Loves Ways escrita por lollyb


Capítulo 25
Reviravolta


Notas iniciais do capítulo

Espero que vocês estejam gostando, pessoal... Esse cap. é um dos queridos, rs.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/314710/chapter/25

Elizabeth Duncan nunca esteve mais perdida durante sua vida toda. Era tão duro evitar Serena mesmo estando incrivelmente brava com ela! Eliza também nunca sentira tanta raiva de alguém como agora sentia de Serena, a raiva que vinha da traição. E, naqueles dias frios, podia simplesmente ignorar a presença da morena na neve, do mesmo modo como vinha ignorando Blaise Zabini.

Janeiro chegara logo e, tão logo quanto chegara, já se fora. Serena agora fugia dos Carrow, andando pé ante pé até o Salão Comunal para não ser pega. Nem Madame Nora tinha o faro daqueles dois idiotas.

Já passara imensamente do toque de recolher e a garota ficara rondando pelo castelo. Tentou a Sala Precisa, mas havia alguém lá dentro e a porta não se abriu. Mais tarde Serena descobriria que a sala estava sendo usada pelos membros remanescentes da AD – a Armada de Dumbledore. Depois de muito perambular resolveu fazer uma visita ao pai, que esperava os comensais no escritório e mandou-a dormir.

E ali estava Serena, tentando chegar às masmorras sem ser vista. Apertou mais a capa preta contra o corpo quando ouviu passos se aproximando. Xingou mentalmente em todos os idiomas que conhecia.

Putain de vie, disse num sussurro quando uma orla de comensais passou por ela indo, justamente, para o escritório do Diretor Snape.

Soltou a respiração que prendia quando o último passou. Por que mesmo todas as coisas tinham que acontecer com ela? Perguntou-se.

Mas, por fim, seguiu seu caminho cuidadoso até o Salão Comunal. Não que fosse dormir realmente, mas um lugar ao fogo seria uma maravilha para quem perambulara pelos corredores frios do castelo.

A masmorra era ainda mais fria, quase tão fria quanto o vento que cortava o ar nos jardins. Serena então aumentou o ritmo do passo e entrou no Salão. Sim,estava confortavelmente quente e as luzinhas verdes e redondas traziam um ar familiar.

O Salão Comunal não abrigava muita gente, na verdade não somavam nem uma dúzia os estudantes que ainda não estavam na cama. Serena caminhou calmamente até uma lareira parcialmente acesa, ajoelhou-se então para pegar um atiçador e reavivar o fogo dormente.

Quando a lenha estalou e pequenas fagulhas alaranjadas voaram, ela se deu por satisfeita. Limpou as mãos na saia do uniforme e levantou-se. Serena deu um passo para trás ao ser surpreendida.

~"~

Draco Malfoy revirava na cama há mais de uma hora. Nunca teve o sono muito pesado, mas aquela insônia estava se tornando extrema e irritantemente comum. Blaise roncava alto na cama vizinha e, cansado, levantou-se, vestindo o robe verde escuro em seguida. Não esqueceu de jogar um travesseiro com força na cara do amigo, que engasgou e se atrapalhou dormindo.

Tudo o que precisava era um café bem quente, mas não encontraria a bebida naquela hora. Abriu o baú ao pé de sua cama e revirou-o até encontrar uma garrafa com líquido avermelhado no interior. Sacudiu-a na escuridão. Tinha mais da metade.

Conjurou um copo quadrado e colocou um pouco da bebida. Só um pouco, ele pensou, porque firewhisky nessas horas não costumava ser uma boa pedida. O líquido desceu queimando e Draco fez uma careta, balançando a cabeça depois.

Voltou para a cama. Mexeu, virou, cobriu e descobriu, mas nada fazia o sono chegar.

Graças a Merlin o dia seguinte era sábado.

Aquele quarto estava muito frio, decidiu ele. Mas onde estavam os elfos domésticos quando se precisava deles? Na Mansão Malfoy era necessário apenas estalar os dedos e um aparecia... Pensou, mimado.

Seus pés pálidos estavam incrivelmente gelados sob as meias, teria de dar um jeito de aquecê-los antes que pudesse pegar no sono. Maldito inverno escocês!

Foi, contra sua vontade, para o Salão Comunal. Lá deveria haver algum elfo que pudesse reavivar o fogo da lareira ou alguma lareira acesa. Estava de chinelos de dormir, meias, pijama e um robe pesado por cima de tudo com os braços cruzados no peito, o cabelo loiro rebelde.

Sentou numa poltrona aconchegante na frente da única lareira realmente acesa. Os pés esquentaram rápido, mas havia algo mais. Não era o frio que não o estava deixando dormir. Afundado na maciez da poltrona, viu uma cabeleira preta e lisa passar por ele.

Depois sumiu.

Levantou-se, curioso, e viu Serena Snape tentando reavivar o fogo da lareira. O coração é mesmo bobo, porque Draco pensou que aquela era a cena mais sexy que já vira. Porém, Serena estava apenas querendo acender o fogo.

