Demigoddess escrita por Pacheca


Capítulo 22
Without Each Other


Notas iniciais do capítulo

;C



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POV Dante

Deuses, como aquela garota de meio metro conseguia ser tão pesada? Meus braços já ardiam de tanto carregá-la. Eu realmente precisava aprender a mostrar outras soluções para Elgin, ou perderia os braços em poucos dias.

Talvez se ela estivesse acordada fosse mais fácil. Me concentrei em continuar correndo, procurando um lugar seguro para parar. Admito que fiquei preocupado com os outros três, até aquele bode de meia tigela, lutando contra aquela coisa que soltava espinhos.

Sai da floresta. Olhei para os lados, vendo uma estrada que se estendia de um horizonte ao outro, e na minha frente a continuação da floresta. Aquilo ainda era Ohio? Eu não sabia mais.

Coloquei Trianna encostada numa árvore e peguei meu telefone. Sinal que é bom, nenhum. Segurei minha vontade de atirar o telefone no meio da rodovia e fui até Tri.

Ela estava muito pálida, quase transparente. Nunca fui amigo de Trianna, me retia à uma tolerância quanto sua presença, mas nunca me importei. E ainda assim tive pena dela.

Peguei o telefone de novo, dessa vez tinha um pouco de sinal. Liguei correndo pro meu irmão, como se eu não soubesse o número de Elgin.

– Fala, aonde você está? Estamos tentando te achar, seguindo sua trilha por noroeste.

– Continuem, eu não me desviei. Eu espero na margem da ... – caminhei um pouco, procurando uma placa que indicasse que rodovia era aquela. Achei uma placa, mas a dislexia atrapalhou um pouco. – 70 road.

– Ótimo, ainda em Ohio. – Ele parou um pouco e voltou a falar, num sussurro. – Ela está bem?

– Não. – Como aquilo foi sutil. Até um elefante era mais sutil que aquilo, mas existia um outro jeito de responder sinceramente? Ele suspirou antes de desligar.

Voltei para perto de Trianna, que começava a tremer. Sinceramente, a única coisa que me fazia rezar e pedir para todos os deuses que eu já ouvi falar era a consciência de que se Trianna morresse, parte de Elgin também morreria.

POV Elgin

Continuei caminhando, um desespero me cegando e me fazendo esquecer de tudo mais. Eu não sabia mais sobre missão, nem sobre luta, nem sequer sobre deuses e semideuses.

Chad conseguiu sinal para receber uma ligação de Dante, mas eu não parei de andar. Ele confirmou que estávamos na direção certa, então me apressei, quase correndo.

Scirus parecia nervoso, mastigando uma das latas que eu tinha levado. Quanto tempo eu ainda demoraria para encontrar Tri? Meus nervos já estavam me atormentando.

Ela estava tão pálida, com uma expressão de sofrimento. Trianna tinha perdido aquele brilho de Barbie que ela tinha, aquela eterna alegria, aquela vivacidade de sempre.

E por mais que eu odiasse aquilo, eu sentia a vida dela se esvair, se afastar dela. Era quase visível. Aquilo me deu até um arrepio. Porque apesar de ter demorado um pouco, eu percebi que eu realmente estava sentindo ela morrer.

Scirus começou a tocar alguma coisa na flauta, mas não acho que fosse alguma coisa para ajudá-la, a expressão dele era de pena. Chad e Dante sussurravam alguma coisa, exaltados. Me sentei perto dela, ignorando a existência dos outros.

Olhei para ela, e era como se eu estivesse olhando um fantasma, com as linhas trêmulas e um tanto apagadas. Eu comecei a conversar com ela.

– Sabe, Tri, quando eu tinha uns cinco anos minha mãe me falava que quando a gente está muito aflito, temos que conversar com os mortos. – Dei um sorriso triste. – Nunca achei que fosse fazer isso de fato.

– Aliás, nunca achei que fose fazer metade das coisas que ela me dizia. – Suspirei. – O que eu vou fazer sem você? Aliás, como eu vou fazer? Você é a única que realmente me acompanhou, desde o início. – Passei a encarar a rodovia, tentando não chorar. Por que eu não podia bloquear aquela dor?

Voltei a encará-la um segundo depois, ela estava um tanto mais serena. Não precisei de mais que alguns segundos para entender o que tinha acontecido. Ela se fora. E uma fase da minha vida também.

