Loves Ways escrita por lollyb


Capítulo 31
Ano novo, novos anos


Notas iniciais do capítulo

Chegamos, enfim, ao último capítulo de Love's Ways... Aos que acompanharam até aqui, muitíssimo obrigada, espero, de coração, que vocês tenham gostado



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Mansão de Hampshire – 30 de dezembro de 2006, 22:15

Uma mulher ruiva recostava-se levemente ao balcão da varanda, admirando lá de cima os jardins da Mansão, agora secos. Na estufas, rosas frondosas faziam-se notar em meio à paisagem tipicamente invernal.

Ela segurava uma taça de vinho na mão, balançando-a gentilmente de tempos em tempos. Sentira falta de casa.

Os cabelos agora estavam mais curtos, batiam-lhe pouco abaixo dos ombros e continuavam lisos como sempre foram, dando a ela um ar mais adulto. Os olhos azuis brilhavam com maturidade, e carregavam um brilho totalmente diferente do que era conhecido antigamente.

Diferente do que era conhecido sete anos antes.

Ela apoiara um braço no balcão, admirando a noite nublada pelo frio, quando ouviu um barulho vindo de trás; o ruído viera da requintada porta de folhas duplas que levava até ali. Aquele imenso salão ocupava todo o terceiro andar.

Porém, no momento só havia uma pessoa ali.

Ela virou-se calma e decididamente, a taça de vinho brincando na mão. Ainda de lado, deu um sorriso torto quase conhecido. Quase. Se sete anos não os tivessem separado.

'-Malfoy' – ela olhou-o, analisando-o – 'Vejo que o tempo fez bem a você.' – ela concluiu, o olhar enigmático.

'-Nem perto do bem que fez a você, minha cara' – ele respondeu, admirado diante da mulher à sua frente.

~"~

Era hora de voltar para casa, Serena Snape decidira. Já estava longe por muito tempo, e seu coração fez um apelo singelo – apelo esse que ela ignorara parcialmente bem durante um bom tempo. Mas não havia mais como evitar.

Vira Severo bastante durante os anos em que passou fora, mas nunca seria o suficiente. Ele não deixara que a filha se afastasse dele novamente, e, ao menos uma vez por mês, se encontravam.

Remexendo nas poucas coisas que guardara da época de Hogwarts, encontrou um pequeno livro de capa de couro azul. Sorriu. Eliza fazia falta em sua vida.

Se ela fosse sincera consigo mesma, concluiria que não era apenas a prima que estava faltando. Pegou no livrinho e folheou-o, brincando com as lembranças. Ele lhe fora muito útil uma vez, durante a guerra que agora parecia tão distante.

Serena sentia falta da época em que todos eles eram jovens, mesmo naqueles tempos difíceis. O sorriso fácil de Eliza aparecia em uma das poucas fotos que eles tiraram juntos. Blaise sorria galanteador e Draco abraçava uma Serena quase oito anos mais jovem.

Um pequeno pergaminho escorregou do livrinho azul. Ela reconheceu-o imediatamente.

Tudo mudara em sua vida, mas ela tinha prometido a si mesma que quando aquele bilhete realmente fizesse sentido, ela o obedeceria. Era adulta, tinha decidido usar um feitiço nos cabelos para que eles ficassem alaranjados, viajara bastante, e ficara fora de casa por mais tempo do que gostaria.

Para você se lembrar de como é bom voltar para casa. A partida é sempre necessária, Serena, mas o lar é onde o coração está, e é para onde é sempre bom voltar.

Dumbledore tinha escrito no primeiro natal que Serena passara no mundo mágico. Era hora de voltar para casa.

~"~

Serena encarou-o sob a luz fraca da lua cheia encoberta pela neblina, combinada com alguns pisca-piscas que Narcisa Malfoy insistira em colocar em todo o entorno da casa para as comemorações.

O cabelo estava mais curto e um pouco mais escuro, não tão platinado quanto era na época de Hogwarts. O queixo dele tinha se alargado, não a ponto de perder o pontiagudo característico. Algo no olhar dele também mudara, e a postura era menos juvenil.