Ela mordeu o lábio inferior quando o atiçador fez um barulho estranho e se curvou ligeiramente para ver dentro da lareira. Afastou com destreza os cabelos do rosto e pegou novamente o atiçador.

Quase parecia que ela o estava provocando.

Talvez, Draco pensaria alguns anos depois, fosse por aquele simples gesto que ele decidira que Serena era a mulher de sua vida¹. Não que ele já não gostasse bastante dela, mas ali, naquele momento, algo se acendeu dentro dele e ele teve a certeza.

O amor nascia de gestos simples que encantavam. Talvez tivesse realmente se apaixonado por como aquele ato representava a auto-suficiência de Serena, o modo dela de não precisar de ninguém, totalmente diferente dele próprio. Ela continuava sendo, apesar de tudo, um mistério.

Serena nunca ficou sabendo de como exatamente teve o coração de Draco. Imaginava que tinha sido em algum lugar entre o quinto ano e a guerra, mas não tinha nem idéia do momento. E fora justamente ali, atiçando a lareira.

Aquilo Draco fez se inclinar na poltrona e fazer o que achou próprio naquele momento: levantou-se vagarosamente e foi ao encontro dela.

Quando o rapaz aproximou-se da lareira, Serena acabara de levantar, limpando as mãos na saia do uniforme, como uma menina sapeca. Ela virou-se, em direção ao sofá mais próximo do fogo e quase deu de encontro com o loiro.

Serena deu dois passos para trás, quase tropeçando no atiçador que deixara no chão. A fúria que sentia ao fitar aquele par de olhos cinzas veio com toda força.

Draco não falou, ao contrário do que a garota – e ele mesmo – esperavam. Ele apenas mirou-a de cima à baixo, abriu e fechou a boca algumas vezes e saiu, deixando Serena mais confusa do que já estava. O que raios fora aquilo?

Ela balançou a cabeça e decidiu deixar Malfoy para trás. E também o fogo que lhe dera trabalho para acender. Foi para o dormitório e dormiu com um ponto de interrogação tomando conta de sua mente.

~"~

Terça feira começou mais quente que qualquer outro dia desde que o inverno começara. Serena saíra atrapalhada – e atrasada – do dormitório e não pôde nem ao menos parar para o café da manhã. Tinha que chegar logo na sala do professor Slughorn.

A garota chegara esbaforida e com a mochila caindo dos ombros na sala de Poções, escusando-se com o professor e sentando-se na bancada costumeira: com Eliza Duncan.

Ambas fingiram não notar a presença vizinha e resolveram apenas abrir o livro na página indicada. Serena correu os olhos pela poção que deveriam entregar na aula, era deveras simples e já tinha lido sobre ela num livro que Snape lhe dera.

'-Pode deixar. Eu faço.' – Serena disse quando Eliza franziu o cenho e pegou uma raiz, tentando entender como deveria cortá-la.

Se o preparo era rápido seguindo a lista normal de ingredientes, com o preparado de Serena a Poção ficou pronta em questão de poucos minutos.

'-Está pronta.' – Serena empurrou o caldeirão para Elizabeth analisar.

'-Impossível' – retrucou Eliza, relendo a página

'-Veja' – ela insistiu, repousando o caldeirão na frente da loira.

'-Que truque você usou desta vez, Snape?' – Eliza provocou num tom que Serena jamais imaginaria ouvir da prima – 'Você já tinha esta poção no bolso, por acaso? Isto também é uma fraude?'

'-Eliza!' – Serena pediu, indignada – 'Você acabou de me ver fazendo a Poção!'

'-Eu também achava que via muita coisa antes. Pois é, mas aprendi a não confiar em tudo que vejo.' – ela disse, com desprezo, inclinando-se para a poção sem ao menos olhar para Serena.

'-Merlin, você não pode me acusar por tudo!' – ela bradou, atraindo a atenção de Slughorn e dos outros sonserinos – 'Você acha que eu teria feito isso se não fosse necessário? Mas não desconte na minha Poção! Ela está perfeita!' – o professor agora tentava apartar a discussão acalorada, porém sem êxito.

'-Você é mesmo igualzinha ao seu...' – ela começou, com raiva, descontrolada.

'-Pelo amor de Merlin' – Serena estava nervosa e pediu baixinho.

Slughorn segurava Eliza pelos punhos e Blaise segurava Serena pelos ombros, tentando acalmá-la.

Eliza parou frente ao pedido sutil da prima. Apesar de tudo não podia fazer aquilo. Ela acalmou-se e soltou-se delicadamente do professor; ficou envergonhada ao ver que os alunos se agrupavam em volta delas para ver o que estava havendo.

'-Perdoe-nos, professor.' – ela pediu.

Zabini tinha soltado os ombros de Serena, mas ainda estava lá, ao lado da garota, tentando tranqüilizá-la.

