Clove continua dormindo. Sinto sua respiração em meu pescoço. Queria poder acordá-la e sei lá brigar com ela por algum motivo qualquer, mas não consigo. Sinto-me idiota pelo o que acabamos de fazer.

   Como eu pude beijá-la?

   Eu a odeio! Esse é o único tipo de sentimento que podemos ter! Ódio!

   Sento-me e coloco a cabeça dela em meu colo. Não quero acordá-la, se o fizer vou ter que falar alguma coisa e não sei o que falar. Acho que nunca vou saber. E de certa maneira prefiro assim.

   Aquele beijo volta a minha cabeça, e aquela sensação estranha também. Meu coração acelera ao lembrar dos lábios dela junto aos meus. Tudo parecia de certa forma... perfeito. Nunca tinha sentido isso antes. Já beijei outras garotas, e não foram poucas, mas isso nunca tinha acontecido antes. Não sei como posso descreve isso, mas também não quero fazê-lo.

   Ok, ok Cato esquece isso só foi um beijo, nada mais. Ela é só mais uma garota.

  Olho para Clove. Ela esta... diferente, não sei por que só sei que esta. Minhas mãos estão em seus longos cabelos, não havia percebido isso até agora. Solto-os rapidamente. Bato a cabeça com força no banco e faço de tudo para não gritar.

   Por que eu fiz aquilo?! Por que ela esta aqui?! Por que a idéia d que ela não estivesse me assusta?!

   Queria poder gritar isso. Queria que eu fosse respondido. Saio do carro deixando Clove lá dentro.

  A chuva já parou.

  Ótimo, uma lembrança a menos.

  Tenho que fazer alguma coisa. Não consigo ficar aqui esperando ela acordar. Tenho medo do que ela pode pensar sobre aquilo.

  “Eu odeio você Cato.”

  Foi o que ela disse. Por que ela não foi embora?! Geralmente é isso que as pessoas fazem quando estão perto de alguém que elas odeiam, vão embora. Mas ela não, ela só... só ficou lá. Ando em direção a escola. Todos já haviam ido embora. Encontro a mochila de Clove e volto para onde o carro esta. Ela ainda dorme. Jogo a mochila no banco de trás tomando o cuidado para que não batesse nela. Antes de fechar a porta vejo seu celular no chão. Eu pego e mando uma mensagem para seus pais avisando que Clove chegaria tarde.

   Sento-me no capo do carro e começo a fuçar em seu celular. Vou até as mensagens, talvez ache mais algum de seus segredinhos sujos. Vejo que ela enviou uma mensagem recente a Fox. Estranho, achei que elas tivessem brigado. Quando estou prestes a abrir a mensagem recuo. Se fizer mesmo isso não estaria sendo justo com Clove, mas quem se importa? Talvez eu... Não! Eu não posso me importar! É de Clove que estou falando!

  Não. Volto ao menu do celular. Como não tenho nada pra fazer começo a ver suas fotos. A maioria delas Fox e Katniss estão junto, e bem poucos seu irmão também. Elas parecem ter sido bem unidas. As vezes quero que elas voltem a se falar, mas sei que Clove teria que explicar coisas que não pode. É nosso acordo, ela não pode contar nada a ninguém.

   A ultima foto é a que mais me chama atenção. Ela provavelmente não sabia que iriam tirar a foto. Ela sorria, seus cabelos estavam soltos como a maioria das vezes. Ela parecia estar tão... feliz. Nunca a vi desse jeito nos últimos messes, e já sei por que. Ela esta... linda.

   -O que? –acabo dizendo em voz alta.

  Desligo o celular e coloco rapidamente em me bolso.

  Linda? Clove? O que?!

  Nunca pensei isso de Clove, e também nunca iria querer pensar.

  Fixo meu olhar em qualquer coisa. E começo a pensar em qualquer coisa menos em Clove.

  Após algum tempo escuto a porta do carro se abrir. Continuo olhando para o nada. Quando ela chega ao meu lado entrego seu celular.

  Ela olha para ele confusa.

  -Mandei uma mensagem para seus pais avisando que ia chegar tarde.

  -Ah...

  É a única coisa que ela fala. Nós ficamos ali sem dizer nada.

  -Ah... eu já vou indo.- diz ela.

  -Espera.- saio de cima do carro. –Posso te dar uma carona.

