnológicos.

Sem saber ao certo a diferença entre esses artefatos de captura e transporte dos pokemons, Kevin imaginava se essa profissão poderia ser tão interessante quanto as diversas que conhecia em sua jornada. Mas, apesar da curiosidade, sabia que não teria tempo para aquilo, pelo menos não naquele dia. E não da forma que gostaria. Estava ali para cumprir uma missão e não estudar uma profissão.

A caminhada não durou mais que cinco minutos. Jane explicou que não podia usar a motocicleta dentro das dependências para não assustar os pokemon que lá viviam e nem correr o risco de passar por cima de algum broto. Empurrá-la até a casa parecia algo que ela estava acostumada a fazer.

– Ola Oficial Jane! Esperava-a mais cedo. - Diz uma mulher de cabelos castanhos e vestido floral.

A mulher surgiu tão logo eles acabaram de se aproximar da casa de dois andares. De certo já observava de uma das janelas do segundo andar desde que eles passaram pelo portão.

– Desculpe... O ginásio recebeu a visita deste jovem e acabei distraindo-me com sua luta contra aquele moleque. - Riu Jane. - Ele conseguiu por Bugzy para dormir. -

– Sério? - Danda sorriu e colocou a cabeça para dentro da casa. - Tio Kurt aqui na porta tem um jovem que deu uma surra no exibido do Bugzy! -

A menção do líder local ser um exibido e as pessoas que deveriam torcer por ele se entusiasmarem com a derrota certamente era algo inesperado. Bugzy parecia ter colecionado a antipatia das pessoas da antiga cidade de Azalea. Prova disso foi a rapidez com que uma nova pessoa chegou a porta após ouvir o anuncio da derrota do líder.

Um senhor baixinho, já com seus cabelos brancos, apareceu correndo e olhando em volta. Ele olhou a Oficial Jane e depois olhou para Kevin. Aproximou-se de Kevin com cara de espanto, mas após piscar mais algumas vezes pareceu se lembrar de algo e tomou uma postura um pouco mais branda.

Kurt já era realmente um senhor de idade. Os cabelos brancos presos em um rabo de cavalo não o ajudavam a ficar mais jovial. Ele ainda usava uma espécie de manto que lhe cobria todo o corpo.

– Parabéns meu jovem. - Comentou Kurt que apesar da nítida idade, ainda possuía uma voz firme. - Não são todos que conseguem fazer aquele projeto de gente aprender uma lição. Em especial... Depois que ele conseguiu manter o ginásio dele intacto contra a Estilo de Poder. -

– O ginásio intacto e a cidade reduzida a poeira. Grande coisa! - Resmungou Danda. - E ainda se acha o maioral. -

Kevin sorriu sem graça. Parecia que não era apenas Kevin que tinha problema com o líder local, mas todos os que sobraram pareciam não lidar bem com a personalidade do jovem. Ao que aparentava não resumia-se apenas a personalidade estranha do líder, mas pela cidade ter sido destruída enquanto o líder defendia apenas o seu precioso ginásio floresta.

– O trouxe aqui pois ele disse que precisava falar com o senhor, Kurt! - Disse a Oficial Jane.

– Então Kevin, o que o trás a minha residencia? - Perguntou Kurt.

– Você me conhece? - Kevin piscou algumas vezes incrédulo.

– Eu conheci o seu pai quando ele era um pouco mais velho que você. Quando o vi achei que ou eu estava tendo um sonho ou algo parecido. - Sorriu o velho Kurt. - Havia escutado falar sobre os filhos de Kevin Maerd como treinadores por Kanto, mas nunca tinha visto uma foto nem sua ou de sua irmã. -

As coincidências pareciam ser grandes naquela situação. Danda estava para ir ao vilarejo comprar alguns alimentos para o jantar, por isso havia encontrado-os na porta tão logo eles se aproximaram. Jane precisava fazer a ronda e assim Kevin ficou sozinho com Kurt em sua casa, sem necessidade de dizer que o assunto era sigiloso.

A casa de Kurt não era muito grande. Apesar de conter dois andares, o espaço era pequeno, sendo composto por sala, cozinha, banheiro e dois quartos na parte de cima e na parte de baixo a oficina onde eram fabricadas as pokebolas.

