Cartas Ao Desconhecido. escrita por Bell


Capítulo 1
Carta 1


Notas iniciais do capítulo

Vejam o que acham.. aproveitem e comentem! rs



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Carta #1.

"Caro amigo.

São agora 2:45 da manhã, e eu começo essa carta me desculpando por lhe incomodar.

Sei que não nos conhecemos, nunca nos vimos e muito menos moramos perto. Mas veja, tenho me sentido muito solitária nesses últimos mêses, e decidi então, seguir o conselho de minha psicologa virtual. Antes de lhe dar mais um motivo para ter-me como louca - além de estar lhe escrevendo - vou lhe colocar a par de minha situação.

Trabalhei durante três anos na mesma empresa de advogacia depois de tantas, e realmente acreditei que ela seria a escolhida. Tinha minha supervisora, uma senhora de idade completamente bosal, que me odeia e tem o habito de colocar uma grande parte do trabalho de outras pessoas em minha mesa, e que passa maior parte do seu tempo soltando 'inocêntes' dicas sobre como devo me vestir.. Ela é ótima - espero que possa compreender o sarcásmo, por via desta carta - acho que mesmo sendo competente para trabalhar, ela não é inteligênte o suficiente para compreender um calendário.

Há também uma das minhas companheiras de escritório, eu sinceramente a odeio tanto quanto odeio o seu cabelo loiro azedo e sua perfeita bunda, não que admita a última parte, de qualquer modo. Ela simplesmente acha que somos melhores amigas, ignorando totalmente meus olhares de desgoto e ódio, meu horário de trabalho é normalmente ás 8hrs, o que era uma benção um 1 ano atrás virou uma maldição, pois não importa quantos minutos adiantada eu chegue, eu encontrarei a Barbie encostada em minha mesa com um mocca descafeinado comprado especialmente para mim na starbucks da esquina, tudo isso era resultado de uma risada e uns lenços.. Não entendeu? Vamos lá, então. Barbará é como todo novato, tentando sempre se entrosar com os 'veteranos', em seu primeiro dia ela contou uma piada de loira ridicula e eu ri, mas veja, eu não ri da risada, e sim da irônica situação: Ela era loira, assim como metade - 80% - de minha sala, e acabará de cavar sua cova, chamando a si mesmo de burra - algo que não posso discordar.. - assim como todas as outras mulheres. Ela previsivelmente foi excluida do 'grupo', e foi por isso que 2 horas depois, a encontrei no banheiro com o rosto banhado em lágrimas, porém não se assuste, a maquiagem continuava intacta e ela não parecia em nada com aquelas mulheres choronas, ela nem sequer ficará com o nariz vermelho - entende agora, caro amigo, o por que de todo meu odio? -. Eu a estendi um dos lenços destribuidos no banheiro e dei duas tapinhas nas suas costas quando ela se jogou em meu pescoço me abraçando forte. E foi assim que nossa amizade plâtonica começou. Eu realmente acho que a tintura loira afetou seu cérebro fortemente, por que de maneira alguma, aquele loiro poderia ser natural. E antes que pense que estou com inveja, repense agora, pois sou ruiva com muito orgulho, obrigado.

Há também o estranho faxineiro integral da empresa, ignorando seu fardamento, o sujeito vai todos os dias de preto. Realmente de preto: Usando um enorme coturno e calças 4 números á mais, que não passa despercebida nem mesmo pela sua camisa preta GG e seu usual blusão, e quando nos encontramos ele me lança longos olhares assustadores que dão arrepios na espinha e me faz passar encolhida na parede, sempre que posso reclamo com Brunão - meu chefe - , sobre ele. Ah, Brunão, tenho muito o que falar sobre esse homem, mas em um pequeno resumo, ele é um dos motivos pelo qual fui demitida da empresa. Nós estavamos tendo um caso. Bruno é, em sua juventude, um homem muito inteligênte e centrado, que tem grandes mãos habilidosas e ombros tensos. E foi no dia em que eu, nada casualmente, dispensei a carona da Barbie, para terminar a última pilha de trabalhos que a Mrs. Mett havia muito sútilmente soltado em minha mesa, 30 minutos antes da hora de saída, tudo aconteceu.

Quando acabei com toda a papelada eram 21:00 hrs em ponto, saindo da minha sala e descendo os andares pela escada percebi que meu chefe ainda estava em sua sala. Passei para me despedir, e avisar que as papeladas do caso 73 haviam sido registradas e guardadas, ele prontamente me ofereceu uma carona, cujo eu aceitei é claro. Após uma pequena conversa enquanto o esperava terminar seu trabalho, eu já me sentia extremamente mas relaxada e avontade, atrevidamente comentei como seus ombros encontravam-se tensos, e inocêntemente lhe ofereci uma massagem, após considerar por um tempo, aceitou. Com apenas se passado alguns minutos, ele já havia se esquecido do trabalho, e apreciava minha massagem, perdida em pensamentos apenas percebi o volume em sua calça quando ouvi baixos gemidos, procurei um pouco antes de perceber, que meu chefe era quem estava gemendo.