  -Não obrigada. Sei como ir sozinha. –ela responde meio grosseira.

  Sei que tenho falar alguma coisa sobre aqui. Mas o que?

  -Clove eu sei que aquilo foi estranho...

  -Sim foi estranho. –ela me corta.- Vamos só... esquecer tudo ok?

  -Sim. – respondo como se não desse a mínima.

  -Esse dia simplesmente não aconteceu, foi só... não aconteceu.

  -Sua mochila esta lá trás. –aviso-a.

  -Ok.

  Ela volta para trás. Escuto a porta se bater e seus passos correndo na direção contraria.

  Um alivio instantânea me domina quando percebo que ela foi embora. Tinha medo que ela sei lá pensasse que eu gostasse dela ou coisa parecida, isso não vai acontecer.

  Entro no carro e vou até a única pessoa que eu poderia confiar. Marvel. 

  Marvel morra em um apartamento no centro da cidade. Rezo para que ele esteja em casa. Ligo para ele e aviso que estou aqui em baixo. Ele logo aparece e vamos para seu apartamento. Sua mãe esta em casa. Digo apenas um oi e vamos até o quarto de Marvel.

  -E ai fala.- diz ele quando fecha a porta.

  -Falar o que?

  -Da um tempo cara. Você esta estranho e sei que tem um motivo.

  -Não, não estou estranho.- minto.- Só estava entediado.

  -Sei.- diz ele irônico.

  -É serio.

  Começamos a conversar sobre coisas aleatórias. Tenho que falar a ele sobre Clove, mas não sei como.

  -O que acha da Clove? –tento chegar perto do assunto.

  Ele olha para mim meio desconfiado.

  -Idiota, chata...

  -Não essa é a minha opinião.- digo o cortando.- Quero saber a sua.

  -Sei lá cara, não presto atenção nenhuma em Clove, mas ela parece uma garota normal, meio estranha, mas normal. – ele esta sendo sincero dessa vez. –Por que quer saber o que eu acho dela?

  -Curiosidade.

  -Fala logo, o que ela fez ou você sei lá, só me diz. Sei que quer me contar alguma coisa.

  Eu apenas olho para o chão por algum tempo. Como posso explicar o que aconteceu?

  -Eu e Clove... nós... nós nos beijamos- digo em voz baixa.

  -O que?! Como?! – ele realmente está surpreso, mas afinal quem não estaria? Eu e Clove, nunca.

  -Hoje, ela matou aula eu a encontrei... e simplesmente aconteceu.

  -Nanana essas coisas não acontecem do nada. –diz ele como se fosse uma coisa obvia, e talvez fosse. –Alguém teve que começar. Quem foi?

  A cena volta a minha cabeça. Lembro-me do rosto de susto de Clove, achei que ela ia recuar e começar a berrar comigo. Fui eu que comecei por mais que eu não queira acreditar.

  -Eu.

  Marvel fica boquiaberto olhando para mim.

  -Mas... por que?

  -Eu sei lá. –digo indo até a janela. –Eu só... acho que não sei o que queria. Clove é tão... diferente. Nunca conheci alguém como ela.

  -Você gosta dela? Ela não parece o tipo de garota que você curte.

  -Não! Eu não gosto dela, bem pelo contrario, não sei por que fiz aquilo.-digo fitando os prédios do lado de fora da janela. – Eu acho que eu só...

  Não termino a frase, não tenho como terminá-la. Marvel não comenta nada, ficamos em silencio por um tempo.

  -Posso fazer uma pergunta? –fala Marvel.

  -Claro.

  -O que ela fez enquanto se beijavam? Ela tipo continuou?

  -Continuou. –respondo.

  -Vocês fizeram isso por muito tempo?

  -Muito.

  -Uau. –mais um tempo de silencio. –Como se sentiu?

  Apenas olho para ele. Não sei como responder.

  -Eu... não sei. Idiota talvez.

  -Por que?

  -É a Clove! Nós nunca poderíamos... você sabe.

  -Talvez você só estivesse estressado, e precisasse de alguém... pra você sabe.