– Então meu caro... No que lhe posso ser útil? - Perguntou Kurt.

– Bem... - Kevin respirou fundo. - A quase dois anos atras saí em jornada com Thor, Mestre Pokemon. Ficamos numa reserva onde fomos atacados por uma criatura a que alguns chamam de rejeitados e outros de demônios. Após dois dias tentando fugir da criatura conseguimos afugentá-la e desde então tenho pesadelos constantes com essas criaturas e sou perseguido pelas mesmas, apesar de só ter cruzado com elas uma vez após o incidente da ilha. -

Kurt ficou olhando-o sem nada dizer ponderou com a cabeça e deu uma pequena risada. Uma gargalhada começou a vir do velho que parecia estar se divertindo com a cara de Kevin.

Kevin suspirou e levantou a barra de sua calça mostrando uma pequena cicatriz. A cicatriz parecia um arranhão de três garras. Para quem olhava de longe, nem chegava a ver a cicatriz, mas quem chegava de perto, como Kevin fez Kurt o fazer, sentia um calafrio intenso.

– Eu não sei onde quer chegar com isso garoto... - Kurt foi interrompido. O olhar de Kevin estava sério e frio. Seu olhar não tinha brilho e nem vida. Kurt olhava para ele e sentia como se o menino que recebera na porta não estivesse mais ali.

– Não acho que você queira ficar bancando o desentendido agora Kurt. - Diz Kevin. - Eu não sei de tudo, ou quem mais está envolvido nisso. Apenas sei que eu não tenho como fugir disso por causa dessa merda de ferimento que aquela criatura me fez. - Kevin encarou-o. - Então é melhor você começar a admitir que faz parte disso tudo... Porque para eu ter ficado frio assim... - Kevin afastou-se de Kurt rapidamente sacando a pokebola de sua butterfree e libertando.

– … Para ter ficado frio tem um demônio perto demais! -

Kurt correu até em cima da televisão pegando uma pokebola. Não demorou mais do que alguns segundos a casa começou a tremer e os dois se colocaram um de costas para o outro. Sentiram o corpo do outro começar a tremer, seguida de calafrios por todos os corpos. O medo havia tomado conta dos dois.

– O que você possui ai? - Perguntou Kevin olhando atentamente para frente com uma voz rouca e sem vida.

– Nidoking. - Kurt tremeu ao falar. - Tem certeza que sua butterfree aguenta? -

Kevin nada respondeu. Seria a primeira luta dura que seu pokemon teria. No geral Nidoqueen e Slowbro é quem defendiam Kevin dos demônios, mas sem poder contar com nenhum dos dois, a única opção era arriscar com seu único pokemon totalmente evoluído.

O telhado rangeu e eles puderam ver o partir-se do teto levantando muita poeira. Eles saltaram para trás, escutando os gritos agressivos que seus pokemons começavam a emitir. Anoitecia e o pôr-do-sol estava terminando, um tom laranja com sombras estava nos céus, sendo que parcos feixes de luz passavam pelo rombo no teto e iluminava criatura, mesmo em meio a poeira.

Com dois metros de altura duas grandes foices no lugar das mãos. Um corpo verde escuro que parecia uma armadura, asas negras que batiam com imensa velocidade, uma criatura lembrando um Scyther olhava-os com ferocidade. Ele pousava no assoalho fitando aos dois humanos como se eles tivessem feito algo de muito errado.

– Que ótimo... Outro Scyther. - Kevin murmurou entre os dentes.

A criatura a frente deles, que muito lembrava um Scyther, de longe era familiar a qualquer um deles. Era uma criatura que não era considerada um pokemon, mas também não sabiam que nome dar a eles. Kevin e Thor costumavam chamá-los de demônios devido aos pesadelos que sempre tinham com eles.

Ferozes e sanguinários, aquelas criaturas eram incansáveis e também insuperáveis. Assim pelo menos diziam aqueles como Kevin e Kurt, que sabiam da existência das estranhas criaturas.

Os dois pokemons e a criatura demoníaca se encaravam rosnando e preparando-se para partirem para um combate. A pele verde escura, com traços negros, assustaria a qualquer um que viesse o pokemon das laminas pronto para atacar. Parecia que seu corpo possuía uma forte carapaça protegendo-o. Uma proteção que talvez não pudesse ser superada pelos seus dois adversários.

