A História De Sally Jackson escrita por Kori Hime


Capítulo 6
Capítulo 6 - A história que contam as estrelas


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Calyse se ofereceu acompanhar Sally até a suíte para que ela pudesse se retocar no banheiro. A jovem olhou no espelho, e agradeceu mentalmente por seu rosto não ter ficado do tamanho da lua cheia que pairava no céu aquela noite.

Ela lavou o rosto e secou depois com uma toalha branca e macia. Sally deu uma boa olhada no banheiro. Assim como o restante do navio era bonito e de bom gosto, um pouco exagerado, confessou a si mesma, mas muito bonito. Branco com detalhes dourados. Ela começou a achar estranha essa obsessão por dourado, por todos os lugares. Se aquilo realmente fosse ouro, então somente o banheiro poderia valer mais do que tudo o que ela tinha juntado na vida. Juntado e perdido.

Depois de alguns minutos, Sally encontrou Poseidon no convés do barco. Ele estava de pé, próximo a grade, observando o céu anil estrelado. Sally ajeitou os cabelos castanhos e passou as mãos na saia do vestido, para desamassá-lo. Poseidon parecia inerte em seus pensamentos, por isso ela não o chamou, preferiu aproximar-se em silêncio.

— Finalmente veio me fazer companhia.

— Demorei tanto assim?

— Sou péssimo em medir o tempo. Mas disse isso porque senti sua falta. — Ele levou Sally até as cadeiras estofadas próximo a proa. A mesa já estava posta com frutas e bebidas. Mas Sally achou melhor ficar apenas com a água, antes que mais algum desastre pudesse acontecer.

A conversa foi agradável, Poseidon parecia ser um homem ainda mais interessante aos olhos de Sally. Inteligente e com um humor extremamente divertido, deixando-a totalmente à vontade com as histórias que contava.

Sally notou que não havia ninguém na cabine do capitão, estavam em alto mar, e o que podia ver ao longe eram apenas as luzes da cidade próxima da praia. Calyse também desapareceu, e isso deixou Sally inquieta.

Ela estava até gostando da companhia da loira fatal. Era alguém para se apoiar, caso as coisas ficassem fora do controle. Apesar de não saber ao certo qual era o ponto final do controle e a derradeira do descontrole. E na verdade, não estava preparada para descobrir.

— Minha constelação favorita é Andrômeda.

— Filha de Cefeu e...

— Cassiopeia. — Completou Sally.

— Tenho certeza de que deve saber todas as histórias das constelações. — Apontou Poseidon, que discutiam, levemente e amigavelmente, sobre mitologia. Ele não se recordava ao certo como começaram a falar sobre o assunto, mas era excitante abordar sobre algo que era sua praia.

Ainda mais com uma pessoa que parecia entender o que dizia, mesmo que soubesse somente a versão contada pelos mortais.

— A rainha Cassiopeia era uma mulher que se gabava por sua beleza. — Começou Sally. — E em um dia, quando passeava pela praia, encontrou algumas nereidas. Ela se gabou por ser mais bela que as nereidas, que, injuriadas falaram com seu pai Nereu, que por sua vez comunicou a Poseidon... — Sally olhou para Poseidon, que parecia interessado na conversa. — Poseidon não gostou da afronta da rainha com os imortais, enviou um monstro marinho, Ceteus, só para destruir o reino. Então, o rei Cefeu, com medo, consultou o oráculo, que lhe deu como alternativa, fazer um sacrifício. Andrômeda foi amarrada em um rochedo a praia, sendo oferecida como sacrifício. Mas Perseu, apareceu e matou o monstro marinho, libertando a princesa e casando-se com ela como oferta do rei por salvar o reino.

No final da história, Sally voltou a olhar para Poseidon.

— Qual é? — Ele mexeu os ombros, dando uma risada. — Você acredita mesmo nessa história? — Ele disse debochado.

— É o que esté escrito nos livros de mitologia. — Sally replicou seriamente.

— Então quem escreveu não contou direito a história.