'-Me desculpe, Srta. Duncan, mas serei obrigado a deixá-las em detenção. Isso é inadmissível em aula e as senhoritas sabem bem.'

'-Só não desconte os pontos' – Serena pediu, séria, apontando para a Poção – 'Nós terminamos e garanto que está como o senhor queria.'

Slughorn inspecionou a cor da Poção calmamente e cheirou-a.

'-Hum, está... Perfeita! Vocês foram realmente rápidas. Talvez eu não precise descontar aqueles pontos, não é mesmo?' – ele deu um sorriso bigodudo para Serena – 'E a propósito...' – ele puxou a garota para um canto – 'Vou dar um jantar no sábado... Você não quer comparecer?'

Serena dispensou calmamente e ela e Eliza foram levadas para fora da sala pelo professor. Elizabeth tremia com medo das tão famosas detenções agora aplicadas e seus olhos verdes estavam marejados.

'-Vão para o escritório do Diretor.' – comunicou ele – 'Já ouvi falar das detenções dos Carrow e talvez até ele seja mais aceitável.' – disse mais para a loira do que para Serena.

~"~

'-Diretor?' – Serena perguntou, já entrando no conhecido escritório do pai.

'-Entrem.' – Snape disse, ameaçador como sempre, fazendo Eliza tremer ao passar pela porta – 'Já recebi uma coruja do professor Slughorn contando sobre o acontecido. Vocês são o que, afinal? Bruxas ou trouxas idiotas? Vou precisar mandar investigar o registro sanguíneo da família de vocês?'

'-Não, Diretor.' – Eliza disse, os olhos verdes arregalados de pânico, e baixou a cabeça em seguida.

Serena nada disse, apenas arqueou uma sobrancelha para ele.

'-Não sei o que as senhoritas esperavam ganhar com essa pequena demonstração da estupidez humana na aula senão uma detenção.'

'-Os Carrow não, os Carrow não.' – Eliza disse baixinho, mais para ela do que para o diretor, e uma lágrima ameaçava escapar dos olhos fechados.

'-O que a senhorita disse?' – Snape perguntou, encarando-a de forma que Eliza tremeu toda e deixou a lágrima escapar antes de poder responder.

'-Nada, professor Snape.' – ela baixou novamente os olhos, pensando no que viria a seguir.

'-Minha sala, oito horas.' – o diretor disse para alívio de Elizabeth, já de pé e virando de costas para as duas – 'Não tolero atrasos.'

~"~

Serena caminhava tranquilamente pelos corredores deixando a masmorra rumo à aula de Herbologia, Eliza ia ao seu lado, todavia quieta, e ainda tremia, apreensiva.

'-Como você pode estar tão sossegada depois disso?' – Eliza perguntou, não conseguindo se conter, apontando para trás, para as masmorras.

A morena pensou e deu de ombros. '-Tenho coisas mais importantes com que me preocupar. Isso não foi nada.'

'-Isso não foi nada? Como não? Temos uma detenção! Com o Snape! É o Snape, Serena!' – ela disse, afoita, com uma repentina familiaridade na voz – 'Ah, eu me esqueci' – a voz da loira se tornou ácida outra vez – ', você agora gosta dele.'

Serena rolou os olhos '-Não é como se eu nunca tivesse ficado em detenção com ele.'

Eliza não disse mais nada, apenas encarou a morena friamente e voltou a caminhar como se a vizinha não existisse.

Oito horas em ponto, Elizabeth Duncan bateu à porta do escritório do professor Snape. As mãos pequenas e brancas cobertas por finas luvas brancas roçaram delicadamente a maçaneta ao ouvir um 'entre'.

Já esperava ver Serena lá, mas a morena ainda não chegara. Viu Snape conferir o relógio em aprovação para ela. Ele olhou a cadeira vazia e franziu o cenho. Eliza decidiu naquele momento que ver Snape franzir o cenho era a coisa que ela mais odiava no mundo. Aquele simples ato fazia sua espinha gelar.

Quinze minutos depois, um Snape bravo caminhou de sua cadeira até uma porta lateral camuflada que Eliza não fazia idéia do que era e deu de cara com Serena Snape nos degraus com uma xícara de chá na mão.

Ele fuzilou-a com o olhar.

'-Você está atrasada.'

'-Só estou terminando o chá.' – ela disse, batendo a porta atrás de si e virando mais um gole da bebida.

Snape olhou feio para ela, mas prosseguiu.

'-Como detenção, senhoritas, vocês terão que preparar trinta frascos desta Poção para mim em uma hora, e nada menos do que isso.' – Eliza arregalou os olhos verdes. Aquilo era impossível. – 'Quinze para cada uma...' – Serena interrompeu, fazendo barulho ao terminar o chá.

Ela deu um sorriso amarelo e depositou a xícara sem cerimônias na mesa do pai.

'-Já acabou com o chá, Serena?' – Snape perguntou, mais uma vez olhando feio para ela e chacoalhando a cabeça.

