I Wish escrita por Kate B


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Bem, sinceramente, espero que alguém leia e goste. kkkkk Eu fiz o meu melhor (eu acho). Enfim, boa leitura!



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O vento batia no meu rosto molhado, secando as lágrimas e deixando uma sensação gelada nas minhas bochechas. Parecia que tinha alguma coisa presa na minha garganta. Uma pedra talvez.

No entorno, pessoas falavam, gritavam, riam alto.

Por que riam?

Na minha cabeça todos estavam debochando de mim. Deviam estar mesmo, depois do escândalo que eu fiz. Mas eu não me importava. Eu só me importava com uma coisa, era tudo o que eu queria. Aquele desejo era tão grande no meu peito que eu poderia jurar que estava me queimando por dentro. Era ódio! Talvez fosse isso que estava preso na minha garganta. Então fechei os olhos com força e gritei: “EU QUERO QUE VOCÊ MORRA!”

Acordei assustada, sentindo a mesma sensação do vento gelado nas minhas bochechas que eu senti no sonho, mas agora no corpo todo. O quarto estava escuro, mesmo com a janela aberta. Ainda não havia amanhecido, mas a julgar pelas cores no céu não ia demorar muito para isso acontecer. Me sentei na cama apoiando minhas costas na parede e abracei minhas pernas. Fiquei assim por um bom tempo tentando me convencer de que aquilo tinha sido só um sonho ruim e nada mais. Mas eu sabia que não era bem assim e que mentir pra mim mesma não ia fazer com que as coisas voltassem ao normal.

Quando percebi que meus olhos estavam se enchendo d’água fiquei com muita raiva de mim. Odiava quando meu lado emocional tentava aflorar. Se chorar fosse trazê-la de volta eu já teria umas 100 dela aqui comigo, então não me permitia chorar por ela, e se não fosse chorar por ela, pelo que mais choraria?

Muitos achavam que eu era forte. Todos estavam errados, eu só não era digna de derramar lágrima alguma. Eu não era forte. Era culpada e tinha bom senso. Eu era uma aberração sem controle.

Me levantei da cama quando o sol já estava sendo enquadrado pela minha janela e o relógio em cima do criado-mudo marcava a hora de levantar. Fui ao banheiro, abri a torneira e joguei um pouco de água no meu rosto para ver se a cara-de-noite-mal-dormida ia embora e levava junto com ela aqueles pensamentos. Levantei o rosto e me olhei no espelho. Meu cabelo estava desgrenhado e o meu rosto amassado pelo travesseiro, nada mais do que o normal para essa hora.

Fiquei me encarando por algum tempo no espelho, me olhando nos olhos. Tinham um brilho diferente, Eles eram completamente diferente, aliás. Eram negros, de um jeito que não se via a pupila. Nunca na minha vida tinha visto alguém com olhos iguais ao meus, nem mesmo na minha família.

“Como as pessoas podem acho-los bonitos? São uma aberração, assim como eu” disse a mim mesma.

Depois de pronta para sair de casa que eu fui pensar em comer alguma coisa. Desci a escada com calma e cheguei à cozinha. Lá estavam meu pai e Kelly sentados ma mesa em silêncio.

–Bom dia. – Disse com a voz ainda rouca de sono.

–Bom dia, Lucy! – Kelly respondeu sorrindo e meu pai acenou com a cabeça sem desgrudar os olhos do jornal que lia. Ah, se ele soubesse a verdade... ai sim, nunca mais olharia pra mim.

Peguei uma maçã e comecei a mordiscar sem vontade nenhuma. Fiquei em pé, encostada no balcão que fazia a separação entre a cozinha e a copa.

O barulho do garfo de Kelly batendo no prato misturado com o barulho ritmado que eu fazia mastigando me lembrou música. Eu sempre amei música. Era o que me distraia às vezes, uma das únicas coisas que fazia eu me sentir leve e esquecer a culpa.

Larguei a maçã no balcão e peguei meu celular no bolso pensando em procurar alguma coisa pra ouvir, então lembrei que tinha deixado o fone de ouvido em cima do criado-mudo no meu quarto, bem do lado do relógio.

Nesse momento eu desejei que o fone estivesse na minha mochila para que eu não precisasse subir até o meu quarto para pega-lo.

– Ah, não! – Disse franzindo o cenho e levando a mão à cabeça, morrendo de raiva de mim depois de ter pensado isso. Eu desejei que o fone estivesse lá. Não acreditava que eu tinha feito aquilo de novo. Já estava há um bom tempo sem fazer isso, mas mesmo assim, não custava nada ter esperanças de que dessa vez poderia ser diferente. Quem sabe eu não poderia ter mudado durante essas semanas? Abri a bolsa esperando por um milagre, mas como eu já esperava, o fone estava ali, jogado em cima do meu estojo. Puxei o fio olhando sem expressão.