Menos o rapaz por quem Serena, um dia, tinha se apaixonado.

'-Seu pai sentiu sua falta' – ele disse, sério e adulto – 'é bom que você tenha voltado. Ele tem nos deixado malucos nos últimos anos.' – ele concluiu com um sorriso fino e seriedade no olhar.

'-Foi realmente muito tempo.' – Serena concordou, bebericando o vinho.

'-Algum motivo especial para o retorno?' – ele inquiriu, sarcástico. Ela, porém, não revirou os olhos nem arqueou a sobrancelha como ele esperava.

Também não era a sonserina por quem Draco Malfoy tinha se apaixonado aos dezesseis anos.

'-Consegui uma transferência para cá. Sinto falta da Inglaterra.' – ela disse, séria.

O queixo de Malfoy cedeu um pouco. Ela estava tão diferente. As maçãs do rosto mais altas e delineadas, os lábios menos infantis, e uma expressão tão serena que uma pontada doeu no estômago do loiro.

Assim que ele chegara à mansão fora avisado por sua mãe que Serena tinha voltado. E mais: que ela estava ali. No caminho até o terceiro andar imaginara muita coisa. No começo queria que ela estivesse apática, cansada e gorda.

Queria que ela tivesse sofrido pelo que fez a ele. Já no primeiro lance de escadas, ele desejou que ela chorasse e lhe pedisse perdão. Depois, queria que ela estivesse atormentada, queria ver no rosto dela o quanto os anos passados tinham sido difíceis.

Porém, tudo que Draco Malfoy vira em Serena fora plenitude.

Ela estava inteira desta vez. Não faltava nenhum pedaço.

E era o que ele mais temia, porque significava que não havia mesmo mais espaço para ele na vida dela.

'-E como estão as coisas por aqui?' – Serena perguntou subitamente, fitando as luzinhas que piscavam magicamente atrás do loiro.

Draco enfureceu-se. Ela fazia aquela pergunta como se tivesse tirado apenas uma semana de férias.

Durante os sete anos que você desapareceu? Nada, querida! O tempo parou por aqui enquanto você brincava de esconde-esconde. E a sua vida, a propósito, como está?

Ele pensou, bravo e suspirou antes de conseguir dar a ela uma resposta coerente.

'-Mudou muita coisa.' – respondeu simplesmente, fitando os olhos azuis que há sete anos pensava conhecer bem.

'-Eu imagino' – ela sorriu de leve, compreensiva demais para Malfoy, mas com uma pitada de tristeza nada costumeira na voz.

'-E afinal o que você esteve fazendo durante sete anos fora?' – ele finalmente perguntou, deixando a mágoa transparecer sem querer – 'Porque seu pai manteve muito bem o segredo sobre onde e o que você esteve fazendo, apesar de eu ter certeza que minha mãe soube esse tempo todo.'

'-Estou feliz por eles' – ela comentou, antes de responder a pergunta principal – ', você sabe que gosto muito de sua mãe.' – Draco olhou para ela abismado. Ela não iria mesmo respondê-lo?!

'-Eu não quero conversar sobre isso agora, Malfoy.' –disse, autoritária, mas com a voz leve e saudosa – 'Faz sete anos que não venho à Hampshire, é ano novo e eu tenho a certeza de que podemos falar sobre isso em outro momento.'

Draco concordou.

'-É bom que desçamos' – ele disse, a voz adulta e séria – ', eles devem estar esperando por nós lá em baixo.'

A neve tinha começado a cair quando Serena seguiu Draco pelas escadas que levavam ao segundo andar, iluminada pelos pequenos pisca-piscas. Ela tinha sido recebida, afinal, por uma bela paisagem.

'-Estou morando no centro de Londres, em um apartamento. Podemos conversar lá.' – ela concluiu, os olhos azuis sérios fitando os cinza –'Você merece algumas explicações.' – e seguiu pela escada, deixando o loiro para trás.

Tudo tinha mudado.