Elizabeth ficou estupefata. Snape estivera repreendendo Serena, sim, mas aquele tom que usava com ela e aquele olhar eram conhecidos. Era o mesmo modo com que seu pai lhe dava broncas, quase cedendo a ela.

'-E terão de fazer isso juntas' – Snape retomou –'já que parece que vocês não estavam se entendendo perfeitamente na aula, como duas bruxas que são. Sem brigas, discussões ou qualquer coisa do tipo ou serei obrigado a deixá-las à mercê dos Carrow. A Poção que deverá ser feita é a Revigorante, já praticada em aula.'

Eliza apenas acenou afirmativamente. Porém, não fazia a mínima idéia de como deveria fazer a tal poção.

Serena avaliou os ingredientes em uma pequena bancada que Snape conjurara e entendeu tudo quando avistou o frasco com chifre de arpéu. Ele queria que ela fizesse ao modo dela, e ensinasse à Eliza.

'-Srta. Duncan, Serena. Ao trabalho.' – ele disse, sério – 'Daqui a exatamente uma hora estarei aqui novamente, avaliando os resultados.'

E desapareceu pela mesma porta que Serena havia entrado.

Eliza leu a lista de ingredientes e o modo de preparo e releu diversas vezes. Serena já enchia o sexto frasco quando Eliza começou a picar os ingredientes seguindo as instruções.

Quando a poção da loira tomou um tom amarronzado, ela espiou a de Serena, tomando a cor perfeita. Já era o segundo caldeirão de poção que ela preparava e logo começou a encher os outros frascos.

Serena ia colocava a rolha no seu último frasco quando ouviu Eliza empurrar seu caldeirão e murmurar um 'eu não consigo'.

'-Eu vou anotar os ingredientes certos para você' – Serena pegou o pergaminho e rabiscou, mudando ingredientes, quantidades e o número de voltas a serem dadas a cada cinco minutos.

'-Você é excelente em Poções como ele.' – Eliza disse baixo, considerando enquanto a morena escrevia – 'Eu não deveria ter duvidado de você na aula. Me perdoe.'

Serena apenas assentiu, entregando o pergaminho para a prima.

'-Isso é tão difícil de digerir' – Eliza disse, mexendo o caldeirão enquanto Serena apenas balançava os pés, o trabalho terminado – 'Você e Snape.' – ela acenou com a cabeça para a porta, franzindo a testa.

Serena deu de ombros '-É assim que as coisas são. E, sobre isso, eu realmente não podia contar.'

'-Eu sei' – Eliza disse apenas, fitando o líquido que despejava nos frascos – 'Eu acho que entendo, agora. O que dói mais é sobre Alexia. Você podia ter me contado.'

'-Ele é meu pai, Eliza, não há nada que eu possa fazer.' – Serena respirou fundo –'Eu não podia, isso ainda pode arriscar tudo. Por que você acha que o casamento deles foi mantido em segredo? Que nem sua avó ou bisavó sabiam quem era o marido e pai do bebê dela? Era, e ainda é, muito perigoso, Eliza! Você não faz idéia do que é estar no meio de Comensais.'

'-Não, eu não faço! Mas eu sei o que é estar rodeada de mentiras, porque nem a história da minha família eu sei. Você tem noção de quanto isso dói? Minha mãe e avó nunca me contaram tudo.'

'-Eu tenho noção, Eliza, porque, afora Snape, eu continuo nem tendo família.' – Serena disse e Eliza estacou, acalmando a discussão.

'-Eu só precisei de um tempo, Serena, pra digerir tudo aquilo, para pensar. Foi muita coisa de uma vez.' – a loira finalmente admitiu – 'Você tem à mim, à minha mãe, com certeza...Você tem uma família, Serena, quando eles souberem ficarão tão felizes...'

Serena escutou calmamente as palavras de Eliza, tentando entender o que elas significavam.

'-Talvez eles nunca saibam, Eliza.' – Serena disse, com pesar – 'Não podemos saber o que acontecerá comigo, com meu pai ou com o mundo bruxo depois dessa guerra.'

'-Não, Serena, você virá comigo para Paris e tudo estará resolvido.'

'-Eliza, eu também sou a única família de Severo, eu não posso deixá-lo. Sei que você não gosta dele, como os outros alunos, mas ele é meu pai e isso muda tudo.'

Elizabeth suspirou, tentando achar uma solução.

'-E eu preciso lutar. Você-Sabe-Quem destruiu qualquer possibilidade de eu ter uma família quando eu nasci, eu preciso fazer isso. Se não fosse por ele, talvez eu tivesse tido uma vida normal, e talvez minha mãe estivesse viva, aqui comigo e meu pai.'

Eliza admirou a determinação nos olhos de Serena, em fazer ela mesma a justiça e desejou ter aquela mesma coragem.

'-Eu fui injusta com você... Essas coisas não estavam no seu controle e, se eu tivesse mesmo que saber, minha mãe me diria.'

