Eu sabia que o momento em que entrasse na sala da minha casa o coração do Edward, que já não batia há um século, petrificaria. Aquilo me fez sorrir por fora, mas por alguma razão ainda me incomodava por dentro.

- Renesmee Carlie Cullen! – o rosnar do Edward ecoou por alguns minutos. Tinha certeza que todos os vizinhos tinham escutado, inclusive minha família no fim da rua.

- Esse é meu nome – eu afirmei, sem deixar meu sorriso.

- Volte já para seu quarto e troque essa.. essa.. – Edward tremia.

- Acho que seu pai quer dizer que você deve trocar essa roupa – minha mãe completou, tentando acalma-lo, mas nada feliz com o que estava vendo.

- De maneira alguma. Eu já sou bem grandinha – eu coloquei minhas mãos na cintura e enterrei meus pés no chão.

- Você só tem seis anos de idade – ele disse entre os dentes.

- Dezesseis – eu o corrigi – Eu tenho o corpo de uma menina de dezesseis – eu dei uma volta lenta, exibindo-me – E assim, pareço com uma menina de dezessete, dezoito.

O rosnado que saiu do peito de Edward foi ainda maior que o anterior e fez com que a casa tremesse. Minha mão rapidamente se colocou na frente dele, com a intenção de segura-lo, caso ele decidisse completar o que não tinha conseguido fazer anos atrás: arrancar minha cabeça!

- Edward, o que está acontecendo? – vovô Carlisle entrou com uma rajada de vento, seguido por vovó Esme. Os dois arregalaram os olhos assim que me viram.

- Nessie, querida, o que aconteceu com suas roupas? – minha avó falou suavemente, mas eu sentia a repreensão em seu olhar.

- Decidi mudar de estilo, valorizar o meu corpo - Percebi minha mãe aumentar a força de suas mãos no peito do Edward.. - Vocês estão exagerando. Ele está exagerando – eu disse apontando na direção dele – É só uma roupa.

- Acredito que o problema seja a falta dela – vovó Esme apontou.

- Remesnee! – as vozes de Jacob e tia Alice se tornaram uma só e ambos não pareciam nada felizes.

- O meu nome parece estar sendo pronunciado demais hoje – eu tentei ser engraçadinha, mas o clima estava bem pesado.

Tia Alice se aproximou de mim e me examinou, com olhos apertados.

- Você está usando o que eu penso que está usando? – ela sussurrou.

O que ia adiantar sussurrar numa sala cheia de vampiros e com um lobo?

- Sim – eu disse em alto e bom som – Se você pensa que eu estou usando um short jeans minúsculo e um corpete de renda que encontrei na gaveta de lingerie da mamãe, sim.

- Eu sabia que conhecia essa peça – minha mãe exclamou.

Jacob, Edward e vovô Carlisle desviaram o olhar, mas percebi que as bochechas de Jacob estavam bem coradas.

- Bella, por favor, faça sua filha voltar e trocar essa roupa – Edward disse, ainda olhando para o lado.

- Isso mesmo, “sua filha” - eu repeti, rancorosa – E não vou trocar nada. É assim que vou para a escola. Não tenho mais tempo para essa discussão. Vamos, Jake, já estamos atrasados.

- Por cima do meu cadáver – Jacob vociferou, olhando direto nos meus olhos – Você não vai a lugar nenhum assim.

O jeito com que ele me olhava trouxe de volta as borboletas adormecidas no meu estômago. Eu gostava da sensação de calor que subia na minha espinha.

- Renesmee! – meu pai rosnou novamente. Acho que ele ouviu isso.

- Mãe, escudo! - Só depois que você trocar de roupa – ela me chantageou.

- Eu não acredito que você está fazendo isso comigo – eu choraminguei. - Minha querida, escute a Bella. Você está... – dessa vez, minha avó não conseguiu completar a sua frase. Ela me deu um sorriso caloroso, desculpando-se.

- Bella, isso é culpa sua – tia Alice a olhou, acusadora – Ela perdeu completamente o senso de estilo que eu por tantos anos tentei ensiná-la.

- Vocês são os reis do drama, sabiam? Tá bom. Vou trocar de roupa. Vocês ganharam! – eu disse, jogando os braços para o ar – Agora, por favor, pode colocar o escudo em torno de mim, mãe?

Ela concordou e logo comecei a resmungar palavras nada amigáveis para testá-la. Como Edward nada disse, eu percebi que já estava protegida.

Dei uma última olhada na minha família parada ali e todos ainda mantinham seus olhares estupefatos. Percebi que Edward e vovô Carlisle ainda evitavam me olhar e segurei o riso. A mão da minha mãe parecia mais relaxada no peito do meu pai, mas ele ainda estava muito irritado.

Pretendendo manter o clima da situação, eu subi batendo os pés na escada, quase fazendo um buraco em cada degrau.