~"~

Serena tinha comprado comida japonesa e arrumado-a despretensiosamente numa luxuosa mesinha de centro na sala. Não queria que parecesse um jantar. As coisas já estavam estranhas demais.

Tinha também tirado as proteções da lareira para que ele pudesse atravessar, e agora separava uma garrafa de vinho de seu estoque particular, tinha deixado uma de firewhisky à mão também, só para o caso de Malfoy não ter mudado tanto assim.

O apartamento era grande para as proporções normais e era muito bem decorado. A sala era refinada e moderna, bem ao estilo londrino e tinha a parede externa revestida toda de vidro, de onde era possível ver a enorme sacada da cobertura.

Era um prédio trouxa de uma região mista da cidade. Serena gostava das invenções deles, como a eletricidade, televisão, celulares, até mesmo carro, embora ela preferisse aparatar quando podia.

Snape aprovara imensamente a escolha do imóvel e estava feliz pela filha, embora ela tomasse as próprias decisões. Apesar de tudo, Serena estava ao seu alcance agora, diferentemente de quando ela tinha quinze anos e eles se reencontraram. A casa da filha não era perto da Mansão, mas ao menos era no mesmo país agora, e podia aparatar até lá sempre que quisesse.

Quando a mulher colocava as taças na mesinha, a lareira fez barulho. Dela saiu um loiro alto e altivo, vestido elegantemente e sacando a varinha para livrar-se da fuligem das vestes. Serena não estava arrumada: usava calças de ioga, um cardigan preto largo e uma blusinha justa por baixo.

Estava descalça também, Draco notara. Mas ela estava lindíssima, mesmo assim. Os cabelos – agora ruivos – estavam acomodados num rabo de cavalo frouxo, a franja solta. Aquela aparência fazia-a parecer mais real e menos saída dos sonhos do homem loiro.

'-Como vai, Serena?' – perguntou ele, cordial, analisando o luxuoso apartamento.

'-Malfoy' – ela cumprimentou com a cabeça, pegando uma taça de vinho e enchendo – 'Vinho ou firewhisky?'

'-Vinho para mim está bom.' – disse, tirando o casaco e procurando um elfo – 'Você não trouxe nenhum elfo da Mansão?' – ele perguntou em tom quase indignado.

'-Não são necessários aqui. Tome e de cá a capa.' – ela entregou a taça e pendurou o casaco em um mancebo próximo à porta de entrada do apartamento, cruzando a sala e a sala de jantar.

'-Você vive como trouxa aqui?' – ele franziu de leve o cenho, vendo uma enorme televisão preta em um dos cantos da sala.

'-Não, é só um prédio trouxa. Mas eu realmente não preciso de um elfo, ainda mais com trouxas por perto.'

Draco analisou a situação, mas ainda estava meio confuso. Nunca vivera com trouxas, e não compreendia.

Serena foi até a mesinha onde tinha arrumado o jantar e sentou-se no tapete peludo, enchendo uma taça para si.

'-Já comeu comida japonesa?' – perguntou, divertida.

Ele acenou que não e juntou-se a ela no chão, com a própria taça balançando numa das mãos.

Comeram e beberam tranquilamente, mas a conversa adiada pesando ali. O clima era tenso, apesar de a conversa ter sido amigável durante o jantar.

Draco temia a cada palavra dita por Serena. Cada sentença o separava mais ainda dela.

Com ela ali era difícil assimilar que eram adultos, que não tinham mais dezessete anos. Não eram mais adolescentes. Aquilo era a vida real. Agora sem Voldemort nem guerras, ambos tinham seguido suas vidas e tinham se tornado pessoas normais, com vidas normais. Mas aquele caminho tinha se tornado uma bifurcação na vida dos dois, e cada um tomara uma direção.

Quando a refeição foi finalizada, Serena fez os pratos e os restos levitarem até a cozinha com um aceno de varinha, e ela tornou a encher as taças dos dois.

'-Você não me disse no que trabalha' – ele ponderou, sem saber que essa era exatamente a questão, bebericando o vinho.