'-Eliza, você não sabe como foi difícil descobrir todas essas coisas e não contar para você. Eu odeio mentiras, mas a minha vida é feita delas. São coincidências demais.' – Serena disse – 'Descobrir que Snape era meu pai foi um baque enorme e até hoje estamos tentando nos acostumar com isso; depois sua mãe me contou sobre a família de minha mãe – sua família, Eliza – e as coisas saíram do controle. Tudo também aconteceu ao mesmo tempo para mim.'

'-Eu andei pensando, e não consigo imaginar como deve ser difícil. Você é minha melhor amiga, Serena, e eu nunca me conformei de você não contar nada para mim! Mas acho que esse é seu jeito mesmo e não vai mudar. Eu fiquei brava de não poder saber de tudo isso, de tudo ter acontecido escondido de mim. Não foi exatamente com você.'

'-Obrigada por não ter falado sobre Snape ontem na aula do Slughorn.' – Serena sorriu torto, tristemente. Ainda estava apreensiva como rumo que aquela conversa tomaria – 'E, Eliza, eu queria do fundo do meu coração ter contado tudo à você. Mas você sabe que os Comensais e Você-Sabe-Quem estão envolvidos nisso. Esse segredo ainda pode custar a minha vida.'

'-Eu não poderia. Eu estava brava com você, magoada com tudo isso, mas eu nunca diria.' – Elizabeth se prontificou e os olhos verdes mostravam a simpatia de outrora – 'Você é mais que minha melhor amiga, Serena, você é minha prima e eu ainda quero ouvir tudo o que você puder me contar sobre a sua história.' – Eliza disse com os olhos lacrimejados

'-Obrigada, Eliza, obrigada. Acho que posso lhe contar boa parte dos detalhes, agora que você já sabe de tudo.'

Eliza deixou a concha com que estivera enchendo os frascos de lado e saltou delicadamente da banqueta. Foi para perto da prima e a abraçou.

'-Eu estou aqui, Serena, e você vai poder sempre contar comigo mesmo para as coisas que não pode me contar. Me perdoe por ter tornado as coisas mais difíceis.'

Serena retribuiu o abraço, feliz até o âmago. Estava contente por poder finalmente partilhar sua vida com a prima.

'-Depois eu quero ouvir tudo sobre Malfoy.' – Eliza cochichou no ouvido de Serena, soltando uma risadinha depois.

'-Obrigada, Loira, obrigada!'

'-Eu perdi seu aniversário' – Eliza comentou tristemente, relembrando – 'Você já é adulta e nós não comemoramos.'

'-Não se preocupe. Ninguém está no clima de comemorações. A única coisa importante é que agora já posso aparatar.' – Serena deu de ombros, terminando de encher os frascos faltantes de Eliza.

Nove e meia, em ponto, Snape apareceu vindo da porta camuflada.

'-Presumo que o trabalho esteja encerrado. Senhoritas?'

'-Aqui está, professor Snape.' – Serena disse, mostrando teatralmente os frascos, tão feliz quanto podia estar.

Eliza soltou uma risadinha e, ao receber um olhar gelado do professor Snape, colocou as mãos enluvadas na boca.

Ele analisou cada frasco, carrancudo. Serena sabia que aquilo tudo era encenação, apesar de Hogwarts realmente precisar de estoque extra de Poção revigorante.

'-Podem sair.' – ele deu um olhar afirmativo para os frascos, ainda que carrancudo, e foi em direção à porta que as levava de volta aos corredores das masmorras.

Eliza se virou e murmurou um 'boa noite' tímido para o Diretor; Serena não a acompanhou.

'-Você não vem?' – Eliza perguntou à ela, e lançou um olhar de esguelha para Snape.

'-Pode ir indo. Vou ficar mais um pouco.' – Serena disse apenas e Eliza podia jurar que viu o canto dos lábios de Snape formar um sorrisinho.

A loira acenou afirmativamente, confusa, e saiu. Quando virou-se parar acenar para a amiga, viu o professor e Serena de costas e um braço protetor conduzia a garota para dentro enquanto o outro fechava a porta.

O maxilar de Eliza caiu mais um pouco.

~"~

'-Obrigada, pai' – Serena disse, adentrando os aposentos de Severo.

'-Pelo que?' – ele franziu o cenho – 'Foi você quem fez tudo.'

'-Eu sei que isso não foi uma detenção de verdade.' – Serena estreitou os olhos para ele, rindo – 'E espero poder contar à Eliza algum dia, ela estava inconsolável.'

'-Eu precisava daquelas Poções.' – ele contra-argumentou.

'-Mas você mesmo poderia ter feito-as sem esforço algum. Ou eu. Até mesmo Slughron.'

Snape revirou os olhos para ela e sorriu fino depois.

'-Obrigada.' – Serena disse novamente, plenamente feliz com o sorriso de Alexia iluminando todo seu rosto. Ele fez uma careta, ameaçando retrucar – 'Ei, será que você pode aceitar um agradecimento? Só pra variar?' – ela interrompeu antes mesmo que ele abrisse a boca.

