Estávamos andando à horas.

– Eu não aguento mais, Drake. – Falei, sentindo os joelhos fracos.

– Tem que aguentar mais um pouco Terry, já, já vamos parar. Eu prometo. Temos que aproveitar que eles estão atrás daquele robô. – Ele respondeu, oferecendo o ombro para eu me apoiar nele. Ao meu lado, Keith segurava minha mão com força.

– O que é aquilo? – Perguntei, apontando para um beco escuro, onde uma luz piscava.

– Não sei... – Drake respondeu, estreitando os olhos. – Talvez não sejamos os únicos sobreviventes.

– Não! – Segurei seu braço. – Você não vai lá!

– Confie em mim, Terry. – Ele sorriu, me dando um selinho. – Vai dar tudo certo. Eu sei manejar essa arma. – Ele mostrou a pistola travada na mão.

– Mas e eu? E Keith? – Perguntei, numa tentativa inútil de fazê-lo ficar.

Ele me puxou para a calçada e abriu uma daquelas latas de lixo enormes.

- Fiquem aqui por dois minutos. Eu vou lá, descubro o que é aquilo e volto antes de vocês perceberem que eu fui. – Ele disse, me dando um beijo rápido. – Vai ficar tudo bem. Eu prometo.

– Aham... – Murmurei, enquanto ele me ajudava a entrar na lata totalmente vazia. Seria muito nojento se tivesse lixo ali dentro.

Ergui os braços e ajudei-o a colocar meu irmão mais novo na lata também.

Me encolhi, abracei Keith com todas as minhas forças e observei meu namorado fechar a tampa.

Aquele era o fim do mundo.

O apocalipse.

Todos que conhecíamos e amávamos estavam mortos. Pelo menos pareciam estar.

Ninguém sabia o que viria em seguida.

Nossa única esperança era chegar a Massachusetts, de preferência vivos.

Tínhamos que continuar, não importando como.

Assim que o país recebeu a notícia de que estávamos em perigo, todas as mídias acessíveis pediram para que fôssemos até o centro de controle em Massachusetts. Lá, segundo eles, estaríamos seguros. Poderíamos nos refugiar até que eles achassem um meio de reverter o ocorrido.

Eu consegui me salvar porque estava pescando com meu pai, quando isso explodiu. Quando descemos do barco, fui falar com o cara que havia alugado-o para nós. Só que ele estava diferente. Fazia sons estranhos em vez de falar e parecia se rastejar.

Assim que ele se virou para mim, pude ver o real perigo que havia sido despertado. O homem tinha a esclerótica (ou seja, a parte branca dos olhos) completamente vermelha. Sua pele era de um cinza escuro, seus dentes haviam apodrecido, seus dedos estavam retorcidos e ele mancava.

Cheirava a carne podre.

Ele, como muitos outros, havia se transformado em um zumbi.

Só consegui escapar dali com vida porque meu pai ouviu meu grito e foi ver o que tinha acontecido. Ele empurrou o zumbi para longe de mim, mas a criatura se agarrou em seu braço e o mordeu.

Eu fiquei plantada no chão, vendo meu pai ser comido vivo.

Ele pediu para que eu fugisse, para que eu encontrasse meu irmão e o protegesse. Ele pediu para eu cuidar de Keith, e eu obedeci.

Corri para casa o mais rápido que consegui, tentando afastar as lágrimas que se acumulavam em meus olhos.

Assim que cheguei em casa, abri a porta com força e gritei o nome de meu irmão. Não houve resposta. Subi as escadas e encontrei o garoto embaixo da cama.

Saímos de lá e fomos direto para a casa de Drake.

Ele também conseguiu sair com vida do mesmo jeito que eu. Mas não quis me contar quem os zumbis haviam pegado.

Meus pensamentos foram interrompidos pelo som de um tiro.

Keith prendeu a respiração e eu tentei acalmá-lo. Levantei só um pouquinho a tampa da lixeira e vi Drake com a cabeça inclinada para baixo, olhando para um zumbi no chão. Drake havia acabado de estourar a cabeça dele.

Suspirei e voltei para a lixeira, abraçando meu irmão.

Até quando precisaremos viver assim? Pensei.