we didn't meet by accident escrita por isabella


Capítulo 4
Capítulo 4 - Tristeza


Notas iniciais do capítulo

Oieeeee, mais um cap p vcs ;DDD Enjoy!!



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Recuei. Eu não podia beijá-lo, iria bagunçar tudo. Pigarreei.

–Vicente – suspirei – não vamos misturar as coisas.

–Mas eu achei que você fosse querer, quer dizer, nós fomos namorados – ele tentou se explicar.

–Isso. Nós fomos – reforcei o tempo verbal – não é só porque você não tem uma namorada que eu não possa estar namorando.

–Você tem um namorado? – uma ponta de ciúme apareceu – quem?

–Não – eu ri. – eu não tenho um namorado. Mas eu poderia! Quer dizer, tô de rolo com um garoto da escola, ainda não sei bem o que vai ser.

–Ah – ele baixou a cabeça.

–Mas Vicente – tentei dizer. – eu senti muita saudade de você. E você não tem ideia de como eu me senti quando te vi, de novo, e mais velho.

–Acho que faço – ele riu – você mudou muito, quase não te reconheci.

Eu ri.

–Você ficou mais bonito – eu disse ainda rindo.

–E você ficou mais gostosa – falou, baixando o olhar para o meu decote. Levantei a cabeça dele pelo queixo fuzilando-o. – quero dizer, ficou mais bonita.

–Engraçadinho.

Ele riu.

–Ah, quase esqueci. Acho que vi sua mãe correndo para a cafeteria do hospital – ele disse.

–Ah, muito obrigado. Eu desci justamente tentando encontrá-la. Bom, eu acho que vou ter que ir agora. Foi um prazer revê-lo – eu falei com um sorriso pequeno – Até mai...

–Espere – ele me interrompeu. – me dê o número do seu celular! – ele sugeriu. – vamos manter contato.

–Tudo bem – eu ri. – me dê seu celular.

Ele tirou o celular do bolso e entregou nas minhas mãos. Disquei o meu número até tocar o meu celular, depois desliguei e salvei o número.

–Pronto, assim eu fico com o seu também, é mais prático.

Ele riu. Virei-me para ir até a cafeteria.

–Você não quer companhia? – falou Vicente, fazendo-me voltar para respondê-lo. – só até encontrarmos sua mãe. Não estou fazendo nada aqui – disse por fim.

–Claro! Vamos – eu sorria. Estendi a mão para ele, e ele pegou-a.

Fomos andando até a cafeteria de mãos dadas. Qualquer um que passasse e nos visse poderia pensar que éramos namorados, mas eu não estava me importando, afinal, eu sabia a verdade. E isso bastava. Chegamos sem demora, e logo vi o cabelo curto da minha mãe de costas para nós. Ela estava com um copo extragrande de café. Despedi-me de Vicente, com um abraço e depois ele me deu um beijo na bochecha. “Eu te ligo?” ele perguntou, “Pode ser. Mas sem compromisso, hein?” eu disse rindo. Ele fez um sinal de "Tá legal”. Andei até minha mãe, quando cheguei até sua mesa, coloquei a mão em suas costas e afaguei-a. Eu tinha alguma ideia da dor que ela estava sentido, uma vez que perder a pessoa que ama, com qual você escolheu dividir e passar o resto de sua vida, não é fácil.

–Você sabe que ele não vai resistir – eu disse em tom baixo. – até ele sabe disso – baixei a cabeça. Lutei contra o grande nó que se estendia em minha garganta e contra as lágrimas que começavam a se formar em meus olhos.

Ela não respondeu, apenas deu mais um gole no café, enquanto eu sentava ao seu lado.

–Mãe, a vida é assim. Humanos não são eternos – tentei dizer.

–Mas não precisava ser deste jeito. Nem assim, tão de repente – ela disse tentando não chorar.

–Não podemos controlar tudo – dei uma pausa. – não temos este poder – suspirei.

–Infelizmente – ela suspirou.