Não chorei, por mais que quisesse. Me levantei e caminhei até uma área meio descampada, dentro da floresta de novo. Pensei numa pá, que no mesmo instante eu segurava. E comecei a cavar.

– O que você está fazendo, El? – Chad estava chorando? Voltei a cavar, sem responder. Ele continuou. – Não temos tempo. Eu sei que é difícil, afinal, olha pra mim. Mas temos que ir.

– Eu não ligo pro tempo estúpido. – Entendi naquele minuto porque não estava chorando, porque eu estava com raiva. Raiva de mim mesma, principalmente.

– Não que eu goste da ideia, mas dessa vez concordo com meu irmão. – Ele tentou tirar a pá da minha mão, mas simplesmente o empurrei.

– Eu tneho ao menos o direito de enterrar minha melhor amiga, que por um acaso, eu acabei de ver morrendo? Aliás, eu senti ela morrendo? – Agora eu já estava chorando, quase desesperadamente.

– Como assim, sentiu? – Scirus me olhou triste e curioso.

– Era como se ela fosse uma garrafinha d’água e eu fosse derramando a água devagarinho. – Scirus se concentro, pensando em algo. – Posso continuar?

Dante soltou meu braço e se afastou, olhando para baixo. Ele e Chad voltaram para a beira da rodovia, provavelmente para trazer Tri. Que diferença faria agora?

Scirus parou na minha frente, me avaliando. Não parei de cavar, mas retribui a avaliação. Até que ele falou sem a menor sutileza.

– Você é filha de um dos Três Grandes. – Ele arregalou aind amais os olhos. – De Hades.

– Fica quieto, Scirus.

Ele realmente ficou. Não sosseguei até que ele prometesse pelos deuses e Pã, e sei lá mais quem, de que não contaria aquilo pra ninguém. Ele concordou, sem entender porque eu não queria revelar aquilo.

Os outros dois voltaram carregando Trianna , com cuidado extremo. Depois de colocá-la cuidadosamente, eu pensei em pás para eles também. Cavamos, cavamos e abusamos da ajuda de Scirus, que tocava ajudando a terra a ser retirada.

POV Chad

Ajudei meu irmão a colocar Trianna na cova. Ficamos cada um de um lado, olhando o rostod ela. Até meu irmão parecia abalado. Percebi quão abalado eu também estava. Mais do que eu achava ser capaz de estar.

Scirus começou a tocar baixinho a flauta, dessa vez sem magia alguma. Dante olhou para cima e respirou fundo. Então pegou um pouco de terra e jogou sobre ela, se afastando logo em seguida. Scirus parou a canção e fez quase o mesmo, mas ele falou algo para Pã antes.

Elgin continuou encarando Trianna, então decidi que era minha vez de falar algo. Peguei um punhado de terra e pensei em algo bom, bonito pra falar.

– Mesmo que terminemos essa missão, ela nunca mais vai ser bem sucedida. Porque você não vai poder comemorar conosco. – Elgin me olhou por um breve momento. – Vamos sentir sua falta, sempre. – Soltei meu punhado de terra sobre ela.

Elgin parecia hesitante, ou no mínimo, estática. Mas logo ela pegou o punhado de terra e voltou a encarar Trianna.

– Há alguns anos, costumávamos pensar como seria quando uma de nós não estivesse lá. Mas nós nunca pensamos que não estar lá fosse algo tão definitivo. – Ela deu um sorriso, fraco, mas ainda assim, reconfortante. – Mas ainda assim, você vai me acompanhar. Para sempre. Como a irmã que eu nunca tive. Sempre, Tri. – Ela não conseguiu mais falar nada, então soltou o punhado de terra e se encolheu, soluçando.

Voltamos ao trabalho pesado, jogando terra sobre Trianna. Elgin já tinha se levantado e começado a ajudar, e em pouco terminamos de enterrá-la.

Scirus jogou uma sementinha na terra, não sei de onde ele tirou aquilo. Elgin deu um sorriso e enxugou as lágrimas. Depois de encarar o túmulo uma última vez, ela pegou a mochila e saiu andando.

Seguimos, com os corações pesados. Não só por Tri, mas pelo pedaço de cada um de nós que se foi com ela.


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Notas finais do capítulo

Deixem seus reviews ;C Por favor, fiquei triste por matar a Tri ;CC



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