“Você não aprende, não é, Lucy? Continue assim até você fazer uma merda de novo” pensei.

– Hm, Fui eu que coloquei aí. – Explicou Kelly ao ver a minha expressão olhando para aquele objeto. – Ontem a noite, quando eu cheguei em casa com o seu pai, fui no seu quarto ver se você já estava dormindo e vi que seu fone estava em cima do criado-mudo. Bem, como eu sei que você não vive sem isso, coloquei na sua mochila para que você não esquecesse. –. Provavelmente ela pensou que eu estivesse assustada, me perguntando como ele tinha parado ali dentro. Mas na verdade eu estava assustada ao ver que não tinha controle nenhum sobre mim, mesmo depois de tantos anos.

–Obrigada, Kelly. – Dei um sorriso a ela para agradecer a preocupação, afinal, ela era muito boa comigo. Desde que se casou com o meu pai ela vinha tentando fazer mais do que o papel de esposa, às vezes parecia que ela queria fazer o papel de mãe também. Kelly nunca a substituiria, eu sabia disso, mas também sabia que se não fosse por Kelly as coisas seriam bem piores pra mim. Depois de tudo que a nossa família passou, realmente precisávamos de alguém para amenizar o clima na casa.

Fui andando em direção ao carro, seguindo o meu pai. Entramos no carro em silêncio. Meu pai não era de falar muito. Na verdade ele era um homem alegre e bastante comunicativo, mas isso foi antes. Depois que ela se foi tudo mudou.

– E como estão as coisas na escola? – Perguntou meu pai para quebrar o silêncio.

– Bem, eu acho.

–Você acha? – Meu pai franziu o cenho ao perguntar, mas sem tirar os olhos da rua. No semáforo a nossa frente, a luz vermelha se acendeu, e o carro parou.

– É, sei lá. Vou receber a nota da minha prova de álgebra hoje, e você sabe que eu não sou muito boa com números.

– Mas tem que ser! – esbravejou – Você precisa se esforçar mais então. Preciso de alguém da família naquela empresa, alguém em quem eu possa realmente confiar.

– E por que eu? – O encarei esperando para ver qual seria sua reação. Me arrependi.

– Por que você? – Disse, finalmente olhando pra mim. – Você quer que eu coloque quem no lugar da Josie? Eu já tentei colocar a Kelly e não deu certo. Tem que ser você!

Percebi que meu pai estava transtornado. Minha mãe trabalhou com ele no escritório, mas teve que sair quando ficou doente e nunca mais voltou.

Ele queria a todo custo colocar alguém no lugar dela em todos os sentidos. Quando percebeu que Kelly só ocuparia seu lugar de esposa, começou a procurar outras pessoas que ocupassem os demais lugares que ela um dia havia ocupado.

– Por que não o Danny? – Perguntei, e ao lembrar de Danny e seu sorriso sempre brincalhão e acolhedor, me bateu um vazio no peito. Eu sentia muita falta dele.

– Você sabe muito bem que eu e seu irmão não temos a melhor das relações.

– Mas ele é seu filho também. Ele é da família, é confiável, sempre foi ótimo com matemática e afins. Eu não entendo por que o senhor tem tanta raiva dele. – Então me lembrei da última vez que o vi. Quis chorar, mas não o fiz. – Por que ele teve que sair de casa daquele jeito?

– Ele saiu porque quis. – Disse mais brando, desviando o olhar do meu. Parecia que podia ver a tristeza em meus olhos. – Ele foi fazer faculdade na Califórnia, era o que ele queria.

– Ele nunca quis isso, e o senhor sabe. O senhor o obrigou a sair de casa e ir para o mais longe possível.. – O silêncio entre nós pareceu durar uma eternidade, mas provavelmente só durou alguns segundos – E se ele voltasse? Tudo poderia ser melhor. Seriamos um pouco mais ... como antes.

– NÃO! – Disse alto demais pra alguém que fala com uma pessoa que estava do lado. – Ele não vai voltar! Você não entende e nunca vai entender. Você é só uma criança! Você e Kelly já me bastam. E você – Se voltou para mim. – Vai sim para aquela empresa trabalhar comigo.

Me senti ofendida por ser chamada de criança aos dezoito anos de idade, mas a essa altura do campeonato, isso era o que menos importava. Fitei meus pés, sem coragem de o olhá-lo nos olhos e tentei soar mais irônica possível.

– Quer dizer que eu não tenho esco...

–Não. – me interrompeu.

Respirei fundo e olhei pela janela do carro. Vi andando na calçada um casal de jovens, ambos de cabelos escuros e sorrisos sinceros. Eles poderiam ser namorados, ou só amigos, mas lembrando do Danny decidi imaginar que eles eram irmãos.

– É por isso que eu queria que ele voltasse.

Atrás de nós os carros buzinavam. Olhei o semáforo e a luz verde estava acesa, indicando que deveríamos ir em frente.


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