'-Faço a mesma pergunta para você, Srta. Snape.'

'-Isso não vale.' – ela bufou, e cruzou os braços.

'-De nada, Srta. Snape, de nada. É isso que você queria ouvir?' – ele disse, entrando na brincadeira.

'-Sim, pai. Perfeito.' – ela deu um sorrisinho vitorioso.

Aquela era Serena Spring Snape, a garota que ele esperava ter visto em Serena quando reencontrou-a, quinze anos depois de tê-la abandonado. Era a mistura perfeita dele e de Alexia e agora Severo já não se irritava com as inúmeras características herdadas dele. Ela era uma Snape, afinal.

Foi necessário quase dois anos para que Severo entendesse.

~"~

Era quase meia noite quando Serena voltou ao dormitório e encontrou Eliza ainda acordada.

'-Você ainda precisa me contar bastante coisa.' – Eliza resmungou, com as mãos na cintura.

'-Não aqui.' – Serena puxou-a escada abaixo até o frio Salão Comunal, agora sem nenhuma lareira acesa.

'-Primeiro: Malfoy.' – Eliza disse, autoritária e Serena teve um vislumbre de como deveria ser Elena brava – 'Desde quando? Como?'

'-Antes daquele Baile de Inverno.' – Serena respondeu, nada empolgada.

'-Mas isso faz...Faz tempo Serena. Vocês estão juntos há mais de um ano e eu não sabia?'

'-Não estamos mais juntos.' – Serena concluiu, séria, e continuou antes que Eliza perguntasse o porquê – 'Calma, isso fica para depois. Você não quer ouvir tudo?'

'-Merlin, sim, eu quero. Mas como vocês conseguiram esconder isso por tanto tempo?'

'-Eu e Draco meio que nos beijávamos por aí de vez em quando, quando dava vontade, antes do Baile.' – Serena começou e Eliza ouvia atentamente – 'Brigamos várias vezes, mas não no dia do Baile, como você pensou. Tinham chamado-o na floresta e eu não queria que ele fosse, estava preocupada.'

'-Por Salazar, Serena!' – Eliza estava boquiaberta – 'E eu jurando que rolava um clima entre você e Harry.' – a loira pensou um pouco, franzindo a testa depois – 'Mas, naquele dia, os boatos é que os Comensais estavam no castelo, na floresta.'

'-Sim, eles estavam.' – Serena afirmou apenas.

'-Então quer dizer que Malfoy...'

'-Sim.' – Serena respondeu, séria, relembrando de como ele viera até ela depois da iniciação, desesperado como uma criança pequena, e de como tinham passado por aquilo juntos.

'-Merlin' – a cor sumiu do rosto de Eliza – 'Como ainda permitem que ele fique em Hogwarts?'

'-Esqueceu que há Comensais aqui?' – Serena lembrou-a – 'Draco é afilhado do meu pai, e brigamos muito durante o feriado de Natal do ano retrasado. Até finalmente nos entendermos e começarmos a namorar, mas escondido.'

Elizabeth franziu o cenho – 'Por que?' – perguntou, como a última das românticas que era.

'-Os pais dele são Comensais, Eliza, não é só uma lenda, e, se algum Comensal descobrir, eu e meu pai estamos mortos e não estou sendo hiperbólica.'

'-Blaise sabia, eu tenho certeza.'

'-Sim.' – respondeu somente, notando a pontinha de mágoa que ainda restava em Eliza.

'-E como ele descobriu sobre... sobre seu pai?' – inquiriu, ainda estranhando a idéia de Snape como pai da amiga.

'-Na festa de Ano Novo da Mansão Malfoy' – Eliza arregalou os olhos verdes – 'eu fui disfarçada com Snape e Draco já sabia. Meu pai achou melhor contar a Blaise e fazê-lo jurar não dizer a ninguém.'

'-Faz tempo então. Todo o tempo que estivemos juntos ele sabia de tudo.' – Eliza fungou, triste.

'-Não o culpe por isso, Eliza. Ele não podia dizer. E ele não sabia de tudo, sabia apenas que eu era filha do Snape e vivia insistindo para que eu lhe contasse logo.'

'-Então ele e Malfoy não sabem que somos primas também?' – inquiriu, inocentemente.

'-Agora sabem. Eles estiveram em casa durante o verão e viram a vassoura de Alexia lá. Draco foi quem deduziu certo.'

'-Você está morando com Snape?' – Eliza estava surpresa novamente. Não estava gostando nada daquele jogo de informações.

'-Sim, desde meu primeiro feriado de Natal, mas só fui para casa duas vezes.'

'-Merlin, Morgana, Senhora do Lago!' – ela exclamou – 'Eu simplesmente... Não acredito!'

'-Ele tem uma Mansão em Hampshire, e nem eu acredito ainda.' – ela deu de ombros.

'-Minha mãe sabe disso?' – a loira perguntou de repente.

