Wolverine: Uma História escrita por Tenebris


Capítulo 7
Encontro




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Julia sentiu, por um instante, que a mesa girava. Que o mundo todo girava. Não que passasse pela sua cabeça dizer não. Porque, se fato, ela não seria capaz de recusar um pedido desses. Somente se surpreendia pelo fato de ser qualificada para fazer isso. Ela teria de ter paciência e fé, pois adentraria o mundo obscuro da Irmandade e roubaria as Joias pessoalmente de Magneto!

- Olha, não quero que se sinta pressionada. Vou entender se recusar, afinal, é muito perigoso. Você vai correr riscos enormes. Mas não vejo alguém que seja mais capaz do que você. Simplesmente não vejo! E não posso deixar Magneto com tanto poder assim!

Charles parecia desesperado, desviou os olhos de Julia pela primeira vez e suspirou, cansado.

- Não vou recusar. Só me diga rápido o que tenho que fazer. Não posso mais passar tanto tempo aqui na Mansão, se estou do outro lado, não é mesmo? – Ela respondeu, ironizando. Charles sorriu, feliz que sua nova mutante entraria para o bando de Magneto.

            - Tem certeza? Ainda acho isso desnecessário. – Murmurou Charles, depois de quase duas horas de discussão em seu escritório.

Mas Julia estava determinada. Nesse ponto, precisava insistir com todas as suas forças.

- Olhe, Professor, acho melhor que ninguém fique sabendo disso. A coisa vai soar mais convincente. Mais real. Se todos acharem que eu realmente passei para o outro lado, as chances de a Irmandade crer que os traí ficam maiores.

- Nesse ponto você tem razão. – Concordou Charles. Julia alegrou-se discretamente. – Mas você me autoriza a contar a mais alguém, caso aconteça algo ruim?

- Está bem. – Julia concordou, percebendo que não adiantaria discutir. Com alguma sorte, nada de ruim aconteceria. E, caso acontecesse, provavelmente Charles avisaria a Kitty ou a Kurt. Não havia riscos nesse ponto.

Julia precisava de um plano perfeito. Charles a orientara em tudo praticamente. Ela teria liberdade de sair da mansão a partir de agora, e procuraria um a um cada integrante da Irmandade e tentaria manipulá-los para que vissem o quanto ela odiava os X-Men. Aos poucos, conquistaria a confiança deles e entraria para a Irmandade. Com a convivência, poderia manipulá-los mais facilmente até achar as Joias e abortar a missão, quando as levaria de volta, uma a uma, para a Mansão. Para o verdadeiro lado. Para os X-Men.

Entretanto, o plano tinha suas limitações. Levaria tempo, de modo que em menos de três meses seria difícil ela obter algo. Provavelmente, levaria uns quatro meses. Outro ponto negativo era o de ela ser pega ou correr algum outro risco. Acabaria morta antes de concluir o plano. Além disso, Julia resolvera “mudar de lado” sem contar o plano para ninguém além de Charles. Assim, os X-Men achariam que ela de fato os traíra. Tudo soaria mais convincente, mas ela podia ser seriamente atacada por qualquer um deles. Seria como uma inimiga.

Julia, por motivos desconhecidos, tinha um mau pressentimento em relação a Logan e a isso tudo. Soubera que por vezes ela não perdoava traições do tipo. Ademais, o ponto crucial do plano seria não revelar seus verdadeiros poderes para a Irmandade. Julia diria que podia ler mentes e só. Desse forma, ninguém desconfiaria de possíveis manipulações. E pelo que soubera de Charles, a Irmandade não tinha telepatas. Tudo sairia conforme o planejado.

Em relação a tudo, Julia sentia-se confiante. O plano, obviamente, tinha seus riscos e limitações, mas Julia estava preparada. Preparara-se com afinco nos últimos meses. E, acima de tudo, reconhecia que ela tinha capacidade de executar o plano, afinal, todos os poderes que a situação exigia ela possuía. Não havia porque recusar. Ela era uma X-Men, e os X-Men precisam reunir coragem em momentos difíceis como esse e superar qualquer tipo de obstáculo. Ela conseguiria. Tinha de conseguir. Sentia medo, e seria hipocrisia negá-lo ou atenuá-lo, mas sentia antes de tudo a coragem emanar de si. Coragem para fazer o que devia ser certo. Coragem para fazer o que um X-Men de verdade faria.  

Passou-se um mês.

Julia continuou sua rotina normal de X-Men na Mansão. Entretanto, agora que tinha liberdade para sair de vez em quando, precisava visitar geralmente bares obscuros e becos sem saída, onde geralmente o bando de Magneto se reunia. Na primeira vez em que saiu, Charles contou a todos que Julia iria visitar o pai, já que há tempos não o via. Logan parecia visivelmente resignado com a possibilidade, mas Charles devia ter conversado com ele anteriormente, porque ele não fez nenhuma objeção.

Assim, Julia seguiu até um bar intitulado Morgan’s Bar. O bar ficava numa área remota de Nova York. A rua estava deserta e a noite se aproximava. A rua era esburacada e os portões laterais das casas anunciavam estar eletrificados, fato que não ocorria. Mas o lugar era bem sinistro. 