Ficamos em silêncio por um tempo.

–Bom, vamos para casa? Toma um banho. Volta com o Vini amanhã – fiz uma tentativa de dispensar a depressão dela. – Diga tudo a ele, antes que seja tarde demais.

Ela levou um tempo para reagir a meu argumento repentino.

–Boa ideia – ela disse tomando mais um gole de café.

–Até porque, fazer qualquer coisa agora, de cabeça quente, não vai ajudar em nada.

–Não, eu sei – ela concordou. – você tem razão – ela disse levantando-se.

Aliviei-me por ela ter me escutado pelo menos uma vez. Talvez a dor de perder o marido estivesse falando mais alto. Levantei-me da cadeira em silêncio, e segui para fora da lanchonete, atrás de minha mãe. Chegamos à entrada do hospital depressa, mesmo com os passos lentos dela. Vi Vicente sentado nos bancos. Acenei e sorri, ele retribuiu com um aceno, depois fez um gesto de “Eu te ligo”, e eu respondi com um gesto de “Ok” enquanto abria a porta. Observei-o me dando adeus enquanto saía, então fechei a porta, cautelosamente. Virei-me e só consegui ver minha mãe muito longe, apertei o passo até alcançá-la. Entramos no carro em silêncio e assim permaneceu até em casa.

A viagem foi curta, mas também foi longa. A quietude insuportável quase me levou à loucura. E minha mãe nem se deu ao trabalho de ligar o rádio. Eu até pensei em ligar, mas não queria incomodá-la, então deixei o silêncio absoluto reinar em paz.

Minha mãe estacionou o carro no lugar de costume. Aquele dia estava lindo. Fazia-me lembrar do sítio que a minha família tinha em Petrópolis. O melhor lugar do mundo, ele era calmo, lindo, e o melhor, não tinha internet para me atormentar – o único lugar em que eu realmente me sentia em paz. Eu levava a minha melhor amiga e o meu ex-namorado, Breno, o tempo todo. O meu sítio não era isolado, havia muitos outros por perto, portanto Luiza nunca segurava vela. Ela arrumava um ficante e íamos a encontros duplos.

Saí do carro e entrei em casa. Subi correndo as escadas e fui para o meu quarto. Fiquei lendo até a hora do almoço. Depois de comer, subi de novo e voltei a ler. Lá pro meio da tarde, mais ou menos 15h, Vinicius chegou. Ele subiu correndo as escadas e bateu na porta do meu quarto. Fiquei surpresa por ele ter vindo falar comigo, e não com a minha mãe.

–Entra! – gritei, ainda com os olhos no livro.

Vinicius abriu a porta totalmente descontrolado e correu para me abraçar. O máximo que pude fazer foi gritar “O que é isso?”. Eu me senti completamente presa, porque ele não esperou nem sequer que eu soltasse o livro e abrisse os braços. Só fiquei tentando imaginar como seria a cena vista por outra pessoa. Eu sentada completamente imóvel, e meu irmão, enorme, em cima de mim, me abraçando. Comecei a me debater, e a empurrá-lo para longe de mim, ou pelo menos para que me abraçasse com menos força, mas foi em vão.

–Para Vinicius! – berrei – você está me machucando, por favor. O livro está afundando na minha barriga, por favor, me solta? – gritei de dor.

Talvez ele tenha se tocado da tosquice - eu invento algumas palavras, tosquice, vem da palavra tosco - da cena, por isso me soltou. Só então percebi que ele estava chorando. Seu rosto tomado por um rubor forte, cheio de lágrimas.

–O que houve Vini? É alguma coisa com a faculdade? – perguntei.

–Como está o papai? – ele perguntou muito preocupado. Ignorando minha pergunta.

Suspirei, e desviei o olhar.

–Ele morreu? – ele colocou a mão em meu queixo fazendo-me encarar seus olhos. Tirei sua mão do meu rosto e pensei numa resposta.

–Ainda não... – só consegui dizer isso.

–Como assim ainda? – ele perguntou.