'-Eu sou uma Auror, Draco' – ela disse para ele, encarando-o nos olhos – 'Eu fui para a França para o treinamento e passei esses anos na Bulgária, Polônia e Alemanha em missões.'

Ela disse tudo de uma vez e o homem teve que segurar-se para não cuspir o vinho. Serena uma Auror?

'-Então quer dizer que você, Serena Snape, é uma Auror?'

'-Do mais alto escalão' – ela sorriu de leve com o susto dele.

'-Merlin' – ele suspirou – 'não vá me dizer que trabalha para Potter.' – ele desdenhou.

'-Potter trabalha para mim, na verdade.' – Serena deu um sorrisinho vitorioso.

'-Potter o que? Você é uma heroinazinha ou algo do tipo agora, Serena?' – ele estreitou os olhos e franziu o cenho, quase sem acreditar.

'-Não, deixo a parte do heroísmo para o Harry, ele e a população bruxa gostam disso. Eu gosto mesmo é da adrenalina e de exterminar as pragas do mundo bruxo.'

Ele arqueou a sobrancelha – 'Então vocês são colegas de trabalho?'

'-Como eu já disse, sou do escalão mais alto do Ministério da Magia francês, trabalho oficialmente para eles. Potter não quis ir tão longe, ele gosta de destruir inimigos públicos, não os mais perigosos.'

'-Então você vai voltar para a França?' – ele inquiriu, sorvendo o vinho.

'-Fui transferida para cá, e Harry me ajudou. Agora realmente trabalharemos juntos. Vou coordenar as missões dele.'

'-Vocês se tornaram amigos ou algo do tipo?' – ele estranhou pelo modo cordial que ela falava de Potter.

'-Parece que sim.' – ela deu de ombros, colocando mais vinho em sua taça – 'Gosto muito de Ginny e vou visitá-los de vez em quando.'

'-Visitá-los onde?' – ele debochou – 'Na casa de Potter?' – ele abafou uma risada.

'-Sou madrinha da Lily, a filha mais nova dele, Draco.' – foi a vez dela de debochar dele quando o homem perdeu a cor.

'-Surpreso?' – ela deu um sorrisinho torto, mas mais adulto do que os que costumavam estampar seu rosto em Hogwarts.

'-As coisas realmente mudaram para nós dois' – ele concluiu, erguendo as sobrancelhas e tomando mais vinho – 'E você gosta da filha de Potter?' – ele franziu o nariz quase com nojo.

'-Claro que sim. Ela ainda é pequena, e não simpatizo muito com bebês ou com os outros filhos de Potter, mas gosto de Lily.' – ela sorriu e Draco percebeu que gostava dos novos sorrisos de Serena, apesar de ainda não ter visto o sorriso que ele mais gostava – 'E você, Malfoy? O que andou fazendo?'

'-Bem, depois que fui julgado pelo envolvimento com Artes das Trevas, ligação com Voldemort, pela morte de Dumbledore e como legítimo Comensal da Morte – e graças a Merlin fui considerado inocente – vendi alguns bens do meu pai e tripliquei a fortuna dele com a empresa que eu criei. Blaise decidiu que seriamos sócios, e abrimos essa empresa que gerencia grande parte dos empreendimentos bruxos na Inglaterra. Agora temos uma sede na França também, que Zabini comanda.' – ele sorriu fino, orgulhoso do trabalho.

'-Tenho certeza que não foi graças a Merlin.' – ela sorriu travessa.

'-Do que você está falando?' – ele estreitou os olhos – 'Você sabe quem mandou as lembranças do meu julgamento? Severo jura que não foi ele.'

Serena somente sorriu de lado.

'-Nenhuma outra pessoa poderia ter feito isso, não é mesmo, Snape?' – ele concluiu, cansado, percebendo que a resposta estava na sua frente – 'Por que você fez isso depois de ir embora? Para debochar de mim?' – ele perguntou, sério, e os olhos prateados tornaram-se cinza chumbo.

'-Você não merecia, Malfoy' – ela concluiu, arrumando a posição no sofá cor de gelo – 'Não depois de tudo.'