Mantivemos um caso por dois mêses, antes que o segredo vazasse, e aqui estou eu como resultado: Desempregada e semi-melancólica. Diga o que quiser sobre mentiras terem perna curta, porém tenho certeza que o x9, dedo-duro, cagueta, linguarudo, delator, fofoqueiro, como desejar, foi o Alfredd, o faxineiro esquisitão.

Agora que você esta a par de toda minha situação, podemos voltar ao assunto principal? O que, verdadeiramente, me fez escrever-te?

Fazia uma semana que ninguém da minha familia vinha me ver, eles haviam finalmente se cansado de mim e de toda minha sujeira, não os culpo de qualquer maneira, eu não sou a melhor pessoa para se ter como companhia quando estou triste, ou com raiva, até mesmo alegre. Veja bem, o motivo para que eu faça terapia, é que tão rápido quanto carros de corrida, meu humor muda, posso estar sorrindo em um segundo para em outro estar lhe atacando com todo e qualquer objeto cortante e que possa lhe machucar, mas não se afaste por favor, você está seguro aí, onde quer você esteja.

Enquanto assistia meu festival de filmes antigos e comia minha pizza de lombo com o meu café frio, lembrei-me da Barbie, e me perguntei como ela estaria na empresa, sem mim, sua falsa melhor amiga? Esse pensamento me assustou, logo eu, que nunca ligará para amizades, estava me preocupando com quem apenas me irritou durante todo esse tempo?

Foi então que me dei conta de que a solidão estava me abatendo, ganhando de mim, e acabando com minha lucidez. Decidi que precisava de um amigo, ou somente um conhecido desconhecido. Alguém que não poderia me julgar pelo que pareço ser, por não me conhecer, ou seja, você.

Então, 30 minutos de explicações desnecessárias depois, aqui vai:

Caro amigo.

São agora 3:16 a.m., e estou segurando uma nova xicara de café enquanto lhe escrevo, já perdi a conta de quantas dessa preparei. Você com certeza não sabe, mas eu nunca fui fã de café. Para ser honesta, nunca bebi um gole que seja de café em todos os meus longos 24 anos de vida.

Mas eu era uma nova mulher agora! E essa nova mulher bebia café, preferia chocolate amargo e mandava cartas para desconhecidos.

Você sabe aquela sensação de que esta fazendo algo errado e você olha ao redor, procurando um erro, procurando a sua falha, aquela que tanto te incomoda? Eu a tenho sentido muito mais nos últimos tempos do que antes, e eu realmente a odeio, ela me deixa tão confusa! Veja, amigo, eu procuro, procuro e não acho!

Certo, faremos então uma lista: estou desempregada, minha familia cansou de mim, eu cansei de mim, estou entrando em depressão, não como algo além de pizza a duas semanas, e você é o meu primeiro contato com o mundo fora dos muros de minha casa.

Esses são problemas o bastante! Mas por que sinto que estou esquecendo algo? Por que sinto que estou decepcionando outro alguém além de mim mesma? São perguntas que, eu espero, um dia talvez encontrar as respostas. Espero também novo amigo, que você me ajude com essa tarefa, e em troca se abrisse comigo e contasse-me seus problemas, por mais tolos que sejam, estarei aqui para ajuda-lo, por que sinceramente, cuidar dos outros, nesse momento é muito mais atrativo do que cuidar de mim mesma.

Deixe-me perguntar outra coisa, você alguma vez já se sentiu pequeno e insignificante ou sozinho em meio a uma multidão de pessoas? Já se sentiu com um vazio em si, que só cresce a cada segundo? Sei que essa está parecendo uma conversa meio depressiva, e peço perdão por isso e por estar usando você para desabafar, mas é o que estou sentindo agora e dividi-la com outra pessoa por mais que seja por via de uma carta, parece ajudar, ter a ilusão de que alguém se importa, alguém está te ouvindo, alguém está prestando atenção faz um bem danado para o meu coração sabe? Posso senti-lo se aquecer em meio a tempestade de neve, mas esse fogo logo se esvai, com a constatação de que é tudo uma ilusão e que estou sozinha novamente.

Veja, estranho, estou colocando minha vida em suas mãos, não se sinta sob pressão, de qual quer forma, minha vida é tão insignificante como a tinta da caneta com qual eu vos escrevo, assim, sinta-se livre para amassar essa folha e seguir sua vida normalmente. Não lhes escreverei novamente, se não me responder, sem insistencia! Sou ótima em despedidas silênciosas, tanto que as evito quando posso, não sendo o caso agora...

Até a próxima. Ou não.

S."

Serena, suspirando, dobrou sua carta cuidadosamente como fazia com seus desenhos quando criança, colocou em um envelope, escreveu o destinátario e por alguns momentos de indecisão ficou cheirando seu café frio, olhando para o relógio. Deu 4:00 a.m. e ela havia finalmente se decidido, se enrolou no coberto que estava jogado em seu sofá cama, foi até a porta destrancou-a, e saindo ficou a observar o nascer do sol, havia tempos que não o fazia, aquilo lhe trazia esperança, assim como a carta que acabará de depositar na caixa do correio.

Fim do capítulo.

Cartas ao Desconhecido.


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Notas finais do capítulo

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