Uma borboleta que chegava a medir pouco mais de meio metro. Com pelos por todo o copo e asas brancas, quase sem desenhos. Essa era butterfree. Certamente precisaria de muitos ataques para que ela pudesse transpor a armadura natural do seu adversário demônio. Sendo que seu companheiro não estava em melhores condições, já que Nidoking, uma espécie de pokemon bípede com uma poderosa calda, possuía apenas algumas partes de seu corpo revestida com algo que poderia se assemelhar com uma carapaça, mas não passava de pele grossa.

Um suspirar de Kurt e o Scyther demônio partia com suas laminas levantadas para golpear aos dois pokemons em simultâneo. Nidoqking virou-se usando o rabo de ferro sem ao menos esperar um comando de Kurt, Butterfree bateu suas asas, pegando um pouco mais de altitude.

O rabo de ferro aplicado pelo Nidoking não atingiu seu alvo. O pokemon parou a milímetros sentindo apenas o vácuo se formar no abdômen, local onde o ataque acertaria.

– Use tornado de vento. - Comandou Kevin segurando o braço de Kurt e o puxando para as escadas que dariam na oficina.

Sons de estrondo e impactos fortes começaram a ocorrer dentro da casa no segundo andar. Kurt e Kevin enquanto corriam pela oficina, afim apenas de conseguirem sair antes que o teto viesse sobre a cabeça deles, escutavam os três gritos distintos e furiosos.

Ao ganharem a área do pomar sentiram um tremer de terra e puderam acompanhar o desabar do prédio atras de si.

Os pokemons que estavam no pomar começaram a fugir aos bandos em uma correria desenfreada como se já soubessem do perigo que corriam. Kurt e Kevin se olharam, parecia que ambos estavam aliviados pelos pokemons selvagens que habitavam o local estarem fugindo.

Viraram-se e viam Nidoking preso entre os escombros, agitado e tentando sair. Enquanto nos céus Butterfree estava sendo surrada pelas laminas de Scyther em meio a poeira.

– Use pó atordoante. - Comandou Kevin.

– Seu idiota! Isso não adianta, eles resistem a todo tipo de pó que é jogado neles. -

Kevin olhou para Kurt de uma forma fria. Kurt chegou a dar um passo para trás. Era nítido que os dois não conseguiriam trabalhar juntos para resolver o problema, mas já era nítido para Kurt que Kevin não pretendia contar com a ajuda dele para salvarem suas vidas.

– O que Thor te ensinou quanto a essas criaturas? - Questionou Kurt.

Kevin olhou para cima e viu Butterfree receber o ataque final, um ataque de corte duplo que a fez vir ao chão com grande velocidade e brutalidade. Ela caiu sendo arrastada no chão pelo impacto.

– Voltar! - Comandou Kevin rapidamente.

– Eu não acredito que você não carrega nenhum pokemon consigo que possa te defender deles! - Gritou Kurt. - Nidoking use o Hiper raio. -

– Não faça! O ataque fará o Nidoking ficar sem defesa por alguns instantes. A velocidade desse demônio é maior do que a do Scyther de Bugzy ou mesmo o Pidgeot de Falkner. - Falou Kevin sério segurando outra pokebola. - Use os agulhas veneno para atraí-lo e use mega socos para combater as laminas até que ele pare de voar e toque o solo. -

– O que? - Kurt viu Scyther se dirigindo para o local onde ele e Kevin se encontravam. - O que você pretende? -

– Fazer o que Thor me ensinou... - Kevin pegou uma nova pokebola, agora haviam duas pokebolas prontas para serem lançadas., uma em cada mão. - Sobreviver! -

Sobreviver. Fugir. Ocultar-se. Coisas que Kevin aprendeu para fugir da Estilo de Poder e outros, mas que no final também era usado contra inimigos inesperados como aquela estranha e misteriosa criatura.

Durante um ano Kevin ficou escondido em uma reserva ambiental acompanhado de Thor, um Mestre Pokemon que dizia ser perito em ocultar-se, sobreviver e fugir. Ele aprendeu a avaliar as situações para saber a hora de lutar e a hora de correr, bem como criar as oportunidades para que pudesse correr.