Draco encrespou os lábios, irritado. Gostava mais de falar sobre o que tinham feito depois, não antes da partida de Serena.

'-Eu merecia ficar em Hogwarts te procurando feito um parvo, é isso o que eu merecia? Eu merecia ser deixado no baile de formatura? Eu merecia saber pelo seu pai que você tinha ido?' – ele balançou a cabeça, ficando de pé e olhando para a parede de vidro –'Você deveria ter pensado em outras coisas que eu teria merecido. Eu teria sido mais grato.'

'-Você queria ir para Azkaban, é isso?' – ela debochou – 'Se ainda quiser, posso facilmente providenciar.' – a língua ácida do tempo de Hogwarts voltara por um instante, mas a seriedade ainda era a adulta. Ela estava calma e analisava-o.

Serena calmamente foi até uma prateleira e pegou a garrafa de firewhisky. Chamou dois copos com um feitiço e colocou o líquido avermelhado neles. Ofereceu um à Draco.

'-Tomando firewhisky?' – ele arqueou a sobrancelha, aceitando.

'-Muitas coisas mudaram, você mesmo disse.'

'-Eu realmente achei que você era decente demais para fazer aquilo comigo.' – ele suspirou, bebendo o firewhisky.

'-Eu fiz o que precisava ser feito, Draco. Nesses aspectos, é bom que você saiba que sou bastante prática.' – Serena disse como se não fosse importante.

'-Prática? Você sumiu por sete anos sem me dizer uma palavra!'

'-Nós tínhamos dezessete anos! Francamente.' – ela pediu, rindo.

'-Então é assim que você encara?'

'-E como você encara?'- ela inquiriu, colocando mais firewhisky nos dois copos.

'-Não falo por você, mas eu costumava ser bastante sincero sobre o que eu sentia naquela época, Snape.'

'-E também eu era. Sincera para uma garota de dezessete anos que não sabia nada sobre o amor.' – ela franziu o cenho, discordando dele.

'-E agora você sabe?' – perguntou, temendo a resposta.

'-Sei que é mais do que aquilo.' – ela deu de ombros, ficando séria de repente.

'-A resposta para essa pergunta é simples, minha cara: se tivesse sido difícil me deixar lá aquele dia, ignorante da situação você teria me amado, não importa quantos anos tivéssemos. Admita isso'

'-A idade importa muito, Malfoy. Com dezessete anos eu não sabia nada sobre nada!' – ela insistiu, ficando de pé e deixando seus pés tocarem o tapete macio.

'-Então por que você não se casou com um alemão enquanto esteve por lá, já que tinha mais do que dezessete anos?'

'-Francamente, Malfoy, não aja como o estúpido que não é. Eu saí com caras diferentes durante esses anos, e se tivesse gostado mesmo de algum eu teria ficado por lá.'

'-Veio caçar ingleses, Snape?'

'-Não me acuse como se você não enganasse uma por semana.' – ela apontou o indicador para o nariz dele.

Por fim, os dois suspiraram e tentaram se acalmar,mentalmente decidindo que aquele não era o caminho.

'-Eu queria que você tivesse me dito' – Draco disse sério, para a parede – 'Seu pai me fez prometer uma porção de coisas sobre você e agora eu percebo que quem deveria ter prometido era você.'

Serena olhou para os pés afundados no tapete.

'-Draco, não teria dado certo entre nós, conforme-se.' – ela pediu, uma mão delicada no ombro dele, tocando-o pela primeira vez na noite – 'Nós éramos muito novos. Ia acabar uma hora ou outra.'

Um arrepio correu o corpo do homem quando sentiu aquele pequeno toque. Há muito tempo não sentia-se tão vivo com uma mulher, e ela tinha apenas tocado de leve seu ombro.

'-Ainda pode dar' –ele disse, segurando a mão dela – 'Eu tenho certeza que você sente isso, Serena.'

'-Isso se chama tesão, Draco.' – ela bufou, desvencilhando sua mão das dele e afastando-se para olhar a parede de vidro.

'-Por quantos franceses você sentiu isso, hã?' – ele arqueou a sobrancelha quando não obteve resposta.

