Capitulo XII

“Lembranças são recordadas.”

O sonho começou com uma mulher loira com olhos azuis. Era a minha mãe mais jovem. Ela estava grávida. O local aonde se encontrava era a nossa casa só que com uma decoração diferente.

Mamãe estava correndo pelos corredores da enorme casa. Parecia esta procurando alguém. Ela chegou até a biblioteca onde estavam dois homens. Um líquido vermelho transpassava por suas pernas. Ela estava dando a luz. Antes que Louise caísse um homem de jaqueta de couro a segurou.

– Louise! – Ares gritou

-Ela vai nascer. – Louise disse com a voz fraca.

Apolo levantou-se enquanto Ares caminhava com Louise em seus braços até o seu quarto. O deus da guerra a deitou na cama segurando sua mão. Apolo fez com que surgissem panos e uma bacia com água quente.

-Eu preciso que você respire. – o deus loiro disse para Louise. – Puxe!

Seu rosto se contorceu e o grito sofrido saiu de seus lábios. Ela segurou fortemente a mão de Ares e fez força novamente.

- Vamos Louise!- Ares disse calmamente.

Ela soltou outro grito, um mais forte. Agora, com a respiração elevada.

– Isso! Está quase. –Apolo disse

Seu corpo se contorcia. Suas costas arqueadas evidenciavam a força que fazia para a criança nascer.

–Já estou vendo! Vamos! – o deus do sol disse

Ela soltou um último grito e seu corpo tombou para trás. Um choro foi ouvido.

– Uma menina! – Ares disse vendo Apolo limpar a criança, cortar seu cordão umbilical e a enrolar numa manta.

Apolo entregou a recém-nascida para Ares que segurou a filha delicadamente. O deus da guerra tinha lágrimas escorrendo por sua face. Louise também. A garotinha chorava até que Ares pegou sua mãozinha com o dedo mindinho e ela sorriu. Louise deixou mais lágrimas caírem. O deus da guerra abaixou-se para Louise ver a filha.

-Bem vinda ao mundo, Jude. –Louise disse e Ares sorriu.

Ares aconchegou sua filha em seus braços e ela fechou os lindos olhos azuis.

- Σ ‘αγαπώ για πάντα. – Ares sussurrou para a filha.

O Deus da guerra entregou a filha para Louise e colocou um colar com o pingente de uma espada em Jude.

O sonho mudou de cenário.

POV Jude

Eu estava no templo de Ares. O deus da guerra me olhava com lágrimas nos olhos. Ele estava sentado em sua cama com jaqueta de couro, blusa camuflada, calça preta e botas.

-Você me fez ter essa lembrança? – perguntei com lágrimas escorrendo pelos olhos.

-Não. Isso seria intervenção direta. – ele falou com a voz falha.

-Por que eu tive esse sonho? – perguntei.

-Porque sim, Jude. – ele falou me abraçando.

-Você estava pensando nisso. – disse olhando para os olhos do deus da guerra.

-Sim. Agora você tem que acordar. – ele disse. – Σ ‘αγαπώ για πάντα.

Acordei num impulso chorando.

POV Nico

Acordei quando ouvi Jude chorar. Abri meus olhos e vi minha namorada sentada chorando. Sentei-me ao seu lado e a abracei. O que deveria ter acontecido? Jude sentou no meu colo e afogou seu rosto em meu pescoço chorando.  Acariciei seus cabelos. Não era à hora de falar nada. Deixei-a chorar a vontade beijando o topo da sua cabeça.  Depois de alguns minutos ela se acalmou.

-Anjo... – sussurrei e ela me olhou. – O que houve?

-Ares ... – ela disse soluçando. –Eu sonhei com meu nascimento. – ela disse e chorou.

-Shhhiu. Calma! – disse colocando a mão no seu rosto.

-Ares estava pensando nisso e eu sonhei com a lembrança dele. – ela falou calmamente limpando as lágrimas do seu rosto.

-Sua ligação com ele deve ser muito forte. – a abracei

-Obrigada por estar comigo nesse momento. – ela disse dando um beijo na minha bochecha.

-Eu sempre vou estar com você. – disse e ela sorriu.

–Temos que nos arrumar?

-Sim.  – disse e ela me deu um beijo.

-Vou ao meu chalé me vestir então. – ela pegou seu short e colocou.

-Vai com a minha blusa?

-Algum problema com isso?

-Nenhum. – disse rindo e ela me deu um selinho.

Jude abriu a porta e saiu em rumo ao seu chalé.

POV Jude

Chegando ao chalé, peguei uma roupa e tomei banho. Vesti-me colocando um short jeans escuro, blusa vermelha com o desenho de um javali e all star de couro branco. Meus cabelos molhados estavam soltos. Arrumei minhas coisas e vi que o povo do meu chalé estava saindo do banho. Peguei meu diário e comecei a escrever nele.

-Jude, vem logo!

Clarisse me despertou do meu transe depois de alguns minutos. Ainda bem que eu já tinha escrito tudo. Guardei o diário e fui com meus irmãos para o pavilhão. Comi uma salada de frutas e me levantei indo para o treinamento até que fui surpreendida por um beijo.

-Oi para você também. – disse para Nico.

-Vamos treinar? – ele me perguntou.

Antes que eu respondesse ouvi a voz de outra pessoa falar por mim.