- O que você fez com ela, Bella? – ouvi tia Alice mais uma vez acusar mamãe.

- Eu não sei o que ela está fazendo mais – remorso bateu à porta quando ouvi mamãe se lamentar. Ninguém poderia suportar causar dor À Bella, mas eu tinha que ser forte.

- É a adolescência, minha filha. Os hormônios numa híbrida devem ser mais fortes do que numa humana ou numa vampira – vovó Esme tentava acalma-la - Vai ficar tudo bem, Bella.

- Relaxe, Edward. Isso é só uma fase – vovô Carlisle falava calmamente.

Então o meu plano tinha funcionado perfeitamente. Edward tinha ficado realmente abalado, o que significa que eu finalmente consegui atingir o seu controle perfeito. A fase 1 estava completa e era um sucesso.

O falatório continuou no andar de baixo, porém o único que não ouvia era Jacob. O rápido olhar que o meu melhor amigo me deu antes que eu subisse as escadas me deixou ainda mais confusa. Podia jurar que o que via era uma mistura de admiração e ciúmes. Provavelmente eu estava enganada e somente vi aquilo que queria ver. Jacob apenas me via como a pequena menina que ele tomou conta durante anos. 

Aproveitando que mamãe me protegeu com seu escudo e que todos pareciam ocupados, eu tive outra idéia. Era arriscada e poderia gerar uma reação maior do que um simples puxão de orelha, mas valeria a pena se executado perfeitamente. Eu não desistiria tão facilmente.

- Nossa, Nessie, você está tão diferente – pelo olhar que Brad me lançava eu podia jurar que “diferente” não era a palavra que ele tinha pensado.

Emily, Tyler, Natan e Annie estavam parados na entrada da escola junto com Brad e todos ficaram boquiabertos quando tirei minha blusa de seda e revelei o corpete de renda que tinha escondido por baixo da roupa.

Apesar de não surtir o mesmo efeito combinado com uma calça jeans, a peça em renda ainda chamava atenção suficiente.

- Você nos enganou – Jacob apontou logo que me viu e mais uma vez ele corava.

Tia Alice teve que se conter para não voar para mim como uma rajada de vento, mas seus passos ainda pareciam rápidos demais para um humano de seu tamanho. Ela me pegou pelos braços e me arrastou sob olhares alarmados de meus amigos.

- Nós não vamos esconder isso do seu pai – ela me disse baixo demais para qualquer um ouvir.

- Não pedi isso de ninguém – eu coloquei as mãos na cintura, enquanto falava – Pode fazer o que acha certo, tia Alice.

Tio Jasper logo se aproximou de nós duas e senti a tranquilidade que trouxe consigo. Lancei um olhar reprovador na direção dele, mas acabei me deixando levar pela sensação.

- Cadê o Jacob? – eu perguntei, olhando para os lados e só vendo os meus amigos humanos.

- Acho que sua atitude está o atingindo também – tio Jasper disse, solidário - Ele não ficou muito feliz com seu comportamento.

- Mas... mas – eu odiava machucar Jacob. Esperava que a minha atitude gerasse uma reação nele, mas não de tristeza.

Desde que nasci Jacob sempre esteve do meu lado, não conseguia ao menos lembrar de algum momento em que o eu precisasse e meu amigo não tivesse pronto para me socorrer. Machucar Jacob era a última coisa que gostaria de fazer.

Me afastei dos meus tios sentindo meu estômago enjoado. Será que eu realmente estava passando dos limites? Será que estava pegando pesado demais com todos? Eu só queria fazer alguma coisa que me tirasse aquela sensação de cortar o peito, toda vez que lembrava da minha festa de aniversário.

- Sua prima parecia realmente nervosa – Emily disse, enquanto caminhávamos pelo corredor.

- É – eu me limitei a responder.

- Você realmente foi corajosa em aparecer usando tão pouco. Acho que a diretora não vai gostar nada disso – ela sorria, animada com a possibilidade de um pouco de aventura.

- Acho que ela vai ter que se acostumar. Eu não te falei que uma nova Renesmee Cullenn nasceu? – eu perguntei.

Olhei para trás dezenas de vezes no caminho que fizemoss para a sala de aula e em momento algum vi Jacob.

“Onde será que ele se meteu?” era só o que eu conseguia pensar. “Por favor, Jake, não fique bravo comigo”. Como eu gostaria de poder transmitir meus pensamentos à distância agora.

Com o passar do dia sem a presença do meu melhor amigo, a preocupação se tornou raiva. Jamais sentiria qualquer coisa negativa pelo Jacob, mas o Edward a cada minuto conseguia fazer minha frustração aumentar. Não bastava como arruinou a minha vida, agora ainda arriscava perder meu companheiro de todas as horas por ele.

Se Jacob nunca me perdoasse por ter escondido dele o maldito corpete de renda, eu nunca mais olharia nos olhos do Edward. Ele estava arruinando minha vida!