'-E você, Draco? Por que não se casou?' – ela virou-se, calma, e olhou-o nos olhos para inquirir – 'Tenho certeza que não lhe faltaram pretendentes.'

Aquela era uma pergunta difícil de se responder. Por que não? Nem ele ao certo sabia. Na verdade, o loiro sabia, mas também não queria admitir. Admitir aquilo era mudar tudo.

Ele não respondeu, então Serena continuou:

'-Foi tempo demais, Malfoy' – ela disse, triste, sentando-se no sofá novamente – ', eu não te conheço mais e nem você a mim. Nós não somos mais adolescentes em Hogwarts.'

'-E você não está disposta a tentar, não é mesmo? Talvez você não tenha mudado tanto, Serena Snape. Eu estou disposto a te conhecer como adulta.' – ele fitou-a e jogou-se no outro sofá, encarando perigosamente a lareira.

'Isso não daria certo, Malfoy. Vá por mim' – ela suspirou, cutucando o copo em sua mão – 'Nós passamos dois anos juntos e sete separados depois.' – balançou a cabeça – 'Não tem como isso dar certo.'

Draco estava bravo com aquilo tudo. Não achava que Serena estivesse mesmo certa. E não gostava dessa versão adulta dela que pensava demais.

'-Você me amou uma vez. Por que não poderia acontecer de novo?' –ele inquiriu num brado.

'-Foi um amor de adolescente, muito diferente de tudo o que o amor representa para mim hoje. Eu não podia te amar naquela época, Malfoy.' – ela falou tudo encarando a parede à sua frente, desviando às vezes para olhar o loiro, que fitava o copo em suas mãos – 'Eu não sabia metade de quem eu era. Eu estava pela metade. Aconteceram mais coisas nesses anos do que você pode imaginar.'

'-E agora, como você está?' – ele perguntou, desta vez calmo, surpreendendo-a com a pergunta – 'Achou os pedaços que faltavam?'

Serena afundou no sofá e limitou-se a assentir.

Decidido, puxou-a para um beijo. Serena assustou-se, mas correspondeu. Sete anos sem sentir aquelas borboletas no estômago. Começou voraz, necessitado, as línguas desesperadas, clamando pela boca do outro. Mas acabou singelo, e o coração de Serena batia num ritmo mais rápido do que ela gostaria no fim.

'-Você sentiu isso?' – ele disse, gesticulando – 'Pelas barbas de Merlin, Snape, eu tenho certeza que sentiu. Você deve ter percebido, como eu tive o desprazer de constatar, que isso não acontece com mais ninguém. Com todas as outras foi diferente.'

Ela concordou silenciosamente. Confusa de verdade pela primeira vez naqueles anos; não queria admitir nada daquilo.

'-Se os pedaços estão devidamente unidos, acho que podemos começar direito desta vez.' – ele sussurrou bem próximo ao ouvido dela, causando-lhe arrepios.

'-Draco, não é só sobre isso... Eu estou completa, mas mais complicada do que nunca. E, ao contrário do que você possa pensar, eu não sou apenas aquela garota de Hogwarts.' – ela engoliu em seco e continuou,mais adulta do que nunca – 'Eu sou a criança que foi abandonada num orfanato quando bebê, órfã de mãe. Sou a adolescente que cresceu revoltada num minúsculo quarto do subúrbio de Londres. Eu sou a garota que conheceu o pai com quinze anos, e odiou-o antes de tudo. A garota que, mesmo depois de tudo, não conhecia a própria história. Sou a garota que lutou na Segunda Guerra Bruxa, que ganhou cicatrizes horrendas tentando salvar o pai, que foi torturada na batalha de Hogwarts.' – Serena fixou os olhos azuis nele e continuou– 'Eu sou a mulher que foi treinada na França, e a Auror que trabalhou duramente para conseguir promoções e medalhas, que enfrentou criminosos que cometeram atrocidades que você não consegue nem imaginar. Eu sou tudo isso, Malfoy.' – ela suspirou.