— E por acaso você sabe como foi? — Sally cruzou os braços.

— A rainha Cassiopeia era uma mulher desorientada. Ela vivia atormentando as coitadas das nereidas, uma vez eu mandei o… — Poseidon calou-se rapidamente, antes que Sally percebesse o que ele havia dito, corrigindo em seguida. — Uma vez Poseidon mandou Ceteus para buscar uma das nereidas presas pela rainha, e todo mundo achou que ele foi lá destruir tudo. Foi uma confusão. — Poseidon gesticulava com as mãos, e Sally ria, achando graça da forma que ele explicava com meros detalhes uma história mitológica, quase como se estivesse vivido na época. — O oráculo não mandou ele fazer um sacrifício para proteger a cidade, era a nereida o sacrifício a ser salvo. Perseu apareceu lá e resolveu o problema. É um bom garoto.

— Incrível. — Ela bateu palmas. — Você seria um ótimo contador de histórias. Da forma que protege o nome que leva, é como se estivesse sendo ofendido pessoalmente.

— Mas Poseidon é um dos poucos deuses mais justos e...

— Nem vem. — Sally discordou, fazendo um gesto com a mão. — O final de Medusa não foi nada bonito, e Poseidon sequer levou a culpa de ter abusado de uma sacerdotisa no templo de Atena. Só porque ele é um deus, não quer dizer que tenha o direito de fazer tudo o que quiser.

— Não acredite em boatos. Poseidon não teve culpa do que houve com Medusa.

— Mais uma vez está defendendo seu xará.

— Foi uma piada de mal gosto que deu errado.

— Percebo que tudo o que acontece a volta de Poseidon dá errado no final.

Ele pensou profundamente naquela frase.

— Nem sempre. — Ele concluiu.

— Ele tem a má fama de ser tempestuoso. Daí vem a palavra tempestade.

— Isso é injusto. — Poseidon fez bico. — As tempestades são cientificamente provadas, você não assiste ao Discovery Channel?

— Agora põe a culpa na ciência quando lhe convém. — Ela não desistiu. — E as diversas amantes? Ele era um mulherengo, traía sua esposa. Que tipo de homem honrado faz algo como isso?

— É diferente quando se é um deus.

— Não me faça rir. Traição é traição, não importa quem o faça. Causa dor, traz sentimentos ruins, transforma as pessoas.

— Ok, ok! Eu vou te contar uma coisa, mas é algo que ninguém sabe. — Poseidon adquiriu uma postura mais séria, falando um pouco mais baixo. — Há um acordo entre eles.

— Acordo? — Sally pareceu curiosa em saber mais. — Que tipo de acordo?

— Anfitrite e Poseidon fizeram um acordo antes do casamento. Ela foi prometida a se casar comig—, com o deus dos mares, mas ambos não queriam aquele casamento. Apesar dele achá-la bem bonita a primeira vez que a viu.

— Mas porque se casaram então?

— Porque era necessário. É um tipo de tradição que deveriam seguir. — Ele apoiou o queixo com a mão. Sally achou engraçado aquele homem grande, curvado e pensativo. — Anfitrite é uma boa mulher. E ela não fica atrás em matéria de traição. Uma vez foi encontrada numas rochas submarinas que...

— Fala como se estivesse estado lá para conferir esses acontecimentos.

— É? — Ele coçou a cabeça. — Sou um historiador.

— Mais uma novidade sobe Poseidon. — Sally levantou-se, o vestido dançava conforme o vento ditava as notas. — Um dono de sorveteria luxuosa, que realiza sonhos impossíveis para quem merece, recebe prêmios caros como um barco e ainda sabe histórias que mais ninguém no mundo todo poderia imaginar.

— Bem, esse foi um resumo de quem sou. Mas aceito de coração a honra de tê-lo feito.

— E o que mais tem para ser revelado? — Sally esperou uma resposta. Mas ele ficou em silêncio diante da pergunta. Sally achou que havia chegado em um tipo de terreno frágil. De repente, levou as mãos a boca. Sentindo as maçãs do rosto queimarem de vergonha. — Você é casado!