Pelo que Charles lhe contara, a Casa de Magneto e da Irmandade era nas proximidades, aparentemente simples e abandonada, mas com cercas verdadeiramente eletrificadas e um bom arsenal tecnológico escondido. Julia sabia que não seria aceita com facilidade na Irmandade. Levaria tempo.

Nas reuniões que tivera cm Charles, ele lhe apresentara os integrantes da equipe. Não eram muitos, mas sem dúvida eram poderosos e mortíferos. Havia Magneto. O temido mutante líder que manipulava metal com a facilidade de manipular papel ao vento. Mística, uma garota azul que se transformava em qualquer outra pessoa, que era sua comparsa número um. Johann, um garoto loiro e atlético com poder se super velocidade. Pietro, um garoto que era feito de gelo. Amandha, cujas mãos vertiam labaredas de chamas. Outros, Julia não se lembrava do nome ou não tinha certeza se de fato pertenciam a Irmandade. Em suma, gravou o nome desses cinco apenas.

Ao entrar no bar, Julia achou-o completamente estranho. O lugar tinha uma iluminação fraca e paredes vermelhas escuras. O lugar era sujo e o atendente parecia mal humorado constantemente. Inclusive, esse atendente era um homenzinho atarracado e careca, que mal atendia os clientes direito.

Julia pigarreou, tentando parecer invisível diante dos olhares dos clientes. De algum modo, todos pareciam sinistros e criminosos procurando refúgio. Ela se sentou na bancada e o atendente perguntou rispidamente:

- O que você quer? – Tinha uma voz grave um tanto quanto irritante.

- Eu quero...

Julia ia responder quando foi surpreendida por Johann (cujo rosto lhe fora apresentado por Charles). Ele esvoaçou pelo meio do bar, atravessando-o em meio segundo e sentando-se ao lado dela.

- A moça vai querer um coquetel especial, suponho? – Propôs ele, piscando para Julia.

Ela sorriu e corou. Seria um tanto mais fácil persuadir Johann.

- Pode ser.

E assim, Julia e Johann começaram a conversar. Se Julia não soubesse que ele pertencia à Irmandade, poderia pensar que se tratava de um cara legal. Ficaram conversando por horas, até o momento em que Julia tocou no ponto crucial:

- Então, pelo modo como você chegou, não parece ser... Uma pessoa comum. – Julia começou, sorrindo.

- Você notou. Bem, eu não sou nada comum. – Afirmou Johann, se aproximando. Julia recuaria normalmente, mas o momento exigia cautela.

- Eu também não. Sou como você.

- Mostre-me o que faz. – Pediu Johann, claramente tentando se aproximar mais. Ele era de fato muito bonito. Tinha um sotaque que revelava sua verdadeira nacionalidade: alemã. O corpo era musculoso e atlético, e os olhos azuis eram quase cinzas. Lembravam muitos os de Julia quando ela liberava os poderes.

Então, Julia o encarou nos olhos e falou em voz alta, como se lesse uma folha de papel. Lera os pensamentos de Johann.

- Então quer dizer que fico bonita de roupa azul, porque realça meus cabelos longos? – Provocou ela.

Johann ficou ligeiramente constrangido. Devia ter pensado coisas além de um simples elogio. Mas ainda assim, curvou a sobrancelha e falou, sereno:

- Leitora de mentes. Telepatia. Sabe, eu conheço um cara que está procurando alguém exatamente assim.

Ao decorrer de uma semana, Julia encontrou Johann mais uma vez. Das outras, conheceu Pietro e Amandha. Juntos, eles bebiam, riam, trocaram piadas particulares sobre mutações e Julia aproveitou a oportunidade para denegrir os X-Men, dizendo muitas barbáries que lhe custavam muita interpretação. Julia contou que fora chamada para ir morar lá, e o quanto detestara isso. Fora porque o pai a tinha obrigado, e não deixara de fazer da vida dos outros um inferno enquanto lá esteve. Os outros riam em aprovação.

Era difícil ofender pessoas como Scott ou Charles Xavier. Com Jean Grey, ela obteve certa facilidade. Depois de muitas conversas e ofensas, foi convidada a entrar para a Irmandade. Pietro a alertou diversas vezes sobre como devia lealdade a eles e sobre como se portar quando conhecesse Mística e Magneto.

No fundo, uma pontada de agonia assustou Julia. A figura de Magneto, por si só, deveria ser excruciantemente imponente.

- Você topa? – Indagou Johann, numa das noites no bar. Todos haviam bebido, a exceção de Julia.

- Sim. – Ela anunciou, sentindo o estômago revirar. Inexplicavelmente, seus pensamentos a levaram até um Logan feroz pronto para matá-la.

- Então não tem mais volta. Você é uma de nós e nos deve lealdade. – Contou Amandha, com uma voz sombria.

- Sim. – Retomou Pietro, largando uma taça de Vodka. – Eu disse a Magneto como você é. Ele pareceu interessado em seus poderes.

Julia engoliu em seco. Depois de algum tempo, que a ela pareceu exageradamente longo, disse:

- Vamos nessa.


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