A visão do moreno estava turva, sentia que estava sonhando. Era apenas um pesadelo. Um pesadelo real, uma mensagem, um alerta do que estava para acontecer, caso fizesse escolhas erradas. Porque tinha esse sentimento martelando seu peito? E a mulher de negro a sua frente, porque estava ali, naquele momento olhando-o com superioridade, como se fosse um Deus?

—Quem é você? O que queres de mim? Porque me trouxe para esse lugar? —Sam desabou no chão pelo esforço de livrar-se daquela opressão contra suas pernas.

—Está livre, Sam. —com apenas um movimento ela o libertara daquela prisão de pura magia.

Ele levantou-se lentamente, sem tirar os olhos que o fitavam sem temor algum. Ela flutuou deixando as pontas dos pés tocarem o chão, Sam deu um passo para trás, preparando-se para algum tipo de confronto.

—Não precisa temer-me, não ainda. Estou tentando ajudá-los... — a mulher não conseguiu completar a frase, Sam interrompeu-a de supetão.

—Ajudar-nos? Como sabe meu nome? E em que quer ajudar? —o moreno não conseguia compreender, estaria delirando?

—Você não estás delirando, nem sonhando. Trouxe sua alma aqui para conversarmos sem sermos vistos ou interrompidos pelas minhas irmãs. —pela primeira vez o moreno sentiu um certo vacilo de medo na voz da mulher.

—Irmãs? O que raios você está querendo me dizer? — Sam sentiu um vento gelado tocar seu rosto. —o que foi isso?

—Uma alma solitária... em busca da verdade elas aparecem e descobrem seus erros, voltam ao corpo prometendo mudar, mas a passagem é longa e a memória é curta. Acabam acordando apenas com sensações e intuitos. Infelizmente a maioria se perde no decorrer do caminho. Espero que você seja mais forte do que acho que é. Apenas um guerreiro com o dom puro conseguirá ao menos lembrar ou ter intuições de nossa conversa.  —a moira parou observando o semblante do rapaz. Era tão bonito quanto o irmão e tinham um destino doloroso em seus caminhos. Elas faziam o destino, eram filhas do destino e, alterar o que estava escrito seria sacrilégio e uma afronta aos deuses.

Sam sentiu as almas passarem por ele, em breves segundos sentia as emoções de outras pessoas. Ficou confuso, estaria no céu?

—Céu? Não. — a mulher a sua frente sabia lê-lo, não tinha como esconder-se desse ser que esboçou um sorriso sarcástico.

—Muito bem, conseguiu minha atenção. Agora que tal acabarmos com essa encenação toda e ir direto ao ponto. O que você quer? — o caçula cruzou os braços, aguardando o que viria a seguir.

—Um aviso. Você e seu irmão saíram do vale da morte, são diferentes dos demais mortais. Eu e minhas irmãs...

—Que irmãs? — Sam parecia estar no limite de suas forças.

—Somos Moiras, caçador Winchester.  Muitos descendentes de vocês tiveram a honra de falar comigo. Vocês Winchesters existem para um bem maior da humanidade, sua linhagem vem de muitos e muitos anos. Vocês foram os escolhidos. —a mulher levitava enquanto falava pausadamente.

— Moiras? Escolhidos? Eu só quero uma resposta... como posso livrar meu irmão do inferno? É... imploro apenas isso.

— Aprecio sua devoção ao seu irmão, Sam. No entanto, Dean não tem escolha. É seu destino passar por tal provação e você...— aquilo irritou o moreno que desabafou em fúria.

—Para o inferno com sua provação, teste, ou seja, lá, o que for. Já não fizemos o bastante para continuarmos sendo suas marionetes?— o moreno passou a mão em seu queixo, tentando aliviar a indignação.

—Sam Winchester! Não irei tolerar sua língua afiada. Apenas ouvirá o recado que tenho que lhe dar e espero que quando acordares siga meu conselho ou você trará o apocalipse ao seu mundo. — a mulher gritou e com apenas um gesto lançou um feitiço ao jovem.

O moreno sentiu os olhos aumentarem, sua atenção estava totalmente voltada a ela. Seus lábios estava colados e não sentia nenhuma vontade de falar. Apenas ouvir. E o medo de ser responsável por tal catástrofe assombrou seu coração, que palpitava aceleradamente.

—Assim está melhor — disse a mulher aproximando-se lentamente deixando parte de seu rosto na penumbra daquela espécie de caverna.

Sam sentia as vibrações daquele lugar misterioso, já lera sobre as moiras. Conhecia muito bem as coisas que elas faziam. E ver e ouvir uma delas falando aquelas palavras o deixara ainda mais confuso. O que essa mulher ganharia em ajudá-los? Porque estaria dando conselhos e dicas a ele? Qual seria seu verdadeiro intuito? O moreno percebeu que seus pensamentos eram expostos de maneira fácil a ela. Mas não recebeu respostas, apenas o que lhe era necessário ouvir.

—Winchester, suas decisões influenciarão o destino de muitos seres humanos. É um fardo enorme para um simples humano. E você sabe que não é um deles. Sabe que carrega dentro de você um poder maligno que o consome aos poucos. Esse poder ao qual você luta constantemente para manter adormecido. E talvez consiga superar o que virá pela frente. Chegará o momento que deverá escolher seu caminho trilhando-o com seu irmão ou sem ele. Mentiras, trapaças brigas e intrigas persistirão em suas jornadas.

—Sempre estarei com Dean! Isso jamais mudará. Pode confiar em mim. — Sam espantou-se com o próprio som de sua voz.

—Admiro muito sua determinação, mas sou uma das filhas do destino. Tudo passa pelas minhas mãos, coisas que você jamais imaginou existir. Caminhos tão tortuosos que a morte seria a benção para os dias que se seguirão. Ouça meu conselho humano e talvez, talvez você salve os que você ama. —A moira passou sua mão pela face do moreno, sentiu o poder responder ao seu toque, ele era o escolhido, não havia dúvidas.

—Como posso livrar meu irmão do pacto? Faço qualquer coisa, apenas me diga o que fazer! — o desespero voltou a tomar conta de Sam, a filha do destino apenas meneou a cabeça em reprovação e certo desânimo.

—Temo que nossa conversa tenha sido em vão meu jovem. Seu irmão vai morrer e você nada pode fazer para impedir. Guarde minhas palavras Sam Winchester.

Sam viu a mulher ficando cada vez mais transparente, e sua voz distanciando-se rapidamente e, em um ato desesperado Sam gritou negando tal profecia. Um sono profundo tomou conta das forças do caçula que desabou no chão.