— Sally...

— Você é casado. — Ela agitou-se. — Porque me trouxe aqui se é casado?

— Não é como imagina.

— Não? Então o que é?

— É difícil explicar.

— Não sou burra. — Ela exigiu explicação imediata, deixando Poseidon acuado.

— Não sou casado, somente, somente tem uma pessoa que usa meu nome como um título nobre.

— Então é divorciado?

— É... é. — ele respondeu rapidamente.

— Acho que estou dando muitos foras essa noite. — Sally encolheu os ombros, mais envergonhada do que antes. Porém, não menos encantadora aos olhos do imortal.

— Não, não está.

Eles riram juntos.

Já era tarde, mas Sally estranhamente não estava preocupada com o horário. Na verdade, ela sequer viu as horas avançarem. Pelo menos até o sol nascer diante de seus olhos.

O mar estava calmo, e o barco parecia levitar sobre as águas. Sally estava aconchegada nos braços de Poseidon, a última coisa que viu foi o sol erguendo-se majestoso no céu, iluminando a paisagem. Dormiu tranquilamente, sem preocupar-se com nada.

 

~ # ~

Sally não soube dizer quando, nem como chegou ao chalé. Mas ao abrir os olhos, a primeira coisa que veio em sua mente foi a noite agradável que teve ao lado de Poseidon. Seu corpo estava completamente relaxado e ela contemplou por alguns instantes o agradável silêncio que pairava no ar.

Mas logo as obrigações rotineiras bateu na porta. Sally levantou-se da cama, sem se preocupar com sua aparência matinal.

— Sally! — Gritou Dalila em desespero. — Sally, está aí?

— Sim, sim. Já vou abrir a porta. — Ela procurava o chinelo. Uma estranha sensação dominava seu corpo. Nada mais do que leveza, uma pitada de preguiça, mas principalmente um relaxamento que pouco conhecia.

— Onde você esteve a manhã toda? — Dalila perguntou, com suas feições endurecidas. Apesar de criar um laço de amizade com Sally, elas ainda eram colegas de trabalho, e devia dar explicações ao chefe, quando a melhor atendente do quiosque faltava sem nenhuma desculpa ou notícia.

— Eu... eu não sei ao certo. — Sally mexeu nos cabelos, penteando-os com os dedos e correu para o banheiro, afim de lavar o rosto e despertar daquela sonolência. — Me perdoe. Que horas são?

— Tarde, muito tarde! — Dalila não queria ser rude com Sally, mas aquela era a primeira vez que ela mostrava um comportamento igual ao das outras garotas. Que faltavam, se atrasavam e sempre tinham respostas afiadas na ponta da língua. Mas, felizmente, Sally não havia chegado a tanto. — Eu inventei algumas desculpas para o chefe. Disse que deixei você encarregada de algumas compras de ultima hora, mas ele vai se dar conta de que era tudo mentira, quando nenhuma compra chegar ao quiosque.

— Obrigada. — Ela deu algumas explicações sobre o que aconteceu na noite passada, enquanto se vestia para o trabalho. Dalila queria detalhes, mas não dava tempo de ouvi-los. — Então, eu acordei aqui, e logo você bateu a porta. Não tenho ideia de como cheguei em casa, ou quando abri a porta.

— Você bebeu?

— Só água.

— Então, ele quem trouxe você?

— Pode ser. Mas... — Sally sentou-se para calçar a sapatilha. — Porque eu não me recordo de nada? Não tenho o sono pesado, e agora parece que dormi por uma semana inteira, meu corpo ainda deseja voltar para a cama. É estranho.

— Vamos logo, porque vai ficar mais estranho se você também se atrasar para o turno da tarde no restaurante.

Elas deixaram o chalé, pensando em alguma desculpa para darem pela ausência por tanto tempo.


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Notas finais do capítulo

Adoro esse capítulo, com Poseidon dando sua versão das coisas :D
Digam o que acharam, não sejam timidos, eu não mordo... muito.
Beijos