Em meio ao treinamento surgiu as criaturas demônios que não demonstravam cansaço. Que mesmo atacadas com todo o vigor, não demonstravam dor. Kevin foi posto a prova contra a criatura quando Thor ficou incapacitado de continuar a batalhar contra ela.

As criaturas demônios, que eram em suas formas, copias de muitos dos pokemons existentes, não podiam ser abatidas. Então não havia chance de derrotá-las ou mesmo capturá-las. Repletas de poder e dotadas de todos os seus movimentos naturais, aquelas criaturas eram como máquinas de batalha.

Quando de frente para uma dessas criaturas as alternativas eram afugentá-la, o que nunca era tarefa fácil, ou fugir, o que dependendo da criatura também não poderia ser possível.

– Ele está no chão! - Gritou Kurt ao ver que após seus comandos, idênticos ao que Kevin havia sugerido, o Scyther foi colocado ao chão e agora lutava em terra junto aos escombros.

Kurt havia dado os comandos e havia ficado impressionado com a visão de batalha que Kevin mostrou. Scyther vinha para atacá-los, mas ao ser acertado pelo pokemon venoso, resolveu ir atrás do pokemon, deixando os humanos de lado.

Aquela era uma das coisas que Kurt ainda não havia apreendido, entre atacar um humano e um pokemon, eles atacavam ao pokemon.

Voando com velocidade e já usando suas foices por todos os lados, o Scyther demônio sentiu seu corpo tremer ao choque de uma das foices contra os punhos energizados, pelo mega soco, de Nidoking. Scyther era muito mais veloz, mas a cada dois lances de foice que acertavam, um era desviado e outro era defendido com o mega soco, o que fazia o demônio diminuir a velocidade. A velocidade dos ataques foram diminuindo ao ponto do pokemon precisar parar de voar para forçar ainda mais suas foices.

Kurt entedia a situação. Kevin queria anular a velocidade para que ele desistisse de usá-la por alguns instantes e assim passasse a lutar no solo. Não era cansaço, era simplesmente a necessidade de melhorar a base e estabilidade de seu corpo para melhorar a sua técnica com as laminas. Isso o fez pousar e diminuir um pouco velocidade. Como Kevin havia percebido tudo aquilo e alinhou aquele tipo de estratégia? Kurt não saberia responder.

Provavelmente Kevin se perguntado mais tarde também não saberia responder. Mas, era um fato de que todos que haviam sido feridos por aquelas criaturas, quando em momentos de intenso perigo, em especial diante aos demônios, tornavam-se frios e sem vida. Suas mentes voltavam-se apenas para uma coisa, sobreviver. Não importava o que acontecesse em volta, se não fosse ajudar a salvar sua vida, não adiantava de nada.

Na mente dos feridos havia apenas um grito de vida que lhes faziam enxergar apenas as melhores saídas. Uma voz que insistia em ecoar no silêncio como se a todo momento fosse necessário provar que estava vivo. Uma voz que dizia a eles, “você já está morto”.

– Agora é tudo ou... - Kevin estava preparando-se para liberar seus pokemons, mas foi impedido pelos gritos que seguiam-se.

– Entreguem-se e ninguém sairá ferido! - A voz era forte e confiante.

Kurt e Kevin olharam para o lado e arregalaram os olhos surpresos. Eram dois homens que se faziam presentes em meio as arvores. Roupas parecidas com o macacões, completamente cinza. Mascaras pretas no rosto. Botinas pretas e algo que parecia uma touca, também cinza, escondendo os cabelos. Ali estavam dois membros da Estilo de Poder. Cada qual ao lado de um pokemon. Um Golbat e um Vulpix.

– Recolham seus pokemons se tem amor a vida! - Gritou Kurt mas era em vão e tarde demais.

Que os demônios preferiam pokemons aos humanos Kurt apenas havia aprendido naquele instante. Mas, que nunca deveria usar um pokemon que não estivesse no seu último estágio, a não ser que ele não evoluísse, pois os resultados eram catastróficos.

– Scyther!!!! - O estranho pokemon ao ver aqueles pokemons emite um grito estridente e parte ao ataque descontroladamente.

O Scyther demônio acerta Vulpix com um ataque cortante, ferindo suas patas dianteiras impedindo que ele pudesse se locomover. Logo, vai ao céus combater Golbat. O pokemon morcego usa os sônicos, mas parece que não surte efeito e logo ele é acertado por uma investida.