'-Sim, Eliza, ela sabe. Ela me mandava corujas de vez em quando.'

'-Tudo isso debaixo do meu nariz! Você deveria ser uma auror, inominável, ou algo do tipo, Serena.'

Serena riu sem emoção com aquilo.

'-Ah, Eliza, eu preciso que isso fique em segredo absoluto pelo amor de Merlin.'

'-Nenhuma palavra.' – Elizabeth fechou um zíper imaginário entre os lábios – 'Ah, e por que você e Malfoy terminaram?' – perguntou com sua típica curiosidade quase infantil.

'-Argh' – Serena resmungou, franzindo o cenho, antes de começar a contar – 'Na festa de Halloween, sabe-se lá o motivo, fui procurá-lo nos jardins e ele estava se pegando com a Parkinson.'

Eliza colocou a mão na boca, surpresa '-Parkinson? Como assim? Ele devia pelo menos gostar de você para ficarem juntos todo esse tempo.'

'-Eu achei que gostava, Eliza. Mas ele é um menino mimado idiota, e não passa disso, infelizmente.'

'-Ah, Merlin...' – Eliza murmurou, acenando negativamente – 'Isso é meio estranho, Serena.'

A morena apenas deu de ombros, desistindo da batalha.

'-Ele foi pior do que Blaise...' – a loira comentou, ponderando.

'-Blaise ainda foi corajoso o suficiente para terminar contigo.' – Serena bufou.

Elizabeth abraçou a morena repentinamente, que torceu o nariz, mas não se esquivou.

~"~

'-Então esse era o plano?' – Draco perguntou, zangado – 'E você realmente precisou pensar e planejar para decidir apenas azarar esse corvinal' – Draco apontou com a varinha para eles enquanto falava – 'e Jim Gordon, Blaise! Um sonserino!'

'-O sonserino que estava com Serena em Hogsmeade há duas semanas, e que a espera todos os dias para o café da manhã, como um bom cavalheiro.' – relembrou o moreno, arqueando uma sobrancelha para Draco.

'-Eu sei! Maldição, eu sei!' – o loiro bradou, dando um soco lateral na armadura mais próxima – 'Mas isto não está funcionando, Zabini! Estamos azarando todos os garotos que chamam as duas para sair e não está resultando em porcaria nenhuma! E Serena está furiosa, pelo que sei.'

'-Pelo menos elas se lembram da gente, caro amigo...'- Blaise sorriu, galanteador.

'-Merlin!' – Draco disse, acenando negativamente, quase não acreditando no amigo – 'E pensar que você já foi o garoto mais galinha que esta escola já conheceu. Você deve gostar mesmo da Duncan, por Salazar!'

'-Você quer ou não Serena de volta, Draquinho?' – Blaise inquiriu, cruzando os braços.

'-Quero, Blaise, quero. Mas não assim. Se você a chamava de dragão antes, agora está pior do que nunca...' – o loiro bufou, não vendo solução aparente.

'-Droga, vamos voltar ao dormitório.' – Zabini concluiu, dando de ombros – 'Pelo menos estes não vão nos incomodar tão cedo.' – e chutou de leve o quadril do corvinal.

Draco apenas balançou a cabeça e bufou. Eram tempos difíceis.

A dupla andava calmamente pelo corredor do terceiro andar, como se nada tivesse acontecido naquele início de março, quando duas figuras apareceram, uma vindo na frente, furiosa.

Serena estava a ponto de cuspir fogo e só não bateu em Malfoy ali mesmo no corredor por que Eliza a segurou. A loira estava tão brava quanto, mas controlou-se.

'-Sonserino desgraçado!' – ela gritou, e Malfoy estava alguns passos dela, por segurança.

Serena suspirou por alguns momentos.

'-Me solte, Eliza' – ela urrou, brava – 'Me solte, não vou azarar ninguém. Hoje, não.'

Elizabeth soltou-a, temerosa.

Serena caminhou tranquilamente até Draco, que tinha ambas as sobrancelhas arqueadas, esperando pelo que viria. Ela suspirou quando chegou suficientemente perto e agarrou o colarinho do loiro que evitara por bastante tempo com as duas mãos.

'-O que você pensa estar fazendo, seu idiota miserável?' – falou brava, e a voz ecoou pelos corredores, mas ela parecia calma.

'-Serena, nós precisamos conversar...' – ele murmurou.

Eliza e Blaise olhavam abismados, já esperando o momento em que Serena o azararia.

'-Nós não precisamos conversar sobre absolutamente nada, Malfoy.' – ela rosnou, arqueando uma sobrancelha.

'-Então... Só me escute.' – ele pediu, tentando soltar as mãos finas da garota de seu colarinho.

Serena soltou, mas não disse nada.

'-Você não precisa conversar. Só escutar.' – garantiu Draco.

Serena reuniu a maior paciência e concentração do mundo e se virou gentilmente para Blaise e Eliza.