'-Serena, isso não tem importanc...' – o homem começou, e foi rapidamente interrompido.

'-Tem importância, Draco, porque, se algum dia você escolher gostar de mim novamente, tem que me conhecer. Não somos mais adolescentes e você não pode mais fingir que eu sou uma simples sonserina com hormônios exaltados. Nunca fui.'

'-E se eu escolher gostar?' – Draco fitou-a com intensidade, fisicamente longe dela, mas quase sentindo seu calor.

'-Terá que me conhecer.' – ela sussurrou – 'Inteira, desta vez.'

Ele aproximou-se e sentou no mesmo sofá que ela. '-Você me disse que um dia eu saberia sua história, durante a formatura. Talvez este dia tenha chego, Serena.'

Ela suspirou e ponderou, passou a mão pelos cabelos, bagunçando-os ainda mais. Serena chamou uma taça limpa e serviu-se de vinho, completando o copo de Malfoy com firewhisky. Acomodou-se novamente no chão, sentada no tapete felpudo e recostada ao sofá. O homem permanecera no sofá e esperava que ela começasse.

Serena contou sobre os sonhos de criança e a época do orfanato. Em como sonhava em ter pais, e que nunca fora adotada. Contou sobre as decepções quando a idade foi aumentando; sobre como odiou os pais por anos a fio por terem abandonado-a.

Falou sobre a adolescência conturbada e o desejo de ser rebelde. Contou mais sobre o primeiro namorado. Descreveu a emoção de receber, finalmente, a Carta Bruxa, e a decepção de todos os anos anteriores.

Contou sobre como descobrira, tragicamente, que Snape era seu pai. Contou sobre o ódio mútuo inicial. Contou também a história de Alexia, dos infortúnios da família Spring, da morte prematura da mãe. Acrescentou algumas histórias dos pais como o casal que ninguém imaginaria.

Com certo pesar, contou como descobrira que Snape gostava dela como filha e não a repudiava como ela mesmo pensava. Contou sobre Elena Summers, e como descobrira que ela e Eliza eram primas.

Narrou como foi triste aquele inverno sem a prima, como fora a briga. Contou como Severo ajudou-as a retomar o antigo laço de amizade. Contou, também, que fora ela quem sugerira à Dumbledore que Draco se tornasse um espião e contou sobre o que Severo achara daquilo na época.

Contou como temia por ele e pelo pai na Guerra, e em como nada mais importava para ela naquele momento a não ser a aniquilação de Voldemort. Contou como Potter a tinha ajudado de inúmeras maneiras, e como Granger ajudara-a com a Poção de Ressurreição para Severo. Revelou, finalmente, a grande importância daquela guerra para ela: vingança pela mãe, pelo pai, pela família que eles poderiam ter sido.

Contou sobre a tortura e sobre o medo de ser a filha perdida do mais leal Comensal da Morte – que na realidade era um espião. Contou sobre o alívio do fim da guerra, e sobre conversas entre ela e o pai que Draco não podia nem sequer imaginar.

Descreveu a Mansão de Oxfordshire e a emoção de finalmente conhecer a família. Contou sobre como Severo agiu naquele dia e o que tinham discutido a respeito disso.

Finalmente, contou sobre a decisão de tornar-se Auror – como fizera isso motivada pela morte precoce da mãe. Contou sobre os meses de pesquisa, sobre o formulário que preenchera para ser aceita no treinamento na França, e sobre a carta de recomendação dirigida pela própria McGonagall, que sentia-se em déficit com a garota.

Contou o porquê daquilo. Contou a história das cartas desviadas.

Para finalizar, contou sobre os anos de treinamento árduo, as missões, as experiências de quase morte. Contou sobre a amizade com a família de Potter, sobre a falta imensa que sentia de Eliza.

Contou alguns sonhos reveladores sobre Alexia, e como ela lhe pedia para ajudar o pai a arrumar uma companheira. Disse, novamente, o quanto estava feliz por Narcisa estar morando em Hampshire.