– Retirem eles! - Grita Kurt que era puxado por Kevin para que se escondessem em meio as árvores.

– Oras! Golbat use mega drenagem de vida! - Grita o membro da Estilo de poder que leva um soco do companheiro.

– Recolhe! - Grita o membro recolhendo rapidamente o vulpix ferido.

Scyther percebe o movimento e com uma cambalhota no ar acerta as asas de Golbat as cortando. As foices pegaram, cada qual em uma asa, partindo- ao meio como se fossem apenas papel. As asas começam a cair como folhas sendo levadas pelo vento, até o chão enquanto o pokemon, morcego, descia em meio aos berros espirrando sangue para todos os lados.

– Não! - O membro da Estilo de Poder que comanda Golbat arregala os olhos e tremendo recolhe rapidamente o que restava do pokemon.

– Cuidado é Guilhotina. - Gritou Kevin ao ver que Scyther descia na direção da dupla da Estilo de Poder que havia ficado paralisada.

Mas era tarde para qualquer aviso. Scyther chegou ao solo furioso e com os olhos a brilhar em um vermelho intenso. Os dois tremeram e fecharam os olhos. As foices que estavam acima de suas cabeças, apareceram aos pés deles. Fazendo com que os corpos caíssem metade para cada lado.

– Droga! - Kevin virou o rosto ao ver eles caindo.

Era o que acontecia quando algo interferia na caçada de um um demônio a um pokemon não evoluído. A fúria era direcionada para aquele alvo que normalmente não tinha menor chance de defesa.

Urrando Scyther jogou-se rapidamente na direção de Nidoking que corria na direção deles. O impacto do encontro das duas forças criou uma ventania e muita poeira. A moto da Oficial Jane caída começou a tocar a sirene chamando ainda mais a atenção daquela situação.

– Vamos morrer! - Gritou Kurt escondido atras de uma arvore. - As pessoas da vila virão em meu auxilio e elas também morreram. -

Kevin nada dizia e apenas arrastava o velho para uma arvore mais longe da batalha. Sempre que via que estavam seguros para se mover.

– Pare de tentar fugir... Não tem como! Ele vai nos perseguir ou atacar o vilarejo! Temos que afugentá-lo. - Gritou Kurt.

– Fugir! - Gritou Kevin com o olhar ainda sem vida. - Principalmente você que é a chave para que possamos no futuro vencer essas coisas. -

Kurt parou assustado. Ele venceria aquelas coisas? Não havia como. Não havia forma de alguém enfrentar aquelas coisas de igual para igual e derrotar, ainda mais ele que nem era treinador pokemon experiente, apesar da idade.

– Eu... - Kurt para sua fala quando quase são acertados por Nidoking que caia próximo a eles. Inconsciente e cheio de cortes pelo corpo o pokemon venenoso já não poderia mais lutar.

Eles olharam assustados e viram o algoz voar na direção deles. Kurt recolheu o pokemon rapidamente olhando para Kevin.

– Foi um prazer ter te conhecido! - Diz Kurt fechando os olhos.

– Já chega! Eu não tenho escolha. - Kevin lançou uma pokebola para longe.

Banhado pelos últimos raios de sol surgiu uma ave de um tamanho considerável, coberta de penas de cores vivas e fortes. Pidgeotto surgia aos gritos enlouquecidos do demônio que partiu na direção dele.

– Pidgeotto agilidade para os escombros não tenha dúvidas em fugir e desviar, porque ele vai te matar! - Berrou Kevin. - Nos escombros faça valer o gene da raridade! -

– LOUCO! - Berrou Kurt agarrando Kevin pela blusa. - Como você lança um pokemon não evoluído depois de ver o que aconteceu com a Estilo de Poder? A caso não sabe que se ele tivesse matado aqueles pokemons ele teria absorvido as técnicas deles? Você é algum inconsequente? -

Kevin socou a Kurt que caiu para o lado.

– Não me atrapalhe! Cada qual com sua missão. Você a de recriar o artefato que permitira capturar essas porcarias e eu te informando disso e o mantendo vivo! - Kevin se virou e via seu pidgeotto com dificuldades.