  -Deve ser. –digo voltando para o meio do quarto. – Mas não deveria ter feito isso com Clove! Ela é ridícula! Quando nós paramos, ela disse “Eu odeio você Cato” e fico lá! –digo furioso. – Quem é que faz isso?! E depois simplesmente fica lá! Ela é... argh! Por que eu não posso entendê-la?! É tão fácil com as outras, por que tem que ser diferente, Clove?!- sento-me no chão e apoio minha cabeça e minha mão.- Eu odeio você.

  Marvel não faz nada. Ele sabe que quando fico assim é melhor simplesmente me deixar falar.

  -Idiota!

  -Talvez devesse esquecer isso Cato. –comenta Marvel.

  -É o que eu quero fazer, só não sei se consigo.

  -Ignorou ela por todo esse tempo, pode ignorar isso. Pra você é vai ser fácil.

  -Espero .

  Fico mais um pouco na casa de Marvel, mas logo volta para a minha. Já era tarde, meus pais já haviam chegado.

  -Como foi seu dia? –pergunta meu pai.

  -Ótimo. –minto.

  -O jantar já esta quase pronto...

  -Não estou com fome. –digo e subo para meu quarto.

  Tranco a porta para ter certeza que meus pais não irão entrar. Sento me em minha cama e continuo tentando entender o que eu fiz.  Com isso acabo caindo no sono.

  No dia seguinte não vejo Clove, fico aliviado por isso. No intervalo do almoço de pois que como encontro com Marvel, pra minha sorte ele não comenta nada sobre o acontecido.

  -Preciso da sua ajuda.

  -Pode falar. –digo pegando meus livros.

  -Preciso saber como ir com a Glimmer ao baile.

  Vejo que Clove se aproxima. Entrego os livros a ela sem nem mesmo olhar para ela.

  -Convida ela idiota. O máximo que ela pode fazer é dizer não.

  -Ou dizer não e rir da minha cara. -diz ele irônico.- Você sabe como a Glimmer é.

  -E daí? Você é popular e já ganha pontos com ela por causa disso.

  -Mesmo assim, ela não vai ao baile com qualquer um, ela sempre vai com alguém que tenha a chance de ganhar o rei do baile, pra ela ser a rainha. E esse cara é você.

  -Mas ela não vai sempre comigo. - rebato.

  -Mesmo assim você sempre ganha.

  -Quer apostar quanto que eu não vou ganhar esse ano?

  -Ah ta até parece. Você sempre é o senhor perfeito no baile...

  -Mas esse ano não. –corto-o. - Eu prometo. –estendo a mão a ele.

  Ele olha e depois de um tempo aceita.

  -Veremos.

  -E eu falo com a Glimmer.

  -Pra que ela não vai aceitar.

  -Ok ela esta ali não esta?

  Clove vira a cabeça para procurá-la assim como Marvel.

  -Chame ela agora.

  -O que?! Não!

  -É melhor ir rápido antes que alguém faça isso antes.

  Marvel pensa por alguns segundo e corre em direção de Glimmer. Eu e Clove ficamos observando, quando vejo que ela aceitou começo a andar e faço um sinal para Clove me seguir. Me sinto idiota por não falar nada, mas é melhor assim.

   Ok esquece, só preciso fazer uma coisa para meu plano de Marvel e Glimmer ficarem juntos.   

   -Você não tem par pro baile ainda não é? –pergunto me virando para Clove.

   -Não.

   -Eu te pego as sete. –pego os livros de sua mão.

   -O que? Eu não vou ao baile, principalmente com você.

   -Ainda sei seus segredos, e mando em você.

   -Você mentiu pra mim.

   Que raiva, ela vai voltar com essa estupidez de mentira?!

   -Não eu não menti, e vamos supor que eu tenha feito o que eu não fiz, contado pra Johanna sobre a infidelidade de seu irmão o que me impediria de contar o resto dos seus segredos?

  Ela fica sem reação.

   -As sete. –ela vira as costas para mim e vai embora.

   Eu deveria ter feito o mesmo, mas não consigo. Fico ali parada feito um otário olhando para ela. Só consigo entrar na sala quando eu vejo que não consigo mais vê-la.

  Sento-me na ultima carteira.

  -Você merece coisa melhor que a Clove.-sussurra Glimmer para mim.

  -Ninguém perguntou. –respondo grosseiro.

  Clove.Clove.Clove.

  Baixinha. Irritante. Diferente.

  Ainda não sei se isso é uma coisa ruim ou não.