Algumas horas depois, eu já estava por me arrumar. Meu vestido foi escolhido a dedo, assim como meus sapatos e as jóias. Meu cabelo foi arrumado solto, ao meu pedido, e Hanna foi à responsável por fazer minha maquiagem.

   Naquele momento anterior a festa, eu vi a mim mesma de forma diferente. Como poderia ser? Bonita? Meu vestido era vermelho. Percebi que gosto dessa cor.

   -Hanna...

   -Ansiosa?

   -Talvez.

   -Você esta linda. Não se preocupe.

   Suspirei e fui levada ao salão. Vários nobres e príncipes foram reunidos ali. Eles me aguardavam. Caminhei entre eles e sentei em meu trono, com Hanna ao meu lado. Meu conselheiro dizia os nomes em voz alta, e os príncipes se dirigiam a mim. Eles apenas se curvavam levemente e eu fazia o mesmo. Então aconteceu. O conselheiro disse seu nome.

   -Gustavio De La Valierie.

   Ele veio até mim lentamente e eu o observava com atenção. Cabelos azuis- eu gosto dessa cor- e olhos castanho mel. Acelerado. Até demais. Por que meu coração estava tão acelerado? Certamente perguntarei a Hanna sobre isso. E então, ele me olhou de forma profunda, como se pudesse ver minha alma, meu passado, meu coração. Aqueles belos olhos castanho mel me fizeram derreter. Essa expressão me é estranha. Muito estranha.

                                            ~

   Gustavio. Gustavio...

   -Hanna.

   -Sua carinha te condenou alteza. Algum príncipe lhe agradou? –disse ela enquanto penteava carinhosamente meus cabelos.

   -Podemos dizer que sim.

   -Pode dizer seu nome a mim?

   -Gustavio De La Valierie, se me lembro bem.

   -Achei que ele seria de seu agrado.

   -Achou? Por que Hanna?

   -Bem, não importa. Amanhã de manhã iremos descobrir mais sobre seu príncipe.

   -Hanna!

   -Não fique envergonhada - disse ela rindo baixinho.

   -Que seja... – disse eu, tentando esconder meu rosto vermelho e envergonhado.

   -Vá dormir. Amanhã será um novo dia.

   E com isso, ela saiu. Deitei-me e continuei a pensar. Gustavio... Ainda me lembro da forma com que ele me olhou. Ele leu meus pensamentos? Claro que não. No que estou pensando?!

   -Dormir. Preciso dormir – sussurrei para mim mesma, um pouco antes de cair no sono.

   Eu estava num belo jardim, onde havia lírios. Lindos lírios. Caminhei e pude vê-lo ao longe. Quando me viu, estendeu a mão para mim, e para minha surpresa eu fui ao seu encontro. Ele sorriu pra mim e então sussurrou algo que não consegui assimilar.

                                           ~

   Acordei com os chamados de Hanna. Ela pediu que eu me vestisse e fosse ao encontro dela no salão em 30 minutos.

   Escolhi um vestido simples e caminhei lentamente pelos corredores até encontrar minha irmã. Ela corria pelos corredores, de braços abertos, como se fossem asas.

   -Ekaterinie você não deve correr por ai – eu disse.

   -Quero voar, como uma borboleta.

   -E ir embora pra sempre?

   -Não! Tenho que cuidar de você, irmã.

   -Essa frase é minha.

   E ela passou por mim e continuei a andar. Chegando ao salão, Hanna estava sentada tomando uma xícara de chá verde, enquanto lia um livro grosso. Eu me aproximei e ela olhou para mim.

   -O que é isso?

   -A vida do seu amado.

   Sentei-me rapidamente no sofá, ao lado de Hanna.

   -Deixe-me ver.

   Ela riu e passou o livro para mim. Eu li atentamente em voz alta:

        Gustavio Henrique De La Valierie

   Nascido em 25 de Maio de 1752. 23 anos. Herdeiro do rei Charles II. Possui três irmãos. Possui conhecimentos em cavalaria e arco e flecha.

   -Você só leu o que achou interessante, não é?

   -De toda forma – eu me levanto, fechando o livro - acho que escolhi meu noivo.

   -E como eu sabia que diria isso, eu já informei seu pai.

   -Hanna... – eu me sentei.

   -Mais algum pedido?

   -Não, esqueça. Vou dar uma volta.

    E com isso, sai rumo ao jardim.