A velocidade de Scyther era duas vezes maior que a de pidgeotto, mas a ave tinha a experiencia de combater pokemons que se moviam como ele. Desviava com antecedência de cada ataque e investida, mas cada vez que isso acontecia afastava-se cada vez mais dos escombros da casa. Para piorar a batalha ganhava os céus do vilarejo.

Golpe de laminas e até mesmo tornados para impedir que o não evoluído fugisse. Ataques rápidos seguidos de violentos socos e chutes. A distancia diminuía a cada novo movimento e Pidgeotto ia sendo encurralado. Principalmente poque a cada vez que o pequeno não evoluído fugia a agressividade do demônio aumentava visivelmente.

– Ataque rápido! - O comando de Kevin foi executado pela ave deixando Kurt apavorado.

– Ele vai morrer! - Gritou Kurt.

Pidgeotto e Scyther aceleram ambos realizando o ataque rápido. A ave levaria desvantagem devido a velocidade e a consistência do corpo. Não era nem necessário julgar a força física naquele momento para saber que Kurt não estava apavorado atoa.

– Evolua! -

Kurt olhou para Kevin sem entender o que ele disse mas percebeu um brilho no céu. Antes que os dois corpos se colidissem um brilho iniciou-se na ave que parecia ficar cada vez maior. Scyther ao aproximar-se o suficiente para acertar o ataque rápido sentiu seu corpo preso e seus movimentos interrompidos.

– Im... Impossível... - Kurt arregalou os olhos não acreditando no que via.

Pidgeotto havia evoluído no meio do ataque. O passará de mais de um metro e meio e fortes e brilhantes cores em suas penas agora media entorno de três metros e reluzia em tons fortes. Ainda nas mesmas cores de um pidgeot, mas com muito mais força. Era como um pombo gigante com uma grande crista na cabeça. Maior que o Pidgeot de Falkner.

Quando a criatura colidiu com o novo pokemon ficou completamente desnorteado. Esperava retaliar uma ave menor que ele, mas acabou sendo agarrado pelas garras de uma ave bem maior.

– Controlo a energia dos meus pokemons. - Comentou Kevin. - Agora que ele está completamente perdido... Tornado Vertical! -

Kevin gritou aquilo indo para trás de uma arvore e se agarrando a ela. Kurt não demorou a fazer o mesmo, apesar de não saber o que esperar do movimento.

Pidgeot começou a fazer o movimento do tornado Vertical. Descia e subia com velocidade tendo a cidade embaixo daqueles movimentos e o demônio preso em suas garras. A pressão deixava a criatura submissa, por imitar o movimento de submissão.

Logo Pidgeot largava a criatura e acabava de criar o grande túnel de vento.

– Merda! - Gritou Kevin arregalando os olhos.

O ataque Tornado Vertical estava muito mais forte que o normal. Toda a cidade estava sendo arrasada pelo tornado. As casas, carros e outros eram arrancadas do solo e tudo rodava dentro do túnel de vento.

– O que é isso? - Kurt estava assustado com o tamanho do poder que via. Ele sentia que o vento podia puxá-lo de onde ele estava, mas que parecia estar centrado na cidade devido a proximidade.

A grande ave definiu o alvo para lançar tudo contra o solo. O ponto em que Kevin havia mencionado, os destroços da casa de Kurt.

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Kevin chorava encostado na árvore enquanto Kurt tentava acalmá-lo.

Tudo havia acontecido muito rápido. O demônio apareceu, eles perderam a força de defesa. A Estilo de Poder atacou e foi morta pelo demônio. Pidgeotto ganhou os céus e irritou o demônio. O demônio foi surpreendido por uma evolução planejada. Pidgeot dominou o atordoado demônio com seu Tornado Vertical salvando a Kevin e Kurt, pois ao final o demônio fugiu. Mas, o Tornado Vertical havia destruído o pequeno vilarejo.

Kevin assim que confirmou que o demônio havia se afastado e que realmente todo o vilarejo havia sido destruído recolheu o pokemon e começou a chorar. Debulhando-se em lágrimas ele se chamava de assassino. Dizia que ele havia matado a todos dentro do vilarejo.

Kurt tentava lhe dizer algo, mas ele não parecia querer escutar.