Toda sua vida foi descrita em detalhes naquela sala, naquela noite. Draco sorriu no fim de tudo, um sorriso tranqüilo que ele mesmo sabia ser raro em seu rosto. Acariciou o pescoço e os cabelos de Serena quando ela terminou de falar, a voz ligeiramente embargada.

'-Você ainda quer tentar?' – ela balançou a cabeça, descrente e rindo baixo de deboche.

'-Mais do que nunca.' – Draco segurou a mão pequena e branca da garota, que a puxou um pouco, numa atitude fugitiva.

'-Bem, só faltou lhe contar uma coisa, uma coisa que levou alguns anos para que eu aceitasse ou realmente compreendesse. E eu jurei que nunca lhe diria.' – ela sorriu de leve, respirando fundo como se fosse lhe faltar ar – 'Eu não quis falar com você no baile de formatura porque se você tivesse me pedido para ficar, eu teria ficado.' – Serena Snape abriu os olhos azuis depois de falar, sendo sincera com Draco e consigo mesma – 'E agora você sabe o quanto ir era importante para mim.' – acrescentou, correndo os dedos por entre os fios espessos do tapete.

Ele sorriu.

'-E eu teria pedido.'

'-Eu sei que sim.'

'-Mas então talvez nada fosse como é hoje' – Malfoy acrescentou, sabiamente – 'E eu gosto de quem nos tornamos. Nós dois.' – enfatizou, a boca repuxando um dos lados num meio sorriso.

'-Também prefiro assim.'

'-Gosto de você inteira, resolvida, sem pendências. E gosto de mim controlando minha própria vida, meu trabalho e minha casa como todo Malfoy deve fazer.'

'-Talvez esses sete anos fossem necessários, Loiro.' – ela disse para o tapete e sentiu mãos firmes apertarem seu ombro, quase numa massagem.

'-Agora estou certo que sim. Eu nunca pensei isso, mas talvez eu também precisasse descobrir quem eu era e o que realmente queria.'

Começou com um beijo de reconciliação, e no instante seguinte estavam na pomposa cama king-size de Serena. Não foi como um reencontro, com angústias e choros. Foi como um recomeço.

Eles tinham mudado e estavam se descobrindo; como se fosse a primeira vez.

Afinal, agora eles sabiam exatamente onde queriam chegar e como. Sabiam suas preferências e compreendiam os segredos um do outro.

Tudo isso fizera os sete anos valerem à pena.

Não foram anos perdidos separados. Os dois, ao final da noite, compreendiam bem isso.

Foram anos necessários para que eles ficassem juntos.

~"~

Alexandra Spring e Severo Snape tiveram uma discussão bem parecida, há mais de quarenta anos, quando se reencontraram ao lecionarem juntos em Hogwarts. Porém, diferentemente do casal mais jovem, quem tentara convencer Severo durante a noite toda fora Alexia.

Mas a situação era a mesma da filha.

E Serena, apesar de tudo, também tinha se aventurado pelos caminhos do amor, os mesmos que Alexandra seguira quando jovem.

E ela descobrira que não era imune a esse vírus, como imaginava. O amor contaminava a todos em algum momento da vida. Mesmo aos que achavam não o merecer, como Severo, mesmo aos que não acreditavam nele, como Serena, mesmo aos que amavam pessoas erradas, como Alexia, e mesmo aos que acreditavam que não passariam a vida toda com uma pessoa só, como Draco.

Mesmo que não admitissem, o amor mudara o rumo das vidas deles, de uma forma, ou de outra.


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Notas finais do capítulo

Xente, um final bem tchutchuco pra vocês! hahahahaha O que acharam? Eu quero saber, por favor!

Vamos lá, vamos lá: considerações... Existe um BÔNUS lindo na fic original hahah (é o maior capítulo da fic, ops!) e a titia aqui quer saber se vocês teriam interesse em lê-lo. Caso não tenham, eu pulo para o EPÍLOGO e fica tudo bem. Vocês entenderão perfeitamente, só que com menos detalhes.

O epílogo é certeza. Assim como o prólogo ele faz parte da fic.

É isso.

Beijocas, L.