-Ela não vai treinar hoje. – Ares surgiu do meu lado.

-Jude? – Nico arqueou as sobrancelhas e eu assenti. –Até mais. – ele me deu um selinho seguido por um olhar mortal de Ares e seguiu para o treinamento.

-Vamos? – Ares me perguntou.

-Para onde? – disse e ele ficou em silêncio.

O deus da guerra pegou em minha mão e estalou os dedos. Estávamos no Olimpo e puta que pariu, aquele lugar era lindo. Havia ninfas pelo jardim, deuses conversando, o sol brilhava...

Ares estalou os dedos novamente e nós aparecemos em seu templo. Era igual ao dos meus sonhos.  Ares se sentou na poltrona vermelha, que estava na minha frente, e eu me sentei na outra.

-Por que estamos aqui? – perguntei

-Vamos ter um dia “pai e filha”. – ele disse sorrindo e eu arqueei minha sobrancelha. –Jude eu só quero responder suas perguntas.

-Eu quero ver mais lembranças, Ares. – o deus da guerra me olhou surpreso.

-Jude ... eu acho melhor não.

-Por favor! – disse calmamente tocando na mão dele e nossos anéis brilharam juntos me fazendo ir para outra lembrança.

Louise estava com um lindo vestido azul caminhando para o jardim da casa. Ares estava comigo no colo pela última vez. Ele chorava cantando Hey Jude para mim. Um raio no céu escuro avisava que já era a hora.

-And anytime you feel the pain, Hey, Jude, refrain.

Ares beijou o topo da minha cabeça e deixou uma última lágrima cair. Ele me entregou para Louise e eu comecei a chorar no colo da minha mãe. O deus da guerra selou seus lábios com os da minha mãe e me olhou.

-Eu ainda vou voltar a te ver, eu prometo. – ele disse para mim e sumiu.

Abri meus olhos chorando e vi Ares se levantar da poltrona.

-Não era para você ter visto isso. – ele falou com a voz falha de costas para mim.

-Por que você não ficou? – perguntei andando até ele.

-Te deixar foi a coisa mais difícil que eu fiz. – ele disse olhando nos meus olhos. –Não tem um dia que eu me arrependa. – ele estava com lágrimas nos olhos. – Ao contrário do que você pensa, eu sempre me importei com você. – ele pegou na minha mão e eu fui para outra lembrança.

Louise me colocou no chão do corredor. Estava com um lindo vestido roxo e com meu javali de pelúcia na mão. Ela se afastou um pouco e pediu para que eu fosse até ela.

Coloquei meu javali no chão e caminhei devagar até minha mãe. Assim que cheguei a seus braços olhei para a janela. Ares estava sorrindo.

-Você estava lá! – disse com a voz fraca e ele assentiu.

Peguei em sua mão e o fiz ter uma lembrança minha.

Eu estava com cinco anos. Minha mãe estava na platéia da competição de esgrima da minha academia. Algumas pessoas estavam montando o pódio.

 Logo após os garotos que ganharam o 3° e 2° lugar subirem no pódio foi a minha vez. Subi no mais alto lugar e recebi minha medalha de ouro.

-Queria que me pai estivesse aqui. – sussurrei.

-Me desculpe por não esta lá. Zeus havia me proibido de ir. – Ares se lamentou.

-Me mostra outra coisa. – pedi chorando.

-O que quer ver?

-Qualquer coisa, mas antes me diga, por que eu não fui reclamada quando tinha 13 anos?

-Eu queria que você tivesse uma vida normal, Jude. Você merecia ter uma vida sem problemas, monstros e essas coisas. – ele acariciou meus cabelos.

-Agora me mostra uma lembrança. – disse e ele pegou em minha mão.

Eu estava no carrinho em um parque perto de casa. Louise estava me olhando e pedindo para eu falar qualquer palavra. Meus olhos azuis fitavam cada detalhe do parque, havia várias crianças com seus pais.

 De repente eu vi um homem loiro e forte me olhando de longe. Meus olhos se arregalaram e minha mãe viu para onde eu olhava. Logo ela voltou seu olhar para mim.

-Pa ... Pai. – disse olhando para o homem loiro.

Ele sorriu, me fitou com os olhos e desapareceu. Eu comecei a chorar e minha mãe me aninhou no colo.

Olhei para Ares que fitava meu rosto buscando alguma expressão. Eu achava que ele não tinha ligado e não havia presenciado nenhum momento da minha vida.  Lágrimas saiam dos meus olhos.

Ares estava me mostrando ao contrário de tudo que eu pensava. Lógico que eu ainda achava errado ele ter me abandonado, mas ele estava tentando se aproximar de mim. Ares pegou na minha mão e eu olho dentro dos seus olhos.

Eu enxergo saudade, medo, angústia.

O sofrimento dele.

Eu abraço o deus da guerra e ele retribui. Cara eu era uma anã perto dele.

-Me perdoa Jude. – ele diz chorando.

-Eu te perdôo pai. – disse e me separei do seu abraço.

-Você me chamou de pai? – ele perguntou sorrindo.

-Sim. – disse e me dei conta do que tinha falado.

Ares me abraçou sorrindo e eu sorri também. Olhei nos seus olhos e o seu sofrimento tinha dado lugar à alegria. A alegria de me ter perto dele.