Kevin já havia pensado em como seria se um ataque de seus pokemons acertasse um humano. Mas, nunca imaginou que um dos ataques pudesse acabar com uma vila inteira. A cidade e seus habitantes estavam mortos e ele sabia que a culpa era dele. Dele por ter comando o Tornado Vertical acima da cidade.

– O que foi que aconteceu aqui? - A voz de Jane assustou a Kevin de tal forma que ele levantou-se indo para trás.

Com os olhos vermelhos e arregalados Kevin observava a mulher parada poucos metros a sua frente. Olhando de forma sorridente e ao mesmo tempo questionadora. A penumbra não deixava que ele visse muito, mas tinha a noção de que talvez aquilo não passasse de miragem.

Kevin se jogou nos braços da Oficial sem ao menos pestanejar. Não importava que fosse um fantasma. Se o fantasma pudesse aliviar a dor. Se o fantasma ao menos dissesse que ele fez o que deveria fazer.

– Foi sem querer... Foi sem querer... Eu juro que não tinha a intenção de matar... - Dizia Kevin.

Um bater de palmas. Era o som que se escutava junto ao choro de Kevin. Logo outro e outro bater de palmas era escutado e parecia que chovia devido aos aplausos.

– Está tudo bem Kevin. - Disse Jane. - Não sei o que aconteceu direito... Mas está tudo bem agora. -

– Não está! Eu matei eles! Eu matei a todos! - Chorava Kevin. - Não era a minha intenção, eu tentava salvá-los... - Kevin sentiu o abraço apertar-lhe ainda mais o corpo tremulo. Aquilo não era o tipo de coisa que deveria acontecer. Sua mente poderia estar em frangalhos, mas sua pele não deveria sentir calor e a pele de outra pessoa.

Confuso o jovem levantou o olhar e via inúmeras pessoas. Eram tantas que ele não tinha certeza de onde eles haviam saído. Com a penumbra ele primeiro enxergava apenas Jane, que mais parecia um fantasma criado de sua mente. Um pouco mais a frente passou a enxergar inúmeras pessoas, que apesar de estarem nitidamente assustadas e um pouco sujas, demonstravam sorrisos e aplaudiam constantemente.

– Eu tentei te dizer. - Kurt se aproximou. - Depois do ataque da Estilo de Poder foi criado um sistema de evacuação. Quando seu pokemon detonou a cidade para parar aquele Scyther alucinado, a cidade já havia sido evacuada. -

– Saímos assim que ouvimos o desmoronamento da casa de Kurt. - Comentou Jane. - Quando havia deixado todos em lugar seguro e estava vindo tentar ajudar a cidade começou a ser arrasada. Esperei até que tudo parecesse mais calmo. -

Kevin olhava as pessoas ainda aplaudindo felizes. Não fazia sentido. Ele havia acabado de destruir a casa deles. Havia acabado de por em risco a vida deles. Tudo o que eles tinham havido sido reduzido a destroços.

– Parem de aplaudir! - Gritou Kevin em meio a lagrimas. - Eu acabei com tudo o que vocês possuíam. - Gritava o rapaz.

– E matou dois dos desgraçados que vieram matar Kurt. - Diz um dos cidadãos.

Kevin franziu a testa.

– Está claro o que aconteceu. A Estilo de Poder veio, vocês os combateram. Um pokemon deles se descontrolou e os matou. Você tentou salvá-los, mas o pokemon foi forte demais. Depois que ele foi contra vocês e pretendia seguir para a cidade você o parou. -

– Kevin... - Kurt tocou-lhe o ombro. - Não adianta que eles já entenderam tudo... Você não matou ninguém, apenas tentou salvá-los e não conseguiu. -

Kevin assentiu com a cabeça. Aquela interpretação parecia ser a mais coerente e fácil de seguir naquele momento. Seu coração parecia aliviado de não ser assassino, mas ainda havia muito naquela noite para lhe fazer pensar e preocupar-se. Afinal, seu pokemon havia devastado uma pequena cidade em poucos minutos de evolução. O que ele poderia vir a fazer quando estivesse mais treinado? O que o Caçador das Sombras e a Estilo de Poder fariam com um pokemon como esses?

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Era noite. O ginásio estava lotado. Pessoas dormiam por todos os lados. O vilarejo não tinha mais do que 500 habitantes, todos os demais que moravam numa antiga Azalea haviam ido embora há muito tempo. O Ginásio comportava, com alguma dificuldade, todos os desabrigados naquela noite que estava longe de acabar.