'-Vocês podem nos dar licença, por favor?' – ela pediu, à La Serena Snape, obviamente, mas ainda assim com o que restava de sua educação.

Zabini foi o primeiro a concordar, e saiu dando tapinhas nas costas de Draco, como um incentivo. Elizabeth relutou um pouco, mas cedeu.

'-Não faça ou fale absolutamente nada que possa machucar Serena' – ela enfiou o indicador pequeno e de luvas brancas no meio do nariz fino de Malfoy – ', ou eu mesma vou te azarar até que esse seu cabelo sem melanina fique rosa.'

Draco ficou surpreso ao ver Eliza Duncan brava daquele jeito, mas depois achou divertido. Reparou em como Blaise olhava para ela e revirou os olhos.

Os dois saíram rapidamente e Malfoy temia a sonserina descontrolada à sua frente. Ela estava tão brava que sua boca era um biquinho azedo e a sobrancelha direita não descansava.

'-Diga, Malfoy. Não tenho todo o tempo do mundo.' – Serena cuspiu as palavras, categórica.

'-Melhor entrarmos em alguma sala. Já tem muitos babacas no corredor.' – ele disse, pomposo e abriu a porta de uma sala vazia aleatória, dando passagem para que Serena entrasse, o que ela fez de má vontade.

Quando fechou a porta, Serena estava recostada ao quadro negro, os braços cruzados sobre o peito, e Malfoy acomodou-se na mesa do professor.

'-Então?' – inquiriu a morena, impaciente.

*¹: Fazendo um parêntese com a ideia do Fabrício Carpinejar... Esses dias li um texto dele muito interessante, falando sobre como as pessoas realmente se apaixonam, qual é aquele momento crucial que os faz querer ficar junto para sempre. Comecei a pensar no Draco e na Serena e resolvi que seria bacana colocar essa parte para vocês.

Eis o texto:

"O QUE NOS FAZ DECIDIR A FICAR COM ALGUÉM

O que nos leva a querer passar a vida inteira com alguém é um mistério.

Você pode fazer a lista infindável do que mais gosta de sua companhia e do que menos gosta, mas nenhuma vai incluir a chave do relacionamento.

É um gesto, uma atitude, uma frase, algo que o toca em particular, que fecha com aquilo que procurava inocentemente desde pequeno.

Meu amigo Felipe se apaixonou pelo jeito que a Fernanda colava o brinco quebrado com bonder, mas ele não desconfia até hoje que foi isso.

Casou com ela depois de vê-la consertando a minúscula jóia debaixo do abajur.

Ele briga, discute, discorda da esposa, porém jamais vai se separar. Essa cena despertou uma necessidade incurável da presença dela.

É o motivo do apego irascível. Existiu um quebranto, uma hipnose afetiva, talvez ele tenha se projetado no brinco (ela tentará me salvar quando me quebrar), talvez tenha se enamorado das suas concentradas mordidas de lábios.

O que posso garantir é que Felipe ficou alucinado de ternura: naquele momento decidiu que ela era a mulher de sua vida. Em seu sangue, gravou o rosto da jovem empenhada em salvar o brinco. Com o piscar das pálpebras, tirou a fotografia fundadora do seu amor, um sudário que preservará seu sentimento toda manhã.

Ele mal sabe que o real motivo de sua emoção está no plastimodelismo da infância. É bem capaz de nunca descobrir. Quando enfrentou catapora aos 10 anos, Felipe suportava sua solidão montando aviões. Grudava as pequenas peças de plástico com cuidado para não borrar a cola e estragar o encaixe. O brinco tornou-se mais um de seus aeroplanos.

Já vi gente que se uniu pelo modo de dobrar o guardanapo, pelo modo de morder uma fruta, pelo modo de gritar de susto, pelo modo de amarrar os cadarços.

Uma observação mínima acorda o inconsciente para sempre.

Quanto maior o amor, mais insignificante a origem.

Aceitaremos o cotidiano a dois sem determinar o porquê. Nossa decisão está baseada apenas na intuição. Um movimento nos ofereceu segurança para seguir em frente e aceitar o relacionamento.

Minha namorada tampouco supõe o começo de sua paixão por mim.

Inacreditavelmente, ela me ama pela forma em que tiro a camiseta. Com ambas as mãos, pelas costas, agarrando o tecido pela gola.

Ela acha o gesto protetor, viril, maiúsculo.

As mulheres se despem pela frente, de baixo para cima, levantando a blusa devagar e ritmado.

Como a maior parte dos homens, sou abrupto. Puxo a camiseta com força, livro-me dela, como um animal arrancando a pele.

Chega a ser cômico. E eu pensava que havia conquistado sua afeição com poemas."

(Fabrício Carpinejar)
Publicado no jornal
Zero Hora
Coluna semanal, p. 2, 15/1/2013
Porto Alegre (RS), Edição N° 17313


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? E do texto do Fabrício? Quero que me contem tudo nas reviews!

Foi bonitinho, não?

Beijo, L.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Loves Ways" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.