–Bom... – comecei. – ele não vai resistir muito tempo. Pedi à mamãe que te levasse amanhã para falar com ele. Claro, se quiser... – eu disse.

–É obvio que eu quero. Mas... – ele ainda tinha um olhar de esperança – está confirmado? Ele não tem mais chances?

–Cara - suspirei. - tipo, eu não sei direito. Mas o papai mesmo que nos disse que ele não iria resistir – eu disse.

Ele baixou a cabeça para chorar. Depois começou a soluçar.

–Ei – eu levantei sua cabeça – não chore ainda, por enquanto ele está conosco. Vamos aproveitar seus últimos momentos. Vá até lá, e diga tudo o que você deixou de dizer nos últimos anos – repeti o que disse à minha mãe, só trocando as palavras. - mas pensa positivo, pode ser que ele melhore - forcei um sorriso.

Ele esfregou o rosto aquietando suas lágrimas.

–Obrigado, Tati. Você é a melhor irmã do mundo – ele disse. E debruçou-se para me abraçar. Daquela vez eu estava preparada, e tinha certeza de que não iria me machucar, pois já tinha colocado o livro na mesa do computador.

–De nada – disse soltando-o – é engraçado né? – refleti – até pouco tempo, eu ficava feliz por não ver o papai na minha cola, eu me sentia bem não o tendo por perto. Mas agora, tudo o que eu quero nesse momento é que ele fique comigo, para sempre – uma estúpida lágrima escorreu sobre meu rosto.

–A gente só dá valor depois que perde – sua cabeça ainda abaixada.

–Frase feita – copiei seu movimento.

De repente, meu celular quebrara o silêncio profundo do ambiente melancólico e perturbado, com o som que avisava um novo e-mail. Levantamos a cabça na mesma hora procuando por ele. Encontrei-o ao lado do meu laptop, o peguei rapidamente para ver de quem era. Era da rainha da fofoca. Na hora em que eu liguei o laptop, meu irmão levantou da cadeira e rastejou-se para fora do meu quarto, fechando a porta devagar.

Meu laptop iniciou-se rapidamente, e coloquei minha senha de modo veloz. Abri minha conta de e-mail e lá estava o de Luiza. Cliquei-no para ler...

Tatiana Albuquerque,

Por que você faltou à aula hoje? O que estava pensando? Me deixou sozinha! A senhorita me deve uma explicação.

Desesperadamente, Luiza.

Fiquei tensa e enrigeci os músculos. Ela escrevera formalmente, ela estava realmente com raiva. Pensei numa resposta, mas não tive sucesso.

Problemas.

Respondi. Uma única palavra. Não tinha muitas alternativas. Afinal, se eu fosse contar a ela, contaria ao vivo, e não por e-mail. Não havia dado nem dois minutos e minha Caixa de Entrada já tinha mais um e-mail.

Que problemas?

Cliquei no botão de responder.

Problemas. Mas não esquenta, vou pagar minha dívida. Amanhã te explico tudo. Não me entenda mal, até porque não é nada pessoal, é só que... Eu quero te contar ao vivo, e não por e-mail. Mas eu queria avisar que eu não vou entrar mais no computador hoje. Vou ler, porque estou precisando esfriar a cabeça, ou até mesmo fazer algo que não exija muito de mim, tipo ver TV. Mas enfim, logo você saberá. A barra tá pesada aqui em casa. Amanhã nos vemos, mil beijos.

Tati.

Mandei. Esperei impacientemente por uma resposta, pois estava com uma vontade louca de me desligar do mundo. Depois de mais ou menos três minutos recebi a resposta...

Ok, Tats. Espero que não seja nada sério. Nos vemos amanhã na escola então. Não sei do que se trata, mas seja forte, tudo vai dar certo no final. Risos. Ótimo momento para lembrar do meu lema “No final tudo vai dar certo. E se ainda não deu, é porque ainda não chegou ao fim”. Mas tenho uma ótima notícia para te dar, te conto amanhã, mas acho que você vai descobrir antes, risos. Enfim, vou te deixar em paz. Beijos.