A enfermeira Joy trabalhava com urgência em Butterfree e Nidoking. Ela dizia que eles estavam muito debilitados e que não pareciam ter apanhado de três pokemons, mas sim de um exercito. No entanto, eles poderiam estar recuperados daqui a uma semana.

– Uma semana? - Alarmou-se Jane. - Precisamos deles em 1 hora. -

Joy encarou-a e logo viu a policial fazendo sinal para que ela a seguisse até a porta do ginásio. Foram questão de poucos minutos enquanto as duas passavam por diversas pessoas que estavam encostadas em algumas partes, não queimadas, da floresta ginásio.

Do lado de fora, Kurt, Kevin e Bugzy observavam ao longe luzes que iam e viam dos destroços do vilarejo e da casa de Kurt.

Joy tremeu diante ao que via. Estática ela deu dois passos para trás e ia começar a gritar, mas viu Kevin aproximar-se dela.

– Quanto tempo para Butterfree e Nidoking ficarem de pé? - Perguntou Kevin.

Joy tremia. Ela havia passado por todo o ataque da cidade e agora estava a minutos de ver novamente a Estilo de Poder ir atras deles, os últimos sobreviventes, atacarem o ginásio.

– Acho que as noite vai ser longa. - Diz Kurt. - Assim que eles acabarem de verificar as coisas lá e recolherem os corpos, vão vir ao ginásio atacar. -

A estilo de Poder não perdoava quem se colocava no seu caminho. Quem lutava contra eles era caçado e morto. Quem os feria era caçado e morto. Quem matava seus pokemons e membros certamente não iria sair impune.

Bugzy olhou Kevin e via que ele também tremia e estava esgotado. Estava com um olhar triste de quem havia chorado bastante e logo começaria a chorar novamente.

– Está com medo? - Questionou Bugzy voltando-se para ele. - É hora de você mostrar do que é feito, Kevin Maerd Júnior. -

Kevin não estava pronto para lutar novamente. Ele fechava os olhos e via o Tornado Vertical varrendo o vilarejo. Ele fechava os olhos e via os membros da Estilo de Poder sendo partidos no meio pelo demônio. Não tinha condições de enfrentar a Estilo de Poder naquele momento.

– São quatro helicópteros, se dermos sorte tem apenas 6 em cada helicóptero. O que significa 24 membros para enfrentarmos, com cerca de 144 pokemons. - Jane parecia concentrada. - Kevin esqueça de Butterfree e Nidoking. Vai levar uma semana para ficarem bem. -

Kevin apenas fez um pequeno sinal com a cabeça, mostrando que entendia.

– Joy... Sei que está com medo, mas preciso que mantenha todos ai dentro e prepare-os para fugir pela noite se for preciso. - Jane começava a organizar as defesas. - Bugzy, Kurt e eu vamos enfrentá-los aqui na frente. -

Jane olhou para Kevin e ficou observando-o por alguns instantes.

– Eu... - Kevin foi dizer algo, mas foi interrompido.

– Você não tem condições de batalhar. Então deixa isso com agente. - Jane estendeu a mochila de Kevin para ele e assim como a pokebola de butterfree. - Eu quero que você fuja. -

Kevin simplesmente se vê sendo empurrado para a escuridão.

– Eu não vou fugir. - Diz Kevin tentando retornar mas da de cara com a arma de Jane sendo apontado para ele.

Jane o encarava enquanto estava com a arma empunhada para ele. Ela não tremia, não parecia estar desafiando-o ou hesitante.

– Eu não vou... - Kevin parou por alguns instantes. Ele tinha certeza que não conseguiria lutar. E foi ensinado que naquele momento deveria fugir. Mas, fugir e deixar aquelas pessoas todas para morrer?

– Desapareça daqui enquanto ainda tem chances! - Disse Bugzy o empurrando para a noite.

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Eu não queria ter fugido. Eu não queria que Pidgeot devastasse tudo. Eu não queria nada daquilo. Mas, eu tinha que fugir. Eu precisava viver. O meu erro foi perceber que eu não tinha para onde ir naquele momento e que eu só chegaria longe o suficiente para lutar mais distante possível do ginásio.