Lu.

Suspirei. Pensei em responder, mas estava muito mal só para mandar um simples “Até amanhã. Beijos” ou algo do género, então deixei por aquilo mesmo. Desliguei o laptop, e desci as escadas de forma ligeira. Fui até a cozinha, abri a porta do armário de cima e peguei um saco de pipoca amanteigada e coloquei no microondas. Enquanto o milho estourava, abri o freezer e peguei um pote de sorvete de flocos e deixei-o na bancada. Depois peguei um potinho menor e uma colher. Puz tanto sorvete no meu potinho que achei que fosse cair. Depois voltei com o pote de sorvete para o freezer quando o microondas deu sinal de vida – a pipoca estava pronta. Fui até ele e tirei de lá o saco de pipocas. Depois peguei o meu potinho de sorvete com a outra mão e fui para a sala. Deixei minha comida na mesinha que ficava em frente à TV. Pulei no sofá e liguei a TV. Comecei a zapear pelos canais até encontrar alguma coisa que me entrertesse de verdade, para parar de pensar no... problema. Quando encontrei um programa de comédia acomodei-me colocando meus pés na mesa. Deixei o saco de pipoca apoiado no meu quadril do lado direito e o pote de sorvete ficou em minhas mãos apoiadas em meu colo.

Fiquei mais ou menos a tarde inteira assistindo televisão. Na hora do jantar, minha mãe nos chamou, com a mesa já posta. Comemos em silêncio por uns minutos.

–Vinicius, amanhã irei ao hospital. Você quer ir comigo? – minha mãe perguntou, largando o garfo no prato.

–Depende da hora, dona Fabiana – murmurou ele, chamando-na pelo nome.

–De manhã.

–Não posso – ele falou terminando de mastigar – tenho aula – disse por fim.

Ela de repente bateu na mesa com muita força. Eu e Vini demos um pulo na cadeira.

–Será que vai ser sempre assim, Vinicius? Quando você dará o verdadeiro valor a sua família? – ela gritou furiosa.

–Não é bem assim, mãe. Eu dou muito valor a todos vocês, é que eu também tenho os meus compromissos – ele tentou acalmá-la.

–Mas o seu pai não terá muito tempo, filho – ela ainda gritava de raiva.

Fiquei feliz por ela já estar na etapa da aceitação. Mas, tudo tem um porem. Meu pai poderia estar muito bem exagerando também.

–Isso é o que ele diz, mãe – me intrometi. – eu aposto que todo aquele seu nervosismo, você nem falou com o médico...

–E além disso eu vou amanhã ao hospital – de repente eu e minha mãe o encaramos ao mesmo tempo.

–Hã?! Amanhã? – perguntei confusa.

–Você vai? Como assim? Como?! – ela parecia confusa.

–Quando?! – nós perguntamos juntas, e depois nos encaramos.

–Esperem – ele tentou se lembrar de todas as perguntas – É, eu vou amanhã, de carro depois da aula – ele riu.

–Ah – minha mãe disse.

–Ata – coordenamos outra vez.

Nós rimos.

Terminamos de jantar rapidamente, e meu irmão e eu subimos para ir dormir. Amanhã já era quinta-feira, ou seja, faltava apenas mais um dia para o baile de boas-vindas dos estudantes do Centro Educativo do Madson, eu estava muito anciosa para esse baile, especialmente porque o meu par era muito lindo e muito legal. Animei-me repentinamente, e consegui esquecer um pouco a história do meu pai. Fui para o quarto, coloquei o pijama, apaguei as luzes e deitei-me na cama. Fechei os olhos, mas não consegui dormir tao rápido. Precisei de alguns minutos para o sono vir. Então minha última lembrança daquela noite foi o Igor.



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Notas finais do capítulo

Fico feliz que tenha lido, ficarei ainda mais se voce comentar, favoritar ou recomendar!!!!! Isso ajuda o autor a melhorar :D